Na nossa profissão de
fé afirmamos que Deus Filho se encarnou pelo poder do Espírito Santo no seio da
Virgem Maria. Esta verdade de fé é de suma importância e tem um alcance largo
para entendermos quem é Jesus e como se efetua a nossa salvação. A Igreja,
desde o início, anunciou o Cristo, Verbo feito carne, enviado como homem aos
homens (cf. Dei Verbum nº 4).
O que é a Encarnação?
O Catecismo da Igreja católica (CIC)
afirma no nº 461 que a encarnação é “o fato de o Filho de Deus ter assumido uma
natureza humana para realizar nela a nossa salvação”, e o Compêndio do
Catecismo, pergunta 86, dia que é “o mistério da admirável união da natureza
humana na única pessoa divina do Verbo”. A segunda pessoa da Santíssima
Trindade assume nossa natureza. Por natureza se entende aquilo que uma coisa é.
Quando Ele assume nossa natureza, assume nosso corpo e nossa alma com todas as
suas faculdades. Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
Ao longo da história da Igreja,
alguns heterodoxos negaram a realidade da encarnação. Eles negavam ora a
humanidade, ora a divindade de Jesus, ou, ainda, entendiam Jesus como um ser
inferior ao Pai e superior aos homens. Todas estas maneiras não correspondem à
fé da Igreja definida nos concílios mais antigos: o de Nicéia (325), o de
Constantinopla (381), o de Éfeso (431), o de Calcedônia (451), o de
Constantinopla II (553) e o de Constantinopla III (680). Estes concílios
amadureceram o conhecimento sobre Jesus, com base na tradição, afirmando que na
pessoa divina do Verbo encontra-se a natureza divina e a natureza humana, sendo
estas últimas perfeitas, imutáveis, inseparáveis, não confusas. Esta união de
naturezas na pessoa do Filho de Deus é chamada de união hipostática. A pessoa
divina age por meio da natureza humana assumida. Assim, Deus se revela e se
manifesta através das palavras e ações de Jesus.
Hoje, ainda, podemos ver estas
questões sendo postas. Por isso, é importante sabermos quem é Jesus para
podermos conhecer o tamanho do amor de Deus e a abrangência de seu projeto
salvífico. A encarnação está em função da salvação, pois Ele assume a natureza
humana para realizar nela a salvação.
Por que o Verbo se fez Carne?
O CIC nos propõe quatro razões para
a encarnação: Ele se fez carne para salvar-nos, reconciliando-nos com Deus (nº
457); para conhecermos o amor de Deus (nº 458); para ser nosso modelo de
santidade (nº 459); e para tornar-nos participantes da natureza divina (nº
460).
Ele veio para salvar
O homem não podia se salvar sozinho
de sua condição de perdição. Se encarnado, a humanidade assumida do Verbo se
tornou a vítima de expiação pelos nossos pecados. Sua vida de obediência e
cumprimento da vontade do Pai é a causa do perdão de nossos pecados. A sua
paixão e a sua morte redentora é a razão da encarnação. Ele veio para nos
reconciliar, para nos admitir novamente numa vida de amizade e comunhão com
Deus.
Ele veio para manifestar o amor
O próprio ser de Deus é amor. Com a
encarnação, o Verbo comunica o amor divino aos homens por meio de gestos e palavras.
Ele nos mostra como somos amados e qual o desígnio salvífico que Deus tem para
os homens. Jesus veio demonstrar o perdão, a misericórdia, a compaixão, o
cuidado, o acolhimento que Deus tem por cada um. O próprio amor de Deus pode
ser conhecido na doação que o Pai fez de seu Filho unigênito para salvar a
humanidade.
Ele veio para mostrar a santidade
O Verbo veio nos ensinar a viver de
acordo com a vontade de Deus. Ele, assumindo nossa natureza, subordinou em tudo
a sua vontade humana à sua vontade divina. Assim, a vida de Jesus é a expressão
daquilo que o Pai planejou para nós: uma vida de obediência a Ele e de
fraternidade com os irmãos. Os ensinamentos de Jesus têm valor paradigmático
para todo o cristão. Ser cristão é ser outro Cristo.
Ele veio para elevar-nos
Quando o Filho assume a nossa
natureza. Ele possibilita que nos tornemos filhos adotivos de Deus. Nossa natureza
humana é elevada à comunhão com a vida divina. Os santos e os místicos nos
mostram o tamanho da obra que Deus pode realizar numa pessoa, se esta se deixa
guiar pelo Espírito de Deus. A santidade e a vida mística são dons dados por
Deus para todos aqueles que receberam o Espírito Santo e buscam viver a partir
das moções dele.
Para aprofundar...
Para saber mais sobre o assunto,
indicamos o CIC números 456 até 463; o Compêndio do Catecismo, perguntas 85, 86
e 89; o YouCat, pergunta 76; e a Dei Verbum, parágrafo 4.
Pe. Vitor Gino Finelon
Vice-Diretor das
Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida