“Igreja missionária, testemunha de
misericórdia” é o título da mensagem do Santo Padre para o Dia Mundial das
Missões, a ser celebrado no terceiro domingo de outubro. No Regina Coeli deste
Domingo de Pentecostes o Papa Francisco falou sobre a mensagem aos presentes:
"Hoje, no contexto muito apropriado de
Pentecostes, é publicada a minha mensagem para o próximo Dia Mundial das
Nações, celebrado a cada ano no mês de outubro. Que o Espírito Santo dê
força a todos os missionários ad gentes e apoie a missão da Igreja no
mundo inteiro. E que o Espírito Santo nos dê jovens - moças e rapazes - fortes,
que tenham vontade de anunciar o Evangelho. Peçamos isto hoje ao Espírito
Santo".
Eis
a íntegra do texto:
“Queridos irmãos e irmãs!
O Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que
a Igreja está a viver, proporciona uma luz particular também ao Dia Mundial das
Missões de 2016: convida-nos a olhar a missão ad gentes como uma grande, imensa
obra de misericórdia quer espiritual quer material. Com efeito, neste Dia
Mundial das Missões, todos somos convidados a «sair», como discípulos
missionários, pondo cada um a render os seus talentos, a sua criatividade, a
sua sabedoria e experiência para levar a mensagem da ternura e compaixão de
Deus à família humana inteira. Em virtude do mandato missionário, a Igreja tem
a peito quantos não conhecem o Evangelho, pois deseja que todos sejam salvos e
cheguem a experimentar o amor do Senhor. Ela «tem a missão de anunciar a
misericórdia de Deus, coração pulsante do Evangelho» (Bula Misericordiae
Vultus, 12), e anunciá-la em todos os cantos da terra, até alcançar toda a
mulher, homem, idoso, jovem e criança.
A misericórdia gera íntima alegria no coração
do Pai, sempre que encontra cada criatura humana; desde o princípio, Ele
dirige-Se amorosamente mesmo às mais vulneráveis, porque a sua grandeza e poder
manifestam-se precisamente na capacidade de empatia com os mais pequenos, os
descartados, os oprimidos (cf. Dt 4, 31; Sal 86, 15; 103, 8; 111, 4). É o Deus
benigno, solícito, fiel; aproxima-Se de quem passa necessidade para estar perto
de todos, sobretudo dos pobres; envolve-Se com ternura na realidade humana, tal
como fariam um pai e uma mãe na vida dos seus filhos (cf. Jr 31, 20). É ao
ventre materno que alude o termo utilizado na Bíblia hebraica para dizer
misericórdia: trata-se, pois, do amor duma mãe pelos filhos; filhos que ela
amará sempre, em todas as circunstâncias suceda o que suceder, porque são fruto
do seu ventre. Este é um aspeto essencial também do amor que Deus nutre por
todos os seus filhos, especialmente pelos membros do povo que gerou e deseja
criar e educar: perante as suas fragilidades e infidelidades, o seu íntimo
comove-se e estremece de compaixão (cf. Os 11, 8). Mas Ele é misericordioso
para com todos, o seu amor é para todos os povos e a sua ternura estende-se
sobre todas as criaturas (cf. Sal 144, 8-9).
A misericórdia encontra a sua manifestação
mais alta e perfeita no Verbo encarnado. Ele revela o rosto do Pai, rico em
misericórdia: «não somente fala dela e a explica com o uso de comparações e
parábolas, mas sobretudo Ele próprio a encarna e a personifica» (JOÃO PAULO II,
Enc. Dives in misericordia, 2). Aceitando e seguindo Jesus por meio do
Evangelho e dos Sacramentos, com a ação do Espírito Santo, podemos tornar-nos
misericordiosos como o nosso Pai celestial, aprendendo a amar como Ele nos ama
e fazendo da nossa vida um dom gratuito, um sinal da sua bondade (cf.
Bula Misericordiae Vultus, 3). A primeira comunidade que, no meio da
humanidade, vive a misericórdia de Cristo é a Igreja: sempre sente sobre si o
olhar d’Ele que a escolhe com amor misericordioso e, deste amor, ela deduz o
estilo do seu mandato, vive dele e dá-o a conhecer aos povos num diálogo
respeitoso por cada cultura e convicção religiosa.
Como nos primeiros tempos da experiência
eclesial, há tantos homens e mulheres de todas as idades e condições que dão
testemunho deste amor de misericórdia. Sinal eloquente do amor materno de Deus
é uma considerável e crescente presença feminina no mundo missionário, ao lado da
presença masculina. As mulheres, leigas ou consagradas – e hoje também
numerosas famílias –, realizam a sua vocação missionária nas mais variadas
formas: desde o anúncio direto do Evangelho ao serviço sociocaritativo. Ao lado
da obra evangelizadora e sacramental dos missionários, aparecem as mulheres e
as famílias que entendem, de forma muitas vezes mais adequada, os problemas das
pessoas e sabem enfrentá-los de modo oportuno e por vezes inédito: cuidando da
vida, com uma acrescida atenção centrada mais nas pessoas do que nas estruturas
e fazendo valer todos os recursos humanos e espirituais para construir
harmonia, relacionamento, paz, solidariedade, diálogo, cooperação e
fraternidade, tanto no setor das relações interpessoais como na área mais ampla
da vida social e cultural e, de modo particular, no cuidado dos pobres.
Em muitos lugares, a evangelização parte da
atividade educativa, à qual o trabalho missionário dedica esforço e tempo, como
o vinhateiro misericordioso do Evangelho (cf. Lc 13, 7-9; Jo 15, 1), com
paciência para esperar os frutos depois de anos de lenta formação; geram-se
assim pessoas capazes de evangelizar e fazer chegar o Evangelho onde ninguém
esperaria vê-lo realizado. A Igreja pode ser definida «mãe», mesmo para aqueles
que poderão um dia chegar à fé em Cristo. Espero, pois, que o povo santo de
Deus exerça o serviço materno da misericórdia, que tanto ajuda os povos que
ainda não conhecem o Senhor a encontrá-Lo e a amá-Lo. Com efeito a fé é dom de
Deus, e não fruto de proselitismo; mas cresce graças à fé e à caridade dos
evangelizadores, que são testemunhas de Cristo. Quando os discípulos de Jesus
percorrem as estradas do mundo, é-lhes pedido aquele amor sem medida que tende
a aplicar a todos a mesma medida do Senhor; anunciamos o dom mais belo e maior
que Ele nos ofereceu: a sua vida e o seu amor.
Cada povo e cultura tem direito de receber a
mensagem de salvação, que é dom de Deus para todos. E a necessidade dela
redobra ao considerarmos quantas injustiças, guerras, crises humanitárias aguardam,
hoje, por uma solução. Os missionários sabem, por experiência, que o Evangelho
do perdão e da misericórdia pode levar alegria e reconciliação, justiça e paz.
O mandato do Evangelho – «Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos,
batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a
cumprir tudo quanto vos tenho mandado» (Mt 28, 19-20) – não terminou, antes
pelo contrário impele-nos a todos, nos cenários presentes e desafios atuais, a
sentir-nos chamados para uma renovada «saída» missionária, como indiquei na
Exortação Apostólica Evangelii gaudium: «cada cristão e cada comunidade há de
discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a
aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar
todas as periferias que precisam da luz do Evangelho» (n. 20).
Precisamente neste Ano Jubilar, celebra o seu
nonagésimo aniversário o Dia Mundial das Missões, promovido pela Pontifícia
Obra da Propagação da Fé e aprovado pelo Papa Pio XI em 1926. Por isso,
considero oportuno recordar as sábias indicações dos meus Predecessores,
estabelecendo que fossem destinadas a esta Opera todas as ofertas que cada
diocese, paróquia, comunidade religiosa, associação e movimento, de todo o
mundo, pudessem recolher para socorrer as comunidades cristãs necessitadas de
ajuda e revigorar o anúncio do Evangelho até aos últimos confins da terra.
Também nos nossos dias, não nos subtraiamos a este gesto de comunhão eclesial
missionário; não restrinjamos o coração às nossas preocupações particulares,
mas alarguemo-lo aos horizontes da humanidade inteira.
Santa Maria, ícone sublime da humanidade
redimida, modelo missionário para a Igreja, ensine a todos, homens, mulheres e
famílias, a gerar e guardar por todo o lado a presença viva e misteriosa do
Senhor Ressuscitado, que renova e enche de jubilosa misericórdia as relações
entre as pessoas, as culturas e os povos”.
Vaticano,
15 de maio – Solenidade de Pentecostes – de 2016.
Fonte:
http://arqrio.org/noticias/detalhes/4388/publicada-mensagem-do-santo-padre-para-o-dia-mundial-das-missoes