D.
Orani João Tempesta
Cardeal
Arcebispo do Rio de Janeiro
Em nossa reunião no início de julho com os
Bispos Auxiliares e Vigários Episcopais, aprofundamos alguns passos para os
próximos anos dentro do 12º Plano de Pastoral da Arquidiocese. Ele está sendo
elaborado, mas necessitamos de algumas luzes em nossa caminhada para o futuro.
Neste ano, em outubro iremos iniciar com toda
a Igreja do Brasil o Ano Mariano (300 anos do encontro da imagem de Nossa
Senhora Aparecida no Rio Paraíba). Em 2017, a CNBB já proclamou que teremos o
Ano do Cristão Leigo. Isso além dos temas das próximas Campanhas da
Fraternidade e outros que o Papa queira também propor para toda a Igreja.
Nesse sentido, sentimos que somos chamados a
direcionar alguns aspectos desses anos com alguns temas necessários para nossa
realidade urbana. Sentimos que precisamos contemplar o tema da Família, tão
trabalhado nos últimos sínodos e que mereceu uma Exortação Apostólica
Pós-sinodal do Papa Francisco, “Amoris Laetitia”. Por isso, o tema Mariano para
nós será aprofundado com os olhares da família. A Sagrada Família deverá nos inspirar
nesse Ano Mariano, ao mesmo tempo em que somos chamados a aprofundar as
situações das famílias hoje.
Para o Ano do Cristão Leigo pensamos que será
muito importante aprofundar a vocação do Cristão Leigo no âmbito interno da
Igreja com os diversos ministérios, conselhos, participações e, principalmente,
a vocação do Cristão Leigo no mundo. Ser fermento no meio da massa, tendo como
fundamento a sua experiência com Jesus Cristo e “sentindo com a Igreja e como
Igreja”.
Nesses dois anos o Serviço de Animação
Vocacional terá um grande trabalho a fazer, demonstrando a diversidade da
vocação cristã e a necessidade de convergirmos todos à santidade. Isso nos
ajudará a ver todos esses temas em enfoque vocacional. Vocação ao matrimônio, a
viver como cristão leigo etc. Aliás, é essa a característica que vivemos no mês
vocacional, o mês de Agosto.
Além disso, a presença da vocação religiosa e
sacerdotal poderá ser trabalhada tanto na família como no relacionamento com os
cristãos leigos. Nesse sentido, em todos esses anos a Obra das Vocações
Sacerdotais, dentro da Pastoral Vocacional, teria um grande trabalho a fazer.
No primeiro ano procurar chegar à totalidade das paróquias com essa pastoral ou
OVS. Depois dar passos para que o relacionamento clero e leigos se edifique
dentro do clima cristão e fraterno, em colaboração e respeito mútuo. Ao final
desses dois anos, já orientados nessa linha, poderemos então aprofundar a
especificidade da vocação aos ministérios ordenados, com um ano vocacional
específico.
Dessa forma teremos oportunidade de
contemplar a Família, Maria, Fiéis Leigos e suas Vocações, e as Vocações de
especial consagração ao termo desses três anos.
Ao presidir, na véspera da Solenidade de São
João Batista junto com os novos sacerdotes ordenados neste ano, pude ver a
animação da OVS e o grande trabalho que realizam. Por isso, tanto a OVS como a
Pastoral Vocacional e outras afins são convidadas a se engajarem nestes tempos,
ajudando na reflexão arquidiocesana.
Essa Eucaristia foi uma oportunidade de levar
uma palavra de gratidão da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro para
todos os membros da OVS, e a minha gratidão pessoal pelo trabalho silencioso de
todos os que, primeiramente, rezam pelas vocações sacerdotais, e, em segundo
momento, partilham seus recursos materiais em favor da formação de futuros
sacerdotes para o serviço da Igreja e para a santificação de todos os fiéis.
Na missa do domingo do Bom Pastor, em 17 de
abril de 2016, o Papa Francisco assim se expressou por ocasião do 53º Dia de
Oração pelas Vocações: “Como gostaria que todos os batizados pudessem, no
decurso do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, experimentar a alegria de
pertencer à Igreja”!
O fiel batizado (cristão leigo) é o primeiro
responsável pela evangelização, por isso como pertencente a uma comunidade
concreta dentro da Igreja. A pertença eclesial, fundamentalmente, deve ser
experimentada na vida familiar. É propriamente na família que permanece a
primeira comunidade para a transmissão da fé católica.
A solicitude com as vocações pressupõe, de
fato, uma válida participação das famílias, dos movimentos em que rezam e dão
testemunho de amor pelas vocações sacerdotais. Grande parte desse apoio vem das
comunidades paroquiais ou de pastorais ou movimentos, quando existe a falta de
uma família constituída.
O Concílio Vaticano II, pelo Decreto “Optatam
Totius”, sobre a formação sacerdotal, de 28 de outubro de 1965, ensinou
que: “O dever de fomentar as vocações pertence a toda a comunidade cristã, que
as deve promover sobretudo mediante uma vida plenamente cristã; mormente para
isso concorrem quer as famílias, que animadas pelo espírito de fé, de caridade
e piedade, são como que o primeiro seminário, quer as paróquias, de cuja vida
fecunda participam os mesmos adolescentes. Os mestres e todos aqueles que, de
algum modo, se ocupam da educação das crianças e dos jovens, principalmente as
Associações Católicas, de tal forma procurem cultivar o espírito dos
adolescentes a si confiados, que eles possam sentir e seguir de bom grado a
vocação divina. Os sacerdotes manifestem o máximo zelo em favorecer as
vocações; e pela sua própria vida humilde, laboriosa, levada com ânimo alegre,
assim como pela mútua caridade sacerdotal e fraterna cooperação, atraiam a alma
dos adolescentes para o sacerdócio”. (Cf. Optatam Totius n. 2).
Propiciamente, a missão da Obra das Vocações
Sacerdotais é esta: “Aos Bispos pertence levar o seu rebanho à promoção das
vocações, e procurar a colaboração de todas as forças e obras; e sem se
pouparem a sacrifícios, ajudarem, como pais, aqueles que eles mesmos julguem
chamados à herança do Senhor. Esta diligente colaboração de todo o Povo de Deus
em promover as vocações corresponde à ação da Providência divina, que concede
os dotes necessários àqueles que são chamados por Deus a participar do
sacerdócio hierárquico e ajuda-os com a Sua divina graça, ao mesmo tempo em que
aos legítimos ministros da Igreja confia o encargo de, uma vez reconhecida a
idoneidade, chamarem os candidatos que, com intenção reta e liberdade plena,
pedirem tão alto múnus, e de os consagrarem com o selo do Espírito Santo para o
culto de Deus e serviço da Igreja. O sagrado Concílio recomenda, acima de tudo,
os meios tradicionais de cooperação comum, como são: a oração fervorosa, a
penitência cristã, e a formação cada vez mais perfeita dos fiéis por meio da
pregação, da catequese e dos meios de comunicação social. Nesta formação há de
expor-se a necessidade, a natureza e a excelência da vocação sacerdotal. Além
disso, manda que a Obra das Vocações, segundo os documentos pontifícios nesta
matéria, já fundada ou a fundar no âmbito de cada diocese, região ou nação,
organize metódica e coerentemente e promova com zelo e discrição uma ação
pastoral de conjunto para o fomento de vocações, sem deixar de lado nenhum dos
meios que as hodiernas ciências psicológicas e sociológicas utilmente oferecem.
É necessário que a Obra das Vocações transcenda generosamente os limites da
diocese, da nação ou das famílias religiosas ou ritos e olhe para as
necessidades da Igreja universal, prestando auxílio principalmente àquelas
regiões que reclamam com mais instância obreiros para a vinha do Senhor (grifo
nosso)”. (Cf. Optatam Totius n. 2).
Esse documento, que já foi comemorado seus 50
anos, é uma iluminação Conciliar, do Vaticano II, em que a Igreja vivamente
recomenda que a OVS nos ajudará a percorrer esses anos contemplando as várias
situações vocacionais. Aqui entre nós a OVS conta com mais de setenta anos de
caminhada, numa feliz iniciativa de nosso predecessor, o Cardeal Sebastião
Leme. A Obra das Vocações tem o dever ingente de ser solidária com as necessidades
da Igreja, inclusive do ponto de vista da generosidade de auxiliar a Igreja nos
lugares de missão.
Convido todos os pais de família a
participarem da OVS, como família cristã. Espero que como membros da OVS todos,
generosamente, possamos oferecer nossa vida, nossos dons, nossos sacrifícios
pelas vocações, em especial pelo nosso Seminário São José, o coração alegre do
Arcebispo e da Arquidiocese: “Rogai, pois, ao Senhor da messe que envie
trabalhadores para a sua messe” (Mt. 9, 38). Pela oração do povo de Deus e pela
oração de toda a Igreja, que tenhamos mais vocações para a generosidade de
amar, servir, perdoar, acolher e testemunhar Jesus Cristo!
Fonte:
http://arqrio.org/formacao/detalhes/1318/as-vocacoes-na-igreja