Cumplicidade talvez essa seja a palavra mais
adequada para descrever a relação de avós e netos que traz uma série de
benefícios para todos os envolvidos. O dia 26 de julho é dia de celebrar a vida
dos avós e a memória de São Joaquim e Sant´Ana, pais de Maria, avós de Jesus.
De acordo com a tradição cristã, os Santos
são lembrados por terem educado Maria no caminho da fé, alimentando seu amor
pelo Criador e preparando-a para sua missão. Essa formação, influenciou
profundamente na educação de Jesus.
A devoção a Sant’Ana chegou ao Brasil trazida
pelos portugueses. Ana é a imagem da mãe educadora e da avó que ensina os
netos. Entretanto, na velhice os papeis muitas vezes se invertem. Os netos
acabam cuidados dos seus avós. Mesmo assim, na condição de idosos não deixam de
ensinar, repassar aos mais jovens aquilo que aprenderam com a vida, pois
carregam consigo uma coisa chamada ‘experiência de vida’.
De acordo com o arcebispo de Curitiba e
referencial da Pastoral da Pessoa Idosa, dom José Antônio Peruzzo, o melhor dos
aprendizados é aquele que contempla intensamente a dimensão afetiva das
relações de encontro e de comunhão. Eis aí o lugar dos avós para os netos.
Segundo ele, nos dias atuais é muito comum que pai e mãe trabalhem fora. A
presença dos avós se torna mais ativa.
“O
benefício é recíproco. Para eles renovam-se as vitalidades e os afetos. Para os
netos a presença do Vô e da Vó lhes infunde um senso de largueza das relações
familiares. Ao mesmo tempo percebem, desde a infância, a realidade da
fragilidade, o que lhes favorece a superação de preconceitos, o sentido de
solidariedade, além do valor da partilha, ressalta.
Nesse contexto, o cuidado e a preocupação com
idosos são fundamentais. Uma pesquisa do IBGE, divulgada em maio de 2019,
mostra que população brasileira está envelhecendo. Entre 2012 e 2018, houve um
aumento de 26% no número de pessoas com 65 anos de idade ou mais, ou seja,
10,5% (21,872 milhões) do total da população residentes no Brasil em 2018 que
foi estimada em 207,8 milhões de pessoas.
Diante dessa realidade, a Igreja no Brasil
tem realizado um trabalho de acolhida e cuidado através da pastoral da Pessoa
Idosa, criada em 1993 pela médica pediatra e sanitarista Zilda Arns Neumann,
também criadora da Pastoral da Criança. Segundo sua fundadora, o objetivo é
fazer com que os idosos tenham uma vida melhor, mais saúde, mais alegria e
possam participar ativamente das comunidades onde estão inseridos.
Dom Peruzzo ressalta que apesar da população
brasileira esta cada vez mais longeva, os idosos frequentemente são
esquecidos. “É elevado o número dos que experimentam quadros de esquecimento, de
tácito desprezo, mergulhados em situações de graves frustrações, justamente em
uma fase frágil de suas vidas. A lembrança dos Avós recorda à Igreja seu
indispensável compromisso com os mais fracos”.
Nesse contexto, a celebração da festa de São
Joaquim e Sant’Ana, se destaca pela importância dos avós na vida da família,
principalmente, na transmissão da fé que é essencial para qualquer sociedade.
Mas também é um data que faz refletir sobre a vida como tem sido a vida e a
relação das famílias com seus idosos.
“Nossa
gente ainda não parou para olhar com atenção a feição para os milhares, mas
muitos milhares, de idosos imersos em solidão nas nossas grandes metrópoles.
Especialmente nas áreas urbanas mais antigas (edifícios e/ou casas antigas) há
idosos esquecidos. Com isso, acentuam-se, então, quadros de depressão e
sentimentos de abandono, de inutilidade”.
No Regional Sul 4 da CNBB, que abrange o
estado de Santa Catarina, por exemplo, a Pastoral da Pessoa Idosa da
Arquidiocese de Florianópolis, realiza sempre no dia 26 de julho a tradicional
festa no Santuário de Santa Paulina, em Vígolo, Nova Trento (SC), que conta com
longa programação que conta com a Santa Missa, almoço e bingo animado.
“O
objetivo do encontro é celebrar o dia dos avós e proporcionar momentos de
alegria, oração e congraçamento de avós”, destaca a coordenadora arquidiocesana
da pastoral em Florianópolis (SC), Oswaldina Zucco Weber.
Atualmente, a pastoral que foi implantada na
arquidiocese em 2006, atua em 26 paróquias, abrangendo 15 municípios. Ao todo,
1.080 idosos são visitados, mensalmente, por 312 líderes comunitários
voluntários. Já no estado de Santa Catarina a pastoral está implantada em nove
dioceses e atende quase seis mil idosos mensalmente.
O atendimento pastoral a pessoa idosa também
é destaque no Regional Sul 1 da CNBB, que abrange o estado de São Paulo. Cada
aqui/diocese prepara sua programação que em geral contempla a missa, palestras
variadas, bingo, chá da tarde, brincadeiras, danças e artesanatos para os
idosos acompanhados pela pastoral.
A coordenadora estadual da Pastoral da Pessoa
Idosa do Regional Sul 1 da CNBB, Sandra Michellin, diz que a pastoral contribui
e muito com o que pede o Papa Francisco aos cristãos, serem uma Igreja em
saída, indo ao encontro do mais necessitado.
“Nós
enquanto Igreja, somos convidados a levar o olhar misericordioso de Deus aquela
pessoa idosa fragilizada, que pode ter feito parte da comunidade e hoje não
pode mais sair de seu domicílio; então o líder vai para dizer que Deus a ama”,
destaca.
Sandra ressalta ainda que durante a visita
dos agentes da pastoral há sempre o momento de oração, na maioria das vezes
solicitada pela própria pessoa idosa. Segundo a coordenadora, no estado de São
Paulo são acompanhadas 15.500 pessoas idosas; 12.700 famílias através de 2.960
lideres atuantes.
“É
a oportunidade do líder mostrar o amor infinito que Deus tem por cada um de
nós. É nos ensinamentos da nossa amada Igreja que o Líder se abastece para
passar adiante”, diz Sandra.
“A
Pastoral da Pessoa Idosa, para muitos deles, é o afeto pelo qual anseiam. E é a
presença solidária, carinhosa e gratuita da Igreja justamente naquelas
situações em que até a voz e as forças declinam. É uma missão pouco vista, mas
de silenciosas e evangélicas evidências”, finaliza dom Perruzzo.
Neste 26 de julho, celebrar a festa de São
Joaquim e Sant’Ana é festejar a importância dos avós na vida da família, o
relacionamento entre avós e netos e, principalmente, o cuidado e o afeto com
aqueles que carregam na bagagem longos anos de vida.