D. Orani João Tempesta
Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro
Depois da solene Festa do Sagrado Coração de
Jesus, que foi também o Dia de Oração pela Santificação Sacerdotal, e da
memória carinhosa do Imaculado Coração de Maria, neste ano coincidindo com a de
Santo Antônio de Pádua ou de Lisboa, chegamos ao 11º Domingo do Tempo Comum.
Neste domingo em que ouvimos parábolas do Reino e com comparações bem simples,
somos chamados a abrir o coração para acolher o Senhor que nos convoca.
Estejamos atentos, porque o Senhor nos falando do Reino de Deus, Reino que
começa aqui, experimentado quando nós abrimos para o anúncio de Jesus; Reino
que será pleno na glória, quando cada um de nós e toda a humanidade, com a sua
história, entrar, um dia, na plenitude do coração da Trindade Santa.
O que nos diz o Senhor? Diz-nos que o Reino
de Deus vem de modo humilde e se manifesta nas coisas pequenas. Pequenas como
um grãozinho jogado na terra, como uma semente de mostarda, como um brotinho
frágil e sem aparente valor. O Reino é como o próprio Jesus: aquele brotinho
retirado da ponta da grande árvore da dinastia de Davi... aquele brotinho
pobre, da carpintaria de Nazaré, donde nada que prestasse poderia vir. Os modos
de Deus, a lógica de Deus, o jeito de Deus! Como tudo é tão diverso de nossas
expectativas!
Outra lição deste domingo cotidiano: o Reino
vem aos poucos. Inaugurado e plantado definitivamente no chão deste mundo e irá
crescendo como a semente, como o grão de mostarda, aos poucos. Somos tão
impacientes, gostaríamos tanto que Deus respeitasse nossos prazos. Mas, não! Se
os pensamentos do Senhor não são os nossos, tampouco seus tempos são iguais aos
da gente! Somente perseverará na paciência aquele que souber adequar-se aos
tempos de Deus. E Deus contempla o tempo na perspectiva da eternidade e não das
nossas pressas. Assim vai o Reino brotando humildemente na história e no
coração do mundo, de um modo que somente quem reza e contempla pode perceber.
Nós, filhos de um mundo tão pragmático e
autossuficiente, temos tanta dificuldade em perceber a ação de Deus! Pensamos
que nós é que fazemos, que nós é que somos os sujeitos últimos do mundo e da
história! Como estamos enganados! É Deus quem faz o Reino desenvolver-se na
potência do Espírito. Que diz o Senhor? "O Reino de Deus é como quando
alguém espalha a semente na terra. Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a
semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece"!
Nós, com a graça de Deus, vamos plantando o Reino que Cristo trouxe. Como
plantamo-lo? Plantamos quando nós nos abrimos à graça, plantamos com nosso
exemplo, plantamos com nossa palavra, plantamos com nossa ação. Mas, cuidado! É
o próprio Deus, com a energia do Santo Espírito, quem faz o Reino crescer: é obra
D’Ele, não nossa. São Paulo não nos dizia? Um é o que planta, outro, o que
rega, mas é Deus quem faz crescer. É assim que Deus vai agindo, tomando nossas
pobres sementes e fazendo-as desabrochar no seu Reino, vigor, paciência e
suavidade.
Um dia, diz Jesus, chegará o momento da
colheita. Haverá um fim na história humana, caríssimos, e, então, "todos
deveremos comparecer ante o tribunal de Cristo, para cada um receber a devida
recompensa – prêmio ou castigo – do que tiver feito na sua vida corporal".
Não adianta querer esquecer, de nada serve fingir que não sabemos: aqui estamos
de passagem, aqui vamos semeando o Reino que Jesus trouxe e que Deus mesmo faz
crescer; mas, a colheita definitiva não será nesta vida, pois o Reino que
começa no tempo, haverá de espraiar-se na eternidade; o Reino que deve fecundar
a história somente será pleno e definitivo na glória. Como seríamos mais
livres, equilibrados se recordássemos essa realidade! Como teríamos o cuidado
de viver de tal modo, que não perdêssemos o Reino! Não entrará no Reino quem
não permitir que o Reino entre em si. Em certo sentido, não somos nós que
entramos no Reino, mas o Reino que entra em nós! Abrir-se para o Reino é
abrir-se para o Cristo Jesus! Abramo-nos para Ele e Ele nos abrirá o seu Reino!
Uma última lição de Jesus para nós, hoje: o
seu sonho é que todos entrem no seu Reino, naquela casa do Pai na qual há
muitas moradas! É por isso que, na Primeira Leitura, pousarão todos os pássaros
à sombra da ramagem da árvore que é o Messias, e as aves aí farão ninhos. O
mesmo Jesus diz do Reino, comparado ao pequeno grão de mostarda que germina e
se torna arvora frondosa. O Senhor nos ama a todos, nos quer todos felizes, nos
chama a todos! Se lhe dermos ouvidos, se aprendermos o compasso do seu coração,
experimentaremos a alegria do Reino já nesta vida, com provações, e, um dia,
haveremos de saboreá-lo por toda a eternidade! – Senhor Jesus, dá-nos, pois, a
graça de abrir as portas do nosso coração e do coração do mundo para o Reino do
Pai que anunciaste e inauguraste! Venha o Reino na potência do teu Espírito que
habita em nós e no coração da Igreja! E que através de nós, ele se faça sempre
mais presente no mundo. Que neste Ano da Esperança, o Senhor nos conduza para
sermos sempre mais suas testemunhas!