Desde o início de seu pontificado o Papa
Francisco tem, com frequência, falado sobre o meio ambiente e sobre a
responsabilidade do homem diante da criação. As mensagens vieram em homilias,
encontros com jornalistas e em diversos documentos nos quais o Pontífice
expressou seu ponto de vista sobre estes temas.
No dia da publicação da nova encíclica
Laudato Si, rever os conceitos do Papa pode facilitar a leitura do novo
documento. Nas considerações prévias de Francisco sobre o tema da criação,
identificam-se alguns dos argumentos principais do pontífice. Não há, contudo,
nenhuma referência do Papa às teorias científicas que descrevem as mudanças
climáticas, todavia o Pontífice faz um convite à discussão e ao debate destas
hipóteses.
Ecologia humana
O primeiro aspecto diz respeito ao impacto
sobre os seres humanos e sobre o ambiente do progresso econômico, das novas
tecnologias e do sistema financeiro. Em 2013, o Papa falou pela primeira vez de
uma nova concepção de ecologia humana, incutindo a esta um caráter fortemente
social. “Os Papas falaram de ecologia humana unicamente ligada à ecologia
ambiental... A pessoa humana está em perigo: isto é certo, a pessoa humana hoje
está em perigo, aí está a urgência da ecologia humana”.
Cultura do descarte
Um segundo tema importante é uma das marcas
do pontificado de Francisco: o termo “cultura do descarte”. Contra esta, o Papa
pede que sejam destacados o valor intrínseco e a dignidade de todos os seres
vivos. Ao recordar um pensamento do Papa Bento XVI que diz que, com frequência,
somos guiados pela soberba da dominação, da posse, da manipulação e da
exploração, ainda em 2013 Francisco alertou para “os homens e mulheres que são
sacrificados aos ídolos do lucro e do consumo: esta é a ‘cultura do descarte’”.
Na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, o
Papa retomou este pensamento: “Neste sistema que tende a fagocitar tudo para
aumentar os benefícios, qualquer realidade que seja frágil, como o meio
ambiente, fica indefesa face aos interesses do mercado divinizado, transformados
em regra absoluta”. (EG 56)
Soluções: cultura do
encontro
No primeiro ano de pontificado, Francisco
convidou a todos os homens e mulheres de boa vontade a refletir sobre o
problema da perda e do desperdício de alimento para identificar soluções que,
afrontando a problemática seriamente, possam ser veículos de solidariedade e
partilha com os mais necessitados.
Neste contexto, uma outra expressão-chave do
magistério de Francisco passa a ser sublinhada: a cultura do encontro. Na
metade de 2013, o Papa fez um pedido: “Gostaria que todos nós nos
comprometêssemos em respeitar e cuidar da criação, de estar atentos a cada
pessoa, de contrastar a cultura do desperdício e do descarte para promover uma
cultura da solidariedade e do encontro”.
Possibilidades da cultura do
encontro
O Papa vem oferecendo, ao longo de 2014 e
deste ano, diversas vertentes da cultura do encontro na visão cristã “que
comporta um juízo positivo sobre a idoneidade das intervenções sobre a natureza
para tirar-lhe proveito”.
No início deste ano, o Pontífice se disse
“desiludido diante da falta de coragem” da Comunidade internacional ao não
tomar decisões concretas na conferência do clima de Lima. E auspicou que em
Paris, em dezembro próximo, durante a nova conferência sobre as mudanças
climáticas os representantes “sejam mais corajosos”.
Francisco afirmou ainda ter “bebido em
diversas fontes” durante a preparação da nova Encíclica e os quase 800 milhões
de famintos do mundo detiveram as reflexões de Francisco. Na tradicional
mensagem de 1º de janeiro, no ano passado o Papa recordou que é “um dever
obrigatório que os recursos da terra sejam utilizados de maneira que todos
possam ficar livres da fome”.
Um novo jeito de viver
Na homilia da Missa de inauguração de seu
pontificado, o Papa apresentou a vocação de cuidar da criação. “Queria pedir,
por favor, a quantos ocupam cargos de responsabilidade em âmbito econômico,
político ou social, a todos os homens e mulheres de boa vontade: sejamos
‘guardiões’ da criação, do desígnio de Deus inscrito na natureza, guardiões do
outro, do ambiente; não deixemos que sinais de destruição e morte acompanhem o
caminho deste nosso mundo!”.
Um último, porém não menos importante aspecto
a ser considerado durante a leitura da nova Encíclica, é a tradição da Igreja à
luz da Palavra do Criador e de suas criaturas.
“Pequenos mas fortes no amor de Deus, como
São Francisco de Assis, todos os cristãos são chamados a tomar conta da
fragilidade dos povos do mundo no qual vivemos”, afirmou o Papa mais uma vez na
Evangelii Gaudium.
Respeitando a criação hoje
De uma meditação matutina na Casa Santa
Marta, a resposta sobre como nos posicionarmos diante da criação nos dias de
hoje.
“Deus age, continua a trabalhar e nós podemos
perguntar-nos como devemos responder a esta criação de Deus, que nasceu do amor
porque Ele trabalha por amor”.
Assim, “à primeira criação devemos responder
com a responsabilidade que o Senhor nos dá: ‘A terra é vossa, ocupai-vos dela;
deixai que cresça!”.
Por conseguinte “também nós temos a
responsabilidade de fazer crescer a terra, de fazer crescer a criação, de a
preservar e fazer crescer segundo as suas leis: nós somo senhores da criação,
não donos”.
E não devemos “apoderar-nos da criação, mas
fazer com que ela possa ir em frente, fiéis às suas leis”.
Foto:
ANSA
Fonte:
http://arqrio.org/noticias/detalhes/3244/laudato-si-chaves-de-leitura-para-a-nova-enciclica-do-papa