Na
entrevista, a fundadora e superiora geral da Congregação de Nossa Senhora de
Belém, madre Maria Helena Cavalcanti, destacou que a congregação anuncia a
alegria de Cristo Ressuscitado através da evangelização em escolas e nas
catequeses. Além de auxiliar muitas catequistas com encontros de formação
sempre alegres, dinâmicos e, sobretudo, alicerçados na Sagrada Escritura.
Testemunho de Fé (TF) – Como
surgiu o desejo de se consagrar a Cristo?
Madre
Maria Helena Cavalcanti (Madre Maria Helena) – No Colégio Santa Maria, em Belo
Horizonte, tive a oportunidade de aprofundar minha fé sob a orientação das
Irmãs Dominicanas e recebi o chamado de Deus para a vida religiosa.
TF - Como nasceu a Congregação
de Nossa Senhora de Belém?
Madre
Maria Helena – Senti preocupação com relação ao ensino religioso quando, logo
após o término dos estudos com as irmãs dominicanas, passei a dar aulas sobre
religião numa escola pública. Ao retornar para casa, passava pela Paróquia da
Divina Providência, no Jardim Botânico, e diante de Jesus Sacramentado,
percebia como era pouco o que eu fazia.
Em
1952, eu já era religiosa no Colégio São Domingos, em Poços de Caldas (MG),
quando essa preocupação retornou-se muito forte. Organizei o movimento das
Alunas Missionárias, as quais davam aulas de formação religiosa em escolas da
cidade, na tentativa de atacar mais de perto esse problema.
Quando
retornei ao Rio de Janeiro, em 1957, depois de me apresentar ao padre
Negromonte, comecei, com a permissão de minha superiora, a dar aulas de
religião em três estabelecimentos do governo: Instituto de Educação, Rivadávia
Corrêa e Paulo de Frontin.
Depois
de quase dois anos de experiência nas escolas, no dia 20 de abril de 1958,
escrevi um relatório ao Cardeal Dom Jaime de Barros Câmara que me chamou ao
Sumaré para uma conversa. Ao final de duas horas, estava resolvida a fundação
da congregação.
TF - Como foi escolhido o
nome da congregação?
Madre
Maria Helena – Quando Dom Jaime me pediu que escolhesse um nome para a obra que
surgia, fiquei confusa. Lembrei-me então do que havia lido em uma biografia de
São Francisco de Assis. Ajoelhei-me, rezei e abri a Bíblia. Sem olhar, coloquei
o dedo em uma das páginas e caiu sobre a palavra Belém. Imediatamente me veio à
mente: pelas mãos de Maria. Então pensei, Nossa Senhora de Belém. Congregação
de Nossa Senhora de Belém. Faço muita questão desse ‘de’. A congregação é dela.
Depois percebi que se ficasse mil anos pensando, não encontraria nome mais adequado,
pois Belém significa Casa do Pão. Nossa intenção, além de prolongar o mistério
da Encarnação no meio estudantil laicizado, é a de que Belém seja realmente a
Casa do Pão: pão doutrinário, pão intelectual e o pão gostoso da sadia
convivência humana. Só alguns anos mais tarde alguém me lembrou de que o nome
escolhido era também o de minha cidade natal.
TF - Qual é o carisma e o
lema da congregação?
Madre
Maria Helena – Nosso carisma é prolongar o mistério da Encarnação no meio
estudantil laicizado, campo árduo que pede generosas vocações. Colaborando no
grande esforço missionário da Igreja, atuamos também na catequese paroquial e
em outras atividades que para tal contribuem. Nosso lema é “Eis que vos anuncio
uma grande alegria”(Lucas 2,10). Esta é a maior notícia que a humanidade jamais
recebeu: “Hoje vos nasceu na cidade de Davi o Salvador que é o Cristo Senhor!”
(Lucas 2,11). É a grande alegria que nos vem por Maria, causa de nossa alegria.
TF - A congregação é
composta somente por mulheres?
Madre
Maria Helena – Desde a fundação, a congregação se destina à Vida Consagrada
Feminina. Somos 74 irmãs entre as que têm votos perpétuos, junioristas, noviças
e postulantes.
TF - Quais as áreas de
evangelização?
Madre
Maria Helena – As irmãs são, em sua maioria, professoras do município e do
estado, ensino fundamental e ensino médio e, além disso, trabalham com o ensino
religioso, a catequese e atuam também nas paróquias. A novidade da nossa
humilde congregação é que, ao invés de termos colégios nossos, inserimo-nos através
de concurso na rede pública ou trabalhamos em escolas particulares.
Além
do anúncio da Boa Nova do Evangelho e do contato cotidiano nas salas de aula,
há os retiros, os passeios, os livros, a música, os domingos de formação, as
palestras nas paróquias e a pedagogia catequética nas Escolas Mater Ecclesiae e
Luz e Vida.
TF - Qual é a diferença da
catequese hoje e antigamente?
Madre
Maria Helena – Os pais são os primeiros catequistas. Atualmente percebe-se a
pouca participação das famílias na educação religiosa dos filhos. Muitas
crianças e jovens desconhecem Jesus, Sua mensagem e as orações que antigamente
eram ensinadas pelos pais e avós.
Comecemos
em casa nosso ardor de catequistas, a fim de não sermos só “ouvintes da
Palavra, mas praticantes”. É necessário, pois, uma tomada de consciência na fé,
um testemunho de vida na esperança e um anúncio da salvação na caridade.
TF - Quais são as
características de um catequista e sua influência para a Igreja?
Madre
Maria Helena – Integrar o conhecimento numa vida correta inspirada pelos
valores do Evangelho para anunciar a Palavra de Deus. Essa é a meta do
catequista. Não sejamos como carteiros levando a Carta de Deus, mas discípulos
que trazem suas palavras na mente, no coração e na vida.
Não
é preciso ser perfeito, do contrário ninguém estaria à altura. Porém, certos
requisitos são muito importantes. A vida do catequista não pode desmentir o que
sua boca fala. Quem não aprecia uma pessoa simpática, afável com todos,
exigente sem ser intolerante, mansa sem ser fraca, educada sem ser formal e,
principalmente, sincera e alegre na adesão a Cristo e à Igreja? Só uma chama
acende outra chama.
TF - Como é o caminho para
quem deseja entrar na congregação?
Madre
Maria Helena – A vocação é uma iniciativa divina, um dom de Deus. Um dos
fatores decisivos é a família cristã bem estruturada, na qual os filhos
percebem a coerência dos pais entre a fé que praticam e a vida que vivem. Nos
dias de hoje, toda vocação é um milagre. Basta ouvir a história de cada
vocacionado, de cada moça ou rapaz que procura a vida religiosa ou o
sacerdócio.
Para
aqueles que se sentem chamados a viver nosso carisma, é necessário em primeiro
lugar possuir real vocação. Além disso, os requisitos físicos, como boa saúde,
idade de 19 a 30 anos. É preciso que ore bastante e pergunte como São Paulo:
“Senhor que quereis que eu faça?” (At 9,6). Além disso, podem buscar conhecer
mais profundamente o carisma da congregação.
TF - Alegrias e desafios da
vocação e da missão de servir a Deus num mundo em mudança? Diferença dos tempos
iniciais e agora?
Madre
Maria Helena – A missão das Irmãs de Belém, onde quer que trabalhem, é
evangelizar pelo testemunho e pela palavra, sempre que possível. A Irmã de
Belém procura ser transparente para que ninguém se aproxime dela sem se
aproximar também de Deus. Geralmente, somos bem acolhidas, respeitadas e
estimadas pelos colegas de trabalho e alunos. Na verdade, como evangelizar sem
dar testemunho e como testemunhar a não ser por uma vida santa?
Foto: Gustavo de Oliveira
Fonte:
http://arqrio.org/noticias/detalhes/3483/vocacao-anunciar-o-amor-de-cristo-ressuscitado