D.
Orani João Tempesta
Cardeal
Arcebispo do Rio de Janeiro
Neste domingo, inicia-se em Roma a 14ª
Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, com o tema “A vocação e a
missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”. Até o final do mês (25
de outubro), os padres sinodais partilharão suas inquietações e soluções para
as questões da família hoje. Na III Assembleia Geral Ordinária que tivemos no
ano passado sobre os desafios pastorais da família no contexto da
evangelização, chegou-se a um texto conclusivo que serviu de base para as
discussões do atual Sínodo. Portanto, na abertura, o Santo Padre, o Papa
Francisco, ao abrir esse belo momento, estará discorrendo sobre o tema da
liturgia deste domingo, que é exatamente sobre a união conjugal. E ele recordou
sobre a questão da solidão, do amor entre o homem e a mulher e a situação da
família, recordando a doutrina da Igreja baseada nas Escrituras e, ao mesmo
tempo, a presença da mesma junto às pessoas que sofrem diante de tantas
situações hodiernas. Lembremos que o Papa Francisco já decidiu em “motu
próprio” como ter celeridade e gratuidade nos processos de nulidades
matrimoniais que passam a ser julgados em apenas uma instância embora persistam
sempre a possibilidades de recorrer às outras instâncias.
No Evangelho deste 27º Domingo do Tempo
Comum, os fariseus perguntam a Jesus sobre o divórcio. Moisés, na Lei, no
Antigo Testamento, o permitia. “E tu, Jesus, que dizes”? A resposta é muito
clara: “O que Deus uniu, o homem não separe! Quem se divorciar de sua
mulher e casar com outra, cometerá adultério contra a primeira. E se a mulher
se divorciar de seu marido e casar com outro, cometerá adultério”. São palavras
que ressoam desde aquela época e que nos questionam.
A afirmação de Jesus para os matrimônios
válidos continua repercutindo. Cristo é aquele que vem para tirar o pecado do
mundo e fazer novas todas as coisas. Sua missão é implantar o Reino de Deus,
destruindo o reino de Satanás, reconduzindo tudo ao plano original de Deus para
a sua criação. E esse plano tem muito a dizer sobre o homem, sobre sua vida
afetiva, sexual e social. Escutamos o Senhor ao responder aos fariseus: “No
princípio não era assim”. – eis a chave para compreender o pensamento de
Cristo! O casal é chamado e viver o amor como sinal do mesmo entre Cristo
e a Igreja.
Recordando o Gênesis, “no princípio”,
Jesus endossa a belíssima convicção de que homem e mulher têm a mesma
dignidade: ambos vivem do mesmo sopro divino; a mulher foi tirada do lado do
homem, como alguém que deve estar ao seu lado, como companheira de igual
dignidade e valor. Não deve existir contraposição entre os sexos, mas sim
complementaridade. Este é o plano de Deus. Viver com dignidade de filhos
de Deus.
Deus institui a família com o homem e a
mulher, num amor aberto à vida: “O homem deixará seu pai e sua mãe e os
dois serão uma só carne”. Que coisa: um deixar, um encontrar, um unir-se,
um gerar vida! “Crescei e multiplicai! Dominai a terra”! (Gn 1,28). É esta
a revelação que recebemos e que Cristo, nosso Senhor, confirmou, elevando
o matrimônio à dignidade de sacramento, santificando-o com a sua graça! No
plano de Deus, toda família é santa, todo lar é sagrado!
Agora podemos compreender a palavra de Jesus
no Evangelho! Naquele tempo havia o divórcio... “Foi por causa da dureza
do vosso coração que Moisés” permitiu o divórcio! “No entanto, no princípio da
criação Deus os fez homem e mulher... Já não são dois, mas uma só carne.
Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe”! É uma palavra que parece dura,
e os próprios discípulos tiveram dificuldades em compreender... Jesus veio para
reconduzir este mundo ferido pelo pecado ao plano original de Deus. Ora, o
sonho de Deus para o amor conjugal é que ele seja uma entrega total e plena, no
amor indissolúvel, fiel e fecundo. Este é o ideal que Jesus aponta aos seus
discípulos. O matrimônio abraçado por um cristão e uma cristã plenamente
conscientes, responsáveis e capazes, no Senhor Jesus, é indissolúvel!
Jesus diz ainda no Evangelho que é necessário
ter um coração de criança. “Em verdade vos digo: quem não receber o Reino
de Deus como uma criança, não entrará nele”! Ter coração de criança é deixar-se
conduzir pelo Senhor, é acolher confiantemente a Sua palavra a nosso respeito,
mesmo quando esta nos é difícil. Mas não o conseguiremos sem a disposição para
sofrer com Cristo, para nos deixar a nós mesmo. A Carta aos Hebreus, na segunda
leitura deste domingo, nos apresenta Jesus “coroado de glória e honra, por
ter sofrido a morte” e afirma que “pela graça de Deus em
favor de todos, ele provou a morte” e foi levado“ à consumação por meio dos
sofrimentos”.
Caríssimos, não nos iludamos: jamais
compreenderemos as exigências do Evangelho, jamais teremos a força de
abraçá-las, se não estivermos dispostos a participar do sofrimento e das
renúncias do Cristo Jesus, aquelas mesmas que O fizeram estar agora coroado de
glória. Ele que vive e reina pelos séculos.
Nestes tempos difíceis e complexos, diante de
tão bela e importante vocação como é a matrimonial, rezemos para que a abertura
à ação do Espírito Santo ajude todos os casais a serem testemunhas alegres de
vida matrimonial. A grande resposta da Igreja ao mundo de hoje deve ser através
desses testemunhos. Acompanhemos a 14ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos
Bispos com nossas orações e unidade.
Fonte:
http://arqrio.org/formacao/detalhes/923/familia-hoje