D.
Orani João Tempesta
Cardeal
Arcebispo do Rio de Janeiro
Estamos em pleno mês das missões. Este
terceiro domingo de outubro é o Dia Mundial das Missões e da Obra Pontifícia da
Infância Missionária. É quando realizamos em todo o mundo a Coleta para as
missões. O Papa Francisco convocou o mundo parta este Mês Missionário
Extraordinário que tem como Tema: “Batizados e enviados: a Igreja de Cristo em
missão no mundo”.
A intenção do Santo Padre, o Papa Francisco,
de proclamar um Mês Missionário Extraordinário para este outubro de 2019 foi
com a finalidade de celebrar o centenário da carta Apostólica Maximum
Illud de seu predecessor o Papa Bento XV. No dia 22 de outubro de 2017 o
Santo Padre enviou uma carta ao Cardeal Fernando Filoni, prefeito da
Congregação para Evangelização dos Povos e presidente do comitê das Pontifícias
Obras Missionárias (POM), encomendando “a tarefa de preparar este evento,
especialmente através de ampla sensibilização das Igrejas particulares, dos
Institutos de vida consagrada e Sociedades de vida apostólica, assim como,
associações, movimentos, comunidades e outras realidades eclesiais”.
Neste mês, olhando a nossa realidade
diocesana, paroquial e comunitária somos convidados a despertar a consciência
missionária, com vitalidade pastoral (Cf. EG 15), colocando Jesus no coração da
Igreja. Queremos também nos preparar para o próximo tempo em nossa arquidiocese
que é de sensibilizar a todos para que tenham a convicção de que uma vez
batizados, todos somos enviados, missionários. Batizados: sempre missionários.
Eis o desafio que o Documento de Aparecida coloca para nós: missão permanente.
Os dias, semanas, meses e ano missionários são para fecundar a perenidade da
missão para todo católico.
Este processo de missão evangelizadora passa
pela conversão pessoal, comunitária e pastoral a Jesus Cristo crucificado,
ressuscitado e vivo em sua Igreja, renovará o ardor e a paixão por testemunhar
ao mundo, através da proclamação e da experiência cristã o Evangelho da vida e
da alegria pascal (Cf. Lc 24,46-49). A missão começa com o testemunho de vida
pessoal daqueles que se deixaram configurar a Cristo Jesus.
Reflitamos
sobre alguns aspectos da missão:
Primeiro –
Encontro com Jesus. Nossa missão deve ser centralizada na pessoa de Jesus
Cristo. A alegria de ser discípulo e missionário de Jesus Cristo. O encontro
com Jesus Cristo é motivo de alegria por termos sido enviados com o tesouro do
Evangelho. A alegria se torna maior ainda quando podemos comunicar a nossa fé a
todos os homens e mulheres feridos pelas adversidades. Conhecer Jesus é o
melhor presente que qualquer pessoa pode receber e tê-lo encontrado é o que
aconteceu de melhor em nossa vida. (Cf. DAp 29). Esse encontro com Jesus se faz
na celebração da Santa Eucaristia e na sua piedosa participação, na escuta,
meditação e vivência da Palavra de Deus; no cultivo da oração pessoal e na
participação da oração comunitária. A missão da Igreja é evangelizar: A nossa missão
é anunciar a todos que Deus nos ama, que é Pai e não ameaça a ninguém, que Ele
está perto com seu poder salvador e libertador, que Ele nos acompanha na
tribulação, que alenta nossa esperança em meio às provas. O Missionário anuncia
sempre as Boas Novas para a humanidade. A Igreja e nós também que somos Igreja,
devemos cumprir nossa Missão seguindo os passos de Jesus (Mt 9,35-36), com os
mesmos sentimentos de Jesus (Fl 2,8). O discípulo aprende do seu Mestre (Lc
6,20 e Lc 9,58 e Lc 10,4ss). O Missionário enxerga no rosto de Jesus morto e
ressuscitado, maltratado pelos nossos pecados e glorificado pelo Pai, o rosto
humilhado de tantos homens e mulheres de nossos povos, a quem a Igreja se põe a
serviço.
Muitos
são os lugares de Encontro com o Senhor:
–
Na fé recebida e vivida na Igreja Católica, onde temos tudo o que é bom, tudo o
que é motivo de segurança e de consolo. (DAp. 246)
–
Na Sagrada Escritura, proclamada na Igreja, não só de forma intelectual, mas
com coração “faminto de ouvir a Palavra do Senhor” (Am 8,11) (DAp. 247-249)
–
Na Sagrada Liturgia onde se vive as três dimensões da vocação cristã: crer,
celebrar e viver o mistério de Jesus Cristo. (DAp 250-253)
–
No Sacramento da Reconciliação, onde o pecador experimenta o encontro com Jesus
que nos faz sentir que o amor é mais forte do que o pecado. (DAp 254)
–
Na oração pessoal e comunitária, na Comunidade e de modo especial nos pobres,
aflitos e enfermos. (DAp 255-257)
–
Na piedade popular, fruto de uma síntese entre as culturas vibrantes da América
latina e a fé cristã. (DAp 258-265)
–
No testemunho de Maria, discípula e missionária, estrela da evangelização. (DAp
266-272)
–
No testemunho dos Apóstolos e dos Santos. (DAp 273-275)
Segundo –
Testemunho e vivência da evangelização: Somos chamados a testemunhar o Deus
vivo. Esta é a grande Revelação do Antigo e do Novo Testamento.” Não é um Deus
de mortos, mas de vivos”. (Mc 12,27). E Jesus nos revela que o Deus vivo é
Santo e nos ama, nos chama por meio dele a sermos santos (Ef 1,4-5). O chamado
de Jesus implica uma grande novidade: Ele nos chama não para termos uma função,
mas antes de tudo para estarmos com Ele, fonte de vida (Jo 15,1-5), para
pertencer a Ele, para fazer parte dos seus e participar de sua missão, não como
servos, mas sim como amigos e como irmãos. “Unidos a Jesus, nos sentimos seus
familiares e com Ele somos de direito e de fato verdadeiros” filhos de Deus ‘.
(Jo 1,12-13). Daí vem a resposta ao chamado de Jesus, que é seguir a prática
deste Mestre extraordinário, fazer-se próximos com quem sofre, acolhendo
pecadores, crianças, doentes e perdoando como Ele mesmo fazia e ensinava. Que o
exemplo de Santa Terezinha e de São Francisco Xavier nos inspire no testemunho
de Jesus Ressuscitado! O mesmo ardor missionário moveu tanto as orações de Santa
Terezinha como a itinerância de S. Francisco Xavier.
O Papa Francisco, ao inaugurar o mês
missionário, exortou: “Vivendo como testemunha: testemunhando com a vida que se
conhece Jesus”, disse o Papa em sua homilia. “Testemunha é a
palavra-chave; uma palavra que tem a mesma raiz e significado de mártir. Os
mártires são as primeiras testemunhas da fé: não por palavras, mas com a vida.
”(Cf. https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2019-10/papa-francisco-vesperas-inicio-mes-missionario.html,
último acesso em 12 de outubro de 2019)
Terceiro –
Formação Permanente: Nesta sociedade líquida que tenta se distanciar do Sagrado
e do Eterno para sermos discípulos missionários nesta nossa realidade, se faz
urgente uma clara e decidida opção pela formação dos membros de nossas
comunidades. Isso exige paciência, criatividade e perseverança para conseguir
discípulos apaixonados por Cristo, o nosso mestre que nos conduz e nos
acompanha. (DAp 276-277)
Exemplo
de passos para a formação dos discípulos missionários: (DAp 278):
1. a) O
Encontro com Jesus Cristo: é o passo para começar a iniciação cristã,
caracterizada pelo querigma, isto é, o anúncio que sacode e desperta para os
passos sucessivos.
2. b) A
Conversão: quem escutou o Senhor fica admirado, crê pela ação do Espírito
Santo, decide ser seu amigo, muda sua forma de pensar e de viver, aceita até a
cruz de Cristo, quer morrer ao pecado.
3. c) O
Discipulado: a pessoa convertida não para, mas quer amadurecer e seguir com
amor o seguimento de Jesus Mestre. Procura então a Catequese permanente e a
vida sacramental.
4. d) A
Comunhão: fora da Comunidade não pode haver vida cristã. Comunidade significa
ambiente onde se procura o caminho de Jesus: pode ser a família, a Paróquia, a
Congregação religiosa, as comunidades, um Movimento.
5. e) A
Missão: quem conhece e ama o seu Senhor experimenta a maior necessidade de
compartilhar com os outros a sua alegria de testemunhar e anunciar Jesus morto
e ressuscitado e colaborar para construir o reino de Deus.
A formação deve ser uma formação integral,
querigmática e permanente. (279-280). Integral porque compreende várias
dimensões, por exemplo humana e comunitária, Espiritual, intelectual, Pastoral
e Missionária. Querigmática porque na base está o anúncio cheio do Espírito
Santo e da força da Palavra que contagia e dá o gosto. Permanente porque não
pode parar e acompanha o desenvolvimento das pessoas, seja pela idade, seja
pelos conhecimentos.
Quarto – a
caridade para com a Amazônia: promover uma coleta em favor da evangelização na
Amazônia e as suas imensas e múltiplas dificuldades que serão amenizadas com a
nossa generosidade. Com a motivação do Sínodo podemos nos comprometer em ajudar
de modo concreto, além dos missionários que enviamos para essa região.
Quinto –
Missão “ad gentes”: As nossas dioceses recebem o apelo de se abrirem para a
solidariedade pastoral e econômica para com a Amazônia pois o Missionário
recebe o chamado também a sair de sua pátria para anunciar o Evangelho em
outras terras, no meio de outros povos e culturas. Eis outro grande desafio!
Não podemos apenas nos limitar em colaborar com o chamado projeto Igrejas
irmãs, mas devemos incutir uma mentalidade, particularmente, em todos os
setores da Igreja e nos leigos, com o ingente compromisso de lançar as redes
para as fronteiras mais longínquas com o Testemunho do Evangelho.
São João Paulo II lançou a Nova
Evangelização, quando indicou continuamente à Igreja a importância da missão ad
gentes: “é preciso evitar que esta tarefa especificamente missionária, que
Jesus confiou e continua quotidianamente a confiar à Sua Igreja se torne uma
realidade diluída na missão global de todo o Povo de Deus, ficando desse modo
descurada ou esquecida”. Para São João Paulo II excluir esse ad gentes do
horizonte eclesial significava, definitivamente, trair a proposta do Evangelho:
“sem a missão ad gentes, a própria dimensão missionária da Igreja ficaria
privada do seu significado fundamental e do seu exemplo de atuação” (RMi 34).
O apelo do Papa Francisco é o de todos nós,
que temos nele o sinal visível da unidade católica: sair para evangelizar, ser
uma Igreja em saída, em estado permanente de missão. Uma Igreja em saída que
não perde tempo a lamentar-se. “Deus ama quem dá com alegria”, disse o
Pontífice, citando o versículo da Segunda Carta de Paulo aos Coríntios. “Ama
uma Igreja que vive em saída. Se não vive em saída, não é Igreja. Uma Igreja em
saída, missionária é uma Igreja que não perde tempo a lamentar-se pelas coisas
que não funcionam, pelos fiéis que diminuem, pelos valores de outrora que já não
existem. Uma Igreja que não procura oásis protegidos para estar tranquila;
deseja apenas ser sal da terra e fermento para o mundo. Sabe que esta é a sua
força, a mesma de Jesus: não a relevância social ou institucional, mas o amor
humilde e gratuito”, frisou o Papa, acrescentando: “Hoje, entramos no “Outubro
Missionário” acompanhados por três “servos” que ostentaram muito fruto.
Mostra-nos o caminho Santa Teresa do Menino Jesus, que fez da oração o
combustível da ação missionária no mundo. Este é também o mês do Rosário:
Quanto nós rezamos pela difusão do Evangelho, para nos convertermos da omissão
à missão? Depois, temos São Francisco Xavier, talvez o maior missionário da
história depois de São Paulo. Também ele nos dá uma sacudida: Saímos da nossa
concha, somos capazes de deixar as nossas comodidades pelo Evangelho? E há a
Venerável Paulina Jaricot, uma operária que apoia as missões com o seu trabalho
diário: com as ofertas que retirava do salário, deu início às Pontifícias Obras
Missionárias. E nós, fazemos de cada dia um dom para superar a fratura entre
Evangelho e vida? Por favor, não vivamos uma fé «de sacristia».” Nesse sentido
partilhemos com generosidade neste domingo das missões colocando na coleta a
nossa contribuição para esse grande desafio da igreja.
Ninguém está excluído da missão da Igreja:
“Acompanham-nos uma religiosa, um sacerdote e uma leiga. Nos dizem que ninguém
está excluído da missão da Igreja. Sim, neste mês, o Senhor chama você também.
Chama você, pai e mãe de família; você, jovem que sonha com grandes coisas;
você que trabalha numa fábrica, numa loja, num banco, num restaurante; você que
está sem emprego; você que está numa cama de hospital”, ressaltou o Pontífice.
(Cf. https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2019-10/papa-francisco-vesperas-inicio-mes-missionario.html,
último acesso em 12 de outubro de 2019).
O convite de Jesus deve continuar ressoando
em nossos corações: devemos, por Ele, com Ele e Nele, o Ressuscitado sair
constantemente de nós mesmos e irmos ao encontro do outro com a alegria e
docilidade do Evangelho do Senhor Ressuscitado!
Evangelizemos
e não tenhamos medo de testemunhar o Cristo Redentor!