D. Orani João Tempesta
Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro
Neste tempo do Advento é muito importante que
nos preparemos para o encontro com o Senhor que “vem”. Ele já veio e Ele virá,
mas é importante que nós o reencontremos no hoje de nossas vidas. Uma atitude
neste tempo é a celebração penitencial ou confissão. Para isso as Paróquias se
preparam e convidam os padres da região para terem oportunidade confessores
extraordinários para atenderem a todo o povo.
Antes de nos confessarmos, é necessária uma
preparação prévia para examinarmos a nossa consciência e refletir nas nossas
práticas diárias, aquilo que de certa maneira fizemos que possa ter ofendido a
Deus e ao próximo. Isso se chama “exame de consciência” e depois de fazê-lo
podemos ir colocando num papel os pecados para na hora da confissão não ocorrer
de esquecermos algum.
A confissão é a oportunidade de pedir perdão
a Deus e de receber a sua misericórdia. Antes de se confessar, reserve uns
momentos de silêncio para refletir no que você fez de errado, no que possa ter
prejudicado outras pessoas e no que você pode fazer para se tornar um cristão
melhor. Uma confissão sincera permite a renovação da alma e a sua abertura à
graça de Deus.
Uma das maneiras de fazermos um bom exame de
consciência é meditar sobre os dez mandamentos da Lei de Deus. Os três
primeiros mandamentos remetem na nossa relação com Deus. Em que não fui fiel na
minha relação com Deus? E do quarto ao décimo mandamento, se remete na relação com
o próximo. Em que ofendi o meu próximo, aqueles que convivem comigo? Podemos
trilhar este caminho, na própria Igreja antes da confissão, se possível diante
do sacrário. Alguns Salmos da Bíblia de cunho penitencial também podem nos
ajudar a refletir em nossos pecados, por exemplo, o Salmo 50 e, juntamente com
os dez mandamentos, vamos refletir em nossos pecados, e, com o coração contrito
chegarmos diante do sacerdote, que naquele momento representa o próprio Cristo,
e nos confessarmos.
Ao fazermos o exame de consciência, é
necessário pedir a “Luz do Espírito Santo”, para que venha a nossa mente tudo
aquilo que fizemos de errado e que precisamos confessar diante do sacerdote. O
Espírito Santo que nos acompanha desde o nosso Batismo e está presente na Igreja,
iluminará a nossa consciência e é ele próprio que por meio do sacerdote vai nos
dar a absolvição dos pecados.
A confissão, sobretudo, nos ajudará a voltar
ao estado de “Graça” que recebemos no Batismo e foi perdida pelo pecado. Por
isso, a necessidade de levarmos a sério o sacramento da confissão,
preparando-nos previamente por meio de um exame de consciência. Não devemos
achar que não temos pecado ou que a confissão está ultrapassada, que só se
confessa com “Deus”. É necessário nos confessarmos, de maneira auricular,
diante do Sacerdote para recebermos de volta a graça perdida com o pecado.
Ao final da confissão, o Padre vai nos dar
uma penitência, que devemos cumprir, pois ela vai concluir, vai ser o gesto
concreto daquele exame de consciência que preparamos.
No exame de consciência podemos perguntar
também, quando foi nossa última confissão, se eu cumpri os propósitos na minha
vida a partir daquela última confissão. Se aquela confissão foi verdadeira, ou
seja, se naquela última confissão eu estava realmente arrependido dos meus
pecados e não omiti nenhum.
E, além dos pecados referentes aos dez
mandamentos da Lei de Deus, temos também os “pecados capitais”, que são sete:
preguiça, orgulho, inveja, ira, impureza, avareza e soberba. No nosso exame de
consciência, com o auxílio do Espírito Santo, podemos examinar em qual desses
caímos.
O exame de consciência também pode ser feito
no nosso dia a dia, não só antes de nos confessarmos. Pode ser feito à noite,
antes de dormir (isso já nos sugere a oração da noite, as completas),
refletindo as nossas ações do dia a dia, e pedindo o perdão a Deus se ofendemos
alguém naquele dia. Durante o ato penitencial, na celebração eucarística, nós
somos chamados a examinarmos nossas consciências e pedir o perdão a Deus pelos
nossos pecados. Isso pode até facilitar na hora em que formos nos confessar,
pois fazendo sempre o exame de consciência, fica mais fácil lembrar dos nossos
pecados no dia da confissão.
O exame de consciência só pode ser feito com
um coração contrito, ou seja, é necessário querer converter o nosso coração
ferido pelo pecado, para que ele possa ser transformado pela graça de Deus. E
Deus é um “Pai” amoroso que está sempre pronto a nos perdoar.
Portanto, façamos sempre o exame de
consciência para meditar nas nossas ações diárias. E sempre que tiver algo que
necessite confissão, escreva num papel e procure o sacramento da confissão,
para poder estar em plena comunhão com Deus e com os irmãos. Não deixemos para
nos confessar apenas nas datas fortes, como o Natal e a Páscoa, mas sempre que
tivermos um pecado grave e acharmos por bem confessar.
Que o Bom Deus nos ajude a iluminar nossas
consciências, para fazermos um bom exame de consciência, e sempre estar em
comunhão com Deus.
“Por isso, como diz o Espírito Santo: “Se
escutardes hoje minha voz, não endureceis o coração... Atenção, irmãos! Que
nenhum de vós tenhais um coração mau e incrédulo...” (cf. Hb 3).