Pe. Vitor Gino Finelon
Professor das Escolas de Fé e Catequese
Mater Ecclesiae e Luz e Vida
O Papa Francisco exorta, na carta encíclica
“Laudato Si”, aos cristãos a necessidade de uma conversão ecológica. A Igreja
já tinha demonstrado seu interesse por partilhar de todas as alegrias e as
esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje. Ela, reunida em
Cristo e guiada pelo Espírito Santo, na sua peregrinação em direção ao reino do
Pai, é vocacionada a comunicar a mensagem da salvação de forma integral (cf. GS
1). Agora, com a presente encíclica, fica evidente que a preocupação da humanidade
pelo cuidado com a natureza se tornou um tema da ação pastoral da Igreja:
“espero que esta carta encíclica, que se insere no magistério social da Igreja,
nos ajude a reconhecer a grandeza, a urgência e a beleza do desafio que temos
pela frente” (LS 15).
O texto da “Laudato Si”, no parágrafo 217,
nos apresenta o que podemos entender por conversão ecológica: “deixar emergir,
nas relações com o mundo que nos rodeia, todas as consequências do encontro com
Jesus. Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem
um aspecto secundário da experiência cristã, mas parte essencial de uma
existência virtuosa”. O imperativo ético nascido do encontro com o Senhor se
impõe não somente em relação às pessoas, mas também à obra da criação divina. O
testemunho de São Francisco, cuja atenção foi destinada tanto às pessoas quanto
à natureza, é proposto como paradigma para os cristãos. Na vida do pobrezinho
de Assis, a Igreja reconhece a obra do Espírito Santo que converte o homem de
forma integral.
A Igreja, na sua missão evangelizadora,
encontra muitos desafios. Olhando para si mesma, ela reconhece que precisa
incentivar, entre seus próprios membros, uma espiritualidade cada vez mais
vinculada com o corpo, com a natureza e com as realidades deste mundo (cf. LS
216). Segundo o texto da encíclica, existem cristãos, comprometidos e piedosos,
que “se burlam das preocupações pelo meio ambiente” e outros que são passivos,
decididos a não mudar seus hábitos (cf. LS 217). Por conta dessa
realidade, o Papa Francisco clama uma conversão ecológica para a Igreja a fim
de abrir a mentalidade cristã para uma vivência mais profunda e comprometida
com o homem e o cosmos.
A conversão ecológica apresentada na “Laudato
Si” não se reduz apenas a uma experiência individual. O texto do documento,
consciente dos desafios do nosso tempo em matéria de preservação dos bens
naturais, conclama a Igreja para uma “conversão ecológica comunitária”. Os
problemas sociais e ecológicos nos quais o mundo se encontra não podem se
resolvidos por atitudes de indivíduos isolados. É urgente a reunião de esforços
para se alcançar resultados mais efetivos, com uma mudança mais duradoura (cf.
LS 219). O Papa Francisco alerta para a situação cultural que impõe ao homem um
consumismo desvinculado das preocupações sociais e ambientais. Ele adverte
sobre a urgência de uma “corajosa revolução cultural” na qual se substitui a
cultura do descarte e da morte pela “da vida compartilhada e do respeito pelo
que nos rodeia” (LS 213).
As consequências de uma conversão ecológica
verdadeira se visibilizam em três atitudes fundamentais. A primeira é o
crescente sentimento de gratidão e de gratuidade frente ao dom da criação
advindo do Pai. A segunda atitude é o aumento da experiência de comunhão com os
homens e com toda a criação. E, por fim, a atuação, cada vez mais entusiasmada,
na resolução dos dramas presentes no mundo de hoje. Em conclusão, citamos o
convite à conversão ecológica, individual e comunitária, deixada pelo Papa
Francisco: “Convido todos os cristãos a explicitar esta dimensão da sua
conversão, permitindo que a força e a luz da graça recebida se estendam também
à relação com as outras criaturas e com o mundo que os rodeia, e suscite aquela
sublime fraternidade com a criação inteira que viveu, de maneira tão
elucidativa, São Francisco de Assis” (LS 221).