Proclamando São José como protetor dos trabalhadores, a Igreja quis demonstrar que está ao lado deles, os mais oprimidos, dando-lhes como patrono o mais exemplar dos homens, aquele que aceitou ser pai adotivo de Deus feito homem, mesmo sabendo o que poderia acontecer à sua família.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro
Iniciamos o mês de Maria com uma comemoração universal: o dia do trabalhador! Esta data é comemorada em todo o mundo e se apresenta como um clamor a reconhecer todas as circunstâncias que envolvem a realidade laboral, principalmente aquelas situações de exploração do trabalho e a realidade do crescente desemprego. Recordamos e rezamos por todos aqueles homens e mulheres que se esforçam na luta pelo pão de cada dia, com honestidade e valentia, fazendo frutificar na terra os dons recebidos por Deus manifesto em suas habilidades e colhendo os frutos do suor do seu rosto. O trabalho foi desde o princípio um preceito para o homem, uma exigência da sua condição de criatura e expressão da sua dignidade. E a forma como colabora com a Providência Divina sobre o mundo.
Para celebrar este dia, de modo próprio, a Igreja introduziu a memória facultativa de São José Operário. A solenidade do Pai Adotivo de Jesus ocorre no dia 19 de março, quando ele é focalizado como Padroeiro da Igreja. A 1º de maio nos é apresentado o Homem do Trabalho, pobre, que ganhou o pão de cada dia com o suor de seu rosto. O exemplo de São José é contemplado pelo do próprio Jesus, que até os 30 anos de idade trabalhou também como operário.
O Patrocínio de São José neste dia vem exatamente pelas várias vezes em que a Escritura e a Tradição da Igreja ressaltam, junto com a humildade e o silencio de José, seu trabalho. O Justo José é o modelo ideal de operário e de homem que viveu a caridade. Ele sustentou sua família durante toda a vida com o trabalho de suas próprias mãos; cumpriu sempre seus deveres para com a comunidade; ensinou ao Filho de Deus a profissão de carpinteiro e, desta maneira suada e laboriosa, permitiu que as profecias se cumprissem e seu povo fosse salvo, assim como toda a Humanidade.
Proclamando São José como protetor dos trabalhadores, a Igreja quis demonstrar que está ao lado deles, os mais oprimidos, dando-lhes como patrono o mais exemplar dos homens, aquele que aceitou ser pai adotivo de Deus feito homem, mesmo sabendo o que poderia acontecer à sua família. José lutou pelos direitos da vida do ser humano e, agora, coloca-se ombro a ombro na luta pelos direitos humanos dos trabalhadores do mundo por meio dos membros da Igreja, que aumentam as fileiras dos que defendem os operários e seu direito a uma vida digna.
O Papa Francisco, dentre os vários pronunciamentos que fez sobre a realidade concreta do trabalho, assim diz em um deles: “Por conseguinte, é uma prioridade cristã valorizar o trabalho, e inclusive uma prioridade do Papa. Porque se origina daquele primeiro mandamento que Deus deu a Adão: «Vai, faz crescer a terra, trabalha a terra, domina-a». Sempre houve uma amizade entre a Igreja e o trabalho, a partir de Jesus trabalhador. Onde houver um trabalhador ali estarão o interesse e o olhar de amor do Senhor e da Igreja. Penso que isto é claro.” (Visita pastoral a Gênova, 27 de maio de 2017).
Na sua audiência geral do ano de 2013, realizada no dia 1º de maio, o Papa dirige um apelo ao poder público a considerar a dignidade do trabalho do homem: Eu gostaria de estender a todos o convite à solidariedade e, aos chefes do setor público, convidá-los ao encorajamento, a fazer de tudo para dar um novo impulso ao emprego, isso significa se preocupar com a dignidade da pessoa mas, acima de tudo, vos exorto a não perderem a esperança; São José também teve momentos difíceis, mas nunca perdeu a confiança e soube superá-los, na certeza de que Deus não nos abandona. E agora gostaria de falar especialmente a vocês, meninos e meninas, a vocês jovens: se esforcem em suas tarefas diárias, no estudo, no trabalho, nas relações de amizade, contribuindo com os outros, o vosso futuro também depende de como vocês vão viver esses preciosos anos de vida. Não tenham medo do compromisso, do sacrifício e não olhem para o futuro com medo, mantenham viva a esperança: há sempre uma luz no horizonte.” (http://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2013/documents/papa-francesco_20130501_udienza-generale.html).
Peçamos a intercessão de São José para realizar bem o ofício que nos ocupa tantas horas: as tarefas domésticas, profissionais, o escritório, o balcão, a cozinha, o computador, a faxina, o trabalho de carregar pacotes ou de cuidar da portaria de um edifício. A grandeza de um trabalho não reside no seu status ou na quantidade do salário, mas na sua capacidade de nos aperfeiçoar humana e, sobrenaturalmente, nas possibilidades que nos oferece, de levar adiante a família e de colaborar nas obras em favor dos homens, na ajuda que através dele prestamos à sociedade.
Nestes tempos de instabilidade econômica, peçamos especialmente a São José operário por todos os que sofrem pelo drama do desemprego e por todos aqueles que tiveram drasticamente seu salário reduzido. Que o guardião da Sagrada Família siga intercedendo por nossas necessidades ao Pai e clame a Cristo por nós para que não nos falte o pão de cada dia.