D. Orani João Tempesta
Cardeal Arcebispo da Arquidiocese do Rio de Janeiro
A catequese é o cerne da ação evangelizadora da Igreja; é pela catequese batismal que iniciamos a nossa vida de fé e somos incorporados na Igreja de Cristo. Ainda mais agora neste mundo em que vivemos é de vital importância o anúncio da Palavra de Deus. Um mundo onde as pessoas têm diversas outras ocupações e distrações. Seja por meio do celular, da televisão e da internet, temos que chamar a atenção de alguma forma para a Palavra de Deus.
Em todos os lugares onde há pessoas sedentas de Deus é preciso levar para essas pessoas o anúncio da Palavra de Deus, cumprindo assim o mandato de Jesus “Ide por todo mundo e a todos pregai o Evangelho”. Mesmo que não nos escutem, deixamos plantada a semente da Palavra de Deus para elas nesses lugares.
Jesus Cristo é a palavra “encarnada” do Pai; Deus O “revelou” ao ser humano, para que por meio d’Ele pudéssemos conhecer a intimidade do Pai. Essa revelação se dá por meio do Espírito Santo que nos ajuda a entender e a compreender a Palavra de Deus. Os responsáveis por propagar essa Palavra são os catequistas, chamados por Deus, por uma vocação dada do alto, a anunciar essa Palavra.
Os catequistas podem ser os leigos batizados, que são por excelência discípulos missionários de Jesus e chamados a cooperar no plano de salvação de Deus. Devem ser os padres que são os catequistas por excelência em suas comunidades e os diáconos que são os ministros da Palavra e chamados também a propagar essa palavra a todos aqueles que de coração sincero queira recebê-la. Devem ser os bispos, que são sucessores dos apóstolos, e chamados a propagar em cada canto da terra a mensagem de salvação.
A catequese pode ser vista também como sinal de conversão, ou seja, por meio do anúncio da Palavra de Deus que entra pelos ouvidos e desce ao coração, o Espírito Santo pode suscitar na pessoa o dom da fé. Nesse caso se trata do querigma, que é o primeiro anúncio de Deus que eu faço para uma pessoa que será batizada.
A catequese deve começar desde a base, ou seja, no Batismo, que é o sacramento que abre as portas para a fé e, a partir do Batismo, passar pela catequese preparatória para a Eucaristia e a Crisma. O papel da catequese é mostrar por meio da Palavra de Deus que os sacramentos são sinais sagrados pelos quais Deus quis manifestar o seu grande amor por todos nós.
A catequese deve ser mistagógica, ou seja, adentrar nos mistérios de Cristo e da Igreja e de tudo que os envolve. Aprofundar os sacramentos em sua essência e perceber juntos que os sacramentos são um sinal do singular de amor deixado por Deus para nós. Explanar, sobretudo, na catequese batismal que os sacramentos, especialmente, o Batismo e a Reconciliação, são a porta de entrada e de reingresso na Igreja e sinais de reconciliação e aliança com Deus e os irmãos e irmãs.
A catequese deve se enquadrar e se adaptar a cada cultura local na qual se insere. A catequese deve ser dinâmica. Não deve ser algo parado que não atraia os catequizandos, mas fazer com que a Palavra de Deus e os sacramentos sejam um sinal de alegria para eles.
Na catequese se anuncia o olhar misericordioso de Deus e o quanto Ele fica contente quando alguém se arrepende de seus pecados e volta para o Seu convívio, para a Sua intimidade. Por isso, os sacramentos são apresentados como um sinal do amor misericordioso de Deus por nós.
A catequese nos ensina a participar da vida comunitária junto com os demais membros da comunidade, formando assim uma comunidade de fé. Aqueles que já são batizados acolhem aqueles novos membros que chegam. Por isso, na liturgia do Sábado Santo, na qual celebramos a Vigília Pascal, está prevista a acolhida de novos fiéis que, depois de percorrerem um caminho catecumenal, recebem o Batismo, a Crisma e a Eucaristia, e são convidados a fazer parte daquela comunidade de fé. A comunidade paroquial é uma comunhão de fiéis, que juntos professam a mesma fé em Deus.
A Igreja existe para evangelizar, ou seja, para levar a Boa Nova a todas as pessoas de boa vontade que queiram ouvir a Palavra de Deus, encontrar Jesus Cristo e segui-Lo. Faz parte da missão da Igreja os catequistas prepararem aqueles que receberão os sacramentos, e depois, como consequência, esses que receberam os sacramentos são chamados a serem os propagadores do Evangelho, dando assim continuidade à missão que eles receberam. Dessa forma a Igreja estará em constante missão e a Palavra de Deus nunca morrerá.
Que os nossos catequizandos possam ser os futuros catequistas e anunciadores do Evangelho, que eles levem adiante a missão dada por Jesus. Seremos “felizes” a cada vez que testemunharmos a ação do Espírito que leva à conversão por meio da Palavra de Deus e por intermédio do testemunho eclesial dos cristãos. É preciso ir atrás sempre da “ovelha perdida” e ficarmos felizes ao cuidar das suas feridas, fazendo com que ela tome parte do rebanho novamente. O processo de conversão é permanente, pois a cada dia devemos pedir a Deus que nos dê o dom da fé, de sempre acreditar em sua Palavra. A adesão a Jesus Cristo deve se consolidar no dia a dia da nossa vida.
Para que o ensino da Palavra de Deus e a consequente evangelização sejam constantes devemos sempre ter meios para que essa continue viva e eficaz em nossa casa, comunidade, bairro e cidade. Devemos sempre propor o estudo da Palavra de Deus, fazendo círculos bíblicos de aprofundamento da Palavra. Formações da Palavra, recolhimento espiritual, e as outras diversas formas para manter viva a transmissão da fé e da Palavra de Deus.
A finalidade por excelência da catequese é nos colocar em comunhão com Jesus Cristo e conhecer a sua intimidade e a relação de “amor” da Santíssima Trindade, aprofundando a nossa comunhão com Ele porque desejamos participar dos sacramentos deixados por Jesus. De certa forma fazemos o caminho catecumenal para que possamos entender o porquê estamos ali, preparando-nos para receber os sacramentos. A comunidade paroquial deve ser a semelhança da Santíssima Trindade, essa comunhão de “amor” entre os paroquianos.
A catequese nos ajuda a professar a fé no Deus “único” Pai, Filho e Espírito Santo, compreendendo que a cada etapa da história da Salvação houve um momento certo para cada pessoa da Santíssima Trindade se revelar, lembrando, contudo, que toda a ação externa, embora atribuamos individualmente às pessoas, são ações da Santíssima Trindade. Dizemos que Deus-Pai cria; Deus-Filho redime; Deus-Espírito Santo santifica, em verdade é a Trindade que cria, redime e santifica!
Portanto, muita coragem e empenho a todos os catequistas e aqueles que trabalham com a Palavra de Deus, para que esta Palavra tenha o poder de chegar sempre a um número maior de pessoas e que a catequese seja sempre o cerne da “ação evangelizadora da Igreja”, desde o Batismo até a vida adulta das pessoas.