D.
Orani João Tempesta
Cardeal
Arcebispo do Rio de Janeiro
Foram abertas, no dia 8 de novembro, as
comemorações do centenário de nascimento de Sua Eminência, o Senhor Cardeal
Eugenio de Araujo Sales, com celebração eucarística na cripta de nossa
Catedral, seguida de exposição de fotografias. Filho do desembargador Celso
Dantas Sales e de Dona Josefa de Araújo Sales (Teca), nasceu no dia 8 de
novembro de 1920 na Fazenda Catuana e foi batizado na Igreja Matriz de Nossa
Senhora da Guia, no município de Acari (RN), em 28 de novembro de 1920. De
família muito católica, era bisneto de Cândida Mercês da Conceição, uma das
fundadoras do Apostolado da Oração na cidade de Acari.
Dom Eugenio realizou seus primeiros estudos
em Natal, inicialmente em uma escolar particular, depois no Colégio Marista e
finalmente ingressou, em 1931, no Seminário Menor. Realizou seus estudos de
filosofia e teologia no Seminário da Prainha, em Fortaleza (CE), no período de
1931 a 1943. Depois dos estudos seminarísticos, foi ordenado sacerdote pela
imposição das mãos de Dom Marcolino Esmeraldo de Sousa Dantas, bispo diocesano
de Natal, no dia 21 de novembro de 1943, na mesma igreja onde recebera o
Batismo. Viveu 58 anos de episcopado, 30 deles à frente da Arquidiocese de
São Sebastião do Rio de Janeiro, e faleceu no dia 9 de julho de 2012 aos 91
anos de vida. A sua sepultura está na cripta da Catedral Metropolitana do Rio
de Janeiro. O lema episcopal de Dom Eugenio era: “Impendam et Superimpendar”
(cf. 2 Cor. 12, 15). O lema tem como divisa de ministério episcopal o que diz a
Palavra de Deus: “Quanto a mim, de bom grado despenderei, e me despenderei todo
inteiro, em vosso favor”.
Ao celebrar solenemente seus 90 anos tive a
grata alegria de entregar para o Cardeal Eugenio Sales a carta que o Papa Bento
XVI o enviava, em que destacava: “Fiel ao seu lema: ‘Impendam et superipemdar’,
soube gastar-se inteiramente por aqueles que Deus lhe havia confiado, num
fecundo ministério vivido em profunda comunhão com o Sucessor de Pedro, sendo
até hoje um referencial para toda a Igreja no Brasil, principalmente para as
novas gerações de ministros ordenados”, expressou o Pontífice. O Papa enviou ao
purpurado a sua estima e afeto, esperando que sejam sentimentos que infundam
alegria e serenidade em seu ser. “Neste sentido invoco sobre a sua pessoa as
mais seletas graças e consolações divinas, para continuar a fazer a vida motivo
e meio de glorificar a Deus na sua condição de emérito Pastor da Igreja”,
declarou o Santo Padre.
Tomando conhecimento do falecimento do
Cardeal Sales, o Papa Bento XVI enviou um telegrama que ressaltamos: “Quero
manifestar meus pêsames aos bispos, seus auxiliares, ao clero, às comunidades
religiosas e aos fiéis da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, que
tiveram por três décadas um intrépido pastor”... “Foi um autêntico testemunho do
Evangelho em meio a seu povo. Dou graças ao Senhor por ter dado à Igreja pastor
tão generoso”... Em 70 anos de sacerdócio e 58 anos no episcopado, sempre quis
indicar o caminho da verdade na caridade e servir à comunidade, prestando
particular atenção aos mais desfavorecidos, fiel a seu lema episcopal:
‘Impendam et superimpendar’”.
O Cardeal Eugenio Sales em seu testamento
deixou escrito que a fidelidade ao Santo Padre deve nos acompanhar até depois
da morte: “Quero morrer em comunhão com o Santo Padre”. Realmente esta
comunhão, este espírito eclesial profundo, que o acompanhou durante a sua vida,
foi reafirmado quando o Papa Paulo VI, em 1969, elevou o arcebispo de São
Salvador da Bahia e Primaz do Brasil, Dom Eugenio Sales, para o Sacro Colégio
Cardinalício.
Mas devemos, também, ressaltar o trabalho
social de Dom Eugenio: a Campanha da Fraternidade, como nós a conhecemos hoje,
por ocasião da Quaresma de cada ano, foi uma exitosa iniciativa de Dom Eugenio
Sales, quando ele era administrador apostólico da Arquidiocese de Natal. A CNBB
buscou a inspiração de Dom Eugenio e instituiu a Campanha da Fraternidade: “Foi
na cidade de Nísia Floresta que surgiu o embrião da Campanha da Fraternidade.
Caminhadas a pé, de casa em casa, de rua em rua, de povoado em povoado. Quase
paralelamente às marchas, foram criadas as Semanas da Fraternidade. Eram doados
ovos, galinhas, hortaliças frutas e o resultado comercializado numa feira cuja
renda tinha como finalidade a compra de colchões, redes, dentre outras coisas,
para as famílias pobres espalhadas em 13 comunidades ligadas ao município. A
experiência das Irmãs Vigárias nesta cidade e das marchas foi implantada depois
em São Gonçalo do Amarante e Taipu. Tudo com o apoio da Santa Sé, como sempre
trabalhou Dom Eugenio Sales, e com a ajuda dos leigos. A primeira Campanha da
Fraternidade ficou restrita à Arquidiocese de Natal, em 1962. A coleta rendeu
um milhão de cruzeiros, importância que corresponde, hoje, em torno de R$
47.700,00. A segunda, na Quaresma de 1963, abrangeu 25 dioceses do Nordeste. O
aviso da Cúria nº 5/1963, sobre o assunto na Arquidiocese de Natal, trazia
elementos valiosos: “Em todas as matrizes, igrejas, capelas, escolas e também
no comércio far-se-á uma grande coleta em favor das obras apostólicas e sociais
da arquidiocese”. Referia-se ao costume, iniciado nos Estados Unidos e países
europeus, de designar um dia para angariar donativos destinados à Igreja e ao
mundo necessitado. E continuou: “entre nós iniciamos no ano passado essa
campanha, que encontrou muita receptividade em nossas comunidades paroquiais.
Ela é feita neste tempo para significar o sacrifício de toda a comunidade
diocesana na Quaresma, em favor de seus irmãos”. Assina-o o vigário-geral. O
secretário da Cúria dá outras indicações e providências em documento também
publicado no jornal diocesano, “A Ordem”, de 9 de março de 1963” (cf.
https://domeugeniosales.webnode.com.br/origem-da-campanha-da-fraternidade/.
Último acesso em 1 de novembro de 2019). Desde 1964, a Campanha da Fraternidade
é uma iniciativa da CNBB, inspirada pela visão ampla de Dom Eugenio Sales em
atender as necessidades pastorais e materiais do povo de Deus, em todas as suas
dimensões!
Cabe, uma vez mais, lembrar que Dom Eugenio
Sales renovou o Seminário São José, incentivando as vocações, ordenando muitos
presbíteros, no número de 215 durante o seu episcopado, e dando assistência
especial, por si ou por seus bispos auxiliares, aos padres de sua arquidiocese.
Ofereceu permanente formação para as religiosas e os religiosos e confiou a
estes até a administração de muitas comunidades paroquiais. A experiência das
irmãs servindo às paróquias, devido à necessidade de sacerdotes, foi uma solução
muito exitosa em nossa arquidiocese. Incentivou as associações, movimentos e
pastorais, sendo que na arquidiocese temos uma vida pastoral ativa, que sempre
lembra, com alegria, da presença do Cardeal Sales no dia a dia da vida pastoral
da Igreja no Rio. O legado do Cardeal Sales como arcebispo do Rio de Janeiro é
uma página luminosa na Igreja Particular e na Igreja no Brasil. Não podemos
esquecer que São João Paulo II visitou por duas vezes a arquidiocese no governo
pastoral do Cardeal Sales: em 1980, na sua primeira viagem apostólica ao
Brasil, com a ordenação de sacerdotes no Maracanã, e, em 1997, para o Encontro
Mundial das Famílias. Esses momentos jamais serão apagados da memória do povo
carioca. Ainda ecoam as palavras de São João Paulo II, ao lado dos queridos
Cardeal Lucas Moreira Neves e do Cardeal Eugenio Sales: “Se Deus é brasileiro,
o Papa é carioca”. (cf.
https://www.facebook.com/capelasaojoaopauloiirecreio/videos/140909876636061/?v=140909876636061.
Último acesso em 1 de novembro de 2019).
Por tudo isso, demos graças a Deus. O
testemunho de fidelidade de Dom Eugenio a Deus, ao Papa e à Igreja nos
impulsiona a viver e celebrar com júbilo o início do centenário de seu
abençoado nascimento, uma vida vivida, doada e santificada, por 30 anos, em favor
da Igreja que peregrina no Rio de Janeiro.
Do Cardeal Sales ficam principalmente para
nós os exemplos do que deve ser o ministério e a vida de um bispo:
irrepreensível, humilde, manso, hospitaleiro, amante do bem, ponderado, justo,
santo, dono de si, fiel à Palavra de Deus que escuta, prega e deve viver. Assim
viveu e testemunhou, com extrema fidelidade à Sé de Pedro, o Cardeal Eugenio de
Araujo Sales.
Dom Eugenio Sales sempre dizia que era
instrumento de Deus. Nós queremos seguir a Jesus Cristo e como o Cardeal
Eugenio Sales sermos instrumento de Deus na Arquidiocese do Rio de Janeiro e
espalhar a santidade e a coerência de vida que tanto nos ensinou o “intrépido
pastor” que durante 30 anos, guiou de forma segura, serena e santa a nossa
arquidiocese. Continue, do céu, Dom Eugenio, sendo o Bom Pastor que gastou a
sua vida para fazer o bem e santificar o Rio de Janeiro que tanto o amou e
tanto lembra de sua vida e do seu testemunho, que vivo continua entre nós!