D.
Orani João Tempesta
Cardeal
Arcebispo do Rio de Janeiro
Com a celebração do Rio Celebra, no dia 09 de
novembro, celebramos a 35ª Assembleia Arquidiocesana da Iniciação à vida
Cristã, que tem como tema: “Paróquia, casa de portas abertas” (Conforme
documento 109 CNBB).
Lembramos a importância dos Sacramentos da
Iniciação à Vida Cristã. Ensina o Catecismo da Igreja Católica que: “Através
dos sacramentos da iniciação cristã – Batismo, Confirmação e Eucaristia são
lançados os alicerces de toda a vida cristã. «A participação na natureza
divina, dada aos homens pela graça de Cristo, comporta uma certa analogia com a
origem, crescimento e sustento da vida natural. Nascidos para uma vida nova
pelo Batismo, os fiéis são efetivamente fortalecidos pelo sacramento da
Confirmação e recebem na Eucaristia o Pilo da vida eterna Assim. por estes
sacramentos da iniciação cristã, eles recebem cada vez mais riquezas da vida
divina e avançam para a perfeição da caridade» (3).”(cf. Catecismo da Igreja
Católica 1212).
A Igreja no Brasil, pela Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil, em 1973 publicou o Rito de Iniciação Cristã de Adultos –
RICA - A publicação do RICA, com uma segunda edição no ano 2001, que,
sobretudo, enriqueceu o vocabulário eclesial com uma expressão quase que
esquecida, mas tão antiga quanto a Igreja: a Iniciação Cristã. Os fiéis que
queiram adquirir o RICA podem ter uma visão da beleza de seu conteúdo pelo
sítio https://bibliaecatequese.com/rica-rito-da-iniciacao-crista…/.
Em nossa Arquidiocese de São Sebastião do Rio
de Janeiro, como gesto concreto nessa linha catecumenal, foi publicado o
Diretório Arquidiocesano da Iniciação Cristã. Rio de Janeiro (Nossa Senhora da
Paz Livraria e Editora, 2008, 80 pp). Um documento que foi e continua sendo uma
referência iluminadora da ação evangelizadora em nossa Igreja. Além disso temos
uma coletânea de livros catequéticos próprios usando a linha da iniciação à
vida cristã.
A CNBB, repercutindo o Diretório Nacional de
Catequese e, sobretudo, a Conferência de Aparecida, tomou como tema prioritário
da 47ª. Assembleia Geral de Aparecida, de 2009, a questão da iniciação da vida cristã.
Na linha do que ensina o Código de Direito
Canónico e do Rito da Iniciação Cristã dos adultos (RICA) lembramos que o vetor
principal deste itinerário formativo procura concretizar uma autêntica
“conversão pastoral” na medida em que faz da “dimensão sobrenatural da vida
cristã” o critério da ação pastoral. Procura-se não só recuperar a ordem
tradicional dos Sacramentos da Iniciação cristã, como valorizar a dimensão da
Graça presente nos Sacramentos. Neste sentido, a celebração dos Sacramentos é
vista como ponto de partida da vida cristã, entendida, assim, como um dinamismo
de reconhecimento e desenvolvimento da Graça.
A iniciação cristã para os já batizados
consiste em desenvolver os germens da fé já infundidos no sacramento do
Batismo. Para os não batizados é o processo que conduz ao mergulho total
(batismo) no mistério de Cristo Jesus. Nesse processo iniciático estão
incluídos, quer as ações litúrgico-rituais (celebrações, ritos, entregas,
escrutínios...) como o processo catequético no sentido estrito de ensinamento e
reflexão sobre a sabedoria evangélica, a doutrina de Jesus Cristo e os
exercícios de vida cristã em vista da assimilação completa do mistério cristão.
O complexo processo que, desde o século II, prevaleceu na Igreja para iniciar
os novos membros nos mistérios da fé, recebeu o nome de Catecumenato.
Para alguns autores o “catecumenato” deveria
significar apenas o “segundo tempo” da iniciação cristã, o mais longo e mais
propriamente catequético. Entretanto, a maioria usa o termo “catecumenato” para
significar todo o processo da iniciação cristã. O neocatecumenato é um
itinerário de vida cristã para os já batizados, com estatutos próprios, nascido
na Espanha e está muito presente no Brasil. Não se deve, pois, confundir
catecumenato como o caminho neocatecumenal.
O caminho da iniciação da vida cristã deve
ser vivido em conformidade com o que pede o Documento de Aparecida: “ser
cristão não é uma carga, mas um dom: Deus Pai nos abençoou em Jesus Cristo”. “A
alegria do discípulo é antídoto frente a um mundo atemorizado pelo futuro e
oprimido pela violência e pelo ódio. A alegria do discípulo não é um sentimento
de bem-estar egoísta, mas uma certeza que brota da fé, que serena o coração e
capacita para anunciar a boa nova do amor de Deus. Conhecer Jesus é o melhor
presente que qualquer pessoa pode receber e dar; tê-lo encontrado foi o melhor
que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é
nossa alegria” (DAp, 29).
Nesse sentido, em que hoje devemos estar
atentos em ir ao encontro de todas as pessoas, conforme nos pede o Papa
Francisco, buscando levar o Evangelho em todas as periferias existenciais,
queremos refletir sobre a Paróquia, casa de portas abertas.
Quando falamos que a “Paróquia, casa de portas abertas” não significa que devemos esperar que os fiéis acorram para os sacramentos. Nós devemos ir ao encontro de todos, para levar a Boa Nova do Evangelho e para testemunhar, pela vivência dos sacramentos e sacramentais, a santidade de Deus, da Igreja e de cada um de nós. Por isso vamos ao encontro dos que foram batizados e não receberam a Eucaristia e a Crisma, ou daqueles muitos que nem foram batizados e precisam iniciar todo o itinerário da iniciação cristã.
Quando falamos que a “Paróquia, casa de portas abertas” não significa que devemos esperar que os fiéis acorram para os sacramentos. Nós devemos ir ao encontro de todos, para levar a Boa Nova do Evangelho e para testemunhar, pela vivência dos sacramentos e sacramentais, a santidade de Deus, da Igreja e de cada um de nós. Por isso vamos ao encontro dos que foram batizados e não receberam a Eucaristia e a Crisma, ou daqueles muitos que nem foram batizados e precisam iniciar todo o itinerário da iniciação cristã.
O Papa Francisco, já nos Sínodo sobre as
Famílias, em 2015, ele expressava que “uma igreja com as portas fechadas trai a
si mesma e à sua missão, em vez de ser ponte, converte-se em barreira”. “As
paróquias têm de estar em contato com os lares, com a vida das pessoas, com a
vida do povo. Têm de ser casas onde a porta esteja sempre aberta para ir até os
demais. E é importante que a saída siga uma clara proposta de fé.” “Trata-se de
abrir as portas e deixar que Jesus saia afora com toda a alegria de sua
mensagem. Por isso, não nos deixemos roubar a alegria evangelizadora! Por
favor, não nos deixemos roubar a alegria evangelizadora.” “Peçamos por nossas
paróquias, para que não sejam escritórios, mas que, animadas por um espírito
missionário, sejam lugares de transmissão da fé e testemunho da caridade”, pede
o Papa Francisco. (https://pt.aleteia.org/…/papa-francisco-pede-que-paroquias…/,
último acesso em 08 de novembro de 2019)
Recentemente, o Santo Padre, o Papa
Francisco, nos dá uma orientação de como devem ser as nossas Paróquias: “A
comunidade eclesial descrita no livro dos Atos dos Apóstolos vive das muitas
riquezas que o Senhor põe à sua disposição — o Senhor é generoso! — experimenta
crescimento numérico e muita efervescência, apesar dos ataques externos. Para
nos mostrar esta vitalidade, Lucas, no Livro dos Atos dos Apóstolos, indica-nos
também lugares significativos, por exemplo o pórtico de Salomão (cf. At 5, 12),
ponto de encontro dos crentes. O pórtico (stoà) é uma galeria aberta que serve
de abrigo, mas também de ponto de encontro e testemunho. Lucas, de facto,
insiste nos sinais e maravilhas que acompanham a palavra dos Apóstolos e no
cuidado especial dos doentes aos quais eles se dedicam. No capítulo 5 dos Atos,
a Igreja nascente é mostrada como um «hospital de campo» que acolhe os mais
débeis, isto é, os doentes. O sofrimento deles atrai os Apóstolos, que não
possuem «nem prata nem ouro» (At 3, 6) — assim diz Pedro ao coxo — mas
sentem-se fortes pelo nome de Jesus. Aos seus olhos, como aos olhos dos
cristãos de todos os tempos, os doentes são destinatários privilegiados da boa
nova do Reino, são irmãos nos quais Cristo está presente de modo especial, para
que sejam procurados e encontrados por todos nós (cf. Mt 25, 36.40). Os doentes
são privilegiados para a Igreja, para o coração sacerdotal, para todos os
fiéis. Não devem ser descartados, pelo contrário, devem ser curados, devem ser
cuidados: são objeto de preocupação cristã” (cf.http://w2.vatican.va/…/papa-francesco_20190828_udienza-gene…,
último acesso em 08 de novembro de 2019)
A acolhida de todos, o respeito, a escuta e a
proximidade é o único caminho para que levemos a alegria do Evangelho a todos
os homens e mulheres. Uma Igreja acolhedora, missionária, em saída no abraço
fraterno da misericórdia e da compaixão.
Com esta nossa Assembleia queremos reafirmar
nosso compromisso de “Paróquias, casas de portas abertas” aonde todos,
particularmente os mais sofridos, doentes, excluídos, marginalizados, que vivem
em situação de risco ou de dificuldades de toda sorte sejam acolhidos. Que a
escuta de todos, sem exceção, e a acolhida generosa sejam as marcas de todas as
Paróquias em nossa Arquidiocese, assim seja!
Foto: Assis Freitas