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domingo, 7 de junho de 2020

O Papa: a Trindade é Amor a serviço do mundo, que quer salvar e recriar

“A festa de hoje convida-nos a deixarmo-nos fascinar mais uma vez pela beleza de Deus; beleza, bondade e verdade inesgotável. Mas também humilde, próxima, que se fez carne para entrar na nossa vida, na nossa história, para que cada homem e mulher possa encontrá-la e ter a vida eterna. E isto é fé: acolher a Deus-Amor que se doa em Cristo, deixar-se encontrar por Ele e confiar n'Ele”, disse o Papa no Angelus deste domingo (07/06), festa da Santíssima Trindade


“Deus Pai ama tanto o mundo que, para o salvar, dá aquilo que tem de mais precioso: o seu Filho único.” Foi o que disse o Papa no Angelus, ao meio-dia deste domingo (07/06). Falando da janela do palácio apostólico aos fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro para acompanhar com o Santo Padre a oração mariana, Francisco explicou que o Evangelho deste domingo (Jo 3, 16-18), festa da Santíssima Trindade, mostra - na linguagem sintética de João – o mistério do amor de Deus pelo mundo, a sua criação.

No breve diálogo com Nicodemos, Jesus apresenta-se como Aquele que leva a cabo o plano de salvação do Pai em favor mundo. Ele afirma: “Deus amou de tal modo o mundo que deu o Seu Filho único” (v. 16). Estas palavras indicam que a ação das três Pessoas divinas - Pai, Filho e Espírito Santo - é um único desígnio de amor que salva a humanidade e o mundo, afirmou o Pontífice.

Deus ama cada um de nós, mesmo quando cometemos erros
“O mundo está marcado pelo mal e pela corrupção, nós homens e mulheres somos pecadores; portanto, Deus poderia intervir para julgar o mundo, para destruir o mal e castigar os pecadores. Em vez disso – observou o Papa –, Ele ama o mundo, apesar dos seus pecados; Deus ama cada um de nós, mesmo quando cometemos erros e nos distanciamos d'Ele.”

“Deus Pai ama tanto o mundo que, para o salvar, dá aquilo que tem de mais precioso: o seu Filho único, que dá a sua vida pela humanidade, ressuscita, volta para o Pai e, juntamente com Ele, envia o Espírito Santo. A Trindade é, portanto, Amor, inteiramente a serviço do mundo, que quer salvar e recriar.”

Quando Jesus afirma que o Pai deu o seu Filho unigênito, pensamos espontaneamente em Abraão e na sua oferta do filho Isaac, do qual o Livro do Gênesis fala (cf. 22, 1-14): esta é a “medida sem medida” do amor de Deus. E pensemos também no modo como Deus se revela a Moisés: cheio de ternura, misericordioso e piedoso, lento para a ira e rico de graça e fidelidade, continuou o Papa.

Deixar-se encontrar por Cristo e confiar n'Ele
O encontro com este Deus encorajou Moisés, o qual, como narra o livro do Êxodo, não receou colocar-se entre o povo e o Senhor, dizendo-lhe: “Somos um povo de cerviz dura, mas perdoai-nos as nossas iniquidades e os nossos pecados e aceitai-nos como propriedade Vossa” (34, 9).

“Estimados irmãos e irmãs, a festa de hoje convida-nos a deixarmo-nos fascinar mais uma vez pela beleza de Deus; beleza, bondade e verdade inesgotável. Mas também humilde, próxima, que se fez carne para entrar na nossa vida, na nossa história, para que cada homem e mulher possa encontrá-la e ter a vida eterna. E isto é fé: acolher a Deus-Amor que se doa em Cristo, deixar-se encontrar por Ele e confiar n'Ele.”

Acolher com o coração aberto o amor de Deus
O Santo Padre concluiu a alocução que precede a oração mariana pedindo a intercessão da Virgem Maria, a fim de que “nos ajude a acolher com o coração aberto o amor de Deus, que nos enche de alegria e dá sentido ao nosso caminho neste mundo, orientando-o sempre para a meta que é o Céu”.

domingo, 24 de maio de 2020

Mensagem do Papa para o 54º Dia Mundial das Comunicações Sociais

O eixo central da mensagem do Papa é a narração e o papel das boas histórias e narrativas na vida de cada ser humano. “O homem é um ente narrador. Desde pequenos, temos fome de histórias, como a temos de alimento. Sejam elas em forma de fábula, romance, filme, canção, ou simples notícia, influenciam a nossa vida, mesmo sem termos consciência disso. Muitas vezes, decidimos aquilo que é justo ou errado com base nos personagens e histórias assimiladas. As narrativas marcam-nos, plasmam as nossas convicções e comportamentos, podem ajudar-nos a compreender e dizer quem somos”, diz o texto.

Na mensagem, o Santo Padre chama a atenção para as histórias que nos “narcotizam”, convencendo-nos de que, para ser felizes, precisamos continuamente de ter, possuir, consumir. “Quase não nos damos conta de quão ávido nos tornamos por bisbilhotices e intrigas, de quanta violência e falsidade consumimos. (…) Em vez de narrações construtivas, que solidificam os laços sociais e o tecido cultural, produzem-se histórias devastadoras e provocatórias, que corroem e rompem os fios frágeis da convivência”, disse.

Numa época em se revela cada vez mais sofisticada a falsificação, o Papa afirma que precisamos da sapiência para patrocinar e criar narrações belas, verdadeiras e boas. O Papa também chamou a atenção para as falsas histórias. “Quando se misturam informações não verificadas repetem discursos banais e falsamente persuasivos, percutem com proclamações de ódio, está-se, não a tecer a história humana, mas a despojar o homem da sua dignidade”.

A Bíblia, afirma o Papa na mensagem, é a grande história de amor entre Deus e a humanidade. A mensagem afirma que Jesus é o centro desta narração e sua história leva à perfeição o amor de Deus pelo homem e vice-versa. O Santo Padre afirma que o homem será chamado, de geração em geração, a contar e ficar na memória os episódios mais significativos desta História de histórias.

A mensagem afirma que depois que Deus Se fez história, toda história humana é, de certo modo, história divina. “Em cada grande história, entra em jogo a nossa história. Ao mesmo tempo que lemos a Escritura, as histórias dos Santos e outros textos que souberam ler a alma do homem e trazer à luz a sua beleza, o Espírito Santo fica livre para escrever no nosso coração, renovando em nós a memória daquilo que somos aos olhos de Deus”.

Conheça a mensagem a íntegra:

MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO
PARA O LIV DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS

« “Para que possas contar e fixar na memória” (Ex 10, 2).
A vida faz-se história »

Desejo dedicar a Mensagem deste ano ao tema da narração, pois, para não nos perdermos, penso que precisamos de respirar a verdade das histórias boas: histórias que edifiquem, e não as que destruam; histórias que ajudem a reencontrar as raízes e a força para prosseguirmos juntos. Na confusão das vozes e mensagens que nos rodeiam, temos necessidade duma narração humana, que nos fale de nós mesmos e da beleza que nos habita; uma narração que saiba olhar o mundo e os acontecimentos com ternura, conte a nossa participação num tecido vivo, revele o entrançado dos fios pelos quais estamos ligados uns aos outros.

1. Tecer histórias

O homem é um ente narrador. Desde pequenos, temos fome de histórias, como a temos de alimento. Sejam elas em forma de fábula, romance, filme, canção, ou simples notícia, influenciam a nossa vida, mesmo sem termos consciência disso. Muitas vezes, decidimos aquilo que é justo ou errado com base nos personagens e histórias assimiladas. As narrativas marcam-nos, plasmam as nossas convicções e comportamentos, podem ajudar-nos a compreender e dizer quem somos.

O homem não só é o único ser que precisa de vestuário para cobrir a própria vulnerabilidade (cf. Gn 3, 21), mas também o único que tem necessidade de narrar-se a si mesmo, «revestir-se» de histórias para guardar a própria vida. Não tecemos apenas roupa, mas também histórias: de fato, servimo-nos da capacidade humana de «tecer» quer para os tecidos, quer para os textos. As histórias de todos os tempos têm um «tear» comum: a estrutura prevê «heróis» – mesmo do dia a dia – que, para encalçar um sonho, enfrentam situações difíceis, combatem o mal movidos por uma força que os torna corajosos, a força do amor. Mergulhando dentro das histórias, podemos voltar a encontrar razões heroicas para enfrentar os desafios da vida.

O homem é um ente narrador, porque em devir: descobre-se e enriquece-se com as tramas dos seus dias. Mas, desde o início, a nossa narração está ameaçada: na história, serpeja o mal.

2. Nem todas as histórias são boas

«Se comeres, tornar-te-ás como Deus» (cf. Gn 3, 4): esta tentação da serpente introduz, na trama da história, um nó difícil de desfazer. «Se possuíres…, tornar-te-ás…, conseguirás…»: sussurra ainda hoje a quem se utiliza do chamado storytelling para fins instrumentais. Quantas histórias nos narcotizam, convencendo-nos de que, para ser felizes, precisamos continuamente de ter, possuir, consumir. Quase não nos damos conta de quão ávidos nos tornamos de bisbilhotices e intrigas, de quanta violência e falsidade consumimos. Frequentemente, nos «teares» da comunicação, em vez de narrações construtivas, que solidificam os laços sociais e o tecido cultural, produzem-se histórias devastadoras e provocatórias, que corroem e rompem os fios frágeis da convivência. Quando se misturam informações não verificadas, repetem discursos banais e falsamente persuasivos, percutem com proclamações de ódio, está-se, não a tecer a história humana, mas a despojar o homem da sua dignidade.

Mas, enquanto as histórias utilizadas para proveito próprio ou ao serviço do poder têm vida curta, uma história boa é capaz de transpor os confins do espaço e do tempo: à distância de séculos, permanece atual, porque nutre a vida.

Numa época em que se revela cada vez mais sofisticada a falsificação, atingindo níveis exponenciais (o deepfake), precisamos de sapiência para patrocinar e criar narrações belas, verdadeiras e boas. Necessitamos de coragem para rejeitar as falsas e depravadas. Precisamos de paciência e discernimento para descobrirmos histórias que nos ajudem a não perder o fio, no meio das inúmeras lacerações de hoje; histórias que tragam à luz a verdade daquilo que somos, mesmo na heroicidade oculta do dia a dia.

3. A História das histórias

A Sagrada Escritura é uma História de histórias. Quantas vicissitudes, povos, pessoas nos apresenta! Desde o início, mostra-nos um Deus que é simultaneamente criador e narrador: de fato, pronuncia a sua Palavra e as coisas existem (cf. Gn 1). Deus, através deste seu narrar, chama à vida as coisas e, no apogeu, cria o homem e a mulher como seus livres interlocutores, geradores de história juntamente com Ele. Temos um Salmo onde a criatura se conta ao Criador: «Tu modelaste as entranhas do meu ser e teceste-me no seio de minha mãe. Dou-Te graças por me teres feito uma maravilha estupenda (…). Quando os meus ossos estavam a ser formados, e eu, em segredo, me desenvolvia, recamado nas profundezas da terra, nada disso Te era oculto» (Sal 139/138, 13-15). Não nascemos perfeitos, mas necessitamos de ser constantemente «tecidos» e «recamados». A vida foi-nos dada como convite a continuar a tecer a «maravilha estupenda» que somos.

Neste sentido, a Bíblia é a grande história de amor entre Deus e a humanidade. No centro, está Jesus: a sua história leva à perfeição o amor de Deus pelo homem e, ao mesmo tempo, a história de amor do homem por Deus. Assim, o homem será chamado, de geração em geração, a contar e fixar na memória os episódios mais significativos desta História de histórias: os episódios capazes de comunicar o sentido daquilo que aconteceu.

O título desta Mensagem é tirado do livro do Êxodo, narrativa bíblica fundamental que nos faz ver Deus a intervir na história do seu povo. Com efeito, quando os filhos de Israel, escravizados, clamam por Ele, Deus ouve e recorda-Se: «Deus recordou-Se da sua aliança com Abraão, Isaac e Jacob. Deus viu os filhos de Israel e reconheceu-os» (Ex 2, 24-25). Da memória de Deus brota a libertação da opressão, que se verifica através de sinais e prodígios. E aqui o Senhor dá a Moisés o sentido de todos estes sinais: «Para que possas contar e fixar na memória do teu filho e do filho do teu filho (…) os meus sinais que Eu realizei no meio deles. E vós conhecereis que Eu sou o Senhor» (Ex 10, 2). A experiência do Êxodo ensina-nos que o conhecimento de Deus se transmite sobretudo contando, de geração em geração, como Ele continua a tornar-Se presente. O Deus da vida comunica-Se, narrando a vida.

O próprio Jesus falava de Deus, não com discursos abstratos, mas com as parábolas, breves narrativas tiradas da vida de todos os dias. Aqui a vida faz-se história e depois, para o ouvinte, a história faz-se vida: tal narração entra na vida de quem a escuta e transforma-a.

Também os Evangelhos – não por acaso – são narrações. Enquanto nos informam acerca de Jesus, «performam-nos»[1] à imagem de Jesus, configuram-nos a Ele: o Evangelho pede ao leitor que participe da mesma fé para partilhar da mesma vida. O Evangelho de João diz-nos que o Narrador por excelência – o Verbo, a Palavra – fez-Se narração: «O Filho unigênito, que é Deus e está no seio do Pai, foi Ele quem O contou» (1, 18). Usei o termo «contou», porque o original exeghésato tanto se pode traduzir «revelou» como «contou». Deus teceu-Se pessoalmente com a nossa humanidade, dando-nos assim uma nova maneira de tecer as nossas histórias.

4. Uma história que se renova

A história de Cristo não é um patrimônio do passado; é a nossa história, sempre atual. Mostra-nos que Deus tomou a peito o homem, a nossa carne, a nossa história, a ponto de Se fazer homem, carne e história. E diz-nos também que não existem histórias humanas insignificantes ou pequenas. Depois que Deus Se fez história, toda a história humana é, de certo modo, história divina. Na história de cada homem, o Pai revê a história do seu Filho descido à terra. Cada história humana tem uma dignidade incancelável. Por isso, a humanidade merece narrações que estejam à sua altura, àquela altura vertiginosa e fascinante a que Jesus a elevou.

Vós «sois uma carta de Cristo – escrevia São Paulo aos Coríntios –, confiada ao nosso ministério, escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo; não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne que são os vossos corações» (2 Cor 3, 3). O Espírito Santo, o amor de Deus, escreve em nós. E, escrevendo dentro de nós, fixa em nós o bem, recorda-no-lo. De facto, re-cordar significa levar ao coração, «escrever» no coração. Por obra do Espírito Santo, cada história, mesmo a mais esquecida, mesmo aquela que parece escrita em linhas mais tortas, pode tornar-se inspirada, pode renascer como obra-prima, tornando-se um apêndice de Evangelho. Assim as Confissões de Agostinho, o Relato do Peregrino de Inácio, a História de uma alma de Teresinha do Menino Jesus, os Noivos prometidos (Promessi sposi) de Alexandre Manzoni, os Irmãos Karamazov de Fiódor Dostoevskij… e inumeráveis outras histórias, que têm representado admiravelmente o encontro entre a liberdade de Deus e a do homem. Cada um de nós conhece várias histórias que perfumam de Evangelho: testemunham o Amor que transforma a vida. Estas histórias pedem para ser partilhadas, contadas, feitas viver em todos os tempos, com todas as linguagens, por todos os meios.

5. Uma história que nos renova

Em cada grande história, entra em jogo a nossa história. Ao mesmo tempo que lemos a Escritura, as histórias dos Santos e outros textos que souberam ler a alma do homem e trazer à luz a sua beleza, o Espírito Santo fica livre para escrever no nosso coração, renovando em nós a memória daquilo que somos aos olhos de Deus. Quando fazemos memória do amor que nos criou e salvou, quando metemos amor nas nossas histórias diárias, quando tecemos de misericórdia as tramas dos nossos dias, nesse momento estamos a mudar de página. Já não ficamos atados a lamentos e tristezas, ligados a uma memória doente que nos aprisiona o coração, mas, abrindo-nos aos outros, abrimo-nos à própria visão do Narrador. Nunca é inútil narrar a Deus a nossa história: ainda que permaneça inalterada a crônica dos fatos, mudam o sentido e a perspetiva. Narrarmo-nos ao Senhor é entrar no seu olhar de amor compassivo por nós e pelos outros. A Ele podemos narrar as histórias que vivemos, levar as pessoas, confiar situações. Com Ele, podemos recompor o tecido da vida, cosendo as ruturas e os rasgões. Quanto nós, todos, precisamos disso!

Com o olhar do Narrador – o único que tem o ponto de vista final –, aproximamo-nos depois dos protagonistas, dos nossos irmãos e irmãs, atores juntamente conosco da história de hoje. Sim, porque ninguém é mero figurante no palco do mundo; a história de cada um está aberta a possibilidades de mudança. Mesmo quando narramos o mal, podemos aprender a deixar o espaço à redenção; podemos reconhecer, no meio do mal, também o dinamismo do bem e dar-lhe espaço.

Por isso, não se trata de seguir as lógicas do storytelling, nem de fazer ou fazer-se publicidade, mas de fazer memória daquilo que somos aos olhos de Deus, testemunhar aquilo que o Espírito escreve nos corações, revelar a cada um que a sua história contém maravilhas estupendas. Para o conseguirmos fazer, confiemo-nos a uma Mulher que teceu a humanidade de Deus no seio e – diz o Evangelho – teceu conjuntamente tudo o que Lhe acontecia. De facto, a Virgem Maria tudo guardou, meditando-o no seu coração (cf. Lc 2, 19). Peçamos-Lhe ajuda a Ela, que soube desatar os nós da vida com a força suave do amor:

Ó Maria, mulher e mãe, Vós tecestes no seio a Palavra divina, Vós narrastes com a vossa vida as magníficas obras de Deus. Ouvi as nossas histórias, guardai-as no vosso coração e fazei vossas também as histórias que ninguém quer escutar. Ensinai-nos a reconhecer o fio bom que guia a história. Olhai o cúmulo de nós em que se emaranhou a nossa vida, paralisando a nossa memória. Pelas vossas mãos delicadas, todos os nós podem ser desatados. Mulher do Espírito, Mãe da confiança, inspirai-nos também a nós. Ajudai-nos a construir histórias de paz, histórias de futuro. E indicai-nos o caminho para as percorrermos juntos.

Roma, em São João de Latrão, na Memória de São Francisco de Sales, 24 de janeiro de 2020.

[Franciscus]

[1] Cf. Bento XVI, Carta enc. Spe salvi (30/XI/2007), 2: «A mensagem cristã não era só “informativa”, mas “performativa”. Significa isto que o Evangelho não é apenas uma comunicação de realidades que se podem saber, mas uma comunicação que gera factos e muda a vida».


quarta-feira, 20 de maio de 2020

Dicastério para a Comunicação publica livro para ajudar nestes tempos de tribulação

Este livro pretende ser uma pequena ajuda oferecida a todos, para poder ver e experimentar na dor, no sofrimento, na solidão e no medo a proximidade e a ternura de Deus.

O Dicastério para a Comunicação da Santa Sé lançou junto com a LEV, Livraria Editora Vaticana o livro “Fortes na tribulação. A comunhão da Igreja ajuda em tempos de provação”, que pretende "ser um pequeno auxilio oferecido a todos, para poder ver e experimentar na dor, no sofrimento, na solidão e no medo a proximidade e a ternura de Deus".

O grave momento no qual muitos países do mundo mergulharam - escreve no prefácio o diretor Editorial do Dicastério, Andrea Tornielli -, devido à rápida propagação da Covid-19, coloca-nos todos à prova. Infelizmente, sabemos que esta crise não vai ser resolvida rapidamente e que a pandemia está a alastrar-se. Estamos perante uma situação que até há algumas semanas parecia inimaginável, como o cenário de um filme de ficção científica. Tudo mudou de repente, e o que anteriormente tínhamos por certo parece vacilar: a forma como nos relacionamos com os outros no trabalho, a gestão dos afetos, o estudo, a distração, a oração e a possibilidade de participar na missa... Contudo, o mais grave é que esta epidemia - como qualquer outra - não é apenas uma ameaça aos hábitos consolidados, mas é sobretudo a causa de tanta morte, dor e sofrimento. Milhares de pessoas ficaram gravemente doentes, faleceram. Muitas famílias choram os seus entes queridos, dos quais não puderam estar próximas, aos quais não puderam dizer adeus e que foram cremados sem a celebração de um funeral. Característica da morte na época da Covid-19 é precisamente a solidão, a impossibilidade de ter ao nosso lado os entes queridos, a impossibilidade de receber os sacramentos, de se confessar, de ser acompanhado até ao último suspiro por uma voz amiga a não ser a dos médicos ou enfermeiros que trabalham nas unidades hospitalares até ao extremo das suas forças. Precisamente a eles transmitimos a nossa gratidão, porque lutam todos os dias na linha da frente pela vida das pessoas.

Igualmente, devem 4 ser recordados os responsáveis pela segurança pública, as pessoas que trabalham nas atividades estratégicas da coletividade, os muitos voluntários que continuam a ajudar os mais necessitados, os idosos sozinhos, os pobres. Também devem ser recordados os numerosos sacerdotes, religiosos e religiosas que partilham o sofrimento do seu povo: muitos sacrificaram a própria vida. Para tantos crentes, a impossibilidade de participar na liturgia e nos sacramentos agrava a situação de perplexidade, desânimo e abatimento, embora a Igreja nos exorte a renovar a nossa fé em Cristo Ressuscitado, que venceu a morte e a tornou um lugar de encontro seguro com o rosto bondoso do Pai.

No entanto, é útil recordar - continua Tornielli - que esta não é certamente a primeira vez que a humanidade, e os cristãos, se devem confrontar com acontecimentos deste tipo. A fé cristã, vivida diariamente nos seus elementos essenciais, gera um olhar sobre a realidade, a possibilidade de ver nela a mão de um Deus que é Pai bondoso e que nos amou de tal modo que sacrificou o seu Filho por nós. Assim a Igreja conserva no tesouro da sua tradição viva, um tesouro de sabedoria, de esperança, de oportunidade para continuar a experimentar - na solidão e às vezes até no isolamento - que deveras somos “um só” graças à ação do Espírito Santo.

O texto está dividido em três partes. Na primeira encontramos orações, ritos, súplicas para os momentos difíceis. São textos que provêm de diversos contextos eclesiais, pertencentes a diferentes épocas históricas e, por isso, podem ser mais uma fonte de partilha em nível da Igreja universal. Há orações pelos doentes, pela libertação do mal, para se abandonar com confiança à ação do Espírito Santo. Depois há uma segunda parte, que reúne as indicações da Igreja para continuar a viver e a acolher a graça do Senhor, o dom do perdão e da Eucaristia, a força das celebrações pascais, ainda que não possamos participar fisicamente dos sacramentos. Por fim a terceira parte, que reúne as palavras que o Papa Francisco pronunciou a partir de 9 de março passado para ajudar toda a comunidade eclesial neste tempo de provação: são sobretudo as homilias diárias da Missa em Santa Marta e os textos do Angelus dominical.

Ouvir a sua palavra ajuda-nos a refletir e esperar, faz-nos sentir em comunhão com Pedro e unidos a ele. Este livro, que o Dicastério para a Comunicação da Santa Sé decidiu preparar pondo-o à disposição de todos, tem uma característica fundamental: é constantemente atualizado à luz dos novos pronunciamentos do Papa e da “redescoberta” de outros tesouros da nossa tradição eclesial.

Portanto, o livro será publicado no site da Livraria Editora Vaticana em PDF e poderá ser baixado gratuitamente. No entanto, será atualizado várias vezes por semana, e estará novamente disponível para download na versão atualizada, com o acréscimo dos novos textos.

Na capa há uma imagem do Arcanjo Miguel, que protege a Igreja contra o mal e nos ampara nesta difícil provação, a fim de que este mal não prejudique a nossa confiança no Pai e a solidariedade entre nós, mas que se torne uma ocasião para olharmos para o que é deveras essencial nas nossas vidas e para partilharmos o amor acolhido por Deus entre todos nós e, especialmente, com aqueles que hoje mais precisam dele. 

Eis o link para baixar o livro:


terça-feira, 12 de maio de 2020

O Papa destaca o "testemunho de coragem e sacrifício dos profissionais de saúde"

"Neste momento histórico, marcado pela emergência sanitária mundial provocada pela pandemia do vírus Covid-19, redescobrimos o papel de importância fundamental desempenhado pelo enfermeiro, como também pelo obstetra", escreve Francisco na mensagem para o Dia Internacional do Enfermeiro.


Foi divulgada, nesta terça-feira (12/05), a mensagem do Papa Francisco para o Dia Internacional do Enfermeiro.

O Pontífice escreve a enfermeiros e obstetras “no contexto do Ano Internacional dos Profissionais da Enfermagem e Obstetrícia” celebrado em 2020, proclamado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O Papa recorda também “o bicentenário do nascimento de Florence Nightingale, que deu início à enfermagem moderna”.

“Neste momento histórico, marcado pela emergência sanitária mundial provocada pela pandemia do vírus Covid-19, redescobrimos o papel de importância fundamental desempenhado pelo enfermeiro, como também pelo obstetra.

“Diariamente assistimos ao testemunho de coragem e sacrifício dos profissionais de saúde, nomeadamente enfermeiras e enfermeiros, que, com profissionalismo, abnegação, sentido de responsabilidade e amor ao próximo, prestam assistência às pessoas afetadas pelo vírus, com risco da própria saúde. Prova disso é o alto número de profissionais de saúde que, infelizmente, morreram no fiel cumprimento do seu serviço.”

Rezo por eles, o Senhor os conhece por nome um a um, e por todas as vítimas desta epidemia. O Senhor ressuscitado conceda a cada um a luz do Paraíso e, às suas famílias, o conforto da fé”, ressalta o Papa na mensagem.
Guardiões e servidores da vida

Francisco destaca que “os enfermeiros sempre tiveram um papel central na assistência sanitária. No contato diário com os doentes, fazem experiência do trauma que o sofrimento provoca na vida duma pessoa. São homens e mulheres que optaram por dizer «sim» a uma vocação específica: ser bons samaritanos que se ocupam da vida e das feridas do próximo. Guardiões e servidores da vida, ao mesmo tempo que ministram as terapias necessárias, infundem coragem, esperança e confiança”.

domingo, 3 de maio de 2020

A mensagem do Papa Francisco para o 57º Dia Mundial de Oração pelas Vocações


"Se nos deixarmos arrastar pelo pensamento das responsabilidades que nos esperam – na vida matrimonial ou no ministério sacerdotal – ou das adversidades que surgirão, bem depressa desviaremos o olhar de Jesus e, como Pedro, arriscamo-nos a afundar. Pelo contrário a fé permite-nos, apesar das nossas fragilidades e limitações, caminhar ao encontro do Senhor Ressuscitado e vencer as próprias tempestades. Pois Ele estende-nos a mão, quando, por cansaço ou medo, corremos o risco de afundar e dá-nos o ardor necessário para viver a nossa vocação com alegria e entusiasmo", escreve o Papa Francisco em sua mensagem


Em 8 de março foi publicada a Mensagem do Papa Francisco para o 57º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, celebrado neste 3 de maio, IV Domingo de Páscoa, intitulada «As palavras da vocação». Eis a mensagem na íntegra:

Queridos irmãos e irmãs!

A 4 de agosto do ano passado, no 160º aniversário da morte do Santo Cura d'Ars, quis dedicar uma Carta aos sacerdotes, que todos os dias, obedecendo à chamada que o Senhor lhes dirigiu, gastam a vida ao serviço do Povo de Deus.

Então escolhi quatro palavras-chave – tribulação, gratidão, coragem e louvor – para agradecer aos sacerdotes e apoiar o seu ministério. Acho que, neste 57º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, poder-se-iam retomar aquelas palavras e dirigi-las a todo o Povo de Deus, tendo como pano de fundo o texto evangélico que nos conta a experiência singular que sobreveio a Jesus e a Pedro durante uma noite de tempestade no lago de Tiberíades (cf. Mt 14, 22-33).

Depois da multiplicação dos pães, que entusiasmou a multidão, Jesus manda os discípulos subir para o barco e seguir à sua frente para a outra margem, enquanto Ele despedia o povo. A imagem desta travessia do lago sugere de algum modo a viagem da nossa existência. De facto, o barco da nossa vida avança lentamente, sempre preocupado à procura dum local afortunado de atracagem, pronto a desafiar os riscos e as conjunturas do mar, mas desejoso também de receber do timoneiro a orientação que o coloque finalmente na rota certa. Às vezes, porém, é possível perder-se, deixar-se cegar pelas ilusões em vez de seguir o farol luminoso que o conduz ao porto seguro, ou ser desafiado pelos ventos contrários das dificuldades, dúvidas e medos.

Assim acontece também no coração dos discípulos, que, chamados a seguir o Mestre de Nazaré, têm de se decidir a passar à outra margem, optando corajosamente por abandonar as próprias seguranças e seguir os passos do Senhor. Esta aventura não é tranquila: cai a noite, sopra o vento contrário, o barco é sacudido pelas ondas, e há o risco de sobrepor-se o medo de falhar e não estar à altura da vocação.

terça-feira, 14 de abril de 2020

O Papa: olhar confiante mesmo para os acontecimentos mais difíceis da nossa vida

“Se Cristo ressuscitou, é possível olhar com confiança para todo evento da nossa existência, inclusive os mais difíceis e repletos de angústia e de incerteza”, disse o Papa no Regina Caeli esta Segunda-feira do Anjo. “A ressurreição de Jesus nos diz que a última palavra não cabe à morte, mas à vida. Ressuscitando o Filho unigênito, Deus Pai manifestou em plenitude seu amor e a sua misericórdia para a humanidade de todos os tempos", ressaltou Francisco


Hoje, segunda-feira do Anjo, ressoa o anúncio alegre da ressurreição de Cristo. Foi o que ressaltou o Papa no início da alocução que precedeu o Regina Caeli, a oração mariana que no período pascal substitui o Angelus, conduzida por Francisco ao meio-dia desta segunda-feira (13/04) na Biblioteca do Palácio Apostólico, no Vaticano.

A página evangélica (Mt 28,8-15) conta que as mulheres, com medo, abandonaram às pressas o sepulcro de Jesus, que encontraram vazio; mas Jesus mesmo lhes aparece dizendo: “Não tenhais medo. Ide anunciar aos meus irmãos que se dirijam para a Galileia. Lá eles me verão” (v. 10).

As mulheres, exemplo admirável de fidelidade a Cristo
Com essas palavras, disse o Santo Padre, o Ressuscitado confia às mulheres um mandato missionário em relação aos Apóstolos. Efetivamente, elas “deram um exemplo admirável de fidelidade, de dedicação e de amor a Cristo no tempo da sua vida pública bem como durante a sua paixão; “agora são premiadas por Ele com este gesto de atenção e de predileção”, observou, acrescentando: “As mulheres, sempre no início: Maria, no início; as mulheres, no início.

Primeiro as mulheres, depois os discípulos e, em particular, Pedro constatam a realidade da ressurreição. Jesus lhes havia mais vezes preanunciado que, após a paixão e a cruz, ressuscitaria, mas os discípulos não tinham entendido, porque ainda não estavam prontos. A fé deles devia dar um salto de qualidade, que somente o Espírito Santo, dom do Ressuscitado, poderia provocar.

Dar a vida por Cristo
No início do livro dos Atos dos Apóstolos, prosseguiu o Papa, ouvimos Pedro declarar com franqueza, com coragem, com franqueza: “Este Jesus, Deus o ressuscitou e nós todos somos testemunhas” (At 2,32). Como dizendo: “Eu dou a vida por ele. E depois dará a vida por Ele”.

E daquele momento o anúncio que Cristo ressuscitou se difundiu em todos os lugares e alcançou todos os cantos da terra, tornando-se a mensagem de esperança para todos.
Ressurreição: a última palavra não cabe à morte, mas à vida

“A ressurreição de Jesus nos diz que a última palavra não cabe à morte, mas à vida. Ressuscitando o Filho unigênito, Deus Pai manifestou em plenitude seu amor e a sua misericórdia para a humanidade de todos os tempos.”

“Se Cristo ressuscitou, é possível olhar com confiança para todo evento da nossa existência, inclusive os mais difíceis e repletos de angústia e de incerteza”, disse o Pontífice.


quarta-feira, 4 de março de 2020

Papa: "Amor ao próximo, condição essencial para ser cristão"

Livro-entrevista com o Papa Francisco: "Eu creio, nós cremos”. Uma reflexão inédita sobre as raízes da nossa fé . "Quando rezamos o Credo reconhecemos quem é Deus, mas ‘também falamos de nós’, amados e salvados pelo Senhor."

Quais são as verdades de fé que definem um cristão e como ele deve viver para ser um cristão verdadeiro? São as perguntas às quais o Papa Francisco responde, dialogando com o padre Marco Pozza, capelão do cárcere de Pádua, no livro “Eu creio, nós cremos” que prossegue as reflexões iniciadas com a análise de outras duas orações, o Pai Nosso e a Ave Maria.

A nossa fé não é uma ideologia
A profissão de fé conhecida como Símbolo dos Apóstolos confessa Deus Criador do Céu e da Terra, a sua encarnação em Jesus pela salvação dos homens, o Espírito Santo que dá a vida, a Igreja e a comunhão dos Santos, o perdão dos pecados, a ressurreição, a vida eterna. Mas o Credo não é apenas um conjunto de fórmulas, escreve o Papa no prefácio do livro, “é também a expressão da vida e da experiência que distinguia os cristãos”. A coerência entre fé e vida, é fundamental para o Papa, a fé cristã não é uma fé abstrata, ideológica, afastada da concretitude da realidade. “Não cremos – afirma o Papa – em um Deus abstrato ou imaginário, fruto das nossas ideias ou teorias. Cremos no Deus Pai que Jesus nos fez encontrar e que é amor”. “Os santos – observa – são os verdadeiros protagonistas do cristianismo: homens e mulheres que entenderam o que quer dizer crer em um Deus que é Pai”.

Devemos aprender a sujar as mãos
“O nosso principal mandamento é o amor” diz o Papa Francisco e afirma: “Quando vejo cristãos muito ‘limpos’, que pensam saber todas as verdades, a ortodoxia, a verdadeira doutrina – e dizem: precisa fazer assim e assim -, mas são incapazes de sujar suas mãos para ajudar alguém se levantar; quando vejo estes cristãos eu digo: vocês não são cristãos; vocês são teístas com a água benta cristã, mas ainda não chegaram ao cristianismo”. Portanto o amor ao próximo é condição essencial para ser cristão e não poderia ser de outro modo se o Deus ao qual se crê é Pai, é Amor, é um Deus “doente de misericórdia” ao qual devemos nos entregar.

A Tradição não é um museu
A rigidez não faz parte do modo de pensar do Papa Francisco que neste livro fala também sobre a relação entre a Tradição da Igreja e o Espírito que é sempre novo e leva continuamente a Igreja a se renovar: “Às vezes – lê-se no livro - pensamos que manter a Tradição signifique construir um museu de coisas; e a Igreja torna-se um museu. Não, a Tradição é viva, não uma coleção de coisas, ritos… é viva. E cresce, deve crescer, como a raiz faz com que a árvore cresça, dê flores e frutos. Devemos sempre voltar à Tradição para extrair dali o suco, a linfa que faz crescer”.

Satanás, o juízo universal, a ressurreição
Um tema que o Papa Francisco fala com frequência é a existência do demônio. Nas páginas deste livro o Papa destaca a diferença entre crer em alguém e crer na existência de alguém. Escreve: “Eu creio no Satanás, creio na sua existência, mas não o amo. Não digo ‘creio em’, porque sei que existe, mas devo me defender das suas seduções”.
São belas e confortantes as palavras do Papa sobre o juízo universal. “Imagino o momento em que, no crepúsculo da vida – confidencia Francisco – me aproximarei de Deus, seduzido por aquela beleza, com o ânimo humilhado, a cabeça inclinada; imagino o seu abraço e o meu olhar que se elevará ao seu. Não ousaria olhá-lo sem antes ter recebido o seu abraço”. Nos vários capítulos Papa Francisco esclarece seu pensamento sobre temas como a ressurreição, o diálogo com os mortos, o paraíso, o purgatório e o inferno, a pluralidade das expressões de fé em Jesus porque “Deus é sempre maior do que nós e nenhuma palavra, nenhuma expressão, pode esgotar a grandeza do seu amor”.

Filhos de Deus
No capítulo dedicado à remissão dos pecados, o Papa volta a falar do populismo, que reapareceu no cenário mundial, que “oprime o pobre e instrumentaliza a fé”. Constrói um culto ao redor do seu ‘porta-voz’, homens e mulheres “que pensam apenas em si mesmos” e “alimentam o culto de si, acreditando-se Deus”. Todavia o texto não analisa o conteúdo da fé cristã ponto por ponto. Como escreve ele mesmo, ainda no prefácio: “Preferi compartilhar o significado diário, existencial, simples mas profundo, da nossa condição de sermos filhos de Deus – convidados à mesa do amor com a própria Trindade – e da amizade com os irmãos na fé e com a humanidade inteira”.


quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Papa: Quaresma, tempo de se desligar do celular e se conectar com o Evangelho

Francisco disse ainda que a Quaresma "é o tempo de renunciar a palavras inúteis, conversinhas, fofocas, mexericos e se aproximar do Senhor. É o tempo de se dedicar a uma ecologia saudável do coração, fazer uma limpeza nele".

“Quaresma, entrar no deserto.” Este foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta Quarta-feira de Cinzas (26/02), na Praça São Pedro.
“Hoje, iniciamos o caminho quaresmal, caminho de quarenta dias em direção à Páscoa, rumo ao coração do ano litúrgico e da fé”, sublinhou Francisco. “É um caminho que segue o de Jesus, que no início de seu ministério se retirou por quarenta dias para rezar e jejuar, tentado pelo diabo, no deserto.”

O deserto é o lugar da Palavra de Deus
A seguir, o Papa se deteve no “significado espiritual do deserto, o que significa espiritualmente o deserto para todos nós, também para nós que vivemos na cidade” e convidou os fiéis a imaginarem de estar num deserto. “A primeira sensação seria de estar envolvidos num grande silêncio: sem barulho, a não ser do vento e da nossa respiração”, disse ele.
O deserto é o lugar em que se toma distância do barulho que nos circunda. É ausência de palavras para dar espaço a outra Palavra, a Palavra de Deus, que acaricia o nosso coração como a brisa suave. O deserto é o lugar da Palavra, com letra maiúscula. Na Bíblia, o Senhor gosta de conversar conosco no deserto. No deserto, ele entrega a Moisés as “dez palavras", os dez mandamentos. E quando o povo se afasta Dele, tornando-se como uma noiva infiel, Deus diz: «Vou levá-la ao deserto e conquistar seu coração. Lá me responderá, como nos dias de sua juventude». No deserto, se ouve a Palavra de Deus, que é como um som suave.

Quaresma, tempo de se desligar do celular e abrir a Bíblia
“No deserto, encontra-se a intimidade com Deus, o amor do Senhor. Jesus gostava de retirar-se todos os dias para lugares desertos para rezar. Ele nos ensinou a procurar o Pai, que nos fala no silêncio”, disse ainda Francisco, acrescentando:
“A Quaresma é o tempo propício para abrir espaço à Palavra de Deus. É o tempo para desligar a televisão e abrir a Bíblia. É o tempo para se desligar do telefone celular e se conectar com o Evangelho. É o tempo de renunciar a palavras inúteis, conversinhas, fofocas, mexericos e se aproximar do Senhor. É o tempo de se dedicar a uma ecologia saudável do coração, fazer uma limpeza nele. Vivemos num ambiente poluído por muita violência verbal, por muitas palavras ofensivas e nocivas, que a rede amplifica.”
"Hoje, se insulta como se dissesse “Bom dia”. Somos submergidos de palavras vazias, publicidades e anúncios falsos. Nos acostumamos a ouvir tudo sobre todos e corremos o risco de cair num mundanismo que atrofia os nossos corações. Custamos para distinguir a voz do Senhor que nos fala, a voz da consciência, do bem. Jesus, chamando-nos no deserto, nos convida a prestar atenção no que interessa, no que é importante, no essencial."

O deserto é o lugar essencial
Ao diabo que o tentou, Jesus respondeu: “O homem não viverá somente de pão, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”. “Mais que o pão, precisamos da Palavra de Deus, precisamos falar com Deus: rezar”, disse ainda o Papa.
“O deserto é o lugar do essencial. Olhemos para as nossas vidas: quantas coisas inúteis nos circundam. Seguimos mil coisas que parecem necessárias, mas na realidade não são. Nos fará bem nos libertar de muitas realidades supérfluas a fim de redescobrir o que interessa e reencontrar o rosto de quem está ao nosso lado.” E sobre isso, Jesus nos dá o exemplo, jejuando. “Jejuar é saber renunciar às coisas vãs, supérfluas, para ir ao essencial. Jejuar não é apenas para emagrecer, jejuar é ir ao essencial, é buscar a beleza de uma vida mais simples”, sublinhou Francisco.

O deserto é o lugar da solidão
Por fim, o Papa disse que o deserto “é o lugar da solidão”. "Ainda hoje, perto de nós, existem muitos desertos, muitas pessoas sozinhas. São pessoas sós e abandonadas".
“Quantos pobres e idosos estão ao nosso lado e vivem em silêncio, sem fazer barulho, marginalizados e descartados!”
"Falar sobre eles não faz audiência. Mas o deserto nos leva a eles, àqueles que, em silêncio, pedem a nossa ajuda. Muitos olhares silenciosos que pedem a nossa ajuda. O caminho no deserto quaresmal é um caminho da caridade para com os vulneráveis. Oração, jejum e obras de caridade: eis o caminho no deserto quaresmal”, concluiu o Papa.


quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Mensagem do Papa: “Que o Emmanuel seja luz para toda a humanidade ferida”

Síria, Líbano, Iêmen, Iraque, Venezuela e nações do continente americano, Ucrânia, República Democrática do Congo, Burkina Faso, Mali, Níger e Nigéria. Regiões da humanidade onde há dor e sofrimento provocados pelas trevas nos corações humanos, nas relações pessoais, familiares, sociais, nos conflitos econômicos, geopolíticos e ecológicos, receberam a atenção do Santo Padre em sua mensagem Urbi et Orbi neste dia de Natal: “Mas a luz de Cristo é maior”, reiterou.

A Mensagem e a Bênção Urbi et Orbi do Santo Padre:

«O povo que andava nas trevas viu uma grande luz» (Is 9,1).

Queridos irmãos e irmãs, feliz Natal!
Nesta noite, do ventre da mãe Igreja, nasceu de novo o Filho de Deus feito homem. O seu nome é Jesus, que significa Deus salva. O Pai, Amor eterno e infinito, enviou-O ao mundo, não para condenar o mundo, mas para o salvar (cf. Jo 3, 17). O Pai no-Lo deu, com imensa misericórdia; deu-O para todos; deu-O para sempre. E Ele nasceu como uma chamazinha acesa na escuridão e no frio da noite.
Aquele Menino, nascido da Virgem Maria, é a Palavra de Deus que Se fez carne; a Palavra que guiou o coração e os passos de Abraão rumo à terra prometida, e continua a atrair aqueles que confiam nas promessas de Deus; a Palavra que guiou os judeus no caminho desde a escravidão à liberdade, e continua a chamar os escravos de todos os tempos, incluindo os de hoje, para sairem das suas prisões. É Palavra mais luminosa do que o sol, encarnada num pequenino filho de homem, Jesus, luz do mundo.
Por isso, o profeta exclama: «O povo que andava nas trevas viu uma grande luz» (Is 9,1). É verdade que há trevas nos corações humanos, mas é maior a luz de Cristo; há trevas nas relações pessoais, familiares, sociais, mas é maior a luz de Cristo; há trevas nos conflitos económicos, geopolíticos e ecológicos, mas é maior a luz de Cristo.
Que Jesus Cristo seja luz para tantas crianças que padecem a guerra e os conflitos no Médio Oriente e em vários países do mundo; seja conforto para o amado povo sírio, ainda sem o fim à vista das hostilidades que dilaceraram o país nesta década; sacuda as consciências dos homens de boa vontade; inspire os governantes e a comunidade internacional, para encontrar soluções que garantam a segurança e a convivência pacífica dos povos da Região e ponham termo aos seus sofrimentos; seja sustentáculo para o povo libanês, para poder sair da crise atual e redescobrir a sua vocação de ser mensagem de liberdade e coexistência harmoniosa para todos.
Que o Senhor Jesus seja luz para a Terra Santa, onde Ele nasceu, Salvador do homem, e onde continua a expectativa de tantos que, apesar de cansados mas sem se perder de ânimo, aguardam dias de paz, segurança e prosperidade; seja consolação para o Iraque, atravessado por tensões sociais, e para o Iémen, provado por uma grave crise humanitária.
Que o Menino pequerrucho de Belém seja esperança para todo o continente americano, onde várias nações estão a atravessar um período de convulsões sociais e políticas; revigore o querido povo venezuelano, longamente provado por tensões políticas e sociais, e não lhe deixe faltar a ajuda de que precisa; abençoe os esforços de quantos se empenham em favorecer a justiça e a reconciliação e trabalham para superar as várias crises e as inúmeras formas de pobreza que ofendem a dignidade de cada pessoa.
Que o Redentor do mundo seja luz para a querida Ucrânia, que aspira por soluções concretas para uma paz duradoura.
Que o Senhor recém-nascido seja luz para os povos da África, onde perduram situações sociais e políticas que, frequentemente, obrigam as pessoas a emigrar, privando-as duma casa e duma família; haja paz para a população que vive nas regiões orientais da República Democrática do Congo, martirizada por conflitos persistentes; seja conforto para quantos padecem por causa das violências, calamidades naturais ou emergências sanitárias; dê consolação a todos os perseguidos por causa da sua fé religiosa, especialmente os missionários e os fiéis sequestrados, e para quantos são vítimas de ataques de grupos extremistas, sobretudo no Burkina Faso, Mali, Níger e Nigéria.
Que o Filho de Deus, descido do Céu à terra, seja defesa e amparo para todos aqueles que, por causa destas e outras injustiças, devem emigrar na esperança duma vida segura. É a injustiça que os obriga a atravessar desertos e mares, transformados em cemitérios; é a injustiça que os obriga a suportar abusos indescritíveis, escravidões de todo o género e torturas em campos de detenção desumanos; é a injustiça que os repele de lugares onde poderiam ter a esperança duma vida digna e lhes faz encontrar muros de indiferença.
Que o Emmanuel seja luz para toda a humanidade ferida. Enterneça o nosso coração frequentemente endurecido e egoísta e nos torne instrumentos do seu amor. Através dos nossos pobres rostos, dê o seu sorriso às crianças de todo o mundo: às crianças abandonadas e a quantas sofreram violências. Através das nossas frágeis mãos, vista os pobres que não têm nada para se cobrir, dê o pão aos famintos, cuide dos enfermos. Pela nossa frágil companhia, esteja próximo das pessoas idosas e de quantas vivem sozinhas, dos migrantes e dos marginalizados. Neste dia de festa, dê a todos a sua ternura e ilumine as trevas deste mundo.


quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Mensagem do Papa para o 53º Dia Mundial da Paz 2020

MENSAGEM DO SANTO PADRE
FRANCISCO
PARA A CELEBRAÇÃO DO
DIA MUNDIAL DA PAZ
1º DE JANEIRO DE 2020

«A PAZ COMO CAMINHO DE ESPERANÇA:
DIÁLOGO, RECONCILIAÇÃO E CONVERSÃO ECOLÓGICA»

1. A paz, caminho de esperança face aos obstáculos e provações
A paz é um bem precioso, objeto da nossa esperança; por ela aspira toda a humanidade. Depor esperança na paz é um comportamento humano que alberga uma tal tensão existencial, que o momento presente, às vezes até custoso, «pode ser vivido e aceite, se levar a uma meta e se pudermos estar seguros dessa meta, se esta meta for tão grande que justifique a canseira do caminho»[1]. Assim, a esperança é a virtude que nos coloca a caminho, dá asas para continuar, mesmo quando os obstáculos parecem intransponíveis.
A nossa comunidade humana traz, na memória e na carne, os sinais das guerras e conflitos que têm vindo a suceder-se, com crescente capacidade destruidora, afetando especialmente os mais pobres e frágeis. Há nações inteiras que não conseguem libertar-se das cadeias de exploração e corrupção que alimentam ódios e violências. A muitos homens e mulheres, crianças e idosos, ainda hoje se nega a dignidade, a integridade física, a liberdade – incluindo a liberdade religiosa –, a solidariedade comunitária, a esperança no futuro. Inúmeras vítimas inocentes carregam sobre si o tormento da humilhação e da exclusão, do luto e da injustiça, se não mesmo os traumas resultantes da opressão sistemática contra o seu povo e os seus entes queridos.
As terríveis provações dos conflitos civis e dos conflitos internacionais, agravadas muitas vezes por violências desalmadas, marcam prolongadamente o corpo e a alma da humanidade. Na realidade, toda a guerra se revela um fratricídio que destrói o próprio projeto de fraternidade, inscrito na vocação da família humana.
Sabemos que, muitas vezes, a guerra começa pelo facto de não se suportar a diversidade do outro, que fomenta o desejo de posse e a vontade de domínio. Nasce, no coração do homem, a partir do egoísmo e do orgulho, do ódio que induz a destruir, a dar uma imagem negativa do outro, a excluí-lo e cancelá-lo. A guerra nutre-se com a perversão das relações, com as ambições hegemónicas, os abusos de poder, com o medo do outro e a diferença vista como obstáculo; e simultaneamente alimenta tudo isso.
Como fiz notar durante a recente viagem ao Japão, é paradoxal que «o nosso mundo viva a dicotomia perversa de querer defender e garantir a estabilidade e a paz com base numa falsa segurança sustentada por uma mentalidade de medo e desconfiança, que acaba por envenenar as relações entre os povos e impedir a possibilidade de qualquer diálogo. A paz e a estabilidade internacional são incompatíveis com qualquer tentativa de as construir sobre o medo de mútua destruição ou sobre uma ameaça de aniquilação total. São possíveis só a partir duma ética global de solidariedade e cooperação ao serviço dum futuro modelado pela interdependência e a corresponsabilidade na família humana inteira de hoje e de amanhã»[2].
Toda a situação de ameaça alimenta a desconfiança e a retirada para dentro da própria condição. Desconfiança e medo aumentam a fragilidade das relações e o risco de violência, num círculo vicioso que nunca poderá levar a uma relação de paz. Neste sentido, a própria dissuasão nuclear só pode criar uma segurança ilusória.
Por isso, não podemos pretender manter a estabilidade no mundo através do medo da aniquilação, num equilíbrio muito instável, pendente sobre o abismo nuclear e fechado dentro dos muros da indiferença, onde se tomam decisões socioeconómicas que abrem a estrada para os dramas do descarte do homem e da criação, em vez de nos guardarmos uns aos outros[3]. Então como construir um caminho de paz e mútuo reconhecimento? Como romper a lógica morbosa da ameaça e do medo? Como quebrar a dinâmica de desconfiança atualmente prevalecente?
Devemos procurar uma fraternidade real, baseada na origem comum de Deus e vivida no diálogo e na confiança mútua. O desejo de paz está profundamente inscrito no coração do homem e não devemos resignar-nos com nada de menos.

2. A paz, caminho de escuta baseado na memória, solidariedade e fraternidade
Os sobreviventes aos bombardeamentos atómicos de Hiroxima e Nagasáqui – denominados os hibakusha – contam-se entre aqueles que, hoje, mantêm viva a chama da consciência coletiva, testemunhando às sucessivas gerações o horror daquilo que aconteceu em agosto de 1945 e os sofrimentos indescritíveis que se seguiram até aos dias de hoje. Assim, o seu testemunho aviva e preserva a memória das vítimas, para que a consciência humana se torne cada vez mais forte contra toda a vontade de domínio e destruição. «Não podemos permitir que as atuais e as novas gerações percam a memória do que aconteceu, aquela memória que é garantia e estímulo para construir um futuro mais justo e fraterno»[4].
Como eles, há muitos, em todas as partes do mundo, que oferecem às gerações futuras o serviço imprescindível da memória, que deve ser preservada não apenas para evitar que se voltem a cometer os mesmos erros ou se reproponham os esquemas ilusórios do passado, mas também para que a memória, fruto da experiência, constitua a raiz e sugira a vereda para as opções de paz presentes e futuras.
Mais ainda, a memória é o horizonte da esperança: muitas vezes, na escuridão das guerras e dos conflitos, a lembrança mesmo dum pequeno gesto de solidariedade recebida pode inspirar opções corajosas e até heroicas, pode colocar em movimento novas energias e reacender nova esperança nos indivíduos e nas comunidades.
Abrir e traçar um caminho de paz é um desafio muito complexo, pois os interesses em jogo, nas relações entre pessoas, comunidades e nações, são múltiplos e contraditórios. É preciso, antes de mais nada, fazer apelo à consciência moral e à vontade pessoal e política. Com efeito, a paz alcança-se no mais fundo do coração humano, e a vontade política deve ser incessantemente revigorada para abrir novos processos que reconciliem e unam pessoas e comunidades.

sexta-feira, 8 de março de 2019

Papa: “A paz é mulher, nasce e renasce da ternura das mães”

No Dia Internacional da Mulher o pensamento de Francisco às mulheres do mundo.

Por ocasião do Dia Internacional da Mulher, que se celebra neste dia 8 de março, o Papa Francisco, durante o encontro com a Delegação do Comitê Judaico Americano, nesta sexta-feira, no Vaticano, falou sobre a contribuição insubstituível da mulher para a construção de um mundo que seja a casa de todos:
“A mulher torna o mundo mais bonito, o protege e o mantém vivo; a sua graça torna as coisas novas; seu abraço abrange a coragem de se doar”, disse Francisco.
“A paz é mulher”, continuou o Papa: “nasce e renasce da ternura das mães. O sonho da paz se realiza com o olhar à mulher. A mulher tem origem no coração e nos sonhos. Ela leva ao mundo o sonho do amor”.
O Santo Padre concluiu: “Se quisermos um futuro melhor, se sonharmos com um futuro de paz, precisamos dar espaço às mulheres”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2019-03/papa-paz-mulher-ternura-maes-dia.html

quinta-feira, 7 de março de 2019

Campanha da Fraternidade: Mensagem do Papa Francisco ao povo brasileiro

Papa: "Os cristãos devem buscar uma participação mais ativa na sociedade como forma concreta de amor ao próximo, que permita a construção de uma cultura fraterna baseada no direito e na justiça".

Como já é tradição, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) abriu oficialmente nesta quarta-feira de Cinzas, (06/03), a Campanha da Fraternidade (CF). Neste ano de 2019 o tema é “Fraternidade e Políticas Públicas” e o lema “Serás libertado pelo direito e pela justiça” (Is 1,27).
Nesta Campanha, que se desenvolve mais intensamente no período da Quaresma, a Igreja Católica busca chamar a atenção dos cristãos para o tema das políticas públicas, ações e programas desenvolvidos pelo Estado para garantir e colocar em prática direitos que são previstos na Constituição Federal e em outras leis. 

Igreja quer estimular a participação em políticas públicas
Nesta CF 2019, a Igreja no Brasil pretende estimular a participação dos cristãos em políticas públicas, à luz da Palavra de Deus e da Doutrina Social da Igreja para fortalecer a cidadania e o bem comum, sinais da fraternidade.  O texto-base da campanha descreve, entre outros tópicos, sobre o ciclo e etapas de uma política pública e faz a distinção entre as políticas de governo e as políticas de Estado, bem como apresenta os canais de participação social, como os conselhos previstos na Constituição Federal de 1988.
Todos os anos, a CNBB apresenta a CF como caminho de conversão quaresmal. É uma atividade ampla de evangelização que pretende ajudar os cristãos e pessoas de boa vontade a vivenciarem a fraternidade em compromissos concretos, provocando, ao mesmo tempo, a renovação da vida da Igreja e a transformação da sociedade, a partir de temas específicos. Em 2019, a Conferência convida todos a percorrer o caminho da participação na formulação, avaliação e controle social das políticas públicas em todos os níveis como forma de melhorar a qualidade dos serviços prestados ao povo brasileiro.

Mensagem do Papa Francisco
O Papa Francisco também este ano enviou uma mensagem por ocasião da abertura da Campanha da Fraternidade. Eis a íntegra da mensagem do Santo Padre:

Queridos irmãos e irmãs do Brasil!
Com o início da Quaresma, somos convidados a preparar-nos, através das práticas penitenciais do jejum, da esmola e da oração, para a celebração da vitória do Senhor Jesus sobre o pecado e a morte. Para inspirar, iluminar e integrar tais práticas como componentes de um caminho pessoal e comunitário em direção à Páscoa de Cristo, a Campanha da Fraternidade propõe aos cristãos brasileiros o horizonte das “políticas públicas”.
Muito embora aquilo que se entende por política pública seja primordialmente uma responsabilidade do Estado cuja finalidade é garantir o bem comum dos cidadãos, todas as pessoas e instituições devem se sentir protagonistas das iniciativas e ações que promovam «o conjunto das condições de vida social que permitem aos indivíduos, famílias e associações alcançar mais plena e facilmente a própria perfeição» (Gaudium et spes, 74).
Cientes disso, os cristãos - inspirados pelo lema desta Campanha da Fraternidade «Serás libertado pelo direito e pela justiça» (Is 1,28) e seguindo o exemplo do divino Mestre que “não veio para ser servido, mas para servir” (Mt 20,28) - devem buscar uma participação mais ativa na sociedade como forma concreta de amor ao próximo, que permita a construção de uma cultura fraterna baseada no direito e na justiça. De fato, como lembra o Documento de Aparecida, «são os leigos de nosso continente, conscientes de sua chamada à santidade em virtude de sua vocação batismal, os que têm de atuar à maneira de um fermento na massa para construir uma cidade temporal que esteja de acordo com o projeto de Deus» (n. 505).
De modo especial, àqueles que se dedicam formalmente à política - à que os Pontífices, a partir de Pio XII, se referiram como uma «nobre forma de caridade» (cf. Papa Francisco, Mensagem ao Congresso organizado pela CAL-CELAM, 1/XII/2017) – requer-se que vivam «com paixão o seu serviço aos povos, vibrando com as fibras íntimas do seu etos e da sua cultura, solidários com os seus sofrimentos e esperanças; políticos que anteponham o bem comum aos seus interesses privados, que não se deixem intimidar pelos grandes poderes financeiros e mediáticos, sendo competentes e pacientes face a problemas complexos, sendo abertos a ouvir e a aprender no diálogo democrático, conjugando a busca da justiça com a misericórdia e a reconciliação» (ibid.).
Refletindo e rezando as políticas públicas com a graça do Espírito Santo, faço votos, queridos irmãos e irmãs, que o caminho quaresmal deste ano, à luz das propostas da Campanha da Fraternidade, ajude todos os cristãos a terem os olhos e o coração abertos para que possam ver nos irmãos mais necessitados a “carne de Cristo” que espera «ser reconhecido, tocado e assistido cuidadosamente por nós» (Bula Misericórdia vultus, 15). Assim a força renovadora e transformadora da Ressurreição poderá alcançar a todos fazendo do Brasil uma nação mais fraterna e justa. E para lhes confirmar nesses propósitos, confiados na intercessão de Nossa Senhora Aparecida, de coração envio a todos e cada um a Bênção Apostólica, pedindo que nunca deixem de rezar por mim.

Vaticano, 11 de fevereiro de 2019.

[Franciscus PP.]

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2019-03/campanha-fraternidade-mensagem-papa-francisco-povo-brasileiro.html