Transcrevemos a primeira palestra do Seminário de Liturgia: Missa com Crianças, que aconteceu no último dia 12 de fevereiro.
O Diretório para a Missa com Crianças (Cônego Antônio José de Moraes)
Contextualizando....
O Diretório já existe há três décadas, mas ainda é pouco conhecido. Ao longo desse tempo, vemos experiências que derem certo, outras exageradas, outras que caíram no desânimo. Tudo o que fazemos hoje em nossas comunidades está dentro deste contexto, faz parte de uma história que nos precede e nos envolve.
A década de 60 foi a grande década que deu inicio à promoção de uma nova mentalidade que revolucionária todos os segmentos da sociedade. E a Igreja foi uma prova viva disso. O sopro restaurador da novidade permanente do Evangelho da salvação veio com o Concíclio Vaticano II. O Espírito Santo, através do Papa João XXIII, convocou toda Igreja para uma renovação. O Concílio não inventou nada, mas redescobriu o que era essencial, escondido por trás que pequenas tradições que confundiram a Tradição. Simplificou sem empobrecer, mas colocando bem às claras o que é fundamental. De fato, despertou a Igreja da acomodação e a levou a falar ao homem moderno em uma sociedade de profundas transformações. Nada disso poderia ser feito com total previsibilidade.
A experiência se torna o ponto de referência para esta revolução cultural. A mentalidade revolucionária se manifestava pelo lema: “É proibido proibir.” Tudo deveria passar pelo crivo da experiênca. Dentro deste novo modo de ver o mundo, a Igreja se reúne para o Concílio e não se faz alheia ao mundo. Cumpriu seu papel como Sacramento de Salvação para o homem de hoje.
A Eucaristia foi ponto central. E dentro dela alguns fenômenos:
1. Eucaristia celebrada nas casas (O Movimento Familiar Cristão se reunia nas casas num momento bonito de evangelização que culminava com a celebração eucarística).
2. Celebração eucarística ligada às reuniões dos jovens e da catequese que também culminavam com a celebração da Missa (daí vem os termos “Missa das Crianças”, ”Missa dos Jovens”). O que impressionava era o dinamismo e vivacidade da celebração, a princípio sem extravagâncias, mas simplesmente mais adaptada assembleia. A estrutura da Missa era “normal” só a forma externa a fazia parecer diferente. Era preciso que o sacerdote com bem senso litúrgico fosse o ponto de equilíbrio.
Tudo isso parece óbvio hoje, mas nesta época a passagem do fixismo absoluto para uma certa espontaneidade,[pareceu para muitos uma dessacralização. Nessas tensões é natural que os extremos se acentuem. Querendo corrigir um exagero podemos incorre no extremo oposto.
É nesse contexto, que a Liturgia da Missa com Crianças, usando conhecimentos fins, como a Psicologia e a Pedagogia, que caminhamos para uma celebração mais virtuosa e mistagógica. A oração é quem diz a fé da comunidade. É a partir do que a Igreja reza e celebra que se conhecerá e se desenvolverá a sua fé.
Chama a atenção que quem vai falar da Eucaristia é a própria Eucaristia. A própria celebração é a fonte da sua compreensão. Não é preciso inventar coisas de fora para dentro, correndo o gravíssimo perigo de inventar um “show” que precisa ser sempre diferente e acabar perdendo o foco do esssencial.
No Concílio Vaticano II a adaptação se refere aos mais diversos setores pastorais e, entre eles, a participação ativa de todos, inclusive das crianças, dentro das suas possibilidadades. Começou a florescer toda uma literatura sobre o tema (as preces eucarísticas, específicas o diretório, outras adaptações...).
Requer preparação pedagógica, criatividade e amor. A experiência religiosa na infância é de extrema importância. Esse é um motivo suficiente para revelar a importância do nosso trabalho.
O Diretório surge como uma resposta ao anseio da Igreja de conhecer mais sobre o tema. Não veio “de cima para baixo”, mas a partir de experiências concretas recolhidas de verias partes e bem refletidas para se retirar os exageros.
Percebe-se que se deseja com todas essas experiência surgem orações mais acessíveis e um novo lecionário. Em 1966, foi feita uma quarta redação levada a Paulo VI que fez por escrito suas reflexões e, em 1973, o Documento final foi publicado.
O Diretório Para Missa com Crianças
O Diretório se desenvolve em três capítulos:
- Como iniciar as crianças na existência cristã e prepará-las para a Eucaristia?
- Como acolher as crianças nas celebrações com adultos?
- Como conduzir a celebração quando a Missa tem na maioria crianças?
Desde o início do texto, um embasamento da Psicologia garante que a criança é capaz de participar por envolvimento do mundo dos adultos.Progressivamente seu desejo de compreender e participar de uma maneira mais completa. Daí vale ressaltar a atitude da família, insubstituível na transmissão da fé e do espírito celebrativo. Não são necessárias grandes explicações sobre o mistério que se celebra, mas sim grande acolhida e envolvimento. A segregação da família, pluralismo ou a indiferença religiosa criam novos desafios. O que vivemos e celebramos não é respaldado pela sociedade atual
Mais do que suscitar uma prática religiosa regular nosso objetivo deve ser que a Eucaristia seja o centro das nossas vidas. Criar uma comunicação lúdica e orante e sair da mentalidade “escolar” devem ser metas da Liturgia e da Catequese, que estão intimamente unidas. A fonte da Catequese é a Liturgia, que celebra o conteúdo da fé. E é na Catequese que se aprende a celebrar. Não são realidades dissociáveis. A integração precisa ser ainda maior.
É preciso criar condições para que a criança viva a sua fé. Como dissemos, a começar pelos pais, depois o celebrante, os catequistas, a comunidade. Alguns pontos se fazem notar: iniciar a criança no valor do silêncio não como hiato vazio, mas como momento precioso para acolher a palavra de vida; introduzir a criança no canto; valorizar a celebração da Palavra.
Por outro lado, o Diretório enfatiza também que a Catequese precisa ter também uma dimensão humana: aprender valores, saber conviver com os outros, agradecer, pedir perdão.... atitudes que também são exercitadas na celebração.
Nas celebrações com adultos a criança não deve ficar em “quarentena”, pois ela tem o direito de ser introduzida na vida litúrgica da comunidade. Sua participação requer uma atenção especial. Sugestão: 1. As crianças menores podem ser reunidas em um lugar próximo adequado e voltarem para a Bênção final; 2. Em outro local, as crianças participam de uma Liturgia da Palavra mais adequada e voltam para a Liturgia Eucarística ou 3. Dá-se atividades adequadas para a sua mais efetiva participação (ex. coleta, etc). Esta última tem se mostrado ser a mais adequada para a nossa realidade.
Na terceira parte do Diretório, vê-se que não se trata de ocupar as crianças durante a Missa para que não se distraiam, mas sim de ajudá-las a celebrar e viver a fé. O padre deve evitar um discurso muito pueril, mas também muito rebuscado. Quanto aos adultos presentes, eles estão ali para rezar junto com as crianças e não para fiscalizá-las. Celebrar com as crianças é ir com elas ao encontro do Senhor que se nos reúne, nos revela, se nos oferta e se nos dá na Sagrada Comunhão.
O Diretório se mostra em alguns aspectos reservado e em outros, aberto. Não podemos nos esquecer de que celebramos o maior acontecimento da nossa fé: não é mera lembrança, é atuação na vida presente de cada um de nós. Cada um acolherá esse mistério dentro de suas possibilidades. Assim, toda a preparação deve girar em torno disso. A música vocal e instrumental bem preparada e adaptada é de grande importância: a melodia não deve se sobrepor à letra, nem os instrumentos à voz, nem o coral à assembléia. Não basta assistir, é preciso participar, ou seja, fazer parte.
O uso de imagens e símbolos visuais é também ponto de destaque, que precisam ser usados. Que nada se imponha, mas que esteja a serviço do essencial. O espaço também contribui para a melhor participação.
Pode-se dizer que a Igreja nunca se interessou tanto na integração das crianças na Liturgia. É preciso prepará-las, iniciá-las. Todas as comunidades se ocupam sobre esse tema. Adaptação, porém, não significa improvisação: minha criatividade deve estar subordinada ao meu bom conhecimento das orientações da Igreja. A Missa é uma só, mas terá uma preparação especial voltada para o público infantil, sem reduzir a celebração somente à elas. Caso contrário, será uma celebração tão infantil que, depois de passar de determinada faixa etária, não mais se interessará por ela.
O importante agora, é unirmos nossa experiência valiosa de dedicação de todos para nos integrarmos mais e nos sentimos membros participantes desse processo histórico, trazendo como originalidade a consciência do que deu certo ou não e a novidade de fazer viver o projeto, o intento do Diretório com as crianças de hoje da nossa comunidade, de tal maneira que elas se sintam bem na celebração e possam viver e rezar sua fé.
SUGESTÕES DE BIBLIOGRAFIA
Além do próprio Diretório (disponível nas livrarias Paulinas), foram sugeridos ara aprofundamento os livros escritos pelo próprio Cônego Antônio José de Moraes que podem ser adquiridos no almoxarifado do Ed. João Paulo II (Glória) ou na Paróquia Nossa Senhora do Brasil (Urca):
Liturgia e Palavra
Liturgia e Sacerdócio
Celebrar a Eucaristia Hoje
Eis o Mistério da Fé
Além do próprio Diretório (disponível nas livrarias Paulinas), foram sugeridos ara aprofundamento os livros escritos pelo próprio Cônego Antônio José de Moraes que podem ser adquiridos no almoxarifado do Ed. João Paulo II (Glória) ou na Paróquia Nossa Senhora do Brasil (Urca):
Liturgia e Palavra
Liturgia e Sacerdócio
Celebrar a Eucaristia Hoje
Eis o Mistério da Fé