Conforme publicado pela agência internacional Zenit.org, em 7 de março de 2011, a Santa Sé apresentou as Orientações, também chamadas de Lineamenta, da próxima assembleia geral do Sínodo dos Bispos, sobre a Nova Evangelização, que se celebrará em Roma, em outubro de 2012. As Lineamenta são textos escritos em preparação para um sínodo e tem como objetivo convidar toda a Igreja a entrar na discussão do tema.
Um dos capítulos é sobre a Iniciação Cristã. Você poderá lê-lo abaixo e usar para estudo e reflexão a sua comunidade. Para ter o texto completo acesse: http://www.zenit.org/article-27423?l=portuguese .
CAPÍTULO TRÊS
Iniciação à experiência cristã
«Fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que vos tenho ordenado» (Mt 28, 19-20)
18. A iniciação cristã, processo de evangelização
A reflexão sobre a transmissão da fé que acaba de ser apresentada, juntamente com as mudanças sociais e culturais que se apresentam ao cristianismo hodierno como um desafio, levaram a Igreja a um grande processo de reflexão e de revisão dos percursos de introdução à fé e de acesso aos sacramentos. As afirmações do Concílio Vaticano II, que quando foram escritas soavam para tantas comunidades cristãs como um desejo, hoje, pelo contrário, tornaram-se realidade em várias igrejas locais. É possível fazer experiência de muitos elementos ali enumerados começando, sem dúvida, pela tomada de consciência, hoje amadurecida por todo o lado, da ligação intrínseca que une os sacramentos da iniciação cristã. Batismo, Confirmação e Eucaristia são vistos não mais como três sacramentos separados mas como etapas de uma viagem de geração para a vida cristã adulta dentro de um percurso orgânico de iniciação à fé. A iniciação cristã é, agora, um conceito e um instrumento pastoral conhecido e bem estabelecido nas igrejas locais.
Neste processo, as Igrejas locais que têm uma tradição secular de iniciação à fé devem muito às Igrejas mais jovens. Juntos aprenderam a tomar como modelo do caminho de iniciação à fé o adulto e não já a criança. Conseguiu-se dar importância ao sacramento do batismo, assumindo a estrutura do catecumenato antigo como um exemplo, para organizar os dispositivos pastorais que nos nossos contextos culturais permitem uma celebração mais consciente, mais preparada e capaz de garantir a participação futura na vida cristã dos recém batizados. Muitas comunidades cristãs empreenderam revisões significativas das suas práticas de batismo, revendo formas de participação dos pais, no caso do batismo das crianças, e explicitando o momento da evangelização, do anúncio explícito da fé. Tentaram organizar as celebrações do sacramento do batismo de modo a dar mais espaço ao envolvimento da comunidade e dando um apoio mais visível aos pais na missão, como a da educação cristã, que cada vez mais se torna difícil. Ouvindo a experiência das Igrejas Católicas Orientais, recorreu-se à mistagogia, para pensar percursos de iniciação Cristã que não se fiquem no limiar da celebração sacramental, mas que continuem a sua ação formadora mesmo depois, para recordar de modo explícito que o objetivo é o de educar para uma fé cristã adulta.
A confrontação iniciada acendeu uma reflexão teológica e pastoral que, tendo em conta as peculiaridades dos diferentes ritos, ajuda a Igreja a encontrar uma reestruturação partilhada das suas práticas de introdução e de educação para a fé. Emblemático a este propósito é a questão da ordem dos Sacramentos da iniciação. Na Igreja existem tradições diferentes. Essa diversidade manifesta-se claramente nos costumes eclesiais do Oriente e mesmo na prática do Ocidente em relação à iniciação dos adultos, em comparação com o das crianças. Tal diversidade encontra uma ulterior acentuação no modo como é vivido e celebrado o sacramento da Confirmação.
Podemos dizer, certamente, que o rosto do futuro cristianismo no mundo e a capacidade da fé cristã de falar à sua cultura dependerá do modo como a Igreja no Ocidente souber gerir a revisão das suas práticas batismais. Nem tudo, porém, neste processo de revisão, funcionou sempre em termos positivos. Houve mal-entendidos, ou seja, a vontade de interpretar as mudanças necessárias, vistas como uma oportunidade, para introduzir as lógicas da ruptura: as novas práticas pastorais eram lidas à luz de uma hermenêutica de ruptura criativa, que via na novidade a possibilidade de dar um parecer sobre o passado recente da Igreja e, ao mesmo tempo, a possibilidade de estabelecer formas sociais inéditas para dizer e viver o cristianismo hoje. Neste contexto, chegou-se a falar da necessidade absoluta de abandonar a prática de batizar as crianças. Do mesmo modo, um sério obstáculo à revisão em curso veio dos comportamentos inertes mantidos por algumas comunidades cristãs, na convicção de que a mera repetição dos gestos estereotipados fosse uma garantia de bondade e de sucesso para a atividade da igreja.
O processo de revisão entrega à Igreja alguns lugares e alguns problemas como autênticos desafios, que põem as comunidades cristãs diante da obrigação de discernir e, depois, de adotar novos estilos de ação pastoral. É certamente um desafio para a Igreja encontrar neste momento uma colocação partilhada do sacramento da Confirmação. O pedido foi feito também durante a Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre a Eucaristia, e retomada pelo Papa Bento XVI na posterior exortação pós-sinodal. As Conferências Episcopais adotaram, num passado recente, diferentes escolhas a este respeito, motivadas pelas diversas perspectivas a partir das quais era lida a questão (pedagógica, sacramental, eclesial). Assim também se apresenta como um desafio à Igreja a capacidade de dar conteúdo e força àquela dimensão mistagógica dos percursos de iniciação, sem a qual aqueles mesmos itinerários resultariam desprovidos de um ingrediente essencial do processo de construção da fé. Apresenta-se como um desafio posterior, enfim, a necessidade de não delegar a eventuais percursos escolásticos de educação religiosa a tarefa, que é exclusiva da Igreja, de proclamar o Evangelho e encaminhar para a fé, mesmo em relação às crianças e adolescentes. As práticas neste sector são muito diferenciadas, de nação para nação, e não permitem a elaboração de respostas únicas ou uniformes. Mas o exemplo é válido para todas as Igrejas locais.
Como se pode imaginar, o campo da iniciação é, realmente, um ingrediente essencial da tarefa de evangelizar. A “nova evangelização” tem muito a dizer sobre isso: é preciso, de fato, que a Igreja continue, de modo forte e determinado, aqueles exercícios de discernimento já em curso e, ao mesmo tempo, que encontre energias para motivar os sujeitos e aquelas comunidades que vão dando sinais de cansaço e de resignação. O rosto futuro das nossas comunidades depende muito do esforço investido nesta ação pastoral e das iniciativas concretas propostas e implementadas para uma sua revisão e relançamento.
19. Primeiro anúncio e necessidade de novas formas de discurso sobre DeusO processo de revisão dos percursos de iniciação à fé deu acrescida relevância a um desafio muito presente na situação atual: a progressiva dificuldade com que os homens e as mulheres de hoje sentem em falar de Deus acedem a lugares e experiências que os abrem a um tal discurso. Trata-se de uma dificuldade com a qual a Igreja se está a confrontar desde há algum tempo e que, portanto, não somente foi denunciada mas também conheceu já algumas tentativas de resposta. O Papa Paulo VI, reconhecendo este desafio, colocou a Igreja diante da urgência de encontrar novos caminhos para a proposta da fé cristã. Nasceu, assim, o instrumento do “primeiro anúncio”, entendido como meio de proposta explícita, ou melhor, de proclamação, do conteúdo básico de nossa fé.
Assumido plenamente nos trabalhos de reprogramação em curso dos itinerários de introdução à fé, o primeiro anúncio dirige-se aos não crentes, aos que, de fato, vivem na indiferença religiosa. Este primeiro anúncio tem a função de anunciar o Evangelho e a conversão àqueles que de um modo geral ainda não conhecem Jesus Cristo. A catequese, distinta do primeiro anúncio do Evangelho, promove e faz amadurecer esta conversão inicial, educando o convertido para a fé e incorporando-o na comunidade cristã. A relação entre estas duas formas de ministério da Palavra não é, porém, sempre fácil de fazer e não deve necessariamente ser afirmada de modo nítido. Trata-se de uma dúplice atenção que muitas vezes se encontra combinada na mesma ação pastoral. Acontece com frequência, de fato, que as pessoas que vão à catequese precisam de experimentar ainda uma verdadeira conversão. Portanto, será útil prestar maior atenção, nos percursos de catequese e de educação para a fé, ao anúncio do Evangelho que chama a esta conversão, que a provoca e a sustenta. É este o modo com o qual a nova evangelização estimula os percursos habituais de educação para a fé, acentuando o seu caráter kerigmatico, de anúncio.
Uma primeira resposta direta ao desafio lançado foi já, portanto, dada. Mas, para além da resposta direta, o discernimento que estamos a realizar pede-nos que façamos uma pausa para compreender mais profundamente as razões desta alienação, por parte da nossa cultura, a propósito do discurso sobre Deus. Importa, antes de mais, examinar por que é que esta situação não interessou as próprias comunidades cristãs. É preciso, sobretudo, na procura das formas e nos instrumentos de elaboração do discurso sobre Deus, que saibamos interceptar as expectativas e as ansiedades das pessoas de hoje, mostrando-lhes como a novidade que Cristo representa seja o dom que todos nós esperamos, ao qual todo o homem anela como cumprimento não expresso da sua busca de sentido e da sua sede de verdade. O esquecimento do discurso sobre Deus transformar-se-á, assim, numa ocasião para o anúncio missionário. A vida do dia a dia será capaz de nos sugerir onde identificar aqueles “pátio dos gentios” nos quais as nossas palavras se tornam não somente audíveis, mas também significativas e medicinais para a humanidade. A tarefa da “nova evangelização” é levar não apenas os cristãos praticantes, mas também os que colocam perguntas sobre Deus e O procuram, a perceber o seu chamamento pessoal na sua consciência. A nova evangelização é um convite às comunidades cristãs para que depositem mais confiança no Espírito que as conduz dentro da história. Serão, assim, capazes de vencer os medos que sentem e conseguirão ver com maior lucidez os lugares e caminhos onde colocar a questão de Deus no centro da vida das pessoas de hoje.
20. Iniciar à fé, educar para a verdade
A necessidade de um discurso sobre Deus traz, como consequência, a possibilidade e a necessidade de um análogo discurso sobre o homem. A evangelização exige-o por si mesma, como uma ligação direta. Existe uma forte ligação entre a iniciação na fé e a educação. Afirmou-o já o Concílio Vaticano II e repetiu recentemente esta convicção o Papa Bento XVI: «Há quem ponha em questão hoje o compromisso da Igreja na educação, perguntando-se se os seus recursos não poderiam ser melhor empregues noutras partes. [...] A missão, primária na Igreja, de evangelizar, na qual as instituições educativas desempenham um papel fundamental, está em sintonia com a aspiração fundamental da nação de desenvolver uma sociedade verdadeiramente elevada à dignidade da pessoa humana. Mas por vezes o valor da contribuição da Igreja para o debate público é posto em questão. Por isso é importante recordar que a verdade da fé e a da razão nunca se contradizem entre si ». A Igreja com a verdade revelada purifica a razão e ajuda a reconhecer as verdades últimas como fundamento da moralidade humana e da ética humana. A Igreja, por sua própria natureza, apoia as categorias morais essenciais, mantendo viva a esperança na humanidade.
As palavras do Papa Bento XVI enumeram as razões pelas quais é natural que a evangelização e a iniciação à fé sejam acompanhadas por uma ação educativa que a Igreja exerce como serviço ao mundo. Hoje somos chamados a realizar esta tarefa num momento e num contexto cultural em que todas as formas de ação educativa são mais difíceis e críticas, a tal ponto que o próprio Papa fala de “emergência educativa”.
Com o termo “emergência educativa” o Papa pretende fazer alusão às progressivas dificuldades que hoje encontra não somente a atividade educativa cristã mas, mais genericamente, todo o tipo de educação. É cada vez mais difícil transmitir às novas gerações os valores básicos da existência e de um comportamento correto. E esta dificuldade vivem-na os pais, que vêem cada vez mais reduzida a sua capacidade de influenciar o processo educacional, mas também os órgãos de educação designados para essa tarefa, a começar pela escola.
Uma tal deriva era, em parte, previsível: numa sociedade e numa cultura que fazem muitas vezes do relativismo o seu credo é natural que comece a faltar a luz da verdade. Considera-se que é muito difícil falar da verdade, recorrendo-se imediatamente ao termo “autoritário”, e acaba-se por duvidar da bondade da vida – é bom ser homem? é bom viver? – e da importância das relações e dos compromissos que compõem a vida. Em tal contexto como será possível propor aos mais jovens e transmitir de geração em geração alguma coisa de válido e de certo, regras de vida, um autêntico significado e objetivos verdadeiramente convincentes para a existência humana, seja como indivíduos seja como comunidades? Por isso, a educação tende a reduzir-se muito à transmissão de determinadas habilidades, ou capacidades de fazer, enquanto se tenta satisfazer o desejo de felicidade das novas gerações enchendo-as de objetos de consumo e de gratificações efêmeras. Assim, pais e professores são facilmente tentados a abdicar das suas funções educativas e de nem sequer perceberem bem qual o seu papel, a missão que lhes foi confiada.
E aqui está a emergência educativa: já não somos capazes de oferecer aos jovens, às novas gerações, aquilo que é nosso dever transmitir. Temos, para com eles, a dívida dos verdadeiros valores que dão fundamento à vida. Acaba assim rejeitada e esquecida a finalidade essencial da educação, que é a formação da pessoa a ponto de a tornar capaz de viver plenamente e de contribuir para o bem-estar da comunidade. Cresce, no entanto, em vários lugares, a demanda por uma educação autêntica e a redescoberta da necessidade de educadores que sejam considerados como tais. Um tal pedido vê os pais unidos (preocupados e muitas vezes angustiados com o futuro dos seus filhos), os professores (que vivem a triste experiência da degradação da escola), a própria sociedade, que vê minadas as próprias bases da convivência.
Neste contexto, o empenho da Igreja no educar para a fé, e para o seguimento do Senhor, assume, mais do que nunca, o valor de uma contribuição para fazer sair a sociedade em que vivemos da crise educacional que a aflige, metendo um travão à desconfiança e àquele estranho “ódio a si mesmo”, àquelas formas de masoquismo que parecem ter-se tornado uma das características de algumas das nossas culturas. Um semelhante esforço pode proporcionar aos cristãos uma boa ocasião para habitar o espaço público das nossas sociedades propondo novamente a questão de Deus, e levando-lhes a sua tradição educativa como um dom, o fruto que as comunidades cristãs, guiadas pelo Espírito Santo, souberam produzir neste domínio.
A Igreja possui a este propósito uma tradição, ou um capital histórico de recursos pedagógicos, reflexões e pesquisas, instituições, pessoas - consagradas e outras, inseridas em ordens religiosas, em congregações – que podem oferecer uma presença significativa no mundo da escola e da educação. Além disso, interessado pelas transformações sociais e culturais em curso, este capital está passando, também ele, por mudanças significativas. Será útil, portanto, imaginar igualmente um discernimento neste sector, para identificar os pontos críticos que as mudanças estão gerando. Temos de reconhecer as energias do futuro, os desafios que precisam de uma educação adequada, sabendo que a tarefa fundamental da Igreja éa de educar para a fé e para o testemunho, ajudando a estabelecer uma relação viva com Cristo e com o Pai.
21. O objetivo de uma “ecologia da pessoa humana”O objetivo de todo este empenho educativo da Igreja é facilmente identificável. Trata-se de trabalhar na construção daquilo a que o Papa Bento XVI chamou de “ecologia da pessoa humana”. «Requer-se uma espécie de ecologia do homem, entendida no justo sentido. [...] O problema decisivo é a solidez moral da sociedade em geral. Se não é respeitado o direito à vida e à morte natural, se se tornam artificiais a concepção, a gestação e o nascimento do homem, se são sacrificados embriões humanos na pesquisa, a consciência comum acaba por perder o conceito de ecologia humana e, com ele, o de ecologia ambiental. É uma contradição pedir às novas gerações o respeito do ambiente natural, quando a educação e as leis não as ajudam a respeitar-se a si mesmas. O livro da natureza é uno e indivisível, tanto sobre a vertente do ambiente como sobre a vertente da vida, da sexualidade, do matrimônio, da família, das relações sociais, numa palavra, do desenvolvimento humano integral. Os deveres que temos para com o ambiente estão ligados com os deveres que temos para com a pessoa considerada em si mesma e em relação com os outros; não se podem exigir uns e espezinhar os outros. Esta é uma grave antinomia da mentalidade e do costume atual, que avilta a pessoa, transtorna o ambiente e prejudica a sociedade ».
A fé cristã defende a inteligência na compreensão do equilíbrio profundo que rege a estrutura da existência e da sua história. Realiza esta operação, não de modo genérico ou a partir do exterior, mas partilhando com a razão a sede de conhecimento, a sede de investigação, orientando-a para o bem do homem e do cosmos. A fé cristã contribui para a compreensão do conteúdo profundo das experiências humanas fundamentais, como mostra o texto que acabamos de citar. É uma responsabilidade - o confronto e o reenvio - que o catolicismo desenvolve desde há muito tempo. Para isso se foi preparando cada vez melhor, dando vida a instituições, centros de investigação, universidades, fruto da intuição ou do carisma de alguns ou das preocupações no campo da educação das Igrejas locais. Estes institutos exercem as suas funções habitando o espaço comum da investigação e do desenvolvimento do conhecimento nas diversas culturas e sociedades. As mudanças sociais e culturais que apresentamos desafiam a levantar questões e a criar desafios a essas instituições. O discernimento que está por trás da “nova evangelização” é chamado a ocupar-se deste compromisso cultural e educacional da Igreja. Poderão, assim, identificar-se os pontos críticos destes desafios, as energias e as estratégias a adotar para garantir o futuro não só da Igreja mas também do homem e da humanidade.
Imaginar todos estes espaços culturais como “pátio dos gentios”, ajudando-os a viver a sua vocação inicial dentro dos novos cenários que emergem, ou seja, a de levar de forma positiva a questão de Deus e a experiência da fé cristã para dentro das questões do tempo; ajudar estes espaços a tornarem-se lugares onde se formam pessoas livres e maduras capazes, por sua vez, de levar a questão de Deus para dentro de suas vidas, para o trabalho, para a família é, certamente, uma das tarefas da “nova evangelização”.
22. Evangelizadores e educadores porque testemunhasO contexto de emergência educativa no qual nos encontramos dá ainda mais força às palavras do Papa Paulo VI: «O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres, ou então se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas. [...] Será pois, pelo seu comportamento, pela sua vida, que a Igreja há de, antes de mais nada, evangelizar este mundo; ou seja, pelo seu testemunho vivido com fidelidade ao Senhor Jesus, testemunho de pobreza, de desapego e de liberdade frente aos poderes deste mundo; numa palavra, testemunho de santidade». Qualquer projeto de “nova evangelização”, qualquer projeto de anúncio e de transmissão da fé, não pode ignorar esta necessidade de ter homens e mulheres que com a sua conduta de vida, dão força ao empenho evangelizador que vivem. É esta sua exemplaridade a mais valia que confirma a verdade da sua dedicação, do conteúdo de quanto ensinam e do que pedem para as suas vidas. A atual emergência educativa faz crescer o problema dos educadores que saibam ser testemunhas credíveis daquela realidade e dos valores sobre os quais é possível fundar tanto a vida pessoal de cada homem, como os projetos comuns do viver social. Neste sentido, temos excelentes exemplos. Basta recordar São Paulo, São Patrício, São Bonifácio, São Francisco Xavier, São Cirilo e Metódio, São Turíbio de Mongrovejo, São Damião de Veuster, Madre Teresa de Calcutá.
Esta solicitude torna-se para a Igreja de hoje numa tarefa de apoio e formação de tantas pessoas que desde há muito se empenham nestes trabalhos de evangelização e educação (bispos, sacerdotes, catequistas, educadores, professores, pais); das comunidades cristãs, chamadas a dar um maior reconhecimento e a investir maiores recursos nesta tarefa essencial para o futuro da Igreja e da humanidade. É preciso afirmar claramente a essencialidade deste ministério de evangelização, de anúncio e de transmissão, no interior das nossas Igrejas. É preciso que cada comunidade reveja as prioridades das suas ações, para concentrar energias e forças neste esforço comum de “nova evangelização”.
Para que a fé seja alimentada e sustentada tem inicialmente necessidade daquele âmbito originário que é a família, primeiro lugar de educação para a oração. Na espaço familiar a educação para a fé pode surgir, essencialmente, na forma de educar a criança a rezar. Rezar juntamente com os filhos ajuda os pais naquela missão de os acostumar a reconhecer a presença amorosa do Senhor, permitindo-lhes de se tornarem novamente testemunhas autorizadas junto da criança.
A formação e o cuidado com que deverão apoiar não somente os evangelizadores já em exercício, mas apelar também a novas forças, não se reduzirá a uma mera preparação técnica, ainda que necessária. Será, antes de mais, uma formação espiritual, uma escola de fé, à luz do Evangelho de Jesus Cristo, sob a guia do Espírito, para viver a experiência da paternidade de Deus. Só quem se deixou e se deixa evangelizar, só quem é capaz de se deixar renovar espiritualmente pelo encontro e pela comunhão de vida com Jesus Cristo, pode evangelizar. Pode transmitir a fé, como nos testemunha o apóstolo Paulo: «Acreditei, por isso falei» (2 Cor 4, 13).
Assim, a nova evangelização é, principalmente, uma tarefa e um desafio espiritual. É um dever dos cristãos que perseguem a santidade. Neste contexto, e com este modo de compreender a formação, será útil dedicar tempo e espaço a um diálogo sobre as instituições e os instrumentos que as Igrejas locais dispõem para fazer dos batizados pessoas conscientes da sua missão missionária e evangelizadora. Perante os cenários da nova evangelização, as testemunhas para serem credíveis devem saber falar a linguagem do seu tempo anunciando, assim, a partir de dentro, as razões da esperança que as anima (cf. 1 Pd 3, 15). Semelhante tarefa não pode ser imaginada de forma espontânea, exige atenção, educação e cuidado.
PerguntasO projeto da nova evangelização é concebido como um exercício de revisão de todos os lugares e ações que a Igreja possui para proclamar o Evangelho ao mundo.
1. O dispositivo de “primeiro anúncio” é conhecido e difundido nas comunidades cristãs?
2. As comunidades cristãs constroem ações pastorais que visam a proposta específica de adesão ao Evangelho, da conversão ao cristianismo?
3. Em termos mais gerais, como é que as comunidades cristãs particulares lidam com a necessidade de desenvolver novas maneiras de falar de Deus dentro da sociedade e até mesmo dentro das nossas próprias comunidades? Que experiências significativas é útil partilhar com as outras igrejas?
4. Como é que o projeto “pátio dos gentios” foi assumido e desenvolvido nas Igrejas locais?
5. A que nível de prioridade foi elevado o compromisso assumido pelas comunidades cristãs de ousar formas novas de evangelização? Quais foram as iniciativas mais bem sucedidas de abertura missionária das comunidades missionárias cristãs?
6. Que experiências, que instituições, que novas agregações ou grupos nasceram ou se espalharam, com o objetivo de realizarem um anúncio jubiloso e contagiante do Evangelho aos homens?
7. Que colaborações entre as comunidades paroquiais e estas novas experiências?
A Igreja fez grandes esforços para reestruturar os seus próprios percursos de iniciação e educação para a fé.
8. De que forma a experiência da iniciação cristã dos adultos foi tomada como modelo para repensar os caminhos da iniciação à fé nas nossas comunidades?
9. Quanto e como foi assumido o instrumento da iniciação cristã? De que forma ajudou a repensar os caminhos da pastoral batismal e a acentuação da ligação entre os sacramentos do Batismo, da Confirmação e da Eucaristia?
10. As Igrejas orientais católicas administram de forma unificada os sacramentos da iniciação cristã às crianças. Quais são as vantagens e as características desta sua experiência? Como se sentem solicitadas pelas reflexões e mudanças em marcha, no que concerne a iniciação cristã?
11. Como é que o “catecumenato batismal” inspirou a revisão dos percursos de preparação para os sacramentos, transformando-os em itinerários de iniciação cristã, capazes de envolver de modo ativo os vários membros da comunidade (especialmente adultos) e não apenas as diversas partes interessadas? Como é que as comunidades cristãs se colocam ao lado dos pais, na tarefa de transmitir a fé que sempre se faz mais árdua?
12. Que evoluções conheceu o sacramento da Confirmação dentro deste percurso? Que motivações levaram a isso?
13. Como foi possível concretizar os itinerários mistagógicos?
14. Até que ponto as comunidades cristãs conseguiram transformar o caminho de educação para a fé numa pergunta dirigida, antes de mais, aos adultos subtraindo-a deste modo aos riscos de uma sua localização exclusiva na idade da infância?
15. As igrejas locais estão a desenvolver reflexões explícitas sobre o papel do anúncio e sobre a necessidade de dar maior importância à geração da fé, à pastoral do batismo?
16. Foi superada a fase de delegar a tarefa da educação para a fé por parte das comunidades paroquiais a outras entidades de educação religiosa (por exemplo, a instituições de ensino, confundindo os caminhos de educação para a fé com outras eventuais formas de educação cultural para a fato religioso)?
O desafio educacional interpela as nossas igrejas como uma verdadeira e real emergência.
17. Com que grau de sensibilidade foi acolhida? E com que energias?
18. Como é que a presença de instituições católicas no mundo da escola ajuda a enfrentar este desafio? Quais as mudanças que interessaram a essas instituições? Com que recursos conseguem responder a esses desafios?
19. Que ligação subsiste entre estas instituições e as outras instituições eclesiais, entre estas instituições e a vida paroquial?
20. Como é que essas instituições conseguem ter uma voz na sociedade e na cultura enriquecendo os movimentos culturais do pensamento e discussões com a voz da fé cristã?
21. Que relação existe entre estas instituições católicas e as outras instituições educativas, entre elas e a sociedade?
22. De que modo as grandes instituições culturais (universidades católicas, centros culturais, centros de investigação), que a história nos legou, conseguem intervir nos debates que afetam os valores fundamentais do homem (defesa da vida, da família, da paz, da justiça, da solidariedade, da criação)?
23. Como conseguem ser instrumento que ajuda o homem a ampliar os limites da sua razão, a procurar a verdade, a reconhecer as marcas do plano de Deus que dá sentido à nossa história? E, assim consideradas, como ajudam as comunidades cristãs a decifrar e a promover a escuta das perguntas e das expectativas mais profundas expressas pela cultura de hoje?
24. De que modo conseguem essas instituições imaginar-se dentro daquela experiência denominada de “pátio dos gentios”? Conseguem elas imaginar-se como lugares onde os cristãos vivem a audácia de alinhavar formas de diálogo que acedem aos anseios mais profundos do homem e a sua sede de Deus; e de colocar nesses contextos a questão de Deus partilhando a própria experiência de busca contando como um dom o encontro com o Evangelho de Jesus Cristo?
O projeto da nova evangelização exige formas, programas e percursos de formação para e anúncio e o testemunho.
25. Como é que as comunidades cristãs vivem a urgente necessidade de chamar, formar e apoiar as pessoas que podem ser evangelizadores e educadores porque testemunhas?
26. Que ministérios, instituídos, mas mais frequentemente “de fato”, as Igrejas locais viram (ou incentivaram) surgir com este objetivo claro de evangelização?
27. Como é que as paróquias se deixaram inspirar a propósito da vitalidade de alguns movimentos e realidades carismáticas?
28. Várias Conferências Episcopais nas últimas décadas fizeram da missão e da evangelização os elementos centrais e a prioridade nos seus projetos pastorais: que resultados se obtiveram? Como conseguiram sensibilizar as comunidades cristãs sobre a qualidade “espiritual” deste desafio missionário?
29. Como é que esse acento na “nova evangelização” ajudou à revisão e à reorganização dos programas de formação dos candidatos ao presbiterado? Como é que as diferentes instituições designadas para esta formação (seminários diocesanos, regionais, geridos por ordens religiosas) foram capazes de reler e adequar as suas regras de vida a essa prioridade?
30. De que modo o ministério do diaconato, restaurado recentemente, encontrou neste mandato evangelizador um dos conteúdos da sua identidade?
1. O dispositivo de “primeiro anúncio” é conhecido e difundido nas comunidades cristãs?
2. As comunidades cristãs constroem ações pastorais que visam a proposta específica de adesão ao Evangelho, da conversão ao cristianismo?
3. Em termos mais gerais, como é que as comunidades cristãs particulares lidam com a necessidade de desenvolver novas maneiras de falar de Deus dentro da sociedade e até mesmo dentro das nossas próprias comunidades? Que experiências significativas é útil partilhar com as outras igrejas?
4. Como é que o projeto “pátio dos gentios” foi assumido e desenvolvido nas Igrejas locais?
5. A que nível de prioridade foi elevado o compromisso assumido pelas comunidades cristãs de ousar formas novas de evangelização? Quais foram as iniciativas mais bem sucedidas de abertura missionária das comunidades missionárias cristãs?
6. Que experiências, que instituições, que novas agregações ou grupos nasceram ou se espalharam, com o objetivo de realizarem um anúncio jubiloso e contagiante do Evangelho aos homens?
7. Que colaborações entre as comunidades paroquiais e estas novas experiências?
A Igreja fez grandes esforços para reestruturar os seus próprios percursos de iniciação e educação para a fé.
8. De que forma a experiência da iniciação cristã dos adultos foi tomada como modelo para repensar os caminhos da iniciação à fé nas nossas comunidades?
9. Quanto e como foi assumido o instrumento da iniciação cristã? De que forma ajudou a repensar os caminhos da pastoral batismal e a acentuação da ligação entre os sacramentos do Batismo, da Confirmação e da Eucaristia?
10. As Igrejas orientais católicas administram de forma unificada os sacramentos da iniciação cristã às crianças. Quais são as vantagens e as características desta sua experiência? Como se sentem solicitadas pelas reflexões e mudanças em marcha, no que concerne a iniciação cristã?
11. Como é que o “catecumenato batismal” inspirou a revisão dos percursos de preparação para os sacramentos, transformando-os em itinerários de iniciação cristã, capazes de envolver de modo ativo os vários membros da comunidade (especialmente adultos) e não apenas as diversas partes interessadas? Como é que as comunidades cristãs se colocam ao lado dos pais, na tarefa de transmitir a fé que sempre se faz mais árdua?
12. Que evoluções conheceu o sacramento da Confirmação dentro deste percurso? Que motivações levaram a isso?
13. Como foi possível concretizar os itinerários mistagógicos?
14. Até que ponto as comunidades cristãs conseguiram transformar o caminho de educação para a fé numa pergunta dirigida, antes de mais, aos adultos subtraindo-a deste modo aos riscos de uma sua localização exclusiva na idade da infância?
15. As igrejas locais estão a desenvolver reflexões explícitas sobre o papel do anúncio e sobre a necessidade de dar maior importância à geração da fé, à pastoral do batismo?
16. Foi superada a fase de delegar a tarefa da educação para a fé por parte das comunidades paroquiais a outras entidades de educação religiosa (por exemplo, a instituições de ensino, confundindo os caminhos de educação para a fé com outras eventuais formas de educação cultural para a fato religioso)?
O desafio educacional interpela as nossas igrejas como uma verdadeira e real emergência.
17. Com que grau de sensibilidade foi acolhida? E com que energias?
18. Como é que a presença de instituições católicas no mundo da escola ajuda a enfrentar este desafio? Quais as mudanças que interessaram a essas instituições? Com que recursos conseguem responder a esses desafios?
19. Que ligação subsiste entre estas instituições e as outras instituições eclesiais, entre estas instituições e a vida paroquial?
20. Como é que essas instituições conseguem ter uma voz na sociedade e na cultura enriquecendo os movimentos culturais do pensamento e discussões com a voz da fé cristã?
21. Que relação existe entre estas instituições católicas e as outras instituições educativas, entre elas e a sociedade?
22. De que modo as grandes instituições culturais (universidades católicas, centros culturais, centros de investigação), que a história nos legou, conseguem intervir nos debates que afetam os valores fundamentais do homem (defesa da vida, da família, da paz, da justiça, da solidariedade, da criação)?
23. Como conseguem ser instrumento que ajuda o homem a ampliar os limites da sua razão, a procurar a verdade, a reconhecer as marcas do plano de Deus que dá sentido à nossa história? E, assim consideradas, como ajudam as comunidades cristãs a decifrar e a promover a escuta das perguntas e das expectativas mais profundas expressas pela cultura de hoje?
24. De que modo conseguem essas instituições imaginar-se dentro daquela experiência denominada de “pátio dos gentios”? Conseguem elas imaginar-se como lugares onde os cristãos vivem a audácia de alinhavar formas de diálogo que acedem aos anseios mais profundos do homem e a sua sede de Deus; e de colocar nesses contextos a questão de Deus partilhando a própria experiência de busca contando como um dom o encontro com o Evangelho de Jesus Cristo?
O projeto da nova evangelização exige formas, programas e percursos de formação para e anúncio e o testemunho.
25. Como é que as comunidades cristãs vivem a urgente necessidade de chamar, formar e apoiar as pessoas que podem ser evangelizadores e educadores porque testemunhas?
26. Que ministérios, instituídos, mas mais frequentemente “de fato”, as Igrejas locais viram (ou incentivaram) surgir com este objetivo claro de evangelização?
27. Como é que as paróquias se deixaram inspirar a propósito da vitalidade de alguns movimentos e realidades carismáticas?
28. Várias Conferências Episcopais nas últimas décadas fizeram da missão e da evangelização os elementos centrais e a prioridade nos seus projetos pastorais: que resultados se obtiveram? Como conseguiram sensibilizar as comunidades cristãs sobre a qualidade “espiritual” deste desafio missionário?
29. Como é que esse acento na “nova evangelização” ajudou à revisão e à reorganização dos programas de formação dos candidatos ao presbiterado? Como é que as diferentes instituições designadas para esta formação (seminários diocesanos, regionais, geridos por ordens religiosas) foram capazes de reler e adequar as suas regras de vida a essa prioridade?
30. De que modo o ministério do diaconato, restaurado recentemente, encontrou neste mandato evangelizador um dos conteúdos da sua identidade?