sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A Primavera chegou!



A Primavera e a Graça
“A alma em estado de graça é uma eterna primavera” (S. Cura d’Ars)

Fim de agosto. Era um caquizeiro. Sim, eu sabia que era porque já havia, por vários anos, saboreado seus frutos e gozado de sua sombra. Uma última folha amarela sob meus pés rubricava minha lembrança. A poda, com sua austera disciplina, completara aquele total despojamento. Certamente que a pobre árvore se lamentara, queixara, tivera pudor de sua nudez, mas só o vento carregava consigo essas confidências. Ela agora, na minha frente, me interpelava. Era um momento. – A vida continuou com outros momentos prenhes de novas interpelações. Esqueci-me da árvore de caqui. Ela se aproveitou de minha distração e, escondida de mim, sem me contar seu segredo, no silêncio ativo e com rapidez incrível me pregou um enorme susto... deveras a marota! Numa bela manhã de setembro olhei, espantada, para aquele verde que a vestia lindamente. Nem o rei Salomão ou rainha alguma de Sabá, ou qualquer outro reino deste planetinha, pode se gabar de tão alta costura. O vento discreto fingiu não se lembrar das antigas queixas e até enviou umas suaves brisas para ondular os verdes babados. Sua faceirice era bem desculpável. Contemplando-a com admiração, descerrei o verde cortinado e descobri, bem no coração de tudo, a face transparente do grande artífice, maravilhoso em suas obras, fagulhas de beleza e de verdade, pegadas de Deus. Recitei, lentamente, os versos de Elizabeth Browning: “God Himself is the best poeta and the real is His song”. Sim, a doce e profunda realidade é Sua Canção. Dei parabéns a Deus.
(Me. Mª Helena Cavalcanti)
“Veio a primavera e a Natureza começou a falar pelo murmúrio dos riachos e dos arroios e pelo sorriso das flores, e a alma do homem fez-se contente e feliz” (Khalil Gibran)