Mensagem de S.S. Papa Bento XVI para o 85º Mundial das Missões
23 de outubro de 2011.
“Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós” (Jo 20, 21)
Por ocasião do Jubileu do Ano 2000, o Venerável João Paulo II, no início de um novo milênio da era cristã, reiterou com força a necessidade de renovar o compromisso de levar a todos o anúncio do Evangelho, com “o mesmo entusiasmo dos cristãos da primeira hora” (Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte, 58). É o serviço mais precioso que a Igreja pode prestar à humanidade e a cada pessoa individualmente em busca das profundas razões para viver a própria existência em plenitude. Por isso, o mesmo convite ressoa todos os anos na celebração do Dia Missionário Mundial. Com efeito, o anúncio incessante do Evangelho vivifica também a Igreja, o seu fervor, o seu espírito apostólico, renova os seus métodos pastorais a fim de que sejam cada vez mais apropriados às novas situações — inclusive as que exigem uma nova evangelização — e animados pelo impulso missionário: “A missão renova a Igreja, revigora a sua fé e identidade cristãs, dá-lhe novo entusiasmo e novas motivações. É dando a fé que ela se fortalece! A nova evangelização dos povos cristãos também encontrará inspiração e apoio, no empenho pela missão universal” (João Paulo II, Enc. Redemptoris missio, 2).
Ide e anunciai
Este objetivo reaviva-se continuamente através da celebração da liturgia, em especial da Eucaristia, que se conclui sempre evocando o mandato de Jesus ressuscitado aos Apóstolos: “Ide...” (Mt 28, 19). A liturgia é sempre uma chamada “do mundo” e um novo início “no mundo” para testemunhar o que se experimentou: o poder salvífico da Palavra de Deus, o poder salvífico do Mistério pascal de Cristo. Todos aqueles que encontraram o Senhor ressuscitado sentiram a necessidade de O anunciar aos outros, como fizeram os dois discípulos de Emaús. Eles, depois de ter reconhecido o Senhor ao partir o pão, “partiram imediatamente, voltaram para Jerusalém e encontraram reunidos os onze” e contaram o que lhes tinha acontecido pelo caminho (Lc 24, 33-35). O Papa João Paulo II exortava a estarmos “vigilantes e prontos para reconhecer o seu rosto e correr a levar aos nossos irmãos o grande anúncio: “Vimos o Senhor”!” (Carta ap. Novo millennio ineunte, 59).
A todos
Todos os povos são destinatários do anúncio do Evangelho. A Igreja “por sua natureza é missionária, visto que, segundo o desígnio de Deus Pai, tem a sua origem na missão do Filho e na missão do Espírito Santo” (Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Ad gentes, 2). Esta é “a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade. Ela existe para evangelizar” (Paulo vi, Exort. Ap. Evangelii nutiandi, 14). Consequentemente, nunca pode fechar-se em si mesma. Enraíza-se em determinados lugares para ir além. A sua ação, em adesão à palavra de Cristo e sob a influência da sua graça e caridade, faz-se plena e atualmente presente a todos os homens e a todos os povos para os conduzir rumo à fé em Cristo (cf. Ad gentes, 5).
Esta tarefa não perdeu a sua urgência. Aliás, “a missão de Cristo Redentor, confiada à Igreja, ainda está bem longe do seu pleno cumprimento... uma visão de conjunto da humanidade mostra que tal missão ainda está no começo e que devemos empenhar-nos com todas as forças no seu serviço” (João Paulo II, Enc. Redemptoris missio, 1). Não podemos permanecer tranquilos com o pensamento de que, depois de dois mil anos, ainda existam povos que não conhecem Cristo e ainda não ouviram a sua Mensagem de salvação.
Não só mas aumenta o número daqueles que, embora tendo recebido o anúncio do Evangelho, o esqueceram e abandonaram, já não se reconhecem na Igreja; e muitos âmbitos, inclusive em sociedades tradicionalmente cristãs, hoje são refratários a abrirem-se à palavra da fé. Está em ato uma mudança cultural, alimentada também pela globalização, de movimentos de pensamento e de relativismo imperante, uma mudança que leva a uma mentalidade e a um estilo de vida que prescindem da Mensagem evangélica, como se Deus não existisse e exaltam a busca do bem-estar, do lucro fácil, da carreira e do sucesso como finalidade da vida, inclusive em detrimento dos valores morais.
Corresponsabilidade de todos
A missão universal envolve todos, tudo e sempre. O Evangelho não é um bem exclusivo de quem o recebeu, mas é um dom a partilhar, uma boa notícia a comunicar. E este dom-empenho está confiado não só a algumas pessoas, mas a todos os batizados, os quais são “raça eleita... nação santa, povo adquirido” (1 Pd 2, 9), para que proclame as suas obras maravilhosas.
Estão envolvidas também todas as suas atividades. A atenção e a cooperação na obra evangelizadora da Igreja no mundo não podem ser limitadas a alguns momentos ou ocasiões particulares, e nem devem ser consideradas como uma das tantas atividades pastorais: a dimensão missionária da Igreja é essencial e, portanto, deve estar sempre presente. É importante que tanto cada batizado como as comunidades eclesiais se interessem pela missão não de modo esporádico e irregular, mas de maneira constante, como forma de vida cristã. O próprio Dia Missionário não é um momento isolado no decorrer do ano, mas uma ocasião preciosa para nos determos e refletirmos se e como correspondemos à vocação missionária; uma resposta essencial para a vida da Igreja.
Evangelização global
A evangelização é um processo complexo e inclui vários elementos. Entre estes, uma atenção peculiar da parte da animação missionária sempre foi dada à solidariedade. Este é também um dos objetivos do Dia Missionário Mundial que, através das Pontifícias Obras Missionárias, solicita a ajuda para a realização das tarefas de evangelização nos territórios de missão. Trata-se de apoiar instituições necessárias para estabelecer e consolidar a Igreja mediante os catequistas, os seminários, os sacerdotes; e também de oferecer a própria contribuição para o melhoramento das condições de vida das pessoas em países nos quais são mais graves os fenômenos de pobreza, subalimentação sobretudo infantil, doenças, carência de serviços médicos e para a instrução. Isto também faz parte da missão da Igreja. Anunciando o Evangelho, ela toma a peito a vida humana em sentido pleno. Não é aceitável, afirmava o Servo de Deus Paulo VI, que na evangelização se descuidem os temas relativos à promoção humana, à justiça e à libertação de todas as formas de opressão, obviamente no respeito pela autonomia da esfera política. Não se interessar pelos problemas temporais da humanidade significaria “esquecer a lição que vem do Evangelho sobre o amor ao próximo que sofre e está em necessidade” (cf. Exort. Ap. Evangelii nuntiandi, 31.34); não estaria em sintonia com o comportamento de Jesus, o qual "percorria as cidades e as aldeias, ensinando nas sinagogas, proclamando a Boa Nova do Reino e curando todas as enfermidades e doenças" (Mt 9, 35).
Assim, através da participação co-responsável na missão da Igreja, o cristão torna-se construtor da comunhão, da paz, da solidariedade que Cristo nos concedeu, e colabora para a realização do plano salvífico de Deus para toda a humanidade. Os desafios que ela encontra chamam os cristãos a caminhar juntamente com os outros, e a missão faz parte integrante deste caminho com todos. Nela conservamos, embora em vasos de barro, a nossa vocação cristã, o tesouro inestimável do Evangelho, o testemunho vivo de Jesus morto e ressuscitado, encontrado e acreditado na Igreja.
O Dia Missionário reavive em cada um o desejo e a alegria de "ir" ao encontro da humanidade levando Cristo a todos. Em seu nome concedo-vos de coração a Bênção Apostólica, em particular àqueles que mais trabalham e sofrem pelo Evangelho.
Vaticano, 6 de janeiro de 2011.
Solenidade da Epifania do Senhor
Solenidade da Epifania do Senhor
BENEDICTUS PP. XVI