Por Dom
Orani João Tempesta
Arcebispo
do Rio de Janeiro (RJ)
Cinquenta
dias após a Páscoa, a Igreja se debruça sobre o mistério da festa de
Pentecostes, atualizando e apontando para uma das mais profundas experiências
do cristianismo. O envio do Paráclito, do Espírito da Verdade, que anima a vida
da Igreja e de cada discípulo em particular.
A
ação do Espírito Santo é fundamental para a vida e missão da Igreja. É por sua
ação e presença que somos conduzidos à proclamação do senhorio de Jesus em
nossa vida. Por meio do Espírito, somos inflamados e impulsionados à vida
missionária, ao anúncio sempre crescente e coerente de Jesus, do Pai e do seu
Reino definitivo de amor, justiça, solidariedade, paz e unidade. É o Espírito
que nos torna missionários do Pai.
O
Espírito Santo é gerador de Unidade! Sem ele, falamos muitas línguas, mas não
nos entendemos, sem ele a vida é uma constante Babel. Sua presença, entretanto,
traz entendimento e unidade entre as diferentes línguas. Por sua ação, Cristo
pôde ser anunciado na língua de cada povo, e todas elas reunidas na linguagem
do amor de Deus.
No
dia de Pentecostes estavam os discípulos reunidos no mesmo lugar. É a condição
para que Ele venha: a reunião dos discípulos e o mesmo desejo no coração. Do
céu veio um barulho, como de um forte vento e encheu todo o lugar. A ação do
Espírito faz maravilhas em todos quantos lhe estão abertos. As línguas de fogo
apontam para a força da Palavra na ação do Espírito, que faz da comunicação
entre os homens uma comunicação forte e eficaz, capaz de tocar por inteiro o
ser humano em suas dimensões todas. E começaram a falar em outras línguas
conforme o Espírito lhes concedia. Quem se deixa conduzir pela eficaz ação do
Espírito de Deus é capaz de comunicar a sua ação a todos os povos. Nós somos
parte do projeto divino, ele age em nós, mas a obra não é nossa, é sempre de
Deus em favor de todos e de cada um de nós.
A
ação do Espírito Santo será sempre a linguagem do amor e da unidade perfeitas.
A Igreja vive essa dimensão de Pentecostes constantemente. Dia após dia ela é
animada e enviada neste perene pentecostes que Cristo prometeu à sua Igreja.
A
origem da festa de Pentecostes se encontra nas tradições judaicas, quando se
celebrava a festa das semanas ligada à colheita do trigo. Mais tarde foi também
associada a conclusão da Aliança no Sinai. Nesse dia se oferecia as primícias
das colheitas no templo, e de todos os lados vinham peregrinos a Jerusalém para
participar e oferecer seus dons. Era celebrada sete semanas após a páscoa
judaica, portanto, cinquenta dias após a Páscoa, daí a origem do nome
"Pentecostes".
A
partir de Jesus, de sua nova páscoa e de seu mais profundo significado, o
pentecostes faz memória de um dos mais importantes eventos do calendário
cristão. Conservando os cinquenta dias após a Páscoa, a festa recorda a vinda
do Espírito Santo sobre os apóstolos e algumas mulheres reunidos no cenáculo.
Sua ação é forte, marcante e impactante: conduz para o anúncio de Jesus Cristo
e de sua Palavra.
O
Espírito Santo é Deus com o Pai e o Filho. Sua presença traz junto de si o Pai
e o Filho. Por ele somos filhos no Filho e entramos na mais íntima e profunda
comunhão com o Pai.
Por
meio da ação eficaz e sempre benéfica do Espírito Santo recebemos dele a Graça
necessária para a vida da fé. Juntamente com sua presença recebemos os seus
sete dons, ou seja, a plenitude dos dons para a nossa santificação e a
santificação de todo o mundo. São sete os dons do Espírito Santo, a saber:
Sabedoria, Entendimento, Conselho, Piedade, Fortaleza, Ciência e Temor do
Senhor. Na vivência desses dons, numa atitude de acolhida da ação eficaz do
Espírito em nós, os seus frutos são abundantes. Na tradição, se elencou doze
frutos do Espírito, a saber: caridade, alegria, paz, paciência, bondade,
benignidade, longanimidade, mansidão, fé, modéstia, continência e castidade.
Desde
o dia do nosso batismo somos habitados por este dom maior de Deus para
humanidade, o Espírito Santo. Nosso corpo se torna templo vivo, morada de Deus
e, ele, o doce Hóspede de nossa alma, fogo suave e abrasador. A sua presença em
nós nos faz assimilar e reconhecer mais claramente a ação de Deus em nós,
permitindo-nos amar mais e conhecer melhor a Deus, que é íntimo de nós, nosso
criador e redentor, animador e vivificador. Faz-nos reconhecer, ainda, que Deus
está em nós e nós devemos amá-lo de todo coração, com toda a nossa alma e
entendimento.
O
cristão encontra no Espírito de Deus a força necessária para lutar contra tudo
o que se opõe à vontade de Deus em sua vida e pode se santificar por meio de
seus dons e frutos.
A
unidade é um dom próprio do Espírito que age em nós e a partir de nós. Nesse
sentido, no hemisfério sul, celebramos, na semana anterior à festa de
Pentecostes, a semana de orações pela unidade dos cristãos. A semana da Unidade
desse ano traz como tema: "Todos seremos transformados pela vitória de
Nosso Senhor Jesus Cristo". Essa ação favorece o ecumenismo e o diálogo,
bem como a promoção da justiça e da paz.
Com
toda a Igreja e com todos os cristãos, animados pelo Espírito de Deus, após a
novena de Pentecostes ou a semana de preparação para Pentecostes, iniciando com
a grande Vigília, celebremos com alegria essa grande festa e abramos os nossos
corações sem medo de deixar-nos conduzir pelo Espírito Santo, que leva o nosso
coração abrasado pelo Amor de Deus a anunciar e ser testemunha de Jesus Cristo
Ressuscitado.
Vem,
Espírito Santo e ilumina as nossas vidas!