CNBB
“A
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) espera que, da Rio +20, brote
o compromisso de construção de um ‘modelo de desenvolvimento alternativo,
integral e solidário, baseado em uma ética que inclua a responsabilidade por
uma autêntica ecologia natural e humana, que se fundamenta no evangelho da
justiça, da solidariedade e do destino universal dos bens e que supere a lógica
utilitarista e individualista, que não submete os poderes econômicos e
tecnológicos a critérios éticos’” (V Conferência Geral do Episcopado
Latino-americano e caribenho – Documento de Aparecida n474c).
Com
essas palavras, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil emitiu na última
terça-feira, dia 19 de junho, uma mensagem sobre a Conferência Rio +20, que
acontece na cidade do Rio de Janeiro, de 13 a 22 de junho.
Segundo
a CNBB, todos devem assumir, com coragem e determinação, o compromisso de rever
caminhos e decisões que, ao longo da história, só têm excluído e condenado os
pobres à miséria e à morte.
A
Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, a Rio +20,
contribui para definir a agenda do desenvolvimento sustentável para as próximas
décadas.
A
proposta brasileira de sediar a Rio +20 foi aprovada pela Assembleia Geral das
Nações Unidas, em sua 64ª Sessão, em 2009.
O
objetivo da Conferência é a renovação do compromisso político com o
desenvolvimento sustentável, por meio da avaliação do progresso e das lacunas
na implementação das decisões adotadas pelas principais cúpulas sobre o assunto
e do tratamento de temas novos e emergentes.
Leia
a mensagem abaixo:
Mensagem da CNBB sobre a
Conferência Rio +20: “O Senhor Deus tomou o Homem e o colocou no jardim de
Éden, para o cultivar e guardar” (Gn 2,15).
A
Conferência das Nações Unidas Rio +20, sobre o desenvolvimento sustentável,
acolhida pelo Brasil neste mês de junho, carrega consigo a irrenunciável
responsabilidade de responder aos anseios e expectativas mundiais em relação à
defesa e promoção de toda forma de vida, especialmente a humana, desde sua concepção
até seu término natural.
A
crise econômica, financeira e social por que passam as grandes potências da
economia mundial, com graves consequências para as nações emergentes, emoldura
a Rio +20. Considerada, por causa de sua profundidade e alcance, como uma crise
de civilização, esta crise “interpela todos, pessoas e povos, a um profundo
discernimento dos princípios e dos valores culturais e morais que estão na base
da convivência social”. Entre suas múltiplas causas está “um liberalismo
econômico sem regras e incontrolado” (Nota do Pontifício Conselho Justiça e Paz
sobre o sistema financeiro).
É
urgente repensar nossa relação com a natureza, que “nos precede, tendo-nos sido
dada por Deus como ambiente de vida” e está à nossa disposição “não como um
lixo espalhado ao acaso, mas como um dom do Criador” (Bento XVI – Caritas in
Veritate, n. 48). Se, por um lado, como nos recorda o Papa Bento XVI, é “lícito
ao homem exercer um governo responsável sobre a natureza para guardá-la,
fazê-la frutificar e cultivá-la, inclusive com formas novas e tecnologias
avançadas, para que possa acolher e alimentar condignamente a população que a
habita”, por outro, é preciso que “a comunidade internacional e os diversos
governos saibam contrastar, de maneira eficaz, as modalidades de utilização do
ambiente que sejam danosas para o mesmo” (Bento XVI – Caritas in Veritate, n.
50).
Os
bispos da América Latina e Caribe, reunidos em Aparecida em 2007, já
denunciavam: “com muita frequência se subordina a preservação da natureza ao
desenvolvimento econômico, com danos à biodiversidade, com o esgotamento das
reservas de água e de outros recursos naturais, com a contaminação do ar e a
mudança climática” (V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do
Caribe – Documento de Aparecida n. 66).
O
cuidado com a natureza e com a vida, que nela brota e dela depende, passa pelo
reconhecimento de que é dever de todos, especialmente dos dirigentes das
nações, garantir a estas e às futuras gerações a casa comum – o Planeta Terra –
livre de toda destruição. Essa meta só se alcançará com a subordinação do
desenvolvimento econômico à justiça social, no respeito à pessoa, à natureza e
aos povos. Para tanto, é necessário que todos, especialmente os dirigentes
mundiais, assumam com coragem e determinação, o compromisso de rever caminhos e
decisões que, ao longo da história, só têm excluído e condenado os pobres à
miséria e à morte. Para a erradicação da fome e da miséria, "não se trata
de diminuir o número dos convidados para o banquete da vida, mas de aumentar a
comida na mesa”, como já nos alertou o Papa Paulo VI (cf. Homilia de João Paulo
II em Puebla, 1979).
A
Cúpula dos Povos, organizada pela sociedade civil e realizada concomitantemente
à Rio +20, tem a importante tarefa de reafirmar a responsabilidade dos
dirigentes das nações pelas graves consequências de uma opção equivocada, ao
subjugar o desenvolvimento econômico ao domínio do mercado e do lucro,
desconsiderando tanto a natureza quanto a vida e a cultura dos povos.
A
Igreja no Brasil, especialmente através da Campanha da Fraternidade, tem
chamado constantemente a atenção para a destruição da natureza provocada por um
desenvolvimento econômico predatório, alimentado por um sistema produtivo e um
estilo de vida consumista, muitas vezes, também predatórios. As consequências
são, dentre outras, o desmatamento, a contaminação e escassez da água e as
mudanças climáticas. Os que mais sofrem os impactos de tudo isso são os pobres
e excluídos.
É
imperioso que nos eduquemos para relações novas e éticas com o meio ambiente.
Esta é uma meta imprescindível da Rio +20, que não deve desviar-se de sua real
e concreta finalidade.
A
Rio +20 indica uma resposta a essas questões com a chamada Economia verde. Se
esta, em alguma medida, significa a privatização e a mercantilização dos bens
naturais, como a água, os solos, o ar, as energias e a biodiversidade, então
ela é eticamente inaceitável. Não podemos nos contentar com uma roupagem nova
para proteger o insaciável mercado, que só tem olhos para o lucro,
configurando-se como “lobo em pele de cordeiro” ao manter inalteradas as causas
estruturais da crise ambiental.
A
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB espera que, da Rio +20, brote o
compromisso de construção de um “modelo de desenvolvimento alternativo,
integral e solidário, baseado em uma ética que inclua a responsabilidade por
uma autêntica ecologia natural e humana, que se fundamenta no evangelho da
justiça, da solidariedade e do destino universal dos bens e que supere a lógica
utilitarista e individualista, que não submete os poderes econômicos e
tecnológicos a critérios éticos” (V Conferência Geral do Episcopado
Latino-americano e do Caribe – Documento de Aparecida n. 474c).
Esse
compromisso deve ser assumido por todos. Os cristãos, de modo especial, movidos
pela solidariedade, que gera fraternidade e comunhão, são convocados a
trabalhar pela preservação do meio ambiente e a colaborar na construção de uma
sociedade justa, ecologicamente sustentável.
Que
Deus, o Criador de todas as coisas, se digne abençoar seus filhos e filhas
nesta nobre missão de “cultivar e guardar” a terra, lugar de vida para todos
(cf. Gn 2,15).
Brasília,
19 de junho de 2012.
Arcebispo de Aparecida
Presidente da CNBB
Dom José Belisário da Silva
Arcebispo de São Luís do Maranhão
Vice-Presidente da CNBB
Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário Geral da CNBB