Por
Dom Pedro Cunha Cruz
Bispo
Auxiliar da Arquidiocese do Rio
Após
termos visto que o ato de fé se funda na própria Palavra de Deus, que nunca nos
engana, e que a fé procura compreender os conteúdos da Revelação, de modo a
estabelecer sempre uma harmonia entre fé e razão, cabe-nos neste momento
reafirmar a fé como um ato pessoal, enquanto resposta livre do homem à iniciativa de Deus. Esta se revela, mas não
como um ato isolado, e, sim, como um ato professado em comunhão com a Igreja. O
“eu crio”, professado pessoalmente por todo crente, envolve e supõe o “nós
cremos”, que é a fé confessada pela assembléia litúrgica dos crentes. “Eu
creio” é também a Igreja, nossa mãe, que responde a Deus com sua fé e que nos
ensina a dizer:”eu creio, nós cremos” (Cf. CIC, nº 167).
Portanto,
é a Igreja, antes de tudo, que crê e desta forma carrega, alimenta e sustenta a
minha fé. É a Igreja que confessa o Senhor Jesus por toda a terra. Nela é que
nós professamos nossa fé. Com ela e nela somos impulsionados e levados a
confessar: “eu creio, nós cremos”. Assim, é por intermédio da Igreja que
recebemos a fé e a vida nova em Cristo pelo batismo (Cf. CIC, nº 168).
Nós
cremos na Igreja como a mãe de nosso novo nascimento. Desde modo, ela é também
a educadora de nossa fé em comunidade. Quanto mais estivermos em comunhão
com a Igreja, mais iremos assimilar e viver a nossa fé. Ela é nossa mãe que nos
ensina a linguagem da fé para introduzir-nos na compreensão e na vida da fé.
Esta é a razão pela qual, há séculos, ela confessa uma única fé, recebida de um
só Senhor, transmitida por um só batismo, enraizada na convicção de que todos
os homens tem um só Deus e Pai (Cf. Ef 4,4-6).
Por
fim, a Igreja guarda com cuidado as verdades de fé que recebeu dos apóstolos e
seu discípulos; prega, ensina e transmite tais verdades de forma unânime, pois
o conteúdo da tradição é uno e idêntico. Esta fé que recebemos da Igreja, nós a
guardamos com cuidado como um depósito de grande e expressivo valor (Cf. CIC,
nº 174-175). Eis porque a fé é um ato esclesial, isto é, a fé da Igreja
precede, gera, sustenta e alimenta nossa fé. Sendo a Igreja a Mãe de todos os
crentes, o binômio fé sim, Igreja não, torna-se inconcebível e inoportuno.