Homilia durante a missa pelos jovens
Rio de Janeiro, 14 de setembro de
2012
Excelentíssimo Dom Orani
Excelências, Senhores Bispos
Auxiliares
Reverendos Padres, Religiosas e
Seminaristas
Queridos Jovens
Sinto-me verdadeiramente feliz
em poder estar mais uma vez com vocês, na ocasião desta nova etapa que nos leva
à Jornada Mundial da Juventude. Hoje, a Arquidiocese de São Sebastião do Rio de
Janeiro lançou oficialmente o Hino da JMJ Rio2013. Como se sabe, através do
Hino, um povo quer manifestar e expressar, através do canto, uma unidade e uma
comunhão de ideais e de empenho.
Através do Hino da JMJ 2013,
vocês, jovens do Rio querem convidar todos os jovens do mundo inteiro a
manifestar sua profunda unidade a Deus e à Igreja, convidando todos a
testemunhar no canto a própria comunhão em Cristo e, na fraternidade e no
empenho, a ser Seus discípulos pelo mundo inteiro. Ainda mais, vocês querem
manifestar a própria fidelidade a Deus, caminhando com Ele nas estradas deste
mundo como testemunhas autenticas de Sua palavra.
As leituras de hoje lembram-nos que
um povo, andando no deserto, encontra invitáveis momentos de cansaço e
desconfiança. Nesses momentos, apertado nas garras das dúvidas, torna-se vítima
de sua própria incredulidade. Isso foi o que aconteceu no episódio das
serpentes narrado na primeira leitura.
Na cena do deserto há algo de
misterioso. O episódio lembra a figura da serpente, tentadora, insinuantes,
provocando a rebelião de nossos progenitores, mas lembra também a profecia da
vitória sobre seu poder tentador pela “semente da mulher”.
Aqui, de fato, levantado diante do
povo, está o sinal da vitória, um sinal já eficaz, já cheio de poder de
salvação (Nm 21,8). As pessoas são convidadas a levantar a cabeça, a buscar no
alto a salvação, a tirar a vida da mesma morte, espancada com a morte.
No Evangelho passamos do sinal à
realidade, do anúncio profético ao cumprimento. Com Cristo, nós estamos em
caminho rumo à Páscoa, rumo à pátria da liberdade. Mas, também, como o povo de
Israel, vamos tateando no escuro e temos que fazer o caminho de fé e de
esperança. Aquele caminho que o Santo Padre Bento XVI propôs instituindo o Ano
da Fé, durante o qual celebraremos aqui no Rio de Janeiro a 28ª Jornada Mundial
da Juventude.
Para nós, que recebemos pelo batismo
a missão de ser sal da terra e luz do mundo, o mais importante é que procuramos
Cristo, que o seguimos, voltamos a Ele e o nosso olhar com amor e contemplação,
bebendo da sua fonte, sem nunca saciar nossa sede.
O Senhor sabe quão difícil é a
tarefa que nos confiou e, por isso, para podermos vê-lo elevando nosso olhar,
Ele se fez elevar, e não apenas no monte Gólgota naquele preciso momento
histórico, mas, sobretudo, dentro de nós mesmos, todos os dias. Aí, no alto, na
cruz elevada no centro de nossas vidas, devemos trazer as nossas misérias e as
nossas dores; aí, temos que quebrar cada dia o nosso orgulho, a nossa dureza,
que nos retém “aqui embaixo”, como peso morto, longe do Pai.
“Quando for elevado o Filho do
Homem, então você vai saber…” É necessário que isso aconteça hoje e continue a
acontecer até o fim dos tempos, até quando ainda houver um único homem que
necessite “olhar para Aquele que transpassaram”.
A celebração eucarística, portanto,
é um momento privilegiado no qual a elevação de Cristo se renova como uma força
de elevação de todos os homens.
Jesus, em seu diálogo com Nicodemos,
mostra a seu interlocutor e a todos nós a qual preço o homem tem recebido o dom
do novo nascimento.
Nicodemos conhece bem o episódio da
serpente de bronze, elevada por Moisés no deserto para curar os judeus mordidos
pela serpente. Este episódio é a prefiguração de uma outra realidade mais
abrangente: mostra-nos a outra salvação e a outra cura bem mais profunda. A
quantos dirigirem o olhar para o Filho de Deus, entregue por nós na morte de
cruz, o Pai acolherá como verdadeiros filhos em sua casa. É a própria cruz, na
verdade, que Jesus demonstra seus amor filiar e sua dedicação ao Pai. Por outro
lado, dando-nos o Filho amado, o Pai manifesta toda a sua bondade para com os
homens. Através da fé, o homem reconhece e coloca em sua vida este amor,
deixando-se recriar e salvar.
Jesus é o único revelador das coisas
celestiais. Embora ele tendo continuado a ter sua morada no Pai, tornou-se
homem para comunicar aos homens a vida de Deus. Este mistério de abaixamento e
de revelação será realizado na cruz, quando Jesus será elevado na glória,
porque “quem acredita nele tem a vida eterna” (v.15). Então, a humanidade será
capaz de entender o evento escandaloso e chocante da salvação através da cruz e
ser curada de sua doença, como os judeus no deserto foram curados da mordida
das serpentes venenosas olhando para a serpente de bronze que Moisés tinha
levantado como sinal de vida (21,4-9 Nm).
Contudo, não era a serpente de
bronze que salvada, mas como está escrito no Livro da Sabedoria 16:07: “Quem se
voltava a olhar para ele era salvo não pelo que ele viu, mas somente por ti,
salvador de todos”. Precisa sempre ir além das aparências dos sinais e olhar
com fé para a misericórdia e o poder da salvação de Deus. A salvação consiste
em submeter-se a Deus e dirigir o olhar para o Cristo crucificado. Este é o
verdadeiro até de fé que nos dá a vida eterna. (cf. Jo 19:37).
Queridos jovens, a nova vida criada
em nós pelo Espírito está diariamente exposta à mordida da serpente, o mal, o
pecado. O remédio contra o pecado e a morte é o Cristo morto na cruz. A fonte
de salvação e vida eterna é o amor do Pai que nos dá o Filho para destruir o
pecado e morte.
O Evangelho fala-nos muito
claramente do caráter universal da salvação realizada por Cristo, que encontra
a sua origem na misteriosa iniciativa do amor de Deus para com os homens. O
fato de que o Pai nos enviou seu Filho para nos salvar é a maior manifestação
de que Deus é amor (cf. 1 Jo 4:8-16). A missão de Jesus é aquela de trazer a
salvação à humanidade: “Deus amou tanto o mundo que deu o seu Filho unigênito,
para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (v.16).
A escolha fundamental do homem é esta: aceitar ou rejeitar o amor do Pai, que
se revelou em Cristo. Este amor não julga nem condena o mundo, mas
o salva: “Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para
que o mundo seja salvo por Ele” (v.17).
“Queridos amigos – dizia o Santo
Padre Bento XVI na Mensagem pela Jornada Mundial da Juventude – muitas vezes a
Cruz assusta-nos, porque parece ser a negação da vida. Na realidade, é o
contrário! Ela é o <> de Deus ao homem, a expressão máxima do
seu amor e a nascente da qual brota a vida eterna. De fato, do coração aberto
de Jesus na cruz brotou esta vida divina, sempre disponível para quem aceita
erguer os olhos para o Crucificado. Portanto, não posso deixar de vos convidar
a aceitar a Cruz de Jesus, sinal do amor de Deus, como fonte de vida nova. Fora
de Cristo morto e ressuscitado, não há salvação! Só Ele pode libertar o mundo
do mal e fazer crescer o Reino de justiça, de paz e de amor pelo qual
todos aspiram” (Mensagem pela XXVI Jornada Mundial da Juventude).
Às vezes, o mundo apresenta uma
imagem do Cristianismo como de uma proposta de vida que oprime a nossa
liberdade, que vai contra o nosso desejo de felicidade e de alegria. Mas isto
não corresponde à verdade! Os cristãos são homens e mulheres verdadeiramente
felizes porque sabem que nunca estão sozinhos, mas que são amparados sempre
pelas mãos de Deus!
Compete, sobretudo, a vocês, jovens
discípulos de Cristo, mostrar ao mundo que a fé confere uma felicidade e uma
alegria verdadeira, plena e duradoura. E
se o modo de viver dos cristãos por vezes parece cansado e entediado, vocês
devem ser os primeiros a testemunhar o rosto jubiloso e feliz da fé. O
Evangelho é a <> que Deus nos ama e que cada um de nós
é importante para Ele. Mostrem, queridos jovens, ao mundo que é precisamente
assim!
Faço minha a exortação que o Santo
Padre Bento XVI dirige aos jovens na ocasião da próxima Jornada Mundial da
Juventude: “Sede pois, missionários entusiastas da nova evangelização! Levai a
quantos sofrem, a quantos estão em busca, a alegria que Jesus quer doar.
Levai-a às vossas famílias, às vossas escolas e universidades, aos vossos
lugares de trabalho e aos vossos grupos de amigos, onde quer que vivais. Vereis
que ela é contagiosa. E recebereis o cêntuplo: a alegria da salvação para vós
próprios, a alegria de ver a Misericórdia de Deus agir nos corações. No dia do
vosso encontro definitivo do Senhor, Ele poderá dizer-vos: <> (Mensagem pela XVII Jornada
Mundial da Juventude).
Que Deus lhes abençoe!
+ Giovanni d’Aniello
Núncio Apostólico no Brasil