As indulgências são obras boas que devem ser praticadas com profundo
amor a Deus e total repudio ao pecado já absolvido no pelo sacramento da
Penitência, afim de que o amor a Deus, assim animado nos corações, apague os
resquícios do pecado que costumam permanecer no cristão mesmo após a absolvição
sacramental. O fiel católico que lucra uma indulgência pode aplicá-la às almas
do purgatório, isto é, pedindo a Deus que o amor ao Senhor existente naquelas
almas acabe de erradicar qualquer vestígio de pecado nela.
Para ter noção do que são as indulgências na Igreja, devemos aprofundar alguns
pontos doutrinários:
1. Todo pecado
acarreta a necessidade de expiação ou reparação, pois o pecado não é somente a
transgressão de uma lei, mas é também a violação da ordem de coisas
estabelecidas pelo criador. Por isso, para que haja plena remissão do pecado, é
necessário não somente que o pecador obtenha de Deus o perdão, mas também
repare a ordem violada (é o que se chama expiação). Assim quem rouba um
relógio, não precisa apenas pedir perdão a quem foi roubado, mas deve também
devolver o relógio ao seu dono. A própria Sagrada Escritura nos mostra que o
Senhor Deus, mesmo após haver perdoado a culpa do pecador exigiu a expiação
(Cf. Tb 4,11s) - ler também Catecismo da Igreja Católica nº 1472.
2. Com a sua Paixão,
Morte e Ressurreição, Jesus adquiriu um Tesouro infinito de graças para a
humanidade, e confiou este Tesouro à Sua Igreja. A chave deste Tesouro foi dada
a Pedro e seus sucessores. Não só o tesouro da Eucaristia, mas todos os méritos
de Cristo foram confiados à Igreja. Falando deste "tesouro da
Igreja", o Catecismo ensina que eles são os bens espirituais da
comunhão dos santos, "que não é uma soma de bens comparáveis às riquezas
materiais acumuladas no decorrer dos séculos, mas é o valor infinito e
inesgotável que tem, junto a Deus, as expiações e os méritos de Cristo nosso
Senhor, oferecidos para que a humanidade toda seja libertada do pecado e chegue
à comunhão com o Pai. É em Cristo, nosso redentor, que se encontra em
abundância as satisfações e os méritos de sua redenção". (cf. Hb 9,11-22;
7,23-25). Cristo confiou a sua Igreja as chaves para administrar o tesouro da
Redenção, como podemos ler em Mt 16,16-19.
3. Consciente do poder
das chaves que Cristo lhe concedeu, a Mãe Igreja, distribui aos seus filhos
este tesouro infinito de graças. Só a Igreja, que é o "Sacramento
universal da salvação da humanidade" (LG nº48), por vontade expressa do
Pai e do Filho, pode conceder as indulgências. O Catecismo ensina sobre as
indulgências que: "A indulgência se obtém pela Igreja que, em virtude do
poder de ligar e desligar que Cristo Jesus lhe concedeu, intervém em favor do
cristão, abrindo-lhe o tesouro dos méritos de Cristo e dos santos para obter do
Pai das misericórdias as remissões das penas temporais devidas aos seus
pecados. Assim, a Igreja não só vem em auxílio do cristão, mas também o incita
a obras de piedade, de penitência e de caridade" (CIC, 1478).
Após o Concílio do Vaticano II, o Papa Paulo VI procedeu a uma revisão
da instituição das indulgências promulgando a Constituição "Indulgentiarum Doctrina" datada de
1967. Eis alguns traços do citado
documento: a Igreja continua a conceder indulgências plenárias e indulgências
parciais. Aquelas significam a remissão de toda a satisfação correspondente a
pecados já absolvidos; estas, a remissão de parte desta satisfação. Fica,
porém, abolida a indicação de dias e anos de indulgência parcial. O valor das
indulgências parciais é doravante expresso em termos mais compreensíveis. Com
efeito, sabemos que toda boa obra (prece, esmola, mortificação...) tem anexo a
si um determinado mérito; se alguém realiza tal obra em espírito de contrição,
adquire a remissão de uma parte de sua satisfação purgatória. Pois bem, o Papa Paulo
VI determinou que as pessoas que praticam uma ação indulgenciada pela Igreja,
obtêm (além da remissão anexa ao ato bom como tal) uma igual remissão devida à
intervenção da Igreja. Isto significa, em última análise, que a medida das
indulgências parciais é a medida do arrependimento e do amor a Deus com que
alguém pratica a ação indulgenciada; se o cristão a realiza com ânimo rotineiro
e tíbio, pouco lucra; ao contrário, quanto mais fervor ele empenhar na execução
da obra indulgenciada, tanto mais também será ele indulgenciado.
Para que alguém possa lucrar indulgência plenária, requer-se que, além
de executar a obra indulgenciada, faça uma confissão sacramental, receba a Comunhão
Eucarística, ore segundo as intenções do Sumo Pontífice (um "Pai Nosso"
e uma "Ave Maria", por exemplo) e não guarde o mínimo apego a
qualquer pecado, ainda que seja leve. A confissão sacramental pode ser efetuada
alguns dias antes ou (se não houver pecado grave) depois da obra indulgenciada.
A Comunhão, porém, e a oração pelo Sumo Pontífice deverão ocorrer no dia mesmo
em que se realizar a obra. Basta uma Confissão sacramental para se adquirir
mais de uma indulgência plenária. Requer-se, porém, uma Comunhão e uma oração
pelo Santo Padre para cada indulgência plenária.
O novo catálogo de indulgências assinala várias obras de piedade como
indulgenciadas. Antes do mais, porém, propõe três grandes concessões:
1. É concedida
indulgência parcial a todo cristão que, no cumprimento de seus deveres e no
suportar das tribulações da vida presente, levante a mente a Deus com
humildade, confiança, proferindo ao mesmo tempo alguma invocação piedosa (com
os lábios ou só com a mente);
2. É concedida
indulgência parcial ao cristão que, movido por espírito de fé e de
misericórdia, coloca a sua pessoa ou os seus bens ao serviço dos irmãos que
padecem necessidade; e,
3. É concedida
indulgência parcial ao cristão que, movido por espírito de penitência, se
abstenha espontaneamente de algo que lhe seja lícito e agradável.
Mediante estas três normas, a Igreja visa estimular os seus filhos a uma
vida fervorosa, animada por espírito de fé, de amor e de configuração a Cristo.
Extraído da apostila de Escatologia
da Escola Mater Ecclesiae