quarta-feira, 3 de abril de 2013

A Ressurreição


O núcleo central da fé cristã é a proclamação da ressurreição de Jesus. Isto aparece na Escritura Sagrada com a afirmação paulina: “Se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa pregação, e vã é também a nossa fé” (ICor 15,14). De fato, todo o conteúdo de nossa fé – doutrina, liturgia e moral – encontra nesta proclamação da vitória de Cristo sobre a morte o seu fundamento.

Ressuscitar dos mortos
Morrer significa a separação da alma e do corpo. Ora, Jesus tinha duas naturezas: a divina e a humana. Quando a alma de Jesus se separa de seu corpo, a natureza divina continua unida a estas duas realidades, possibilitando novamente a união delas. Esta união do corpo com a alma após a morte é chamada de ressurreição dos mortos. Só Jesus podia realizá-la porque reunindo em si uma só pessoa com duas naturezas, sustentou com a divina a fraqueza da natureza humana, transformando-a de morte para vida. Isto é o que nos ensina São Gregório de Nissa: “Pela unidade da natureza divina, que permanece presente em cada uma das duas partes do homem, estas se unem novamente. Assim, a morte se produz pela separação do composto humano, e a ressurreição, pela união das duas partes separadas”.

Qual a importância da Ressurreição de Cristo?
O Catecismo da Igreja Católica (CIC) nos apresenta, pelo menos, cinco consequências importantes da ressurreição do Senhor. Primeiro, diante dela, devemos crer que tudo o que Jesus falou e fez é verdadeiro, pois todo o seu ministério anterior é confirmado pela sua vitória sobre a morte. Além disto, ela é o cumprimento das promessas do Antigo Testamento, porque tudo aquilo que Deus tinha preparado e anunciado na história do povo da antiga aliança encontrou realização e cumprimento no triunfo de Jesus. A terceira consequência é a confirmação da identidade de Jesus. Diante da ressurreição, os títulos de Jesus ganham relevo e confirmação, sobretudo, aqueles que de maneira mais explícita revelam que Ele é Deus: “Eu Sou” (Jo 8,28) e “Filho de Deus” (At 13,32-33).
A quarta consequência é a justificação advinda da vitória definitiva sobre o pecado. Com sua ressurreição, o Senhor “nos torna justos”, ou seja, recebemos a graça para vivermos uma vida nova. Esta vida é uma comunhão íntima com a do Crucificado-Ressuscitado. Com ela, os homens recebem a adoção filial, isto é, nos tornamos irmãos de Jesus, e n’Ele, filhos do mesmo Pai. Esta adoção é fruto da graça de Deus que nos faz participantes da vida do Senhor. A quinta consequência é que a ressurreição de Cristo se torna o princípio e a fonte da nossa ressurreição futura. Assim, como a alma e corpo de Cristo se uniram novamente após a morte; desta forma, nós esperamos a nossa ressurreição. Podemos olhar a morte como uma passagem para uma realização mais plena e como vitória sobre toda a dor e todo pecado.
O túmulo e as Aparições
Não existem no sentido estrito provas da ressurreição de Cristo, visto que nenhum homem viu e documentou o momento exato dela. Todavia, o sepulcro vazio é um sinal essencial de tal evento. Contemplando o túmulo aberto, com os panos mortuários dobrados e a ausência do corpo do Senhor, as mulheres e os discípulos reconheceram a ressurreição.
Após este reconhecimento, tanto as mulheres como os discípulos se encontraram com o Ressuscitado. Tal encontro se tornou à base da fé cristã: o testemunho daqueles primeiro discípulos, que além de terem vivido com o Senhor em vida, estiverem com Ele após a sua morte – Ele está vivo! O conteúdo dos relatos da aparição de Jesus é de caráter eclesiológico, ou seja, Jesus Ressuscitado está revelando os pontos centrais do tempo novo, inaugurado pela sua Páscoa – o tempo da Igreja.
Alguns teólogos querem interpretar a ressurreição como um evento psicológico-social. Esta interpretação foge da compreensão da fé cristã católica. O CIC, no nº 644, diz: “A hipótese segundo a qual a ressurreição teria sido um ‘produto’ da fé (ou da credulidade) dos apóstolos carece de consistência. Muito pelo contrário, a fé que tinham na ressurreição nasceu – sob a ação da graça divina – da experiência direta da realidade de Jesus ressuscitado”.

O Corpo Glorioso
Apesar de a ressurreição ser o reencontro entre a alma e o corpo de uma pessoa após a morte, este último não se apresenta da mesma maneira como ele era antes da separação. Por causa do pecado, nesta vida, o corpo apresenta as seguintes debilidades: ele pode se separar da alma (morte), apresenta debilidades, deficiências e doenças, se torna instrumento para o pecado e perde a santidade original. Por ocasião das aparições do Ressuscitado, podemos ver que o corpo não está mais submetido às consequências do pecado. Assim, ele se apresenta com as decorrentes qualidades: imortalidade (venceu a morte), integridade (venceu a dor e o sofrimento físico), impassibilidade (venceu a tentação ao pecado) e fulgor (refletirá a glória divina). Este corpo livre dos efeitos do pecado e renovado na ressurreição chama-se corpo glorioso. A ressurreição é a garantia da unidade pessoal liberta dos efeitos do pecado.

Para aprofundar
Para saber mais sobre o assunto, indicamos CIC do número 638 até 658; o Compêndio do Catecismo da pergunta 126 a 131; o Youcat, da pergunta 104 até a 108; e o Capítulo 1 da “Gaudium et Spes”.

Pe. Vitor Gino Finelon
Professor das Escolas de Fé e Catequese
Mater Ecclesiae e Luz e Vida