O núcleo central da fé cristã é a
proclamação da ressurreição de Jesus. Isto aparece na Escritura Sagrada com a
afirmação paulina: “Se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa pregação, e vã é
também a nossa fé” (ICor 15,14). De fato, todo o conteúdo de nossa fé –
doutrina, liturgia e moral – encontra nesta proclamação da vitória de Cristo
sobre a morte o seu fundamento.
Ressuscitar dos mortos
Morrer
significa a separação da alma e do corpo. Ora, Jesus tinha duas naturezas: a
divina e a humana. Quando a alma de Jesus se separa de seu corpo, a natureza
divina continua unida a estas duas realidades, possibilitando novamente a união
delas. Esta união do corpo com a alma após a morte é chamada de ressurreição
dos mortos. Só Jesus podia realizá-la porque reunindo em si uma só pessoa com
duas naturezas, sustentou com a divina a fraqueza da natureza humana,
transformando-a de morte para vida. Isto é o que nos ensina São Gregório de
Nissa: “Pela unidade da natureza divina, que permanece presente em cada uma das
duas partes do homem, estas se unem novamente. Assim, a morte se produz pela
separação do composto humano, e a ressurreição, pela união das duas partes
separadas”.
Qual a importância da Ressurreição de Cristo?
O
Catecismo da Igreja Católica (CIC) nos apresenta, pelo menos, cinco
consequências importantes da ressurreição do Senhor. Primeiro, diante dela,
devemos crer que tudo o que Jesus falou e fez é verdadeiro, pois todo o seu
ministério anterior é confirmado pela sua vitória sobre a morte. Além disto,
ela é o cumprimento das promessas do Antigo Testamento, porque tudo aquilo que
Deus tinha preparado e anunciado na história do povo da antiga aliança
encontrou realização e cumprimento no triunfo de Jesus. A terceira consequência
é a confirmação da identidade de Jesus. Diante da ressurreição, os títulos de
Jesus ganham relevo e confirmação, sobretudo, aqueles que de maneira mais
explícita revelam que Ele é Deus: “Eu Sou” (Jo 8,28) e “Filho de Deus” (At
13,32-33).
A quarta
consequência é a justificação advinda da vitória definitiva sobre o pecado. Com
sua ressurreição, o Senhor “nos torna justos”, ou seja, recebemos a graça para
vivermos uma vida nova. Esta vida é uma comunhão íntima com a do
Crucificado-Ressuscitado. Com ela, os homens recebem a adoção filial, isto é,
nos tornamos irmãos de Jesus, e n’Ele, filhos do mesmo Pai. Esta adoção é fruto
da graça de Deus que nos faz participantes da vida do Senhor. A quinta
consequência é que a ressurreição de Cristo se torna o princípio e a fonte da
nossa ressurreição futura. Assim, como a alma e corpo de Cristo se uniram
novamente após a morte; desta forma, nós esperamos a nossa ressurreição.
Podemos olhar a morte como uma passagem para uma realização mais plena e como
vitória sobre toda a dor e todo pecado.
O túmulo e as Aparições
Não
existem no sentido estrito provas da ressurreição de Cristo, visto que nenhum
homem viu e documentou o momento exato dela. Todavia, o sepulcro vazio é um
sinal essencial de tal evento. Contemplando o túmulo aberto, com os panos
mortuários dobrados e a ausência do corpo do Senhor, as mulheres e os
discípulos reconheceram a ressurreição.
Após este
reconhecimento, tanto as mulheres como os discípulos se encontraram com o
Ressuscitado. Tal encontro se tornou à base da fé cristã: o testemunho daqueles
primeiro discípulos, que além de terem vivido com o Senhor em vida, estiverem
com Ele após a sua morte – Ele está vivo! O conteúdo dos relatos da aparição de
Jesus é de caráter eclesiológico, ou seja, Jesus Ressuscitado está revelando os
pontos centrais do tempo novo, inaugurado pela sua Páscoa – o tempo da Igreja.
Alguns
teólogos querem interpretar a ressurreição como um evento psicológico-social.
Esta interpretação foge da compreensão da fé cristã católica. O CIC, no nº 644,
diz: “A hipótese segundo a qual a ressurreição teria sido um ‘produto’ da fé
(ou da credulidade) dos apóstolos carece de consistência. Muito pelo contrário,
a fé que tinham na ressurreição nasceu – sob a ação da graça divina – da
experiência direta da realidade de Jesus ressuscitado”.
O Corpo Glorioso
Apesar de
a ressurreição ser o reencontro entre a alma e o corpo de uma pessoa após a
morte, este último não se apresenta da mesma maneira como ele era antes da
separação. Por causa do pecado, nesta vida, o corpo apresenta as seguintes debilidades:
ele pode se separar da alma (morte), apresenta debilidades, deficiências e
doenças, se torna instrumento para o pecado e perde a santidade original. Por
ocasião das aparições do Ressuscitado, podemos ver que o corpo não está mais
submetido às consequências do pecado. Assim, ele se apresenta com as
decorrentes qualidades: imortalidade (venceu a morte), integridade (venceu a
dor e o sofrimento físico), impassibilidade (venceu a tentação ao pecado) e
fulgor (refletirá a glória divina). Este corpo livre dos efeitos do pecado e
renovado na ressurreição chama-se corpo glorioso. A ressurreição é a garantia
da unidade pessoal liberta dos efeitos do pecado.
Para aprofundar
Para saber
mais sobre o assunto, indicamos CIC do número 638 até 658; o Compêndio do
Catecismo da pergunta 126 a
131; o Youcat, da pergunta 104 até a 108; e o Capítulo 1 da “Gaudium et Spes”.
Pe. Vitor Gino Finelon
Professor das Escolas de Fé e Catequese
Mater Ecclesiae e Luz e Vida
Professor das Escolas de Fé e Catequese
Mater Ecclesiae e Luz e Vida