terça-feira, 9 de abril de 2013

Mistério Pascal

            Na nossa profissão de fé, proclamamos a Encarnação e a Páscoa de nosso Senhor Jesus Cristo. Todavia, a vida inteira d’Ele nos comunica a própria vida de Deus, nos faz conhecedores das realidades divinas e nos salva do poder das trevas.
Assim, do momento da concepção, no seio virginal de Maria, até o dia em que Ele subiu aos céus, derramando sobre os discípulos seu Espírito, temos a passagem de Jesus deste mundo para o Pai. A Páscoa de Jesus é toda a sua vida e encontra seu ponto culminante nos eventos da sua morte e da sua ressurreição.

A vida de Cristo é mistério
            A palavra “mistério” na Sagrada Escritura quer significar o plano de Deus revelado, realizado por Jesus e comunicado aos homens pela efusão do Espírito Santo. São Paulo nos diz que “Ele nos manifestou o mistério de sua vontade, conforme decisão prévia para realizá-lo na plenitude dos tempos – o desígnio de em Cristo reunir todas as coisas, as que estão nos céus e as que estão na Terra” (Ef 1,9). A vida de Jesus cumpre este plano eterno do Pai de reconciliar e de fazer entrar os homens em comunhão com Deus. Em sua própria pessoa esta vontade do Pai se realiza, pois n’Ele estão unidas as naturezas divina e humana. Com sua morte e ressurreição, perdoa os nossos pecados e sela uma aliança eterna e definitiva entre nós e Deus. Com o envio do seu Espírito Santo, nos torna participantes de sua vida divina e nos conduz para entrarmos definitivamente na sua glória.

O mistério Pascal
            Apesar de sua vida inteira ser mistério, sem dúvida, na sua paixão, morte e ressurreição, isto fica mais visível, se tornando o núcleo do mistério pascal. O Compêndio do Catecismo, na pergunta nº 112, nos afirma que “o mistério pascal de Cristo, que compreende a sua morte, ressurreição e glorificação, está no centro da fé cristã, porque o desígnio salvífico de Deus se realizou uma vez por todas com a morte redentora do seu Filho, Jesus Cristo”. Assim, nos eventos da crucificação e da ressurreição fica claro que Jesus venceu o sofrimento, o pecado, a morte e o demônio e que abriu um caminho de vida plena para homens.

A memória da Páscoa
            A partir da celebração da ceia pascal judaica, Jesus institui um conteúdo e um rito pascal novo. Ele mostra que a Páscoa é a imolação de seu corpo para a salvação dos homens. Este sentido cristão foi ritualizado na oferta das espécies do pão e do vinho que Jesus fez aos seus discípulos. O pão é a carne dele entregue e o vinho é o sangue derramado para a salvação de muitos. Além disto, o Senhor pediu que se fizesse memória daquele gesto sacramental. Assim, desde o primeiro século as comunidades cristãs se reúnem para celebrar a Páscoa (cf. 1Cor 5,7-8).

A Páscoa como Paixão
            Do século 1 ao 3 d.C., as comunidades entendiam o mistério pascal como toda a História da Salvação, que tem seu ápice em Jesus Cristo, em sua vinda, em sua morte e na espera feliz de seu retorno. O termo grego pascha (páscoa), que tinha sua origem no termo hebraico pesah (passagem), foi relacionado com outro termo grego pascho (sofrimento). Ora, a Páscoa foi entendida, sobretudo, como a Paixão, os sofrimentos que Jesus viveu para a nossa salvação. As comunidades faziam memória da imolação de Jesus na Cruz, ato salvífico primordial. A crucificação do Senhor era entendida como o início de sua glorificação.

A Páscoa como Passagem
            Traduzindo corretamente o termo hebraico pesah como “passagem”, São Clemente de Alexandria e Orígenes entenderão a Páscoa como uma passagem da falta de fé para a obediência da fé; do pecado para a santidade; da morte para a vida. A Páscoa de Jesus aponta a Páscoa do cristão. Desta forma, toda a vida de Cristo e a dos cristãos são uma Páscoa. Os últimos só podem passar por causa do primeiro, pois Ele é a causa e o modelo de como, do porquê e do para onde passar.

A Páscoa Cristã
            Unindo estas duas maneiras de entender a Páscoa e percebendo um elo entre elas, Santo Agostinho vai falar do duplo aspecto da Páscoa: ela é, ao mesmo tempo, a passagem de Cristo e a passagem do homem. Ela é o sacrifício de Jesus na Cruz, para a remissão dos pecados, que possibilita aos homens entrarem em comunhão com Deus. Ela é a passagem de Jesus para a casa do Pai e, por causa disto, a possibilidade de o homem passar com Ele.

Para aprofundar
            Para saber mais sobre o assunto, conferir os parágrafos do CIC, do número 512 até 521, e 1084 e 1085; o Compêndio do Catecismo, pergunta 101; o “Youcat”, pergunta 78; e a “Sacrosanctum Concilium”, nº 5.

Pe. Vitor Gino Finelon
Professor das Escolas de Fé e Catequese
Mater Ecclesiae e Luz e Vida