Por Dom Orani João Tempesta, O. Cist.
No
quinquagésimo Dia Mundial de Oração pelas Vocações, celebrado neste IV Domingo de
Páscoa, 21 de abril de 2013,
a mensagem papal nos convida a refletir sobre o tema “As
vocações sinal da esperança fundada na fé”, que bem se integra no contexto
do Ano da Fé e no cinquentenário da abertura do Concílio
Ecumênico Vaticano II.
A liturgia
nos apresenta a figura do Bom Pastor, que São João nos deixou no capítulo
décimo do seu evangelho. Repleta de significado pascal, a figura do Bom Pastor
conhece as suas ovelhas e o Bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas (Jo 10,11).
Sabemos que estas palavras foram de novo confirmadas durante a paixão. Cristo
ofereceu a Sua vida na Cruz. E fê-lo com o amor. Sobretudo, desejou
corresponder ao amor do Pai, que amou de tal modo o mundo que lhe deu o Seu
Filho único, para que todo o que n'Ele crer não pereça, mas tenha a vida eterna
(cf. Jo 3, 16).
Cumprindo “este
mandamento recebido do Pai" (cf. Jo. 10, 18) e revelando o Seu amor. Afirma-o
no mesmo discurso, quando diz: “Por isto o Pai Me ama: porque dou a minha vida
para tornar a tomá-la. Ninguém me tira (a vida); sou eu que a dou por mim
mesmo. Tenho poder para dá-la e para retomá-la” (Jo 10,17-18). Estas profundas
palavras referem-se evidentemente à ressurreição, e exprimem toda a
profundidade do mistério pascal.
Jesus é o bom
pastor porque dá a Sua vida ao Pai deste modo: entregando-a em sacrifício,
oferece-a pelas ovelhas. Jesus, Nosso Senhor, revelou esse aspecto do amor do
Bom Pastor: oferecer a vida pelas ovelhas.
A imagem
do pastor e do rebanho era familiar à experiência dos seus ouvintes, como não
deixa de ser familiar à mentalidade do homem contemporâneo. Mesmo com o avanço
cibernético, esta imagem continua ainda a ser atual no mundo hodierno. Os pastores
levam as ovelhas aos pastos e lá ficam com elas durante o verão. Acompanham-nas
nos deslocamentos e guardam-nas para que não se tresmalhem. De modo especial,
defendem-nas dos animais selvagens, pois “o lobo arrebata e dispersa as
ovelhas” (Jo 10, 12).
O Bom
Pastor, segundo as palavras de Cristo, é precisamente aquele que, "vendo
vir o lobo", não foge, mas está pronto a expor a própria vida, lutando com
o ladrão, a fim de que nenhuma das ovelhas se perca. Se não estivesse pronto a
isto, não seria digno do nome de bom pastor. Seria mercenário, mas não Pastor.
O bom pastor dá a vida pelas ovelhas (Jo 10, 11).
A Igreja é chamada a realizar este
mistério, atuando entre Cristo e o homem: o mistério do bom pastor, que oferece
a Sua vida pelas ovelhas. A Igreja, que é o povo de Deus, é, ao mesmo tempo,
realidade histórica e social, em que este mistério continuamente, e de diversos
modos, se renova e realiza. E muitos homens têm a sua parte ativa nesta
solicitude pela salvação do mundo, pela santificação do próximo, que é e não deixa
de ser a solicitude própria de Cristo crucificado e ressuscitado. Esta
solicitude pastoral é, de modo especial, a vocação dos pastores: presbíteros e
bispos.
Por isso,
neste domingo do Bom Pastor, após cinquenta anos da criação do Dia Mundial de
Orações pelas Vocações, somos chamados a uma animação ainda maior da Pastoral
Vocacional e dos ministérios ordenados. Para a eficiente e consoladora solução
do problema das vocações, a Comunidade cristã é chamada a orar; orar muito, com
confiança e perseverança, não deixando, por outro lado, de promover
convenientes iniciativas pastorais, e de oferecer, especialmente por meio das
almas consagradas, um testemunho luminoso de vida, vivida em fidelidade à
divina vocação. Rezemos insistentemente para despertar o divino chamado no
coração de muitos jovens e em outras almas nobres e generosas, para mover os
hesitantes a uma decisão, e manter na perseverança aqueles que fizeram a sua
escolha, dedicando-se ao serviço de Deus e dos próprios irmãos.
Rezemos
também para que Deus conceda a todos compreender plenamente que a presença, a
qualidade, o número e a fidelidade das vocações constituem sinal da presença
viva e operante da Igreja no mundo e motivo de esperança para o seu futuro.
Neste Ano
da Juventude e da Fé, em particular para a Igreja do Rio de Janeiro, dirijo,
por fim, um apelo especial e cordial aos jovens. Caros amigos, olhai para a
figura do Bom Pastor — ideal de luz, de vida e de amor e – ao mesmo tempo,
considerai que a nossa época tem necessidade de recuperar estes ideais. Se
Cristo olha para vós com vistas de predileção, se vos escolhe e vos chama a
serdes seus colaboradores, não hesiteis um momento em dizer — à imitação da
Virgem Santíssima ao anjo — o vosso generoso "sim". Não vos
arrependereis; a vossa alegria será verdadeira e completa, e a vossa vida
aparecerá rica de frutos e de méritos, porque vos tornareis com Ele e por Ele
mensageiros de paz, realizadores do bem e colaboradores de Deus na salvação do
mundo.
Impossível
não recordar as Palavras do Papa Francisco na Quinta-feira Santa, dirigida aos
sacerdotes: “isto vo-lo peço: sede pastores com o “cheiro das ovelhas”, que se
sinta este, serem pastores no meio do seu rebanho, e pescadores de homens”, recordando
ainda: “Deus Pai renove em nós o Espírito de santidade com que fomos ungidos, o
renove no nosso coração de tal modo que a unção chegue a todos, mesmo nas “periferias”, onde o nosso povo fiel mais
a aguarda e aprecia. Que o nosso povo sinta que somos discípulos do Senhor,
sinta que estamos revestidos com os seus nomes e não procuramos outra
identidade; e que ele possa receber, através das nossas palavras e obras, este
óleo da alegria que nos veio trazer Jesus, o Ungido”.
A
conclusão da mensagem papal para esta jornada de orações nos situa no clima da
JMJ, que estamos a preparar: “Desejo que os jovens, no meio de tantas propostas
superficiais e efêmeras, saibam cultivar a atração pelos valores, as metas
altas, as opções radicais por um serviço aos outros, seguindo os passos de
Jesus. Amados jovens, não tenhais medo de segui-Lo e de percorrer os caminhos
exigentes e corajosos da caridade e do compromisso generoso. Sereis felizes por
servir, sereis testemunhas daquela alegria que o mundo não pode dar, sereis
chamas vivas de um amor infinito e eterno, aprendereis a “dar a razão da vossa
esperança” (1 Ped 3,15).
Que a
exemplo de nosso Bom Pastor, Cristo Senhor, possamos continuar a ver tantos
jovens que, devido à experiência cristã, se entregam ao serviço do reino como
consagrados e, portanto, dando suas vidas para que as ovelhas possam estar e
adentrar no aprisco do Senhor!