quarta-feira, 24 de abril de 2013

Oração pelas vocações


Por Dom Orani João Tempesta, O. Cist.

No quinquagésimo Dia Mundial de Oração pelas Vocações, celebrado neste IV Domingo de Páscoa, 21 de abril de 2013, a mensagem papal nos convida a refletir sobre o tema “As vocações sinal da esperança fundada na fé”, que bem se integra no contexto do  Ano da Fé e no cinquentenário da abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II.
A liturgia nos apresenta a figura do Bom Pastor, que São João nos deixou no capítulo décimo do seu evangelho. Repleta de significado pascal, a figura do Bom Pastor conhece as suas ovelhas e o Bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas (Jo 10,11). Sabemos que estas palavras foram de novo confirmadas durante a paixão. Cristo ofereceu a Sua vida na Cruz. E fê-lo com o amor. Sobretudo, desejou corresponder ao amor do Pai, que amou de tal modo o mundo que lhe deu o Seu Filho único, para que todo o que n'Ele crer não pereça, mas tenha a vida eterna (cf. Jo 3, 16).
Cumprindo “este mandamento recebido do Pai" (cf. Jo. 10, 18) e revelando o Seu amor. Afirma-o no mesmo discurso, quando diz: “Por isto o Pai Me ama: porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém me tira (a vida); sou eu que a dou por mim mesmo. Tenho poder para dá-la e para retomá-la” (Jo 10,17-18). Estas profundas palavras referem-se evidentemente à ressurreição, e exprimem toda a profundidade do mistério pascal.
Jesus é o bom pastor porque dá a Sua vida ao Pai deste modo: entregando-a em sacrifício, oferece-a pelas ovelhas. Jesus, Nosso Senhor, revelou esse aspecto do amor do Bom Pastor: oferecer a vida pelas ovelhas.
A imagem do pastor e do rebanho era familiar à experiência dos seus ouvintes, como não deixa de ser familiar à mentalidade do homem contemporâneo. Mesmo com o avanço cibernético, esta imagem continua ainda a ser atual no mundo hodierno. Os pastores levam as ovelhas aos pastos e lá ficam com elas durante o verão. Acompanham-nas nos deslocamentos e guardam-nas para que não se tresmalhem. De modo especial, defendem-nas dos animais selvagens, pois “o lobo arrebata e dispersa as ovelhas” (Jo 10, 12).

O Bom Pastor, segundo as palavras de Cristo, é precisamente aquele que, "vendo vir o lobo", não foge, mas está pronto a expor a própria vida, lutando com o ladrão, a fim de que nenhuma das ovelhas se perca. Se não estivesse pronto a isto, não seria digno do nome de bom pastor. Seria mercenário, mas não Pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas (Jo 10, 11).
            A Igreja é chamada a realizar este mistério, atuando entre Cristo e o homem: o mistério do bom pastor, que oferece a Sua vida pelas ovelhas. A Igreja, que é o povo de Deus, é, ao mesmo tempo, realidade histórica e social, em que este mistério continuamente, e de diversos modos, se renova e realiza. E muitos homens têm a sua parte ativa nesta solicitude pela salvação do mundo, pela santificação do próximo, que é e não deixa de ser a solicitude própria de Cristo crucificado e ressuscitado. Esta solicitude pastoral é, de modo especial, a vocação dos pastores: presbíteros e bispos.
Por isso, neste domingo do Bom Pastor, após cinquenta anos da criação do Dia Mundial de Orações pelas Vocações, somos chamados a uma animação ainda maior da Pastoral Vocacional e dos ministérios ordenados. Para a eficiente e consoladora solução do problema das vocações, a Comunidade cristã é chamada a orar; orar muito, com confiança e perseverança, não deixando, por outro lado, de promover convenientes iniciativas pastorais, e de oferecer, especialmente por meio das almas consagradas, um testemunho luminoso de vida, vivida em fidelidade à divina vocação. Rezemos insistentemente para despertar o divino chamado no coração de muitos jovens e em outras almas nobres e generosas, para mover os hesitantes a uma decisão, e manter na perseverança aqueles que fizeram a sua escolha, dedicando-se ao serviço de Deus e dos próprios irmãos.
Rezemos também para que Deus conceda a todos compreender plenamente que a presença, a qualidade, o número e a fidelidade das vocações constituem sinal da presença viva e operante da Igreja no mundo e motivo de esperança para o seu futuro.
Neste Ano da Juventude e da Fé, em particular para a Igreja do Rio de Janeiro, dirijo, por fim, um apelo especial e cordial aos jovens. Caros amigos, olhai para a figura do Bom Pastor — ideal de luz, de vida e de amor e – ao mesmo tempo, considerai que a nossa época tem necessidade de recuperar estes ideais. Se Cristo olha para vós com vistas de predileção, se vos escolhe e vos chama a serdes seus colaboradores, não hesiteis um momento em dizer — à imitação da Virgem Santíssima ao anjo — o vosso generoso "sim". Não vos arrependereis; a vossa alegria será verdadeira e completa, e a vossa vida aparecerá rica de frutos e de méritos, porque vos tornareis com Ele e por Ele mensageiros de paz, realizadores do bem e colaboradores de Deus na salvação do mundo.
Impossível não recordar as Palavras do Papa Francisco na Quinta-feira Santa, dirigida aos sacerdotes: “isto vo-lo peço: sede pastores com o “cheiro das ovelhas”, que se sinta este, serem pastores no meio do seu rebanho, e pescadores de homens”, recordando ainda: “Deus Pai renove em nós o Espírito de santidade com que fomos ungidos, o renove no nosso coração de tal modo que a unção chegue a todos, mesmo nas       “periferias”, onde o nosso povo fiel mais a aguarda e aprecia. Que o nosso povo sinta que somos discípulos do Senhor, sinta que estamos revestidos com os seus nomes e não procuramos outra identidade; e que ele possa receber, através das nossas palavras e obras, este óleo da alegria que nos veio trazer Jesus, o Ungido”.
A conclusão da mensagem papal para esta jornada de orações nos situa no clima da JMJ, que estamos a preparar: “Desejo que os jovens, no meio de tantas propostas superficiais e efêmeras, saibam cultivar a atração pelos valores, as metas altas, as opções radicais por um serviço aos outros, seguindo os passos de Jesus. Amados jovens, não tenhais medo de segui-Lo e de percorrer os caminhos exigentes e corajosos da caridade e do compromisso generoso. Sereis felizes por servir, sereis testemunhas daquela alegria que o mundo não pode dar, sereis chamas vivas de um amor infinito e eterno, aprendereis a “dar a razão da vossa esperança” (1 Ped 3,15).
Que a exemplo de nosso Bom Pastor, Cristo Senhor, possamos continuar a ver tantos jovens que, devido à experiência cristã, se entregam ao serviço do reino como consagrados e, portanto, dando suas vidas para que as ovelhas possam estar e adentrar no aprisco do Senhor!