De acordo com a Constituição dogmática “Lumen Gentium”, nº 66, “Maria
foi exaltada pela graça de Deus acima de todos os anjos e de todos os homens,
logo abaixo de seu Filho, por ser a Mãe Santíssima de Deus e, como tal, haver
participado nos mistérios de Cristo. Por isso, a Igreja a honra com culto
especial”. Vejamos que culto é este prestado pela Igreja em honra a Virgem.
Desde Sempre
A
exortação apostólica “Marialis Cultus” afirma no nº 15 que “o culto que a
Igreja universal tributa a Santíssima Virgem é derivação, prolongamento e acréscimo
incessante daquele mesmo culto que a Igreja de todos os tempos lhe rendeu, com
escrupuloso estudo da verdade e com uma sempre vigilante nobreza de formas”.
Na
verdade, a presença de Maria na Liturgia se dá desde as primeiras homilias que
utilizavam os textos bíblicos que dela falavam, destacando-se,
indubitavelmente, o cântico do Magnificat (Lc 1,46-55). Já no segundo século,
encontramos numa homilia, de Melitão de Sardes, sobre a Páscoa, o título de “ovelha
sem mancha” aplicado a Maria. No terceiro século, temos na Tradição Apostólica,
de Hipólito de Roma, menções a Virgem em textos de cunho batismal (profissão de
fé na encarnação) e eucarístico. As solenidades do Natal e da Epifania no seu
desenvolvimento deram espaço para a reflexão sobre o papel de Maria na história
da salvação. A partir do Concílio de Éfeso (431) se desenvolveu mais o culto em
honra a Virgem, Mãe de Deus.
Do
terceiro século é ainda uma das orações marianas mais antigas e que hoje a
rezamos assim: “À vossa proteção recorremos, Santa Mãe de Deus; não desprezais
as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os
perigos; ó Virgem gloriosa e bendita”.
Participação de Maria nos mistérios de Cristo
Sem
dúvida a base de todo culto mariano é a íntima relação de Maria com seu filho
Jesus. A liturgia apresenta as festas marianas no decorrer da memória que o Ano
Litúrgico faz da vida de Cristo, revelando, assim, o conteúdo salvífico
presente nos eventos ocorridos com Maria. Desta forma, podemos dividir em três
grupos as celebrações marianas: as solenidades dogmáticas; as festas de conteúdo
bíblico-teológico e as memórias de acordo com as devoções.
As
quatro solenidades são: Imaculada Conceição de Maria (8 de dezembro); Maria, Mãe
de Deus (1º de janeiro); Anunciação o Senhor (25 de março); e Assunção de Maria
(15 de agosto). A festas são: Apresentação do Senhor (2 de fevereiro); Visitação
de Nossa Senhora (31 de maio); e Nascimento da Virgem (8 de setembro). As memórias
são: Nossa Senhora de Lourdes (11 de fevereiro); Imaculado Coração de Maria (sábado
após o segundo domingo de Pentecostes); Nossa Senhora do Monte Carmelo (16 de
julho); Dedicação da Basílica de Santa Maria Maior (5 de agosto); Maria, Rainha
do Ce (oito dias após a Solenidade da Assunção); Nossa Senhora das Dores (15 de
setembro); e Nossa Senhora do Rosário (7 de outubro). No Brasil, ganha caráter
de solenidade a celebração de Nossa Senhora Aparecida (12 de outubro).
A Virgem Maria como modelo para a Igreja
A
Virgem Maria é apresentada como modelo de atitude de culto porque sua vida está
marcada pela escuta da Palavra de Deus, pelo diálogo, pela oferta de sua vida e
pela geração de Jesus. Desta maneira, ela é apresentada como mestra de espiritualidade.
De fato, a vida de Maria é marcada pela inspiração e moção do Espírito Santo de
Deus. Assim, todo crente e toda a Igreja tem em Maria um ícone de uma pessoa
obediente ao Pai, geradora de Cristo no mundo e repleta do Espírito.
Os exercícios de Piedade
Devendo
estar em profunda consonância com a liturgia, os exercícios de piedade, que
foram sendo cunhados ao longo dos séculos e que chegaram até nós são uma demonstração
da piedade mariana. Os dois exercícios mais comuns são a oração do ângelus e o
rosário. A oração do ângelus tem como motivação contemplar o mistério da
encarnação, no qual Maria teve participação pelo seu “sim”. Muitos guardam o
costume de rezá-lo pela manhã, ao meio dia e às 18h. O rosário, nascido dentro
das experiências da Ordem dos Pregadores, procura contemplar os mistérios da
encarnação (gozosos), do ministério público (luminosos); da paixão e morte
(dolorosos) e da ressurreição e glorificação (gloriosos) de Cristo e a
participação de Maria Santíssima neles. Estas duas orações podem se beneficiar
bastante de sua base bíblica e, também, encaminhar os fiéis para a celebração
da liturgia.
Que tipo de culto é este dado a Maria?
O
próprio compêndio do Catecismo nos responde de forma sucinta e completa: “é um
culto singular, mas difere essencialmente do culto de adoração prestado somente
a Santíssima Trindade. Esse culto de especial veneração encontra particular
expressão nas festas litúrgicas dedicadas a Mãe de Deus e na oração mariana,
como o Santo Rosário, resumo de todo o Evangelho”.
Para aprofundar
Para
saber mais sobre o assunto, conferir o parágrafo 971 do Catecismo da Igreja Ctólica;
o Compêndio do Catecismo, pergunta 198; o Youcat, pergunta 149; e, a “Lúmen Gentium”,
números 66 e 67.
Pe. Vitor Gino Finelon
Professor das Escolas
de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida