Por D. Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo do Rio de Janeiro
Na
liturgia deste 11º domingo do Tempo Comum, a Mãe Igreja nos apresenta a
importância do arrependimento e a experiência da misericórdia de Deus! O Papa
Francisco tem insistido sobre o assunto, recordando que Deus nunca se cansa de
perdoar.
Neste
domingo, após ouvirmos o arrependimento de Davi, que cai em si diante do
profeta Natã, e sobre a justificação pela fé em Cristo, o Evangelho nos
introduz no contexto de alguém que se julga justo e da mulher notoriamente
conhecida como de má fama, que demonstra diante de todos, aos pés de Jesus, seu
arrependimento.
São
visíveis os sinais de arrependimento e contrição: levou um vaso de alabastro de
perfume, pôs-se atrás de Jesus, junto aos seus pés, chorando, e começou a
banhá-los com lágrimas, e enxugava-os com os cabelos da sua cabeça, e os
beijava e os ungia com o perfume. Sabemos o que se passava no seu íntimo pelas
palavras que o Senhor disse: Amou muito! Mostrou que professava por Jesus uma
veneração sem limites. Esqueceu-se dos outros e de si mesma; só Cristo é que
lhe importava.
O
Evangelho fala de quatro ações feitas pela mulher pecadora: banhar os pés
com as lágrimas; enxugar com os cabelos; beijar continuamente os pés
de Jesus e ungir com perfume.
Segundo a
tradição da época, era costume lavar com água morna os pés das visitas, após
estas ficarem descalças, como vemos na ação de Jesus na última ceia (Jo
13, 3), a exemplo de Abraão (Gn 18, 4), ação que terminava com enxugá-los com
uma toalha (Jo 12.3). Também os hóspedes lavavam suas mãos, como rito de
purificação antes da comida (Mt 15, 2). A unção com perfumes era feita na
cabeça do comensal.
Os pés
foram ungidos. Ungir os pés era uma preparação medicamentosa de uso externo,
feita à base de ceras e resinas.
Ao entrar
no jantar, a mulher causa um grande mal-estar entre todos, principalmente ao
dono da casa que se frustra com Jesus, pois o fariseu acreditava que um profeta
deveria conhecer a conduta de cada pessoa para evitar o contato com os impuros.
Jesus percebe o que Simão pensa e propõe uma parábola (Lc 7,40-41). Diz Jesus
que os dois devedores foram perdoados de suas dívidas na totalidade. Um devia
500 moedas e outro dez vezes menos. Jesus pergunta a Simão: qual dos dois
estará mais agradecido? Sabemos qual foi a óbvia resposta.
Poderíamos
refletir com Jesus: “Tu devias ter me lavado os pés (Gn 18, 4), dado o beijo de
reconhecimento como profeta que pensavas que eu era (Ex 4, 27): como hóspede,
nem me ungiste a cabeça com óleo, como é costume (Sl 23, 5), e nada disto
fizeste. Ela, pelo contrário, fez tudo de forma excelente. Por isso, podemos
deduzir que foi ela a quem muito se perdoou pois muito agradeceu”. E Jesus
conclui: os muitos pecados que ela cometeu estão perdoados, por que ela mostrou
muito amor.
Jesus
mostra o contraste entre o fariseu e a pecadora. O fariseu se julga justo e
arrogante a ponto de infligir as regras de boa educação. Ela, porém,
transbordou em sinais de gratidão, provando que seus pecados haviam sidos
perdoados. O grande ensinamento de Jesus, segundo Lucas, é que o fariseu não
entendeu o que é a justiça de Deus. Não é uma conquista dos homens, mas dom
gratuito de um Pai misericordioso que ama seus filhos. E, nesse aspecto, a
segunda leitura deste domingo assim nos ilumina.
Portanto,
a grande lição deste domingo, que a Igreja propõe para cada um de nós, é o
arrependimento de nossos pecados. Nesses últimos meses tenho insistido muito
para que em nossas comunidades seja favorecido o atendimento das confissões.
Que os
sacerdotes possam ser propícios também na direção espiritual de nossos fiéis.
Que a confissão seja este momento bonito, como o encontro da pecadora que ungiu
com perfume os pés do Senhor. Que o Sacramento da Penitência nos conduza a uma
nova vida.
Quando
nossos pecados são perdoados é oferecido ao penitente arrependido um novo
caminho, digno de ir ao encontro do Ressuscitado. São Lucas, por causa da
atitude daquela mulher, a coloca como exemplo para todos nós.
Isso pode
soar-nos estranho, se estivermos ainda acostumados a pensar com a mente dos
fariseus. Não compreendemos a profundidade do ensinamento de Lucas, que
denomina aquela mulher apenas como pecadora, a mesma condição de cada um de
nós.
Esta
mulher é colocada como exemplo de conversão para todos os cristãos. A proposta
do Reino de Deus, para Lucas, passa pela conversão. Os pecados da mulher foram
perdoados e justificados por que ela demonstrou muito amor. A verdadeira
conversão é manifestada pelo amor que se traduz pelas obras.