segunda-feira, 17 de junho de 2013

Teus pecados estão perdoados!

Por D. Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo do Rio de Janeiro

Na liturgia deste 11º domingo do Tempo Comum, a Mãe Igreja nos apresenta a importância do arrependimento e a experiência da misericórdia de Deus! O Papa Francisco tem insistido sobre o assunto, recordando que Deus nunca se cansa de perdoar.
Neste domingo, após ouvirmos o arrependimento de Davi, que cai em si diante do profeta Natã, e sobre a justificação pela fé em Cristo, o Evangelho nos introduz no contexto de alguém que se julga justo e da mulher notoriamente conhecida como de má fama, que demonstra diante de todos, aos pés de Jesus, seu arrependimento.
São visíveis os sinais de arrependimento e contrição: levou um vaso de alabastro de perfume, pôs-se atrás de Jesus, junto aos seus pés, chorando, e começou a banhá-los com lágrimas, e enxugava-os com os cabelos da sua cabeça, e os beijava e os ungia com o perfume. Sabemos o que se passava no seu íntimo pelas palavras que o Senhor disse: Amou muito! Mostrou que professava por Jesus uma veneração sem limites. Esqueceu-se dos outros e de si mesma; só Cristo é que lhe importava.
O Evangelho fala de quatro ações feitas pela mulher pecadora: banhar os pés com as lágrimas; enxugar com os cabelos; beijar continuamente os pés de Jesus e ungir com perfume.
Segundo a tradição da época, era costume lavar com água morna os pés das visitas, após estas ficarem descalças, como vemos na ação de  Jesus na última ceia (Jo 13, 3), a exemplo de Abraão (Gn 18, 4), ação que terminava com enxugá-los com uma toalha (Jo 12.3). Também os hóspedes lavavam suas mãos, como rito de purificação antes da comida (Mt 15, 2). A unção com perfumes era feita na cabeça do comensal.

Os pés foram ungidos. Ungir os pés era uma preparação medicamentosa de uso externo, feita à base de ceras e resinas.
Ao entrar no jantar, a mulher causa um grande mal-estar entre todos, principalmente ao dono da casa que se frustra com Jesus, pois o fariseu acreditava que um profeta deveria conhecer a conduta de cada pessoa para evitar o contato com os impuros. Jesus percebe o que Simão pensa e propõe uma parábola (Lc 7,40-41). Diz Jesus que os dois devedores foram perdoados de suas dívidas na totalidade. Um devia 500 moedas e outro dez vezes menos. Jesus pergunta a Simão: qual dos dois estará mais agradecido? Sabemos qual foi a óbvia resposta.
Poderíamos refletir com Jesus: “Tu devias ter me lavado os pés (Gn 18, 4), dado o beijo de reconhecimento como profeta que pensavas que eu era (Ex 4, 27): como hóspede, nem me ungiste a cabeça com óleo, como é costume (Sl 23, 5), e nada disto fizeste. Ela, pelo contrário, fez tudo de forma excelente. Por isso, podemos deduzir que foi ela a quem muito se perdoou pois muito agradeceu”. E Jesus conclui: os muitos pecados que ela cometeu estão perdoados, por que ela mostrou muito amor.
Jesus mostra o contraste entre o fariseu e a pecadora. O fariseu se julga justo e arrogante a ponto de infligir as regras de boa educação. Ela, porém, transbordou em sinais de gratidão, provando que seus pecados haviam sidos perdoados. O grande ensinamento de Jesus, segundo Lucas, é que o fariseu não entendeu o que é a justiça de Deus. Não é uma conquista dos homens, mas dom gratuito de um Pai misericordioso que ama seus filhos. E, nesse aspecto, a segunda leitura deste domingo assim nos ilumina.
Portanto, a grande lição deste domingo, que a Igreja propõe para cada um de nós, é o arrependimento de nossos pecados. Nesses últimos meses tenho insistido muito para que em nossas comunidades seja favorecido o atendimento das confissões.
Que os sacerdotes possam ser propícios também na direção espiritual de nossos fiéis. Que a confissão seja este momento bonito, como o encontro da pecadora que ungiu com perfume os pés do Senhor. Que o Sacramento da Penitência nos conduza a uma nova vida.
Quando nossos pecados são perdoados é oferecido ao penitente arrependido um novo caminho, digno de ir ao encontro do Ressuscitado. São Lucas, por causa da atitude daquela mulher, a coloca como exemplo para todos nós.
Isso pode soar-nos estranho, se estivermos ainda acostumados a pensar com a mente dos fariseus. Não compreendemos a profundidade do ensinamento de Lucas, que denomina aquela mulher apenas como pecadora, a mesma condição de cada um de nós.
Esta mulher é colocada como exemplo de conversão para todos os cristãos. A proposta do Reino de Deus, para Lucas, passa pela conversão. Os pecados da mulher foram perdoados e justificados por que ela demonstrou muito amor. A verdadeira conversão é manifestada pelo amor que se traduz pelas obras.