Por D. Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo do Rio de Janeiro
Estamos
exatamente a um mês do início da JMJ aqui no Rio de Janeiro. O nosso país vê a
juventude tomar as ruas e procurar ser protagonistas de um mundo novo, como
rezamos na Oração Oficial da JMJ. É um momento histórico, em que somos chamados
a participar com nossa vida e nossas convicções para que a construção de uma
nova sociedade conte com a participação de todos.
Neste décimo segundo domingo do
Tempo Comum, o Evangelho nos mostra as razões que alimentam nossa vida e nossa
esperança, e nos dão conteúdo para nossa missão e serviço.
Jesus perguntou: “E vós, quem dizeis
que eu sou?” Pedro respondeu: “O Cristo de Deus!” O Evangelho nos apresenta um
momento significativo do caminho de Jesus, em que ele pergunta aos discípulos o
que as pessoas pensam dele e como eles mesmos o julgam. O apóstolo Pedro
responde em nome dos 12, com uma profissão de fé que se diferencia de modo
substancial da opinião que as pessoas têm sobre Jesus; com efeito, ele afirma: “Tu
és o Messias de Deus”! (cf. Lc 9, 20).
Muitos de
nós, neste mundo secularizado em que vivemos, poderia perguntar: “De onde nasce
este ato de fé?” Se formos ao início deste trecho evangélico, constataremos que
a confissão de Pedro está ligada a um momento de oração: "Jesus
rezava num lugar afastado. Os discípulos encontravam-se com Ele", diz São
Lucas (cf. 9, 18). Ou seja, os discípulos são envolvidos no ser e no falar
absolutamente únicos de Jesus com o Pai. E, deste modo, eles são convidados a
ver o Mestre no íntimo da sua condição de Filho. É-lhes concedido ver aquilo
que os outros não conseguem ver. Mas sabemos também que é ação do Espírito
Santo na vida de Pedro que o faz professar que Cristo é o Salvador do mundo.
Os
discípulos, de fato, "estão com Ele". "Permanecer com
Ele" em oração deriva em um conhecimento que vai além das opiniões das
pessoas para chegar à profunda identidade de Jesus, à verdade. A primeira
pergunta denota as diversas interpretações de ontem e de hoje sobre Jesus. Que diz
o povo que eu sou?
A
liturgia desta semana nos oferece uma indicação bem específica para a vida e a
missão de todo fiel batizado. Na oração, ele é chamado a redescobrir o rosto
sempre novo do seu Senhor e o conteúdo mais autêntico da sua missão. Só quem
mantém uma relação íntima com o Senhor é conquistado por Ele. Só quem se deixa
conduzir pelo Espírito Santo, pode levá-Lo aos outros, pode ser enviado.
Trata-se de um "permanecer com Ele", que deve acompanhar sempre o
nosso itinerário de fé.
Depois da
confissão de Pedro, Jesus anuncia a sua paixão e ressurreição, fazendo
seguir-se a esse anúncio um ensinamento relativo ao caminho dos discípulos, que
consiste em segui-Lo, em seguir o Crucificado, em segui-Lo ao longo do caminho
da Cruz. E depois acrescenta, com uma expressão paradoxal, que o ser discípulos
significa "perder-se a si mesmo", mas para voltar a encontrar-se “plenamente
a si mesmo" (cf. Lc 9, 22-24).
O que
significa para o cristão perder-se a si mesmo? O sinal distintivo do poder de
nosso Senhor Jesus Cristo é a Cruz, que Ele carregou nas costas. Com efeito, a
todos Jesus dizia: "Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo,
tome a sua cruz, dia após dia, e siga-me" (Lc 9, 23). Tomar a cruz
significa comprometer-se para derrotar o pecado que impede o caminho rumo a
Deus, aceitar diariamente a vontade do Senhor, aumentar a fé, sobretudo, diante
dos problemas, das dificuldades e dos sofrimentos.
Na época
hodierna, muitos são os cristãos no mundo que, animados pelo amor a Deus, tomam
todos os dias a cruz, tanto a das provações cotidianas como a provocada pela
barbárie humana, que às vezes exige a coragem do sacrifício extremo. No kit da
JMJ, os jovens terão uma cruz para que coloquem em seu peito. Nestes dias, um
dos símbolos da JMJ, a Cruz, percorre o nosso Estado e, no início do próximo
mês, estará aqui na capital. O Senhor conceda que cada um de nós deposite
sempre a nossa esperança sólida em Cristo, persuadidos de que, seguindo-O e
carregando a nossa Cruz, chegaremos juntamente com Ele, à luz da Ressurreição.
A cruz e
a morte estão intimamente ligadas ao messianismo de Jesus. A concepção
triunfalista cai por terra. O cristão deve saber que o seguimento de Jesus
sempre terá cruzes, porém, Cruz gloriosa, pois nela Cristo venceu a morte. A
escolha de Jesus é o caminho do “servo sofredor”, inspirado no “Segundo Isaías”
(Is 40-55). Decorre daí que o seguimento de Jesus se concretiza por meio de
rupturas e opções. Rupturas com toda forma de egoísmo e poder; com toda
preocupação de buscar o brilho próprio dos que dominam, dos que são obcecados
em pregar a si mesmo e não a Cristo, daqueles que fazem de tudo para destruir o
outro e não entendem que Deus acolhe os mais humildes e os sofredores. Opções
pelo serviço humilde e abnegado em vista de uma sociedade de amor, de justiça e
de paz. De fato, Jesus não anuncia a sua morte como fato definitivo. A
ressurreição é o destino dos que dão a vida pelo Reino. O êxodo pelo qual Jesus
tem de passar, incluindo a própria morte, vai possibilitar a entrada na terra
da liberdade e da vida plena, onde já não haverá egoísmo nem dominação de
nenhuma espécie.
Pela
adesão em Jesus Cristo nos tornamos semelhantes a Ele. Pelo batismo nos
revestimos de Jesus, mergulhamos na sua própria vida. Agora nos tornamos uma
unidade na diversidade. Portanto, “não há mais diferença entre judeu e grego,
entre escravo e livre, entre homem e mulher”. Ficam assim eliminadas as
barreiras que nos separavam, sejam de raça, de gênero ou de classe social.
Somos chamados a construir uma civilização nova, do amor, em que Justiça e Paz
se abraçarão!