quinta-feira, 27 de junho de 2013

Tu és o Cristo!

Por D. Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo do Rio de Janeiro

Estamos exatamente a um mês do início da JMJ aqui no Rio de Janeiro. O nosso país vê a juventude tomar as ruas e procurar ser protagonistas de um mundo novo, como rezamos na Oração Oficial da JMJ. É um momento histórico, em que somos chamados a participar com nossa vida e nossas convicções para que a construção de uma nova sociedade conte com a participação de todos.
            Neste décimo segundo domingo do Tempo Comum, o Evangelho nos mostra as razões que alimentam nossa vida e nossa esperança, e nos dão conteúdo para nossa missão e serviço. 
            Jesus perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Pedro respondeu: “O Cristo de Deus!” O Evangelho nos apresenta um momento significativo do caminho de Jesus, em que ele pergunta aos discípulos o que as pessoas pensam dele e como eles mesmos o julgam. O apóstolo Pedro responde em nome dos 12, com uma profissão de fé que se diferencia de modo substancial da opinião que as pessoas têm sobre Jesus; com efeito, ele afirma: “Tu és o Messias de Deus”! (cf. Lc 9, 20).
Muitos de nós, neste mundo secularizado em que vivemos, poderia perguntar: “De onde nasce este ato de fé?” Se formos ao início deste trecho evangélico, constataremos que a confissão de Pedro está ligada a um momento de oração:  "Jesus rezava num lugar afastado. Os discípulos encontravam-se com Ele", diz São Lucas (cf. 9, 18). Ou seja, os discípulos são envolvidos no ser e no falar absolutamente únicos de Jesus com o Pai. E, deste modo, eles são convidados a ver o Mestre no íntimo da sua condição de Filho. É-lhes concedido ver aquilo que os outros não conseguem ver. Mas sabemos também que é ação do Espírito Santo na vida de Pedro que o faz professar que Cristo é o Salvador do mundo.
Os discípulos, de fato, "estão com Ele".  "Permanecer com Ele" em oração deriva em um conhecimento que vai além das opiniões das pessoas para chegar à profunda identidade de Jesus, à verdade. A primeira pergunta denota as diversas interpretações de ontem e de hoje sobre Jesus. Que diz o povo que eu sou?

A liturgia desta semana nos oferece uma indicação bem específica para a vida e a missão de todo fiel batizado. Na oração, ele é chamado a redescobrir o rosto sempre novo do seu Senhor e o conteúdo mais autêntico da sua missão. Só quem mantém uma relação íntima com o Senhor é conquistado por Ele. Só quem se deixa conduzir pelo Espírito Santo, pode levá-Lo aos outros, pode ser enviado. Trata-se de um "permanecer com Ele", que deve acompanhar sempre o nosso itinerário de fé.
Depois da confissão de Pedro, Jesus anuncia a sua paixão e ressurreição, fazendo seguir-se a esse anúncio um ensinamento relativo ao caminho dos discípulos, que consiste em segui-Lo, em seguir o Crucificado, em segui-Lo ao longo do caminho da Cruz. E depois acrescenta, com uma expressão paradoxal, que o ser discípulos significa "perder-se a si mesmo", mas para voltar a encontrar-se “plenamente a si mesmo" (cf. Lc 9, 22-24).
O que significa para o cristão perder-se a si mesmo? O sinal distintivo do poder de nosso Senhor Jesus Cristo é a Cruz, que Ele carregou nas costas. Com efeito, a todos Jesus dizia: "Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-me" (Lc 9, 23). Tomar a cruz significa comprometer-se para derrotar o pecado que impede o caminho rumo a Deus, aceitar diariamente a vontade do Senhor, aumentar a fé, sobretudo, diante dos problemas, das dificuldades e dos sofrimentos.
Na época hodierna, muitos são os cristãos no mundo que, animados pelo amor a Deus, tomam todos os dias a cruz, tanto a das provações cotidianas como a provocada pela barbárie humana, que às vezes exige a coragem do sacrifício extremo. No kit da JMJ, os jovens terão uma cruz para que coloquem em seu peito. Nestes dias, um dos símbolos da JMJ, a Cruz, percorre o nosso Estado e, no início do próximo mês, estará aqui na capital. O Senhor conceda que cada um de nós deposite sempre a nossa esperança sólida em Cristo, persuadidos de que, seguindo-O e carregando a nossa Cruz, chegaremos juntamente com Ele, à luz da Ressurreição.
A cruz e a morte estão intimamente ligadas ao messianismo de Jesus. A concepção triunfalista cai por terra. O cristão deve saber que o seguimento de Jesus sempre terá cruzes, porém, Cruz gloriosa, pois nela Cristo venceu a morte. A escolha de Jesus é o caminho do “servo sofredor”, inspirado no “Segundo Isaías” (Is 40-55). Decorre daí que o seguimento de Jesus se concretiza por meio de rupturas e opções. Rupturas com toda forma de egoísmo e poder; com toda preocupação de buscar o brilho próprio dos que dominam, dos que são obcecados em pregar a si mesmo e não a Cristo, daqueles que fazem de tudo para destruir o outro e não entendem que Deus acolhe os mais humildes e os sofredores. Opções pelo serviço humilde e abnegado em vista de uma sociedade de amor, de justiça e de paz. De fato, Jesus não anuncia a sua morte como fato definitivo. A ressurreição é o destino dos que dão a vida pelo Reino. O êxodo pelo qual Jesus tem de passar, incluindo a própria morte, vai possibilitar a entrada na terra da liberdade e da vida plena, onde já não haverá egoísmo nem dominação de nenhuma espécie.
Pela adesão em Jesus Cristo nos tornamos semelhantes a Ele. Pelo batismo nos revestimos de Jesus, mergulhamos na sua própria vida. Agora nos tornamos uma unidade na diversidade. Portanto, “não há mais diferença entre judeu e grego, entre escravo e livre, entre homem e mulher”. Ficam assim eliminadas as barreiras que nos separavam, sejam de raça, de gênero ou de classe social. Somos chamados a construir uma civilização nova, do amor, em que Justiça e Paz se abraçarão!