O Concílio Vaticano II, na Constituição Dogmática “Sacrosanctum
Concilium”, nº 106, afirma que “o domingo é o fundamento e o centro de todo o
ano litúrgico”. A Igreja confere toda esta importância a este dia, porque é
nele que se celebra o mistério pascal de Cristo. Vejamos abaixo qual é o
significado do Dia do Senhor.
Dia do Senhor – Dies Domini
No
primeiro século, era concebido pelos judeus como o primeiro dia da semana (Yom
Rishom) e pelos gregos e romanos como o dia do sol (dies solis). O nome “domingo”
vem da expressão latina Dies Domini (Dia do Senhor). De fato, é a comunidade
cristã que vai compreender o primeiro dia ou o dia do sol como o dia de fazer
memória da ressurreição de Jesus. As sagradas escrituras apontam isto quando
nos relatam os fatos da vida do Senhor ocorridos neste dia (a ressurreição – Mc
16,2.9; Lc 24,1; Jo 20,1; a manifestação aos discípulos de Emaús – Lc 24,13-35;
a aparição aos 11 apóstolos temerosos no cenáculo – Lc 24,36; Jo 20,19; a outra
aparição na presença de Tomé – Jo 20,26; o Dia de Pentecostes, no qual se
manifestou a Igreja com a primeira pregação apostólica e os primeiros batismos
– At 2,1.14.41). Além disto, ainda aparecem os primeiros testemunhos da
celebração deste dia: At 20,7; I Cor 16,2; Ap 1,10.
Dia do Cristo – Dies Christi
O
domingo foi se tornando, então, desde as primeiras comunidades, o dia da
celebração do mistério pascal. No fim do primeiro século, a Didaqué prescreve
aos cristãos: “Reuni-vos no Dia do Senhor para a fração do pão, e celebrai a
Eucaristia após haver confessado os vossos pecados”. Ao longo do tempo, ele foi
sendo entendido de duas maneiras: o dia da nova criação e o oitavo dia. Assim
como, no primeiro dia da antiga criação, Deus fez a luz (Gn 1,3-5); agora, na
nova criação, Cristo ressuscitado se tornou a luz para os homens (Jo 1,9;
8,12). A primeira luz era a imagem da luz definitiva: o Senhor. Assim, o
domingo é o dia da nova criação realizada por Deus na ressurreição de Cristo. Ademais,
o domingo é o oitavo dia, pois Cristo repousa no sétimo com sua morte e
ressuscita num dia novo, dia de plenitude no qual o pecado e a morte não têm
mais poder sobre o homem. Desta forma, o Dia do Senhor é, ao mesmo tempo, o
primeiro (onde tudo foi recriado na luz de Cristo) e o oitavo dia (o dia sem
ocaso e eterno). A vida do cristão é um grande domingo, pois foi recriado pelo
Batismo na luz do Ressuscitado para entrar na comunhão eterna com Ele no fim
dos tempos.
Dia da Igreja – Dies Ecclesiae
A
Igreja santifica este dia celebrando nele a Eucaristia – memorial da Páscoa de
Jesus. Com esta celebração, os cristãos entram em contato com a Palavra de
Deus, participam do banquete eucarístico e são enviados em missão. O Catecismo
da Igreja Católica (CIC) coloca no nº 1.166 que “A Ceia do Senhor é o centro do
domingo, pois é aqui que toda a comunidade dos fiéis se encontra com o Senhor
Ressuscitado que os convida ao seu banquete”. O domingo se torna o dia da
comunhão com o Corpo Eucarístico de Jesus, que edifica a Igreja, seu corpo místico.
Por isso, a celebração do sacramento é marcada por uma índole comunitária,
dando à paróquia uma identidade eucarística.
Preceito Dominical
Nas
primeiras comunidades não se tinha a preocupação de legislar sobre o imperativo
de celebrar o Dia do Senhor. É extenso os testemunhos dos mártires sobre a
importância da santificação deste dia. Todavia, mais tarde, por conta da
tibieza e da negligência, a Igreja confirmou a necessidade da santificação
dominical. Esta confirmação se baseava na razão óbvia do cristão celebrar os
mistérios da salvação. Assim, permaneceu o costume de guardar o domingo com a celebração
da ceia eucarística. O Código de Direito Canônico, de 1917, copila e transforma em lei universal tal costume. No
Código atual, de 1983, preceitua, no cânon 1246, assim: “O domingo, dia em que
por tradição apostólica se celebra o mistério pascal, deve ser guardado em toda
a Igreja como o dia de festa por excelência”. No cânon 1247, afirma: “os fiéis
têm obrigação de participar da missa, além disto, devem abster-se das
atividades e negócios que impeçam o culto a ser prestado a Deus, a alegria própria
do Dia do Senhor e o devido descanso da mente e do corpo”.
Dia do Homem – Dies Homini
O
domingo não pode ser reduzido apenas ao período da celebração eucarística. Todo
o dia deve ser vivido dentro de um contexto de lembrança, de reconhecimento e
de admiração pelas maravilhas do Senhor. Dessa forma, os momentos vividos com a
família, na relação com as pessoas e no lazer, devem refletir a paz e a alegria
da ressurreição de Cristo. O dia da memória da ressurreição deve ser
compreendido como um dom dado aos homens para que eles possam se alegrar,
descansar e se dedicar à solidariedade nos serviços da misericórdia, da
caridade e da evangelização.
Para aprofundar
Para
saber mais sobre o assunto, indicando o CIC, do número 1.166 até 1.167; o Compêndio
do Catecismo, pergunta 241; o Youcat, pergunta 187; e a Constituição Dogmática “Sacrosanctum
Concilium”, parágrafo 106.
Pe. Vitor Gino Finelon
Professor das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e
Luz e Vida