segunda-feira, 1 de julho de 2013

O Dia do Senhor

O Concílio Vaticano II, na Constituição Dogmática “Sacrosanctum Concilium”, nº 106, afirma que “o domingo é o fundamento e o centro de todo o ano litúrgico”. A Igreja confere toda esta importância a este dia, porque é nele que se celebra o mistério pascal de Cristo. Vejamos abaixo qual é o significado do Dia do Senhor.

Dia do Senhor – Dies Domini
            No primeiro século, era concebido pelos judeus como o primeiro dia da semana (Yom Rishom) e pelos gregos e romanos como o dia do sol (dies solis). O nome “domingo” vem da expressão latina Dies Domini (Dia do Senhor). De fato, é a comunidade cristã que vai compreender o primeiro dia ou o dia do sol como o dia de fazer memória da ressurreição de Jesus. As sagradas escrituras apontam isto quando nos relatam os fatos da vida do Senhor ocorridos neste dia (a ressurreição – Mc 16,2.9; Lc 24,1; Jo 20,1; a manifestação aos discípulos de Emaús – Lc 24,13-35; a aparição aos 11 apóstolos temerosos no cenáculo – Lc 24,36; Jo 20,19; a outra aparição na presença de Tomé – Jo 20,26; o Dia de Pentecostes, no qual se manifestou a Igreja com a primeira pregação apostólica e os primeiros batismos – At 2,1.14.41). Além disto, ainda aparecem os primeiros testemunhos da celebração deste dia: At 20,7; I Cor 16,2; Ap 1,10.

Dia do Cristo – Dies Christi
            O domingo foi se tornando, então, desde as primeiras comunidades, o dia da celebração do mistério pascal. No fim do primeiro século, a Didaqué prescreve aos cristãos: “Reuni-vos no Dia do Senhor para a fração do pão, e celebrai a Eucaristia após haver confessado os vossos pecados”. Ao longo do tempo, ele foi sendo entendido de duas maneiras: o dia da nova criação e o oitavo dia. Assim como, no primeiro dia da antiga criação, Deus fez a luz (Gn 1,3-5); agora, na nova criação, Cristo ressuscitado se tornou a luz para os homens (Jo 1,9; 8,12). A primeira luz era a imagem da luz definitiva: o Senhor. Assim, o domingo é o dia da nova criação realizada por Deus na ressurreição de Cristo. Ademais, o domingo é o oitavo dia, pois Cristo repousa no sétimo com sua morte e ressuscita num dia novo, dia de plenitude no qual o pecado e a morte não têm mais poder sobre o homem. Desta forma, o Dia do Senhor é, ao mesmo tempo, o primeiro (onde tudo foi recriado na luz de Cristo) e o oitavo dia (o dia sem ocaso e eterno). A vida do cristão é um grande domingo, pois foi recriado pelo Batismo na luz do Ressuscitado para entrar na comunhão eterna com Ele no fim dos tempos.

Dia da Igreja – Dies Ecclesiae
            A Igreja santifica este dia celebrando nele a Eucaristia – memorial da Páscoa de Jesus. Com esta celebração, os cristãos entram em contato com a Palavra de Deus, participam do banquete eucarístico e são enviados em missão. O Catecismo da Igreja Católica (CIC) coloca no nº 1.166 que “A Ceia do Senhor é o centro do domingo, pois é aqui que toda a comunidade dos fiéis se encontra com o Senhor Ressuscitado que os convida ao seu banquete”. O domingo se torna o dia da comunhão com o Corpo Eucarístico de Jesus, que edifica a Igreja, seu corpo místico. Por isso, a celebração do sacramento é marcada por uma índole comunitária, dando à paróquia uma identidade eucarística.

Preceito Dominical
            Nas primeiras comunidades não se tinha a preocupação de legislar sobre o imperativo de celebrar o Dia do Senhor. É extenso os testemunhos dos mártires sobre a importância da santificação deste dia. Todavia, mais tarde, por conta da tibieza e da negligência, a Igreja confirmou a necessidade da santificação dominical. Esta confirmação se baseava na razão óbvia do cristão celebrar os mistérios da salvação. Assim, permaneceu o costume de guardar o domingo com a celebração da ceia eucarística. O Código de Direito Canônico, de 1917, copila  e transforma em lei universal tal costume. No Código atual, de 1983, preceitua, no cânon 1246, assim: “O domingo, dia em que por tradição apostólica se celebra o mistério pascal, deve ser guardado em toda a Igreja como o dia de festa por excelência”. No cânon 1247, afirma: “os fiéis têm obrigação de participar da missa, além disto, devem abster-se das atividades e negócios que impeçam o culto a ser prestado a Deus, a alegria própria do Dia do Senhor e o devido descanso da mente e do corpo”.

Dia do Homem – Dies Homini
            O domingo não pode ser reduzido apenas ao período da celebração eucarística. Todo o dia deve ser vivido dentro de um contexto de lembrança, de reconhecimento e de admiração pelas maravilhas do Senhor. Dessa forma, os momentos vividos com a família, na relação com as pessoas e no lazer, devem refletir a paz e a alegria da ressurreição de Cristo. O dia da memória da ressurreição deve ser compreendido como um dom dado aos homens para que eles possam se alegrar, descansar e se dedicar à solidariedade nos serviços da misericórdia, da caridade e da evangelização.

Para aprofundar
            Para saber mais sobre o assunto, indicando o CIC, do número 1.166 até 1.167; o Compêndio do Catecismo, pergunta 241; o Youcat, pergunta 187; e a Constituição Dogmática “Sacrosanctum Concilium”, parágrafo 106.

Pe. Vitor Gino Finelon
Professor das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida