Por D. Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro
No dia 23
de novembro, sábado, com a Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo,
fechando com alegria o ano litúrgico, iremos celebrar a Primeira Festa da
Unidade Arquidiocesana do Rio de Janeiro. A partir das 13h30min, na Catedral
Metropolitana de São Sebastião, na Avenida Chile, no centro do Rio de Janeiro,
espero encontrar todas as forças vivas de nossa Arquidiocese: nosso reverendo
clero, representantes de todas as paróquias e capelas, os religiosos e as
religiosas, os consagrados, os seminaristas, os jovens, gloriosa esperança da
Igreja, as pastorais, serviços, irmandades e associações, enfim, todo o povo
santo de Deus para agradecermos as muitas graças que a Santíssima Trindade nos
concedeu nesse ano, particularmente pela JMJRio 2013, que tantos benefícios se
faz sentir na ação evangelizadora desta grande cidade.
Nosso
Senhor Jesus Cristo chama todos os seus discípulos à unidade. Unidos na
esteira dos mártires, os cristãos devem professar juntos a mesma verdade
sobre a Cruz. A Cruz! A corrente anticristã propõe dissipar o seu valor,
esvaziá-la do seu significado, negando que o homem possa encontrar nela as
raízes da sua nova vida e alegando que a Cruz não consegue nutrir perspectivas
nem esperanças: o homem — dizem — é um ser meramente terreno, que deve viver
como se Deus não existisse.
A Igreja,
como mãe e mestra, deve estar empenhada em libertar-se de todo o apoio
puramente humano, para viver profundamente a lei evangélica das
Bem-aventuranças. Isso é tão significativo que o próprio Papa Francisco fixou
as Bem-aventuranças como tema dos três próximos anos para as Jornadas da
Juventude, colocando em relevo a misericórdia, o perdão e a acolhida de todos
com a mesma caridade com que Cristo acolhe seus discípulos. Ciente de que a
verdade não se impõe senão pela sua própria força, que penetra nos espíritos de
modo ao mesmo tempo suave e forte, nada procura para si própria senão a
liberdade de anunciar o Evangelho. De fato, a autoridade da Igreja exerce-se no
serviço da verdade e da caridade.
O anúncio
messiânico – "completou-se o tempo e o Reino de Deus está perto" – e
o consequente apelo – "convertei-vos e crede no Evangelho" (Mc 1, 15)
–, com os quais Jesus inaugura a sua missão, indicam o elemento essencial que
deve caracterizar e ser o centro propulsor da nossa unidade arquidiocesana: a
exigência fundamental da evangelização em cada etapa do caminho salvífico da
Igreja. O Concílio Vaticano II apela tanto à conversão pessoal como à conversão
comunitária. O anseio de cada Comunidade cristã pela unidade cresce ao ritmo da
sua fidelidade ao Evangelho. Ao referir-se às pessoas que vivem a sua vocação
cristã, o Concílio fala de conversão interior, de renovação da mente e da ação
pastoral. Assim, cada um tem que se converter mais radicalmente ao Evangelho e,
sem nunca perder de vista o desígnio de Deus, deve retificar o seu olhar para
fazer a vontade Dele em renovado ardor missionário, levando a boa-nova de
Cristo nas redes de comunidade, indo ao encontro dos que estão afastados.
O Papa Francisco,
na sua Encíclica Lumen Fidei, no número 47, ensina que: "A unidade da
Igreja, no tempo e no espaço, está ligada com a unidade da fé: 'Há um só Corpo
e um só Espírito, (...) uma só fé' (Ef 4, 4-5). Hoje poderá parecer realizável
a união dos homens com base num compromisso comum, na amizade, na partilha da
mesma sorte com uma meta comum, mas sentimos muita dificuldade em conceber uma
unidade na mesma verdade. Parece-nos que uma união do gênero se oporia à
liberdade do pensamento e à autonomia do sujeito. Pelo contrário, a experiência
do amor diz-nos que é possível termos uma visão comum precisamente no amor:
neste, aprendemos a ver a realidade com os olhos do outro e isto, longe de nos
empobrecer, enriquece o nosso olhar. O amor verdadeiro, à medida do amor
divino, exige a verdade e, no olhar comum da verdade que é Jesus Cristo,
torna-se firme e profundo. Esta é também a alegria da fé: a unidade de visão
num só corpo e num só espírito. Neste sentido, São Leão Magno podia afirmar:
'Se a fé não é una, não é fé".
O Papa
pergunta qual é o segredo desta unidade? "A fé é una, em primeiro lugar,
pela unidade de Deus conhecido e confessado. Todos os artigos de fé se referem
a Ele, são caminhos para conhecer o seu ser e o seu agir; por isso, possuem uma
unidade superior a tudo quanto possamos construir com o nosso pensamento;
possuem a unidade que nos enriquece porque se comunica a nós e nos torna
um".
A imensa
promessa e as energias vibrantes de uma nova geração de católicos estão
esperando para ser aproveitadas para a renovação da vida da Igreja e do legado
da JMJ de fazer da nossa Arquidiocese uma Igreja unida, em permanente estado de
missão. Estejamos, particularmente, próximos dos homens e mulheres, dos jovens
e dos que estão na melhor idade, da infância e das crianças, e também dos que
estão empenhados em seguir Cristo sempre com maior perfeição na generosidade,
abraçando os conselhos evangélicos. Com o enfraquecimento progressivo dos
valores tradicionais cristãos e a ameaça de um período no qual nossa fidelidade
ao Evangelho pode nos custar muito caro, a verdade de Cristo não apenas precisa
ser compreendida, articulada e defendida, mas proposta com alegria e confiança,
como a chave para a realização humana autêntica e para o bem-estar da sociedade
como um todo, recordando que Cristo nos chama a viver a unidade que só Ele pode
nos dar. Nossa Igreja deve ser uma Igreja em permanente estado de missão.
Que a
unidade que esperamos seja perpassada pelo nosso compromisso pela fidelidade a
Cristo, ao seu Evangelho, em sintonia com a Santa Igreja, sendo santo na sua
vida cotidiana e eclesial. Viver a santidade não é um privilégio de poucos.
Pelo batismo todos nós recebemos a herança de nos tornarmos santos. Ser santo é
uma vocação para todos os fiéis, e é a vocação natural da própria Igreja
Particular do Rio de Janeiro. Todos nós somos chamados a percorrer o caminho da
santidade, e o caminho que leva à santidade e à unidade tem um nome e um rosto:
Jesus Cristo. No Evangelho, Ele nos mostra a estrada das Bem-Aventuranças.
Por isso,
no dia de nossa Unidade Arquidiocesana rezemos ao Cristo Redentor para que
possamos acolher e anunciar o Reino dos Céus. E isso somente será possível para
aqueles que não depositam sua confiança nas coisas humanas, no ajuntamento do
ser, do ter e do poder, mas no amor de Deus. Unidos em Cristo, buscando viver
com o testemunho dos Santos, sejamos encorajados a não ter medo de caminhar
contra a corrente ou ser mal-entendidos e ridicularizados quando falamos de
Cristo e do Evangelho, que evangelizamos para superar as diferenças, e, na
diversidade de carismas e como Igreja, possamos testemunhar Cristo "ut
omnes unum sint".