segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Eis que o Natal se aproxima

Por D. Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro

São muitos acontecimentos que marcam nossa caminhada eclesial nesta semana. O Papa ter sido escolhido como “personalidade do ano” pela revista “Time” foi um sinal interessante como a visão do mundo contemporâneo tem sede de sinais e de lideranças fortes que ajudem o mundo caminhar melhor. Tivemos as celebrações com várias pastorais, entre as quais com a histórica Pastoral do Menor, além das celebrações nos presídios e casas de recuperação. Vi também o empenho de vigários episcopais, párocos, leigos, grupos organizados da Igreja se empenharem com coragem no socorro das pessoas vítimas das chuvas dos últimos dias. Acolhimento, campanha de fundos, roupas e alimentos, presença próxima às pessoas. Tantas situações de calamidade, no entanto, a solidariedade fraterna demonstrou com clareza que em tudo podemos minimizar as dificuldades e sofrimentos. Creio que tudo isso nos ajuda muito mais ainda a ingressar, com a trezena de São Sebastião do próximo mês, no “ano da caridade social”, para melhor articularmos e nos organizarmos em tantos trabalhos que já ocorrem e que poderiam ainda ser melhores.
Vivendo neste final de semana a Campanha para a Evangelização com a sua coleta nacional e, ao mesmo tempo, o domingo “gaudete” do Advento, sem dúvida, isso é para que possamos ainda mais nos alegrar com os sinais de Deus na vida das pessoas e nos empenharmos ainda mais na evangelização.

Ao iniciarmos no próximo dia 17 a semana de preparação próxima para o Natal, eu recordo a importância da preparação católica desse evento cristão a todos os nossos queridos diocesanos. Além das confissões, celebrações especiais, temos a antiga tradição da Novena de Natal em família, neste ano com transmissão pela Rádio Catedral e pela WebTV Redentor.
A arquidiocese, em um esforço da Coordenação Arquidiocesana de Pastoral, publicou a Novena de Natal de 2013, com o tema “A Bondade de Deus veio Ficar entre nós!”(Tt 3,4), baseada, com a graça de Deus, na Palavra de Deus e nas comoventes e propiciadoras mensagens proferidas pelo Santo Padre, o Papa Francisco, em sua memorável viagem apostólica ao Rio de Janeiro por ocasião da JMJ Rio2013.
Durante os nove encontros em que somos convidados a nos reunir, nas casas, nos prédios, nos locais de trabalho, etc, usando sempre da criatividade para levarmos o Evangelho para as “periferias existenciais”, refletimos sobre três palavras importantes: Natal, Jesus Cristo e caridade.
Isto está em conformidade com o que vivenciaremos em 2014, ou seja, o Ano Arquidiocesano da Caridade, conforme o nosso Plano de Pastoral. O Papa Francisco, em sua visita na comunidade de Varginha, nos deu o autêntico significado do ano em que estaremos celebrando: “Não é a cultura do egoísmo, do individualismo, que frequentemente regula a nossa sociedade, aquela que constrói e conduz a um mundo do mais habitável. Não é ela! Mas sim a cultura da solidariedade. A cultura da solidariedade é ver no outro não um concorrente ou um número, mas um irmão. E todos nós somos irmãos!”. Na exortação apostólica “A alegria do Evangelho”, o Papa aprofundará ainda mais a questão missionária e a doutrina social da Igreja.
Os nove encontros que marcam a nossa caminhada novenária são pautados pelos seguintes temas cristológicos: como discípulos-missionários de Nosso Senhor Jesus Cristo, a mãe Igreja nos convoca a manifestar a bondade que Ele anunciou e transmitiu. Por isso o primeiro encontro é marcado por esta bondade como resposta aos anseios mais profundos do ser humano, que se irradia através de corações generosos, como o da Bem Aventurada Virgem Maria, conforme veremos no segundo encontro. A caridade cristã, que não deve ter limites, é uma força tão grande que não teme enfrentar e vencer as barreiras, conforme nos ensina o terceiro encontro; quando como batizados somos chamados a encarar, com coragem e destemor, a maldade que permeia o mundo, conforme veremos no quarto encontro. A família, célula fundamental da Igreja e da sociedade, é o lugar privilegiado de vivência do Natal e das práticas de caridade. Por isso é a principal preocupação da Igreja, que valoriza o casamento do homem com a mulher aberto à procriação e a vida, conforme o quinto encontro. As pessoas que vivem vítimas do mal deverão ser lembradas por nós no sexto encontro. No sétimo encontro refletimos na necessidade da partilha e da solidariedade de todos os dons que temos e que somos apenas administradores. A união de todos os fiéis batizados em torno da nossa fé comunitária é o tema do oitavo encontro, sendo que a novena será encerrada com a proclamação de que Jesus Cristo é o Caminho, a verdade e a vida.
Dessa forma, a arquidiocese, através da Novena de Natal, além de procurar semear com esses grupos novas comunidades, também prepara todo o povo para o ano que se aproxima, de acordo com o tema escolhido para nortear nossos trabalhos.
O Natal não é apenas uma data. O Natal não é pura e simplesmente uma lembrança. O Natal é um acontecimento, quando renovamos em nossas vidas a presença d’Aquele que nasceu para a nossa salvação: Jesus, o Cristo Senhor. Isso deve contagiar também as nossas famílias, nossos trabalhos, em nossa cidade que caminha para celebrar os seus 450 anos de fundação, sob a proteção de São Sebastião.
O Natal não pode ser reduzido às compras, às festas de confraternização. O Natal é tempo de abertura do nosso coração para Cristo, que por ternura e amor, veio fazer morada em nosso meio.
Por isso, a Novena de Natal deve ser vivida conforme o que nos pediu o Papa, no Ângelus de 26 de julho de 2013: “Sintamo-nos como uma única grande família e nos dirijamos a Maria para que guarde as nossas famílias, faça delas lares de fé e de amor, onde se sinta a presença do seu Filho Jesus”.
Preparar o Natal nos ensina a rezar. A Novena de Natal tem também este sentido educacional na fé: nos ensina a perceber que o coração repleto de Deus sempre estabelece relações profundas entre as pessoas, relações de partilha e de anúncio do Evangelho, irradiando a bondade, a caridade e a solidariedade.
Porque nos preparamos para o Natal? Para celebrar a presença de Cristo em nossas vidas e aprofundar essa proximidade, como o Papa Francisco nos testemunhou: “celebrar a pessoa de Jesus e refletir sobre as respostas que somente Ele sabe dar às suas questões de fé e de vida. Confiem em Cristo, ouçam-no, sigam os seus passos. Ele nunca nos abandona, mesmo nos momentos mais escuros da vida. Ele á nossa esperança”.
A maldade humana, que infelizmente impera em muitos ambientes, não pode vencer o bem. As dificuldades que encontramos em nossa caminhada não podem nos fazer desistir de praticar o bem, como nos ensinou o Papa Francisco: “Nunca desanimem, não percam a confiança, não deixem que se apague a esperança. A realidade pode mudar, o homem pode mudar. Procurem ser vocês os primeiros a praticar o bem, a não se acostumar com o mal, mas a vencê-lo como bem”.
A família, que reza unida a Novena de Natal, testemunha a caridade e a bondade. Não vamos desanimar com as dificuldades da vida familiar. Diante do presépio, que não deveria faltar em nossas casas, peçamos ao Menino Jesus que proteja as nossas famílias, as que são ameaçadas pela violência e pelas dificuldades cotidianas. Rezemos para que sejam curadas as mágoas e encerradas as desavenças. Rezemos para que aquelas famílias que ainda não receberam a bênção sacramental, a exemplo da Sagrada Família, sejam tocadas pelo caminho novo da bênção nupcial, procurando o padre de sua paróquia e regularizando a sua situação. Que nossas famílias aprendam a rezar. O primeiro a ser evangelizado é a própria família. Nela se aprende os rudimentos da nossa fé. E, evangelizada a família, somos como instituição sacramental enviados a evangelizar aqueles que ainda não conhecem a Cristo.
Por fim, a Novena de Natal deve ter o seu gesto concreto, a caridade que enviada para a Igreja se fará chegar aos mais necessitados. E nestes dias de calamidade em nossa cidade já começamos a partilhar o que temos para que o outro sinta também a nossa presença e proximidade.
Reunidos para celebrar o Natal, vamos modificar o nosso comportamento. Que seja dado um basta para a fome (iniciamos no último dia 10 a grande campanha contra a fome), para a amargura, para a guerra, para os desentendimentos, para as disputas de poder, para os males. Sejamos solidários! Vivamos a caridade fraterna! Perdoemos os irmãos! Vivamos a paz que brota do Emanuel, o Deus conosco!
Ao contemplar o presépio, biblicamente chamado de manjedoura, possamos viver o que este símbolo sacramental significa: a união. No presépio cada um oferece o que tem e o que é. Todos juntos acolhem e mostram o Salvador Jesus: esse é o significado deste tempo abençoado.
E, dentro das celebrações da novena, querido irmão e querida irmã, não se esqueça de procurar uma boa confissão, que nos ajuda, pelo perdão de nossos pecados, a ir ao encontro de Jesus. Por isso, desejo que a nossa Novena de Natal seja toda missionária, conforme a música que todos nós já guardamos em nosso coração: “Sou marcado desde sempre como sinal do Redentor, que sobre o monte, o Corcovado, abraça o mundo com Seu amor. Cristo nos convida: “Venham, meus amigos!”. Cristo nos envia: “Sejam missionários!”. E missionários é o fruto precioso da celebração da Novena de Natal! Eis que assim nos aproximamos do Natal!