Por D. Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro
São muitos
acontecimentos que marcam nossa caminhada eclesial nesta semana. O Papa ter
sido escolhido como “personalidade do ano” pela revista “Time” foi um sinal
interessante como a visão do mundo contemporâneo tem sede de sinais e de
lideranças fortes que ajudem o mundo caminhar melhor. Tivemos as celebrações
com várias pastorais, entre as quais com a histórica Pastoral do Menor, além
das celebrações nos presídios e casas de recuperação. Vi também o empenho de
vigários episcopais, párocos, leigos, grupos organizados da Igreja se
empenharem com coragem no socorro das pessoas vítimas das chuvas dos últimos
dias. Acolhimento, campanha de fundos, roupas e alimentos, presença próxima às
pessoas. Tantas situações de calamidade, no entanto, a solidariedade fraterna
demonstrou com clareza que em tudo podemos minimizar as dificuldades e
sofrimentos. Creio que tudo isso nos ajuda muito mais ainda a ingressar, com a
trezena de São Sebastião do próximo mês, no “ano da caridade social”, para
melhor articularmos e nos organizarmos em tantos trabalhos que já ocorrem e que
poderiam ainda ser melhores.
Vivendo
neste final de semana a Campanha para a Evangelização com a sua coleta nacional
e, ao mesmo tempo, o domingo “gaudete” do Advento, sem dúvida, isso é para que
possamos ainda mais nos alegrar com os sinais de Deus na vida das pessoas e nos
empenharmos ainda mais na evangelização.
Ao
iniciarmos no próximo dia 17 a
semana de preparação próxima para o Natal, eu recordo a importância da
preparação católica desse evento cristão a todos os nossos queridos diocesanos.
Além das confissões, celebrações especiais, temos a antiga tradição da Novena
de Natal em família, neste ano com transmissão pela Rádio Catedral e pela WebTV
Redentor.
A
arquidiocese, em um esforço da Coordenação Arquidiocesana de Pastoral, publicou
a Novena de Natal de 2013, com o tema “A Bondade de Deus veio Ficar entre
nós!”(Tt 3,4), baseada, com a graça de Deus, na Palavra de Deus e nas
comoventes e propiciadoras mensagens proferidas pelo Santo Padre, o Papa Francisco,
em sua memorável viagem apostólica ao Rio de Janeiro por ocasião da JMJ
Rio2013.
Durante os
nove encontros em que somos convidados a nos reunir, nas casas, nos prédios,
nos locais de trabalho, etc, usando sempre da criatividade para levarmos o Evangelho
para as “periferias existenciais”, refletimos sobre três palavras importantes:
Natal, Jesus Cristo e caridade.
Isto está
em conformidade com o que vivenciaremos em 2014, ou seja, o Ano Arquidiocesano
da Caridade, conforme o nosso Plano de Pastoral. O Papa Francisco, em sua
visita na comunidade de Varginha, nos deu o autêntico significado do ano em que
estaremos celebrando: “Não é a cultura do egoísmo, do individualismo, que
frequentemente regula a nossa sociedade, aquela que constrói e conduz a um mundo
do mais habitável. Não é ela! Mas sim a cultura da solidariedade. A cultura da
solidariedade é ver no outro não um concorrente ou um número, mas um irmão. E
todos nós somos irmãos!”. Na exortação apostólica “A alegria do Evangelho”, o
Papa aprofundará ainda mais a questão missionária e a doutrina social da
Igreja.
Os nove
encontros que marcam a nossa caminhada novenária são pautados pelos seguintes
temas cristológicos: como discípulos-missionários de Nosso Senhor Jesus Cristo,
a mãe Igreja nos convoca a manifestar a bondade que Ele anunciou e transmitiu.
Por isso o primeiro encontro é marcado por esta bondade como resposta aos
anseios mais profundos do ser humano, que se irradia através de corações
generosos, como o da Bem Aventurada Virgem Maria, conforme veremos no segundo
encontro. A caridade cristã, que não deve ter limites, é uma força tão grande
que não teme enfrentar e vencer as barreiras, conforme nos ensina o terceiro
encontro; quando como batizados somos chamados a encarar, com coragem e destemor,
a maldade que permeia o mundo, conforme veremos no quarto encontro. A família,
célula fundamental da Igreja e da sociedade, é o lugar privilegiado de vivência
do Natal e das práticas de caridade. Por isso é a principal preocupação da
Igreja, que valoriza o casamento do homem com a mulher aberto à procriação e a
vida, conforme o quinto encontro. As pessoas que vivem vítimas do mal deverão
ser lembradas por nós no sexto encontro. No sétimo encontro refletimos na
necessidade da partilha e da solidariedade de todos os dons que temos e que
somos apenas administradores. A união de todos os fiéis batizados em torno da
nossa fé comunitária é o tema do oitavo encontro, sendo que a novena será
encerrada com a proclamação de que Jesus Cristo é o Caminho, a verdade e a
vida.
Dessa
forma, a arquidiocese, através da Novena de Natal, além de procurar semear com
esses grupos novas comunidades, também prepara todo o povo para o ano que se
aproxima, de acordo com o tema escolhido para nortear nossos trabalhos.
O Natal
não é apenas uma data. O Natal não é pura e simplesmente uma lembrança. O Natal
é um acontecimento, quando renovamos em nossas vidas a presença d’Aquele que
nasceu para a nossa salvação: Jesus, o Cristo Senhor. Isso deve contagiar
também as nossas famílias, nossos trabalhos, em nossa cidade que caminha para
celebrar os seus 450 anos de fundação, sob a proteção de São Sebastião.
O Natal
não pode ser reduzido às compras, às festas de confraternização. O Natal é
tempo de abertura do nosso coração para Cristo, que por ternura e amor, veio
fazer morada em nosso meio.
Por isso,
a Novena de Natal deve ser vivida conforme o que nos pediu o Papa, no Ângelus
de 26 de julho de 2013: “Sintamo-nos como uma única grande família e nos
dirijamos a Maria para que guarde as nossas famílias, faça delas lares de fé e
de amor, onde se sinta a presença do seu Filho Jesus”.
Preparar o
Natal nos ensina a rezar. A Novena de Natal tem também este sentido educacional
na fé: nos ensina a perceber que o coração repleto de Deus sempre estabelece relações
profundas entre as pessoas, relações de partilha e de anúncio do Evangelho,
irradiando a bondade, a caridade e a solidariedade.
Porque nos
preparamos para o Natal? Para celebrar a presença de Cristo em nossas vidas e
aprofundar essa proximidade, como o Papa Francisco nos testemunhou: “celebrar a
pessoa de Jesus e refletir sobre as respostas que somente Ele sabe dar às suas
questões de fé e de vida. Confiem em Cristo, ouçam-no, sigam os seus passos.
Ele nunca nos abandona, mesmo nos momentos mais escuros da vida. Ele á nossa
esperança”.
A maldade
humana, que infelizmente impera em muitos ambientes, não pode vencer o bem. As
dificuldades que encontramos em nossa caminhada não podem nos fazer desistir de
praticar o bem, como nos ensinou o Papa Francisco: “Nunca desanimem, não percam
a confiança, não deixem que se apague a esperança. A realidade pode mudar, o
homem pode mudar. Procurem ser vocês os primeiros a praticar o bem, a não se
acostumar com o mal, mas a vencê-lo como bem”.
A família,
que reza unida a Novena de Natal, testemunha a caridade e a bondade. Não vamos
desanimar com as dificuldades da vida familiar. Diante do presépio, que não
deveria faltar em nossas casas, peçamos ao Menino Jesus que proteja as nossas
famílias, as que são ameaçadas pela violência e pelas dificuldades cotidianas.
Rezemos para que sejam curadas as mágoas e encerradas as desavenças. Rezemos
para que aquelas famílias que ainda não receberam a bênção sacramental, a
exemplo da Sagrada Família, sejam tocadas pelo caminho novo da bênção nupcial,
procurando o padre de sua paróquia e regularizando a sua situação. Que nossas
famílias aprendam a rezar. O primeiro a ser evangelizado é a própria família.
Nela se aprende os rudimentos da nossa fé. E, evangelizada a família, somos
como instituição sacramental enviados a evangelizar aqueles que ainda não
conhecem a Cristo.
Por fim, a
Novena de Natal deve ter o seu gesto concreto, a caridade que enviada para a
Igreja se fará chegar aos mais necessitados. E nestes dias de calamidade em
nossa cidade já começamos a partilhar o que temos para que o outro sinta também
a nossa presença e proximidade.
Reunidos
para celebrar o Natal, vamos modificar o nosso comportamento. Que seja dado um
basta para a fome (iniciamos no último dia 10 a grande campanha contra a fome), para a
amargura, para a guerra, para os desentendimentos, para as disputas de poder,
para os males. Sejamos solidários! Vivamos a caridade fraterna! Perdoemos os
irmãos! Vivamos a paz que brota do Emanuel, o Deus conosco!
Ao
contemplar o presépio, biblicamente chamado de manjedoura, possamos viver o que
este símbolo sacramental significa: a união. No presépio cada um oferece o que
tem e o que é. Todos juntos acolhem e mostram o Salvador Jesus: esse é o
significado deste tempo abençoado.
E, dentro
das celebrações da novena, querido irmão e querida irmã, não se esqueça de
procurar uma boa confissão, que nos ajuda, pelo perdão de nossos pecados, a ir
ao encontro de Jesus. Por isso, desejo que a nossa Novena de Natal seja toda missionária,
conforme a música que todos nós já guardamos em nosso coração: “Sou marcado
desde sempre como sinal do Redentor, que sobre o monte, o Corcovado, abraça o
mundo com Seu amor. Cristo nos convida: “Venham, meus amigos!”. Cristo nos
envia: “Sejam missionários!”. E missionários é o fruto precioso da celebração
da Novena de Natal! Eis que assim nos aproximamos do Natal!