Por Mons. Joel Portella Amado
Coordenador Arquidiocesano de Pastoral
Não deixa de ser interessante perguntar o que
vai ser feito no Ano Arquidiocesano da Caridade, pois a reposta não poderia ser
mais simples: vamos praticar a caridade e motivar os outros a seguirem o mesmo
caminho. Isso vale para cada pessoa, grupo e instituição. O importante é
perceber: ninguém está isento de colocar em prática o mandamento do Senhor
Jesus naquela parte que se refere a amar ao próximo.
O primeiro passo consiste em rezar e
discernir. Em clima de oração e exame de consciência, cada pessoa deve se
perguntar como tem sido sua prática do bem, da caridade, da ajuda ao próximo.
Existem algumas pessoas que se limitam a dizer que não matam, não roubam nem
falam mal de ninguém. Estas pessoas, além de pecarem pela vaidade e até mesmo
pela mentira no caso de não falarem mal de ninguém, correm o forte risco de
estarem pecando por omissão. Para Jesus, não basta não praticar o mal. É
preciso praticar o bem. Se pudéssemos fazer uma comparação bem simples, não
basta não cheirar mal. Temos que exalar um agradável perfume, no caso, o
perfume do amor ao próximo.
Caridade pode ser, como estamos acostumados a
conceber, ajuda imediata na hora do sofrimento agudo. O mais comum nestes casos
é a ajuda diante da fome. Isso é muito bom. Isso é indispensável. A fome não
tem idade, raça, religião, sexo nem qualquer outra condição. Fome é fome e
precisa ser enfrentada com ajuda urgente. Acontece, porém, que nem sempre as
pessoas têm apenas o que chamamos de fome material, isto é, ausência de
alimentos. As pessoas têm outras necessidades que podem ser materiais, mas
também afetivas, emocionais e espirituais.
Entre as necessidades materiais, encontram-se
aquelas que mais imediatamente dizem respeito ao indispensável à vida de
qualquer ser humano: alimentação, é claro, mas também vestes, moradia,
trabalho, educação, entre outras. Entre as necessidades que chamamos de
afetivas, encontra-se uma enorme urgência de nossos dias: as pessoas necessitam
ser ouvidas, escutadas, acolhidas principalmente nos momentos de angústia.
Encontra-se a ajuda às famílias em crises de relacionamento, com a ameaça de
separação. Encontram-se as famílias que, por exemplo, desabam emocionalmente
diante de uma gravidez inesperada e sofrem a tentação do aborto. Encontram-se
as famílias atingidas pelo desemprego. Há, enfim, tantos modos de acolher,
escutar e ajudar a discernir os caminhos. Neste sentido, é muito bonito o
trabalho de diversos grupos que se destinam exatamente a colocar as pessoas em
situação de escuta e conversa. Nestas reuniões, se as respostas não surgem de
imediato, com certeza, o fato de ter podido abrir confiantemente o coração já é
um grande começo.
As necessidades espirituais se referem ao
encontro com Jesus Cristo e com a Igreja, comunidade dos discípulos de Jesus.
Todo ser humano tem o direito de ouvir falar de Jesus Cristo. Todo ser humano
tem o direito de ser apresentado à Igreja. Consequentemente, ajudar as pessoas
a conhecerem Jesus Cristo é uma exigência a todo cristão. Além de exigência,
anunciar Jesus é, sem dúvida, um gesto de caridade. É o olhar com preocupação
para quem nunca ouviu falar de Jesus Cristo, para quem, já tendo ouvido falar
de Jesus, acabou se esquecendo dele, para quem acaba caindo nas armadilhas de
quem usa o nome de Jesus para finalidades que o próprio Jesus condena e
condenará sempre. Por isso, anunciar Jesus é também um gesto de caridade.
Em tudo isso, as instituições também são
convidadas a participarem ativamente do Ano Arquidiocesano da Caridade. Em
primeiro lugar, são convocadas as instituições que costumamos chamar de obras
sociais. Elas precisam intensificar mais suas atividades, unir-se, integrar-se,
atualizar-se e se abrir ao diálogo com outras instâncias da sociedade, a fim de
que todos possam experimentar a alegria da caridade. Estas instituições
necessitam também ser ajudadas, através da presença amiga, fraterna e
solidária, de modo que o contato com toda a comunidade cristã e a sociedade em
geral saiba separar quais as instituições que, de fato, vivem a caridade e
precisam ser fortalecidas e daquelas que, sob a capa da caridade, assumem
outros objetivos, precisam ser ajudadas à conversão.
Além dos grupos e instituições diretamente
ligados à caridade, todos os grupos e instituições são chamados a encontrarem
modos de viver o amor ao próximo. Pode acontecer que um ou outro grupo fique
com a impressão de que sua atividade nada tem a ver com a caridade. Este é o
desafio que o Ano da Caridade nos apresenta: buscar caminhos para que a
caridade seja praticada e fortalecida. Para isso, é necessário ser criativo,
escutar a vida, sentir as necessidades.
Por fim, convém recordar que a caridade
possui também uma dimensão social e mesmo política. Lembremo-nos de que, este
ano, a Campanha da Fraternidade nos apresentará a triste e vergonhosa situação
do tráfico humano. São pessoas trazidas de outros países e escravizadas para
trabalhar em situações degradantes. São pessoas que vivem da exploração sexual.
São ainda os comércios de crianças para adoção e de órgãos para transplantes.
Trabalho, afeto, família e saúde são condições indispensáveis para qualquer ser
humano. A vergonha, que traz à terra um pouco do inferno, consiste em fazer de
seres humanos objetos para lucro pessoal. Estas situações desrespeitam o Deus
de Amor, destroem vidas e nos questionam muito diretamente.
Caridade é, portanto, doação gratuita. É doar
um sorriso, uma gentileza, uma atenção, respeito, alimento e roupas,
engajamento nas obras sociais, participação no âmbito das políticas públicas em
prol do bem comum, diálogo com quem pensa diferente. Esta lista, na verdade,
não termina.
Em todos os gestos de caridade acontece a
mesma situação. Ganham os que recebem e ganham os que doam, pois o amor se manifesta
e o mundo fica diferente. A caridade que brota do coração de Jesus Cristo não
se resume apenas a este ou àquele gesto concreto. Estes gestos são apenas o
início de um processo que, nascendo no coração do Senhor Jesus, chega aos
corações humanos e, quando aceitos, tornam-se atitudes que voltam ao céu sob a
forma de amor partilhado.
O Ano da Caridade é uma opção pastoral da
Arquidiocese do Rio de Janeiro. Em princípio, destina-se aos católicos
cariocas, mas, sendo a caridade um valor universal, este tempo, que vai de 20
de janeiro a 23 de novembro, é um convite a todos os corações que,
independentemente de qualquer outra condição, acreditam no bem, na paz, na
justiça e no amor. Na Bíblia, caridade e amor são a mesma palavra.