Padre André Sampaio de Oliveira
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Misericórdia
(Fiéis da língua inglesa)
Estamos em
setembro, e no Brasil já é uma tradição que este mês seja lembrado como o Mês
da Bíblia. Setembro foi escolhido em 1971 pelos bispos do Brasil como o
Mês da Bíblia, em razão da Festa de São Jerônimo, celebrada no dia 30.
São Jerônimo, que viveu entre 340 e 420, foi o secretário do Papa Dâmaso e por
ele encarregado de revisar a tradução latina da Sagrada Escritura. Essa versão
latina feita por São Jerônimo recebeu o nome de Vulgata, que, em latim,
significa popular, e o seu trabalho é referência nas traduções da Bíblia até os
nossos dias.
Conhecer e amar
Ao celebrar
o Mês da Bíblia, a Igreja nos convida a conhecer mais a fundo a Palavra de
Deus, a amá-la, cada vez mais, e a fazer dela, cada dia, uma leitura meditada e
rezada. É essencial ao discípulo missionário o contato com a Palavra de Deus
para ficar solidamente firmado em Cristo e poder testemunhá-Lo no mundo
presente, tão necessitado de sua presença. “Desconhecer a Escritura é
desconhecer Jesus Cristo e renunciar a anunciá-Lo. Se queremos ser discípulos e
missionários de Jesus Cristo, é indispensável o conhecimento profundo e
vivencial da Palavra de Deus. É preciso fundamentar nosso compromisso
missionário e toda a nossa vida cristã na rocha da Palavra de Deus” (Documento
de Aparecida, 247).
Revelação de Deus
A Bíblia
contém tudo aquilo que Deus quis nos comunicar em relação a nossa salvação.
Jesus é o centro e o coração da Bíblia. Em Jesus se cumprem todas as promessas
feitas no Antigo Testamento para o povo de Deus.
Ao lê-la,
como cristãos católicos, não devemos nos esquecer que Cristo é o ápice da revelação
de Deus. Ele é a palavra viva de Deus. Todas as palavras da Sagrada Escritura
tem seu sentido definitivo Nele, porque é no mistério de sua morte e
ressurreição que o plano de Deus para a nossa salvação se cumpre plenamente.
Nas
Sagradas Escrituras, Deus se nos revela através de palavras e de acontecimentos
intimamente entrelaçados, de tal sorte que as obras ajudam a manifestar e
confirmar os ensinamentos e realidades significadas pelas palavras; e estas,
por sua vez, proclamam as obras e elucidam o mistério nelas contido (“Dei
Verbum”, 2/162). Deus se serve de autores humanos, por Ele inspirados e de
linguagem humana, e até dos gêneros literários usados em cada época, para nos
manifestar a sua verdade. É o que São João Crisóstomo chamou de “Divina Condescendência”.
Deus desce até nós e fica perto de nós.
Viva e eficaz
A Sagrada
Escritura é viva e eficaz. Por isso, enquanto membros da Igreja, a comunidade
dos fiéis é chamada a ser como aquela comunidade que “escuta religiosamente a
palavra de Deus, santamente a guarda e fielmente a expõe” (Ibid. 10/176). E,
para que realmente possa ser fiel a sua exposição da Palavra de Deus ao seu
povo, encoraja e orienta uma multidão de estudiosos, de peritos e de exegetas,
que nos ajudam a entender bem hoje de livros que foram escritos há tantos
séculos e traduzidos e transcritos em infinitas cópias.
Palavra de Deus
Como nos
ensina o Catecismo da Igreja Católica, Deus é o autor da Sagrada Escritura. “A
verdade divinamente revelada, que os livros da Sagrada Escritura contêm e
apresentam, foi registrada neles sob a inspiração do Espírito Santo”.
“Com
efeito, a santa mãe Igreja, segundo a fé apostólica, considera como sagrados e
canônicos os livros completos do Antigo e do Novo Testamento com todas as suas
partes, porque, escritos por inspiração do Espírito Santo, têm Deus por autor,
e como tais foram confiados à própria Igreja” (“Dei Verbum”, 11)
Foi o
próprio que Deus inspirou os autores humanos dos livros sagrados. “Para
escrever os livros sagrados, Deus escolheu e serviu-se de homens, na posse das
suas faculdades e capacidades, para que, agindo Ele neles e por eles, pusessem
por escrito, como verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo que Ele queria”
(“Dei Verbum”, 11).
Livros inspirados
Os livros
inspirados ensinam a verdade. “E assim como tudo o que os autores inspirados ou
hagiógrafos afirmam, deve ser tido como afirmado pelo Espírito Santo. Por isso
mesmo se deve acreditar que os livros da Escritura ensinam com certeza,
fielmente e sem erro, a verdade que Deus quis que fosse consignada nas sagradas
letras em ordem à nossa salvação” (“Dei Verbum”, 11).
No entanto,
a fé cristã não é uma ‘religião do livro’. Como nos ensina São Bernardo de
Claraval, em sua homilia super ‘Missus est’, 4, 11: “O cristianismo é a
religião da Palavra de Deus, não de uma palavra escrita e muda, mas do Verbo
encarnado e vivo”. Para que não seja letra morta, é preciso que Cristo, palavra
eterna do Deus vivo, pelo Espírito Santo, nos abra o espírito à inteligência
das escrituras (Lc 24, 45).