De volta ao
Rio de Janeiro, depois de participar da 3ª Assembleia Extraordinária do Sínodo
dos Bispos, o Cardeal Orani João Tempesta retomou os trabalhos pastorais na
arquidiocese e recomeçou sua jornada de visitas às paróquias, reuniões e
convivência com os padres e leigos. No Sínodo, realizado entre os dias 4 e 19
de outubro, no Vaticano, foi refletida a questão da beleza e os valores da
família cristã.
Partilhando
um pouco da experiência vivida e do compromisso missionário que a Igreja
abraçou com a conclusão da Assembleia, Dom Orani falou ao Sistema de
Comunicação da Arquidiocese do Rio sobre os principais aspectos abordados e
debatidos durante a assembleia.
Representantes de todo
o mundo
Ao todo,
participaram da assembleia 253 pessoas, provenientes de todas as regiões do
mundo. Representando o Brasil, além de D. Orani, participaram o arcebispo de
São Paulo Cardeal Odilo Pedro Scherer; o arcebispo de Aparecida, Dom Raymundo
Damasceno Assis, um dos presidentes-delegados do Sínodo; o Cardeal João Braz de
Aviz, prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada; o bispo
maronita, de Nossa Senhora do Líbano, em São Paulo , Dom Edgard Amine Madi e o casal que
testemunhou, Arturo e Hermelinda Zamperlini.
“Nessa
assembleia, tivemos o mundo inteiro falando, o que foi algo universal. No
geral, enfrentamos muitas preocupações, como por exemplo, no continente
africano onde existe a questão muito forte na cultura dos muçulmanos. Também há
a questão do ecumenismo vivido pelas Igrejas separadas de Roma, que admitem o
segundo casamento. São situações de testemunho, de beleza e de sofrimento. Numa
região da Ásia, durante a guerra, uma mulher cristã católica foi a única que
esperava o seu marido voltar, enquanto as demais já haviam se casado
novamente”, frisou.
Participação da
Família
Durante os
15 dias de assembleia, foram ouvidos cerca de 260 depoimentos ligados à
temática da família. O Cardeal Tempesta
explicou que mais de dez grupos se concentraram e debateram sobre tudo o
que foi discutido. Ao final, foi montado um documento não-oficial, que serviu
como mensagem e foi enviado para o mundo.
“Nos
encontros da assembleia, foram partilhados diversos testemunhos. O Sínodo
sempre teve a preocupação de colocá-los tanto nas comissões quanto nos
testemunhos. É importante envolver a família nessa grande reflexão”, disse.
50 anos do Sínodo dos
Bispos
No próximo
ano, a Igreja celebrará 50 anos em que o Papa Paulo VI, hoje beato, instituiu o
Sínodo dos Bispos, como uma espécie de continuação do Concílio Vaticano II, que
de tempos em tempos discute assuntos importantes da Igreja.
Segundo Dom
Orani, o Papa Francisco convocou o Sínodo sobre a Família em comemoração ao
jubileu de ouro. E o organizou em etapas:
“A primeira
etapa foi o Consistório em fevereiro deste ano, quando o Papa consultou os
cardeais sobre o tema e a questão da família e do matrimônio. Depois disso,
mandou para todos o chamado lineamento para poder, justamente, discutir
assuntos que percorrem o mundo inteiro e perguntas concentradas nas conferências
episcopais”.
Todo
material colhido nas duas primeiras etapas foi utilizado como instrumento de
trabalho para a terceira assembleia, que é justamente os desafios pastorais
sobre a família no contexto da evangelização.
Preparando corações
Até outubro
de 2015 a
Igreja se prepara para o 14º Sínodo Ordinário dos Bispos, que também será
realizado no Vaticano. Seguindo o tema da vocação e missão da família no mundo
contemporâneo, o Papa Francisco prepara um lineamento com perguntas a serem
mandadas para fiéis de todos os recantos do globo.
Dom Orani
explicou que todo material deve retornar ao Vaticano para que sejam traçadas
linhas de trabalho para o próximo Sínodo, que será realizado durante três
semanas.
“Para esse
Sínodo será diferente a questão da convocação. Por exemplo, nesta assembleia
extraordinária foram chamados presidentes das conferências episcopais. Para o
Sínodo Ordinário, na verdade se elege na conferência episcopal os que vão ter
direito a serem representantes daquele país. No Brasil, serão quatro vagas,
esclareceu.
E ainda
acrescentou:
“O trajeto então
é de discussão e conversa. Enquanto isso, o Papa tem criado comissões. Uma
delas é para aprofundar questões de como agilizar mais as discussões nos
tribunais eclesiásticos sobre a nulidade matrimonial. Também se sugeriu um
estudo sobre a questão da Eucaristia, fora de tudo que foi debatido no Sínodo. Enfim,
a grande preocupação dos cardeais, bispos, casais, leigos e, principalmente, do
Papa, é de que a Igreja possa repropor o compromisso definitivo de o mundo ver
a importância da família e também do encontro aos feridos pelo caminho. O Papa
deixou bem claro que a preocupação Del não é deixar ferida, mas sim, curá-las”.
Desafios e Evangelização
No penúltimo
dia da Assembleia Extraordinária, 18 de outubro, foi divulgada uma mensagem com
o tema “Os desafios pastorais da família no contexto da evangelização”.
No texto,
os padres sinodais recordam os desafios enfrentados pela família na atualidade,
como a fidelidade no amor conjugal, o enfraquecimento da fé e dos valores, o
individualismo, o empobrecimento das relações, o estresse, as dificuldades econômicas.
Lembram, também, das famílias pobres e refugiadas “atingidas pela brutalidade
das guerras e da opressão”.
Ao mesmo
tempo, recordam que “o amor do homem e da mulher” ensina “que cada um dos dois
tem necessidade do outro para ser si mesmo, mesmo permanecendo diferente ao
outro na sua identidade, que se abre e se revela no dom mútuo”.
“Refletimos
que existe de um lado um mundo que se modifica, onde as pessoas não têm
compromisso com nada e com ninguém. Do outro lado, vem a Igreja com uma nova
cultura e realidade em relação a essa mudança. Estamos aprendendo a lidar com
novas situações de pessoas e que estão voltando a participar da Igreja”, frisou
o cardeal.
Fonte: Jornal Testemunho de Fé