D.
Orani João Tempesta
Cardeal
Arcebispo do Rio de Janeiro
São Sebastião foi um dos soldados romanos
mártires e santos, cujo culto nasceu no século IV e que atingiu o seu auge nos
séculos XIV e XV, tanto na Igreja Católica como na Igreja Ortodoxa. São
Sebastião é celebrado no dia 20 de janeiro. Existe uma capela no Palatino, com
uma pintura que mostra Irene tratando das feridas de Sebastião. Irene também
foi canonizada, e sua festa é no dia 30 de março.
Convido para que nestes dias que antecedem a
festa do nosso padroeiro, façamos, enquanto família-arquidiocesana, a trezena
do nosso glorioso mártir. Iremos percorrer com a imagem peregrina de São
Sebastião toda a nossa Arquidiocese, anunciando que o nosso padroeiro é
testemunha da esperança e nos inspira para construirmos a paz em nossa cidade,
que completa neste 2015 seus 450 anos.
São Sebastião, testemunho de
fé. Ao
iniciar os festejos deste glorioso Santo, coloquemo-nos diante dele como um
exemplo vivíssimo de fé. Ele foi cristão nos tempos do Imperador Diocleciano,
em Roma. Viveu em tempos de perseguição. Muitos foram presos, degredados e
mortos em Roma por causa de Jesus Cristo. Naqueles tempos não era fácil ser
cristão. São Sebastião era Capitão da Guarda do Imperador. Mesmo conhecendo
melhor que todos o risco que iria correr, pediu para ser admitido como cristão.
Passou pelo catecumenato, foi instruído sobre os compromissos de fé e recebeu,
conscientemente, o Batismo. É uma inspiração para aprofundarmos e vivermos mais
intensamente a fé nessa grande cidade.
São Sebastião, testemunho de
caridade. Sebastião, feito cristão pelo batismo, começou a
ser, em Roma, entre muitos coirmãos na fé, vivo testemunha de caridade. Dizem
os historiadores que, como consequência das perseguições, os prisioneiros se
tornavam pobres porque o governo sequestrava os seus bens. Sebastião deu-se ao
intenso exercício da caridade, visitando os encarcerados e confortando-os,
encorajando-os e ajudando os que foram atingidos pela pobreza. Muito antes,
pois, de dar o testemunho do martírio, Sebastião dava perante todos o
testemunho da caridade. Hoje em dia são muitas pessoas marginalizadas e desempregadas.
Temos muito que aprender para ir ao encontro das periferias existenciais e
encontrando-nos com o Cristo que vive nesta cidade na pessoa dos
marginalizados.
São Sebastião, testemunho de
fortaleza. São Sebastião, militar, de rígida têmpera, aprimorada
formação, tinha caráter forte, varonil. Distinguia-se pela coragem e fortaleza
de ânimo com que servia à autoridade imperial. Convertendo-se ao cristianismo e
sendo batizado, o Espírito Santo transfigurou pela graça estes dons naturais
que nele resplandeciam. E ele colocou a serviço do Reino de Deus sua alma
varonil e destemida. Soldado do imperador, mudou-se em soldado de Cristo. Foi
com a mesma coragem e fortaleza com que servia antes a seu senhor temporal, que
Sebastião, depois, a ele resistiu, quando ameaçado de morte por causa das
práticas e convicções religiosas. Como necessitamos ser fortes nestes tempos de
tantas perseguições e mudanças culturais!
São Sebastião, padroeiro dos
injustamente perseguidos. São Sebastião compartilhou da
injusta perseguição que atingiu a Igreja em seus primórdios em Roma. Os
decretos do Imperador, que mandavam reprimir as práticas cristãs, atingiram
milhares, talvez milhões de pessoas. Foi uma época de grandes sofrimentos para
muitos, na sua maioria humilde, pois exatamente os humildes e os pobres eram os
que mais generosamente abraçavam o cristianismo. Era uma situação de grave
injustiça, de vez que não podia haver nenhum crime em seguir ditames da própria
consciência. São Sebastião, embora altamente situado, porque era Capitão da
Guarda Imperial, foi também envolvido nas mesmas perseguições, exatamente por
ser fiel à voz da consciência. Hoje, de diversas formas os cristãos de perto e
de longe são perseguidos e rejeitados.
São Sebastião padroeiro
contra a violência. O mártir São Sebastião não foi somente
uma vítima da perseguição romana. E nem mesmo simplesmente mártir como milhares
de outros cristãos. O suplício que sofreu se caracterizou por dupla violência
brutal contra sua pessoa. Primeiramente, São Sebastião foi entregue aos algozes
para ser morto a flechadas. Amarrado a um tronco de árvore, dispararam contra
seu corpo numerosas flechas. Deixaram-no esvaindo-se em sangue, crentes que já
estivesse morto. Uma senhora piedosa encontrou-o na floresta, levou-o para casa
e ele se salvou. Na segunda vez, porém, foi aprisionado quando apareceu diante
do imperador, em uma festa pública. E então o mataram a cacetadas,
barbaramente, diante da multidão. Ele foi, assim, duplamente martirizado, e
duplamente agredido de modo violento. A tenacidade e a coragem do nosso
padroeiro fazem de nosso povo que habita nessa cidade um povo corajoso e que
luta com coragem por tempos novos.
São Sebastião, padroeiro da
agropecuária. Tradicional devoção entre os
brasileiros considera São Sebastião padroeiro da agropecuária. Têm-no como o
defensor dos campos e, principalmente, dos rebanhos. Não se sabe de onde veio
essa tradição e o motivo dessa particular devoção dos nossos homens do campo.
Seria, por ventura, por que São Sebastião sofreu o martírio numa floresta,
amarrado a um tronco de árvore? Ou em alguma época, particularmente difícil
para rebanhos, se alcançaram, por intercessão de São Sebastião, especiais
graças e milagres de proteção aos bens do homem da roça? De qualquer modo que
seja, muitos asseguram ter colocado sob a proteção deste Santo seus rebanhos e
ter obtido, por essa forma, sua intercessão miraculosa.
São Sebastião, patrono dos
militares. Nos tempos do Imperador Diocleciano, Sebastião
alistou-se na milícia imperial. Jovem, robusto e de boas maneiras, ele uniu a
estes dotes a coragem, a dedicação às armas e o amor à Pátria. Granjeou, assim,
a estima e confiança de seus chefes e do próprio imperador. Em pouco tempo
conquistou postos na milícia e, segundo reza a tradição, era Capitão da Guarda
Imperial quando se fez Cristão, recebendo o Batismo. Pela sua condição de
soldado e por seu amor e fidelidade à Pátria, ele é venerado como padroeiro dos
Militares. Entretanto, o apreço pela carreira militar não o desviou dos deveres
de cristão. Quando se preparou para o batismo ele aprendeu, como catecúmeno,
que a vida cristã devia ser um compromisso com Cristo, tal qual a vida militar
era um compromisso com a Pátria. Mas sabendo que o Imperador não era um Deus e
que Jesus Cristo é o rei dos Reis, ele preferiu obedecer antes a esse Rei que
ao Imperador romano. É o eco que sempre devemos ter em nossa vida: amar a Deus
sobre todas as coisas!
São Sebastião, padroeiro
contra pestes e epidemias. A piedade popular tem honrado São
Sebastião como Padroeiro contra a fome, a peste e a guerra. Possivelmente
porque, em alguma época da história, recorreram à sua intercessão diante do
tormento de alguma guerra, com suas consequências mais aflitas: a fome e a
peste que se alastrou, atingindo homens e animais. E porque a ajuda do Santo
foi propícia nessa circunstância, passou-se a invocá-lo, em especial para que
defendesse os animais atingidos ou expostos ao perigo da peste. Por todos os
rincões do Brasil se implora a proteção deste santo para o gado e todos os animais,
na esperança de que sejam livres da raiva e outras epidemias que os atingem.
Que ele interceda por tantas epidemias que grassam hoje no coração das pessoas.
São
Sebastião, modelo de cristão. São Sebastião, que veneramos em nossa
Arquidiocese, foi, como todos nós, escolhido por Deus para a graça do batismo a
serviço da Igreja. Ele teve uma vocação particular, a qual Deus o chamou, e
desempenhou, na Igreja de Roma, um ministério de leigo. Recebeu de Deus
carismas ou dons para testemunhar a fé, praticar a caridade e padecer o
martírio.
Peçamos a Deus, por intercessão do glorioso
São Sebastião, que nos ajude: “Senhor, neste tempo de preparação para a festa
em honra ao glorioso mártir São Sebastião, nos vos pedimos o mesmo espírito que
o fez tão forte, tão leal, tão dedicado. Infundi, Senhor, em todos nós os dons
do Espírito Santo. Fazei-nos descobrir em nós os carismas que nos destes, para
colocá-los a serviço de nossa comunidade. Que o dom da Esperança nos faça
testemunhas da construção da Paz em nossa grande cidade. Enfim, Senhor,
dai-nos, pela intercessão de São Sebastião, sermos perseverantes no cumprimento
de nossos deveres cristãos até a morte. Por Cristo nosso senhor, na unidade do
Espírito Santo. Amém”!