Padre
Fábio Siqueira
Vice-diretor
das Escolas de Fé Mater Ecclesiae e Luz e Vida
“Eu sou a serva do Senhor;
faça-se em mim segundo a tua palavra!”
“Jesus, então, vendo sua mãe e, perto dela, o
discípulo a quem amava, disse à sua mãe: ‘Mulher, eis o teu filho!’ Depois
disse ao discípulo: ‘Eis a tua mãe!’ E a partir dessa hora, o discípulo a
recebeu em sua casa.” (cf. Jo 19,26-27)
Estes dois versículos nos transportam para um
momento singular. Na hora de passar deste mundo para o Pai, Nosso Senhor Jesus
Cristo, volta, do alto da cruz, seu olhar bendito para sua mãe e para o
discípulo a quem Ele amava. Confia um ao outro: o discípulo à mãe e a mãe ao
discípulo.
Nesse “discípulo amado”, que muitos autores
identificam com o próprio evangelista São João, todos nós, “discípulos amados
de todos os tempos”, estávamos representados. E foi a cada um de nós e à
Igreja, no seu conjunto, que esta “mulher” foi entregue como “mãe”.
A Tradição da Igreja ininterruptamente
entendeu esta missão materna de Maria, que lhe foi confiada pelo próprio Pai.
Missão essa exercida com relação ao Filho e, também, com relação à Igreja. O
Concílio de Éfeso, em 431, assim se expressava a respeito da “maternidade
divina” da Virgem Maria: “...os santos Padres não duvidaram chamar a santa
virgem de Theotókos (mãe de Deus), não no sentido de que a natureza do Verbo ou
sua divindade tenham tido origem da santa virgem, mas no sentido de que, por
ter recebido ela o santo corpo dotado de alma racional ao qual também estava
unido segundo a hipóstase, o Verbo se diz nascido segundo a carne”.[1]
Mais recentemente, o Concílio Vaticano II, na
Constituição Dogmática sobre a Igreja “Lumen Gentium”, retomou o ensinamento
sobre a maternidade de Maria, referindo-a aos fiéis cristãos, como podemos ver
no n. 62: “Por sua maternal caridade cuida dos irmãos de seu Filho, que ainda
peregrinam rodeados de perigos e dificuldades, até que sejam conduzidos à feliz
pátria.” A mesma “Lumen Gentium”, no n. 63, nos relembra que Maria é também
“modelo para a Igreja” e, retomando o ensinamento de Santo Ambrósio, afirma que
Maria “é o tipo da Igreja na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo”.
Na vida de cada cristão essa consciência da
“maternidade de Maria” deve levar a duas atitudes concretas: a primeira delas é
a tomada de consciência de que Maria, como Mãe, é também nossa intercessora
junto a seu Filho; a segunda atitude consiste reconhecer que Maria é nosso
“modelo”, como dizíamos mais acima.
Contando com a sua sempre pronta intercessão,
sem esquecer-nos de que o único mediador nosso é o Cristo Senhor, acorremos a
essa mãe, para que ela suplique conosco ao Filho pelas nossas necessidades.
Como dizemos cotidianamente na Salve Rainha, a ela “suspiramos” enquanto
“gememos e choramos neste vale de lágrimas”. Tendo-a por suplime modelo devemos
imitar as suas virtudes, como filhos que têm na sua mãe um espelho daquilo o
que eles mesmos querem se tornar.
Não podemos nos esquecer deste aspecto
fundamental da nossa devoção mariana – a saber – que ela é modelo para todos os
cristãos. Sendo assim, devemos imitar suas virtudes. E que virtudes poderíamos
enumerar? Seguem abaixo apenas algumas que podemos brevemente colher de algumas
passagens das Escrituras Sagradas.
Maria é a mulher aberta à novidade de Deus. Diante do anúncio do anjo ela diz:
“Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!” (cf. Lc 1,38)
Ela é a virgem que sabe ouvir (obediente) e acolher com fé a Palavra de Deus. A
desenvolver essa virtude da obediência, somos chamados como cristãos: “O fruto
da lealdade é a obediência, que se manifesta pela aceitação pronta de situações
e decisões desagradáveis; e, convém destacar bem, por uma aceitação alegre.
Esta obediência cordial e pronta é sempre difícil. Às vezes, contraria de tal
modo as nossas inclinações naturais que atinge o heroísmo, pois se transforma
numa espécie de martírio.” (cf. Manual da Legião de Maria, Lealdade Legionário,
pp. 168-170)
Porque é disponível para Deus, torna-se também disponível aos irmãos: “Naqueles
dias, Maria pôs-se a caminho para a região montanhosa, dirigindo-se
apressadamente a uma cidade de Judá.” (cf. Lc 1,39)
Maria é a Virgem portadora do Espírito: “Ora, quando Isabel ouviu a saudação de
Maria, a criança lhe estremeceu no ventre e Isabel ficou repleta do Espírito
Santo.” (cf. Lc 1,41)
A Virgem Maria é modelo de fé: “Bem-aventurada aquela que acreditou, pois o que
lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido!” (cf. Lc 1,45)
Maria é a mulher que guarda a Palavra de Cristo em seu coração: “Sua mãe,
porém, conservava a lembrança de todos esses fatos em seu coração.” (cf. Lc
2,51b)
Ela é a mulher das dores, que está de pé até o fim:“Perto da cruz de Jesus,
permaneciam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Clopas (ou
Cléofas), e Maria Madalena.” (cf. Jo 19,25)
Peçamos ao Espírito Santo a graça de
imitarmos em nossa vida de cristãos o que foi a vida terrena da Virgem
Santíssima. Peçamos a graça da disponibilidade a Deus e aos irmãos. Peçamos a
graça de uma abertura cada vez maior à Sua ação em nós a fim de que
comuniquemos a sua presença, a presença do Espírito Santo, aos irmãos a quem o
Senhor nos enviar. Peçamos a graça de uma fé renovada e de um coração
disponível para guardarmos em nós as promessas de Deus. Peçamos, enfim, a
firmeza espiritual, para estarmos de pé, mesmo em meio às maiores cruzes da
nossa vida, assim esteve nossa boa Mãe, firme e de pé aos pés da cruz.
[1] Cf.
Denzinger-Hünermann, 251.