segunda-feira, 9 de novembro de 2015

A conversão ecológica

Pe. Vitor Gino Finelon
Professor das Escolas de Fé e Catequese Mater Ecclesiae e Luz e Vida

O Papa Francisco exorta, na carta encíclica “Laudato Si”, aos cristãos a necessidade de uma conversão ecológica. A Igreja já tinha demonstrado seu interesse por partilhar de todas as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje. Ela, reunida em Cristo e guiada pelo Espírito Santo, na sua peregrinação em direção ao reino do Pai, é vocacionada a comunicar a mensagem da salvação de forma integral (cf. GS 1). Agora, com a presente encíclica, fica evidente que a preocupação da humanidade pelo cuidado com a natureza se tornou um tema da ação pastoral da Igreja: “espero que esta carta encíclica, que se insere no magistério social da Igreja, nos ajude a reconhecer a grandeza, a urgência e a beleza do desafio que temos pela frente” (LS 15).
O texto da “Laudato Si”, no parágrafo 217, nos apresenta o que podemos entender por conversão ecológica: “deixar emergir, nas relações com o mundo que nos rodeia, todas as consequências do encontro com Jesus. Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas parte essencial de uma existência virtuosa”. O imperativo ético nascido do encontro com o Senhor se impõe não somente em relação às pessoas, mas também à obra da criação divina. O testemunho de São Francisco, cuja atenção foi destinada tanto às pessoas quanto à natureza, é proposto como paradigma para os cristãos. Na vida do pobrezinho de Assis, a Igreja reconhece a obra do Espírito Santo que converte o homem de forma integral.
A Igreja, na sua missão evangelizadora, encontra muitos desafios. Olhando para si mesma, ela reconhece que precisa incentivar, entre seus próprios membros, uma espiritualidade cada vez mais vinculada com o corpo, com a natureza e com as realidades deste mundo (cf. LS 216). Segundo o texto da encíclica, existem cristãos, comprometidos e piedosos, que “se burlam das preocupações pelo meio ambiente” e outros que são passivos, decididos a não mudar seus hábitos (cf. LS 217).  Por conta dessa realidade, o Papa Francisco clama uma conversão ecológica para a Igreja a fim de abrir a mentalidade cristã para uma vivência mais profunda e comprometida com o homem e o cosmos.
A conversão ecológica apresentada na “Laudato Si” não se reduz apenas a uma experiência individual. O texto do documento, consciente dos desafios do nosso tempo em matéria de preservação dos bens naturais, conclama a Igreja para uma “conversão ecológica comunitária”. Os problemas sociais e ecológicos nos quais o mundo se encontra não podem se resolvidos por atitudes de indivíduos isolados. É urgente a reunião de esforços para se alcançar resultados mais efetivos, com uma mudança mais duradoura (cf. LS 219). O Papa Francisco alerta para a situação cultural que impõe ao homem um consumismo desvinculado das preocupações sociais e ambientais. Ele adverte sobre a urgência de uma “corajosa revolução cultural” na qual se substitui a cultura do descarte e da morte pela “da vida compartilhada e do respeito pelo que nos rodeia” (LS 213).
As consequências de uma conversão ecológica verdadeira se visibilizam em três atitudes fundamentais. A primeira é o crescente sentimento de gratidão e de gratuidade frente ao dom da criação advindo do Pai. A segunda atitude é o aumento da experiência de comunhão com os homens e com toda a criação. E, por fim, a atuação, cada vez mais entusiasmada, na resolução dos dramas presentes no mundo de hoje. Em conclusão, citamos o convite à conversão ecológica, individual e comunitária, deixada pelo Papa Francisco: “Convido todos os cristãos a explicitar esta dimensão da sua conversão, permitindo que a força e a luz da graça recebida se estendam também à relação com as outras criaturas e com o mundo que os rodeia, e suscite aquela sublime fraternidade com a criação inteira que viveu, de maneira tão elucidativa, São Francisco de Assis” (LS 221).