segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Ele está para chegar!

D. Orani João Tempesta
Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro

Aquele que já veio e que virá no final dos tempos será celebrado com a atualização de sua vinda na história nos próximos dias. O Natal está próximo. O domingo que o antecede nos ajuda nessa preparação para que celebremos um Natal cristão, ou seja, um Natal com Cristo.
Nesta semana de preparação próxima para o Natal (IV Domingo do Advento), a Liturgia nos fala e nos ensina por meio de três grandes guias: Isaías, João Batista e Maria; o profeta, o precursor e a mãe. Hoje é a vez de Maria; ela nos ajuda a intensificar e a concentrar nossa espera: “Aquele que deve vir” já chegou; o mistério escondido desde séculos em Deus (Ef 3,9) faz nove meses e se encontra no seio de Maria!
Se Advento significa espera de Cristo, Maria é a espera em pessoa; a espera teve para ela o sentido realista e delicado que esta palavra tem para cada mulher que espera o nascimento de uma criança. É assim que devemos imaginar Nossa Senhora na iminência do Natal: com aquele olhar amável, dirigido mais para dentro do que para fora de si, que se nota numa mulher que carrega no seio uma criatura e parece que já a contempla e com ela dialoga. Maria manteve com seu filho uma comunhão ininterrupta de amor, como uma pessoa que recebeu a Eucaristia.
Queremos refletir com a Epístola aos Hebreus 10,5-10, que de modo impressionante nos desvela os sentimentos do Filho eterno do Pai no momento da sua Encarnação: Pai, “Tu não quiseste vítima nem oferenda”, aquelas do Templo, aquelas vítimas simplesmente rituais, “mas formaste-me um corpo”, tu me fizeste humano, deste-me uma natureza humana! Não foram do teu agrado os sacrifícios de animais irracionais, os ritos meramente formais, “por isso eu disse: ‘Eis que eu venho! Eu vim, ó Deus, para fazer a Tua vontade’”. Eis o primeiro aspecto que nos é dado hoje meditar! O Filho eterno, igual ao Pai, Deus igual a Deus, luz gerada pela luz, por puro amor, por pura obediência ao Pai que tanto nos amou, dignou-se fazer-se homem! Sem deixar de ser Deus verdadeiro, ele realmente se tornou homem verdadeiro, em tudo igual a nós, menos no pecado.

Mas, como pode? Como é possível? Aquele que é a luz assumiu a escuridão humilde do seio materno; Aquele que abarca o universo, foi abarcado pelo útero de uma Virgem; Aquele que é a Palavra eterna do Pai, passou nove meses no silêncio da gestação! Como pode ser? Num mundo que se contenta com mentirinhas, com fábulas, mitos e lendas, eis uma realidade que nos deixa maravilhados! E tudo isso por nós, para nossa salvação, para nos elevar! Ele veio viver em tudo nossa aventura humana, em tudo, nossas angústias, em tudo, nossas procuras, em tudo, nosso sonho de ser felizes! “É graças a esta vontade que somos santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo, realizada uma vez por todas!”. O Filho eterno, fazendo-se um de nós, assumindo nosso corpo, isto é, nossa humanidade, nossa história, nossas limitações, foi homem perfeito, perfeitamente dedicado ao Pai, perfeitamente obediente, perfeitamente abandonado nas mãos do Pai, e, assim, nos salvou, mereceu-nos o perdão para a humanidade que Adão havia estragado!
O Evangelho (Lc 1, 39-48) narra o encontro de duas mães, que vibram de alegria com a realização das promessas. Quem aguarda o Salvador não pode esquecer a sua Mãe. Após a Anunciação, em que deu o seu ‘sim’ a Deus, Maria se põe a caminho…, e vai às pressas à casa de Isabel. Maria nos ensina o melhor jeito de acolher: estar atento às necessidades dos irmãos, partir ao seu encontro, partilhar com eles a nossa amizade e ser solidário com as suas necessidades.
Dentro de poucos dias veremos Jesus reclinado numa manjedoura, o que é uma prova de misericórdia e do amor de Deus. Poderemos dizer: “Nesta noite de Natal, tudo para dentro de mim. Estar diante d’Ele; não há nada mais do que Ele na branca imensidão. Não diz nada, mas está aí… Ele é o Deus amando-me. E se Deus se faz homem e me ama, como não procurá-Lo? Como perder a esperança de encontrá-Lo, se é Ele que me procura? Afastemos todo o possível desalento; as dificuldades exteriores e a nossa miséria pessoal não podem nada diante da alegria do Natal que se aproxima.
Ó Virgem toda santa e toda pura! Obrigado pelo teu sim, obrigado pelo sim que é eco no tempo do sim que o Filho pronunciou na eternidade! Como poderíamos te saudar, ó Toda Santa? Saudamos-te como a Escritura nos ensina: saudamos-te Cheia de Graça, saudamos-te Bendita entre as mulheres, saudamos-te Arca da Aliança, saudamos-te Mãe do Senhor, saudamos-te portadora do Salvador, saudamos-te Causa da nossa alegria, saudamos-te Esposa do Espírito, saudamos-te Bendita por ter acreditado! Saudamos-te assim, Mãe de Jesus, e toda a saudação do mundo ainda seria pouca para exprimir a grandeza do teu sim e nossa gratidão pela tua disponibilidade! Ensina-nos, Virgem Maria, a dizer o sim como tu disseste; ensina-nos a tornar nossa vida disponível ao plano do Senhor; ensina-nos a viver em nós a obediência do Filho, como tu viveste!
“A Virgem Maria é ela mesma o caminho real pelo qual veio a nós o Salvador. Devemos procurar ir ao encontro do Salvador pelo mesmo caminho pelo qual Ele veio a nós” (São Bernardo). Haja em cada um de nós a alma de Maria para engrandecer a Deus; esteja em cada um o espírito de Maria para exultar em Deus” (Santo Ambrósio).

Fonte: http://arqrio.org/formacao/detalhes/1020/ele-esta-para-chegar