O Papa
Francisco presidiu, na manhã do Domingo de Páscoa, 27 de março, no adro da
Basílica de São Pedro, a solene celebração Eucarística da Ressurreição do
Senhor, da qual participaram milhares de fiéis e peregrinos de várias partes do
mundo.
A cerimônia
teve início com o rito do Ressurexit, anúncio da Ressurreição do Senhor. O Papa
não fez a homilia durante esta celebração, pois ao final da cerimônia dirigiu
aos fiéis suas felicitações de Santa Páscoa e concedeu a Bênção “Urbi et Orbi”
à Cidade de Roma e ao mundo inteiro, do balcão central da Basílica Vaticana.
A Praça São
Pedro foi adornada com mais de 35 mil flores e plantas provenientes da Holanda,
como acontece há 30 anos consecutivos por ocasião da solenidade pascal, uma
oferta que o Papa agradeceu.
“Jesus
Cristo, encarnação da misericórdia de Deus, por amor morreu na cruz e por amor
ressuscitou. Por isso, proclamamos hoje: Jesus é o Senhor! A sua Ressurreição
realizou plenamente a profecia do Salmo: A misericórdia de Deus é eterna,
o seu amor é para sempre, não morre jamais. Podemos confiar completamente
Nele e damos-lhe graças porque por nós Ele desceu ao fundo do abismo”, disse
Francisco na mensagem Urbi et Orbi, proferida neste Domingo de Páscoa.
“Diante dos
abismos espirituais e morais da humanidade, diante dos vazios que se abrem nos
corações e que provocam ódio e morte, somente uma infinita misericórdia pode
nos dar a salvação. Só Deus pode preencher com o seu amor esses vazios, esses
abismos, e fazer-nos não afundar, mas continuar caminhando juntos em direção à
Terra da liberdade e da vida.” E o pontífice que acrescentou:
“O anúncio
jubiloso da Páscoa: Jesus, o crucificado, não está aqui, ressuscitou nos dá a
certeza consoladora de que o abismo da morte foi superado e com ele foram
derrotados o luto, o pranto e a dor. O Senhor, que sofreu o abandono dos seus
discípulos, o peso de uma condenação injusta e a vergonha de uma morte infame,
nos faz agora compartilhar a sua vida imortal, e nos oferece o seu olhar de
ternura e compaixão para com os famintos e sedentos, com os estrangeiros e
prisioneiros, com os marginalizados e descartados, com as vítimas de abuso e
violência. O mundo está cheio de pessoas que sofrem no corpo e no
espírito, enquanto as crônicas diárias estão repletas de relatos de crimes
brutais, que muitas vezes acontecem dentro dos lares, e de conflitos armados
numa grande escala que submetem populações inteiras a provações inimagináveis.”
A seguir,
Francisco recordou as nações que estão em conflito:
“Cristo
ressuscitado indica caminhos de esperança para a querida Síria, um País
devastado por um longo conflito, com o seu cortejo triste de destruição, morte,
de desprezo pelo direito humanitário e desintegração da convivência
civil. Confiamos ao poder do Senhor ressuscitado os colóquios em
andamento, de modo que, com a boa vontade e a cooperação de todos, seja
possível colher os frutos da paz e dar início à construção de uma sociedade
fraterna, que respeite a dignidade e os direitos de cada cidadão. A
mensagem de vida proclamada pelo anjo junto da pedra rolada do sepulcro, vença
a dureza dos corações e promova um encontro fecundo entre povos e culturas nas
outras regiões da bacia do Mediterrâneo e do Oriente Médio, particularmente no
Iraque, Iêmen e na Líbia.”
“A imagem
do homem novo, que resplandece no rosto de Cristo, favoreça a convivência entre
israelenses e palestinos na Terra Santa, bem como a disponibilidade
paciente e o esforço diário para trabalhar no sentido de construir as bases de
uma paz justa e duradoura através de uma negociação direta e sincera. O
Senhor da vida acompanhe também os esforços para alcançar uma solução
definitiva para a guerra na Ucrânia, inspirando e apoiando igualmente as
iniciativas de ajuda humanitária, entre as quais a libertação das pessoas
detidas.”
O Papa
também lembrou os ataques terroristas que ceifaram a vida de tantas pessoas:
“O Senhor
Jesus, nossa paz, que ressuscitando derrotou o mal e o pecado, possa favorecer,
nesta festa de Páscoa, a nossa proximidade às vítimas do terrorismo, forma
de violência cega e brutal que continua derramando sangue inocente em diversas
partes do mundo, como aconteceu nos ataques recentes na Bélgica, Turquia,
Nigéria, Chade, Camarões e Costa do Marfim. Possam frutificar os fermentos
de esperança e as perspectivas de paz na África; penso de modo particular ao
Burundi, Moçambique, República Democrática do Congo e o Sudão do Sul, marcados
por tensões políticas e sociais.”
“Com as
armas do amor, Deus derrotou o egoísmo e a morte; seu Filho Jesus é a porta da
misericórdia aberta para todos. Que a sua mensagem pascal possa se
projetar cada vez mais sobre o povo venezuelano nas difíceis condições em que
vive e sobre aqueles que detêm em suas mãos os destinos do País, para que
se possa trabalhar em vista do bem comum, buscando espaços de diálogo e
colaboração ente todos. Que de todos os lados possam ser tomadas medidas para
promover a cultura do encontro, a justiça e o respeito mútuo, que podem
garantir o bem-estar espiritual e material dos cidadãos.”
“O Cristo
ressuscitado, anúncio de vida para toda a humanidade, reverbera através dos
séculos e nos convida a não esquecer dos homens e mulheres a caminho em
busca de um futuro melhor, grupos cada vez mais números de migrantes e
refugiados – dentre os quais muitas crianças - que fogem da guerra, da fome, da
pobreza e da injustiça social. Esses nossos irmãos e irmãs, que nos seus
caminhos encontram com demasiada frequência a morte ou a recusa dos que
poderiam oferecer-lhes hospitalidade e ajuda. Que a próxima reunião da Cúpula
Mundial Humanitária não deixe de colocar no centro a pessoa humana com a sua
dignidade e possa desenvolver políticas capazes de ajudar e proteger as
vítimas de conflitos e de outras situações de emergência, especialmente os
mais vulneráveis e os que sofrem perseguição por motivos étnicos e religiosos.”
“Neste dia
glorioso, 'alegra-se a terra inundada de grande esplendor', mas ainda tão
abusada e vilipendiada por uma exploração gananciosa pelo lucro, que altera o
equilíbrio da natureza. Penso em particular nas regiões afetadas pelos efeitos
das mudanças climáticas, que muitas vezes causam secas ou violentas inundações,
resultando em crises alimentares em diferentes partes do planeta”, disse ainda
o Papa.
“Com nossos
irmãos e irmãs que são perseguidos por causa da sua fé e por sua lealdade ao
nome de Cristo e diante do mal que parece prevalecer na vida de tantas
pessoas, ouçamos novamente as palavras consoladoras do Senhor: «Não tenham
medo! Eu venci o mundo!» Hoje é o dia radiante desta vitória, porque Cristo
calcou a morte e com a sua ressurreição fez resplandecer a vida e imortalidade.
«Ele nos fez passar da escravidão à liberdade, da tristeza à alegria, do luto à
festa, das trevas à luz, da escravidão à redenção. Por isso, proclamemos diante
d’Ele: Aleluia!»”
Francisco
concluiu a mensagem Urbi et Orbi com as seguintes palavras:
“Para
aqueles em nossas sociedades que perderam toda a esperança e alegria de viver,
aos idosos oprimidos que na solidão sentem as forças desvanecer, aos jovens aos
quais parece não existir o futuro, a todos eu dirijo mais uma vez as palavras
do Ressuscitado: «Eis que eu faço novas todas as coisas... a quem tem sede eu
darei gratuitamente da fonte de água viva». Que esta mensagem consoladora de
Jesus possa ajudar cada um de nós a recomeçar com mais coragem e esperança,
para assim construir estradas de reconciliação com Deus e com os irmãos.”
Foto: ANSA
Fonte: http://arqrio.org/noticias/detalhes/4218/urbi-et-orbi-papa-recorda-conflitos-e-faz-apelo-pela-paz