D.
Orani João Tempesta
Cardeal
Arcebispo do Rio de Janeiro
O Dia Mundial das Comunicações Sociais é o
único dia estabelecido pelo Concílio Ecumênico Vaticano II (Inter Mirifica,
1963). É celebrado no domingo que antecede a Solenidade de Pentecostes, que no
Brasil coincide com o Domingo da Ascensão, neste ano, dia 8 de maio. O tema do
Santo Padre para o Dia Mundial das Comunicações Sociais é tradicionalmente
escolhido na festa dos arcanjos Miguel, Rafael e Gabriel (29 de setembro), e o
texto da mensagem é publicado por ocasião da festa de São Francisco de Sales,
padroeiro dos jornalistas (24 de janeiro). Neste ano foi publicada a 50ª
mensagem – portanto, uma tradição de cinquenta anos! Completamos o jubileu de
ouro!
A mensagem do Papa é dedicada ao tema:
“Comunicação e Misericórdia: um encontro fecundo”. A escolha do tema deste ano
foi certamente determinada pelo Jubileu Extraordinário da Misericórdia e, sem
dúvida, o Santo Padre almejou que o Dia Mundial das Comunicações Sociais
oferecesse uma ocasião propícia para se refletir sobre as sinergias profundas
entre comunicação e misericórdia.
Na Bula de Proclamação do Ano Jubilar, no
número 12, o Papa afirma que: “a Igreja tem a missão de anunciar a misericórdia
de Deus, coração pulsante do Evangelho, que por meio dela deve chegar ao
coração e à mente de cada pessoa” e, continua: “A sua linguagem e os seus
gestos, para penetrarem no coração das pessoas e desafiá-las a encontrar
novamente a estrada para regressar ao Pai, devem irradiar misericórdia”.
Diante do tema proposto, a Igreja é chamada a
viver a misericórdia como traço característico de todo o seu ser e agir. Para
tocar neste ponto, vai dizer o Papa Francisco na mensagem para este dia:
“Aquilo que dizemos e o modo como o dizemos, cada palavra e cada gesto, deveria
poder expressar a compaixão, a ternura e o perdão de Deus para todos. O amor,
por sua natureza, é comunicação: leva a abrir-se, não se isolando. E, se o
nosso coração e os nossos gestos forem animados pela caridade, pelo amor
divino, a nossa comunicação será portadora da força de Deus”.
Sabemos que a comunicação é de suma importância
para a vida do ser humano, pois faz parte de uma das dimensões do homem. A
comunicação tem o poder de criar pontes, favorecer o encontro e a inclusão,
enriquecendo assim a sociedade. O Cristão deve ser aquele que visa fazer
crescer a comunhão, e assim se deve também com firmeza condenar o mal. Como é
bom ver pessoas esforçando-se por escolher cuidadosamente palavras e gestos
para superar as incompreensões, curar a memória ferida e construir paz e
harmonia! As palavras podem construir pontes entre as pessoas, as famílias, os
grupos sociais, os povos. E isto acontece tanto no ambiente físico como no
digital. Assim, palavras e ações hão de ser tais que nos ajudem a sair dos
círculos viciosos de condenações e vinganças, que mantêm prisioneiros os indivíduos
e as nações, expressando-se através de mensagens de ódio.
O Papa Francisco faz o apelo a todos os
Bispos: “como gostaria que o nosso modo de comunicar e também o nosso serviço
de pastores na Igreja nunca expressassem o orgulho soberbo do triunfo sobre um
inimigo, nem humilhassem aqueles que a mentalidade do mundo considera
perdedores e descartáveis”. Francisco vai frisar que a misericórdia pode ajudar
a mitigar as adversidades da vida e dar calor a quantos têm conhecido apenas a
frieza do julgamento. Seja o estilo da nossa comunicação capaz de superar a
lógica que separa nitidamente os pecadores dos justos. Podemos e devemos julgar
situações de pecado – violência, corrupção, exploração etc. –, mas não podemos
julgar as pessoas, porque só Deus pode ler profundamente no coração delas.
Ao falar de Comunicação e Misericórdia, o
Papa cita o Evangelho de João; “a verdade [nos] tornará livres” (Jo 8, 32). Em
última análise, esta verdade é o próprio Cristo, cuja misericórdia repassada de
mansidão constitui a medida do nosso modo de anunciar a verdade e condenar a
injustiça. Depois cita Ef 4, 15, para dizer: que é nosso dever principal
afirmar a verdade com amor. Assim, só palavras pronunciadas com amor e
acompanhadas por mansidão e misericórdia tocam os nossos corações de pecadores.
Palavras e gestos duros ou moralistas correm o risco de alienar ainda mais
aqueles que queríamos levar à conversão e à liberdade, reforçando o seu sentido
de negação e defesa. Por fim, encerra citando: Lc 15, 11-32, onde fala: “os pais
amavam-nos e apreciavam-nos mais pelo que somos do que pelas nossas capacidades
e os nossos sucessos. Naturalmente os pais querem o melhor para os seus filhos,
mas o seu amor nunca esteve condicionado à obtenção dos objetivos. A casa
paterna é o lugar onde sempre és bem-vindo”.
Será muito importante que tenhamos muitas
iniciativas para preparar e comemorar este dia em nossas comunidades, levando
adiante, assim, uma tradição iniciada logo depois do Concílio Vaticano II.
Portanto, que este Dia da Comunicação Social
faça com que este grande instrumento seja canal da graça e da misericórdia de
Deus para todos.
Fonte:
Jornal Testemunho de Fé, página 3.