D.
Orani João Tempesta
Cardeal
Arcebispo do Rio de Janeiro
Neste final de semana a Igreja celebra a
santidade de vida de São Pedro e São Paulo apóstolos. Estes santos são
considerados “os cabeças dos apóstolos” por terem sido os principais líderes da
Igreja Cristã Primitiva, tanto por sua fé e pregação, como pelo ardor e zelo
missionários, por isso chamados justamente de “príncipes dos Apóstolos”.
Pedro, que tinha como primeiro nome Simão,
era natural de Betsaida, irmão do Apóstolo André. Pescador, foi chamado pelo
próprio Jesus e, deixando tudo, seguiu o Mestre, estando presente nos momentos
mais importantes da vida do Senhor, que lhe deu o nome de Pedro.
Em sua fragilidade, fraco na fé, chegou a
negar Jesus durante o processo que culminaria em Sua morte por crucifixão. O
próprio Senhor o confirmou na fé após Sua ressurreição (da qual o apóstolo foi
testemunha), tornando-o intrépido pregador do Evangelho quando da descida do
Espírito Santo de Deus, no Dia de Pentecostes, o que o tornou líder da primeira
comunidade. Pregou no Dia de Pentecostes e selou seu apostolado com o próprio
sangue, pois foi martirizado em uma das perseguições aos cristãos, sendo
crucificado de cabeça para baixo a seu próprio pedido, por não se julgar digno
de morrer como seu Senhor, Jesus Cristo. Escreveu duas Epístolas e,
provavelmente, foi a fonte de informações para que São Marcos escrevesse seu
Evangelho. O Papa Francisco, na missa da Solenidade dos Apóstolos em 29 de
junho de 2014, disse: “O testemunho do apóstolo Pedro lembra-nos que o nosso
verdadeiro refúgio é a confiança em Deus: esta afasta todo o medo e torna-nos
livres de toda a escravidão e de qualquer tentação mundana”.
Paulo, cujo nome antes da conversão era Saulo
ou Saul, era natural de Tarso. Recebeu educação esmerada “aos pés de Gamaliel”,
um dos grandes mestres da Lei na época. Tornou-se fariseu zeloso, a ponto de
perseguir e aprisionar os cristãos, sendo responsável pela morte de muitos
deles.
Converteu-se à fé cristã no caminho de
Damasco, quando o próprio Senhor Ressuscitado lhe apareceu e o chamou para o
apostolado. Recebeu o batismo do Espírito Santo e preparou-se para o
ministério.
Esta Solenidade de São Pedro e São Paulo
dá-nos a oportunidade para algumas reflexões importantes. A Igreja é
apostólica. Esta é uma propriedade essencial. João, no Apocalipse, vê a
Jerusalém celeste fundada sobre doze alicerces com os nomes dos doze apóstolos
do Cordeiro (cf. 21,14). Eis: a Igreja não pode ser fundada por ninguém, a não
ser pelo próprio Senhor, que a estabeleceu sobre o testemunho daqueles Doze
primeiros que Ele mesmo escolheu. Seu alicerce, portanto, sua origem, seu
fundamento é o ministério e a pregação apostólica que, na força do Espírito
Santo, deverão perdurar até o fim dos tempos graças à sucessão apostólica dos
Bispos católicos, transmitida na Consagração episcopal. Dizer que nossa fé é
apostólica significa crer firmemente que a fé não pode ser inventada nem
tampouco deixada ao bel-prazer das modas de cada época; crer que a Igreja tem
como fundamento os Apóstolos significa afirmar que não somos nós, mas o Cristo,
no Espírito Santo, quem pastoreia e santifica a Igreja pelo ministério dos
legítimos sucessores dos Apóstolos. O critério daquilo que cremos, a regra da
nossa adesão ao Senhor Jesus, a norma da nossa fé é aquilo que recebemos dos
santos Apóstolos uma vez para sempre.
A eles e aos seus legítimos sucessores o
Senhor confiou a Sua Igreja, concedendo-lhes a autoridade com a unção do
Espírito para desempenharem o ofício de guiar o Seu rebanho pelos séculos a
fora.
Olhemos, irmãos amados, para Pedro e Paulo e
renovemos nosso firme propósito de nos manter alicerçados na fé católica e
apostólica que eles plantaram juntamente com os demais discípulos do Senhor.
Estejamos atentos para não perder a comunhão com a verdadeira fé, transmitida
de modo ininterrupto e fiel na Igreja de Cristo, santa, católica e apostólica.
Outro aspecto importante é o significado de
ser Apóstolo: ele não é somente aquele que prega Jesus, mas, sobretudo, aquele
que, escolhido pelo Senhor, com ele conviveu, nele viveu e, por ele, entregou
sua vida. Os apóstolos testemunharam Jesus não somente com a palavra, mas
também com o modo de viver e com a própria morte. Por isso mesmo, seu martírio
é uma festa para a Igreja, pois é o selo de tudo quanto anunciaram. O próprio
São Paulo reconhecia: “Não pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o
Senhor. Trazemos, porém, este tesouro em vasos de argila para que esse
incomparável poder seja de Deus e não nosso. Incessantemente trazemos em nosso
corpo a agonia de Jesus, a fim de que a vida de Jesus seja também manifestada
em nosso corpo. Assim, a morte trabalha em nós; a vida, porém, em vós” (2Cor 4,
5.7.10.12).
Eis
o sinal do verdadeiro Apóstolo: dar a vida pelo rebanho, com Jesus e como
Jesus, gastando-se, morrendo, para que os irmãos vivam no Senhor! Por isso,
caríssimos meus, a alegria da Igreja na Festa de hoje: Pedro e Paulo não só
falaram, não só viveram, mas também morreram pelo seu Senhor; e já sabemos pelo
próprio Cristo que não há maior prova de amor que dar a vida pelos outros!
Bem-aventurado é Pedro, bendito é Paulo, que amaram tanto o Senhor a ponto de
darem a vida por ele! Nisto são um exemplo, um modelo, uma norma de vida para
todos nós. Aprendamos com eles! Rezemos neste dia pelo Papa Francisco, pois
hoje é também o Dia do Papa. Deus o conserve como sucessor do Apóstolo Pedro!
Lembro as oportunas palavras do Papa
Francisco aos Arcebispos em 29 de junho de 2014, que é atualíssima para todos
nós, particularmente na alegria de anunciarmos o Evangelho da Esperança, não só
aos ministros ordenados, mas a todos os homens e mulheres de boa vontade:
“Hoje, o Senhor repete a mim, a vós e a todos os Pastores: Segue-Me! Não percas
tempo em questões ou conversas inúteis; não te detenhas nas coisas secundárias,
mas fixa-te no essencial e segue-Me. Segue-Me, não obstante as dificuldades.
Segue-Me na pregação do Evangelho. Segue-Me no testemunho duma vida que
corresponda ao dom da graça do Batismo e da Ordenação. Segue-Me quando falas de
Mim às pessoas com quem vives dia-a-dia, na fadiga do trabalho, do diálogo e da
amizade. Segue-Me no anúncio do Evangelho a todos, especialmente aos últimos,
para que a ninguém falte a Palavra de vida, que liberta de todo o medo e dá a
confiança na fidelidade de Deus. Tu segue-Me”!
Fonte:
http://arqrio.org/formacao/detalhes/784/pedro-e-paulo