D.
Orani João Tempesta
Cardeal
Arcebispo do Rio de Janeiro
A Igreja no Brasil dedica o mês de outubro às
missões. Cada ano há um tema específico. Outubro é o Mês das Missões, um
período de intensificação das iniciativas de animação e cooperação missionária
em todo o mundo. O objetivo é sensibilizar, despertar vocações missionárias e
realizar a Coleta no Dia Mundial das Missões, penúltimo domingo de outubro
(este ano nos dias 22 e 23), conforme instituído pelo Papa Pio XI em 1926.
O tema escolhido para a Campanha Missionária
em 2016: “Cuidar da Casa Comum é nossa missão”. O lema é extraído da narrativa
da criação, no livro do Gênesis: “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1, 31).
O projeto do Criador é maravilhoso, mas encontra-se ameaçado! A preocupação
pela ecologia parte de dois gritos: o grito dos pobres, que mais sofrem, e o
grito da terra, que geme pela exploração. A temática retoma a Campanha da
Fraternidade Ecumênica deste ano e amplia a missão de cuidar da vida em todo o
planeta.
Na Encíclica Laudato Si’, o Papa Francisco
adverte que “a existência humana se baseia em três relações intimamente
ligadas: as relações com Deus, com o próximo e com a terra” (LS 66). E lança
uma pergunta: “Que tipo de mundo queremos deixar a quem nos suceder, às
crianças que estão crescendo?” (LS 160). Em nossa Casa Comum tudo está
interligado, unido por laços invisíveis, como uma única família universal. E
nós recebemos de Deus a missão de cuidar dessas relações. Isso tem a ver com a
missão da Igreja. Queremos fazer do cuidado do planeta a nossa missão até os
confins do mundo. Diante da crise socioambiental, nem todos temos de ser
especialistas e saber tudo, mas temos o dever de mudar nossos hábitos e apoiar
ações práticas.
Outubro é um tempo forte para se intensificar
as orações e os trabalhos de missão. A dimensão missionária é a mais profunda
identidade da Igreja. Ela existe para continuar a missão de Cristo aqui na
Terra. No primeiro dia do mês, a Igreja celebra o dia de Santa Teresinha do
Menino Jesus, a padroeira das missões. Uma santa doutora da Igreja que faleceu
aos 24 anos, no convento; é conhecida por ser uma santa com vida simples, sem
feitos extraordinários. Por ser a padroeira das missões, o exemplo da vida de
Santa Terezinha faz com que todos os cristãos se sintam compromissados com a
evangelização, em levar a Palavra de Deus a todos os lugares e a todas as
pessoas.
A missão nos leva a viver o encontro com
Jesus em um dinamismo de conversão pessoal, pastoral e eclesial, capaz de
impulsionar à santidade e ao apostolado os batizados, e de atrair os que
abandonaram a Igreja, os que estão distantes do influxo do Evangelho e os que
ainda não experimentaram o dom da fé. Outubro é o mês missionário, assim como o
mês de agosto é dedicado às Vocações, e setembro à Bíblia.
No Brasil, as Pontifícias Obras Missionárias
(POM), com sede em Brasília (DF), têm a responsabilidade de organizar, todos os
anos, a Campanha Missionária, na qual colaboram a CNBB, por meio da Comissão
para a Ação Missionária e Cooperação Intereclesial, a Comissão para a Amazônia
e outros organismos que compõem o Conselho Missionário Nacional (Comina).
O objetivo é criar comunhão entre os diversos
aspectos da Missão e incentivar para o compromisso. Todas as famílias e
comunidades são convidadas a viverem com mais intensidade o Mês das Missões.
Com isso, a nossa Igreja no Brasil se fortalece e se abre com maior
generosidade para a Missão Universal além-fronteiras. Conforme o apelo do papa
Francisco, “não nos deixemos roubar o entusiasmo missionário!” (EG 80).
A intenção, em outubro, é promover uma
conscientização para lembrar aos fiéis cristãos a missão de cada um. Os
religiosos, religiosas, sacerdotes, membros de novas comunidades são
missionários e assim denominados, mas os leigos também têm o dever de
evangelizar.
Segundo o Papa Francisco, “o trabalho
missionário dedica esforço e tempo, como o vinhateiro misericordioso do
Evangelho (cf. Lc 13, 7-9; Jo 15, 1), com paciência para esperar os frutos
depois de anos de lenta formação; geram-se assim pessoas capazes de evangelizar
e fazer chegar o Evangelho onde ninguém esperaria vê-lo realizado. A Igreja
pode ser definida ‘mãe’, mesmo para aqueles que poderão um dia chegar à fé em
Cristo. Espero, pois, que o povo santo de Deus exerça o serviço materno da
misericórdia, que tanto ajuda os povos que ainda não conhecem o Senhor a
encontrá-lo e a amá-lo. Com efeito, a fé é dom de Deus e não fruto de
proselitismo, mas cresce graças à fé e à caridade dos evangelizadores, que são
testemunhas de Cristo. Quando os discípulos de Jesus percorrem as estradas do
mundo, é-lhes pedido aquele amor sem medida que tende a aplicar a todos a mesma
medida do Senhor; anunciamos o dom mais belo e maior que Ele nos ofereceu: a
sua vida e o seu amor” (Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das
Missões, Vaticano 15 de maio de 2016).
Portanto, peçamos a Maria, modelo missionário
para a Igreja, que ensine a todos, homens, mulheres e famílias, a gerar e
guardar por todo lado a presença viva e misteriosa do Senhor Ressuscitado, que
renova e enche de jubilosa misericórdia as relações entre as pessoas, as
culturas e os povos.
Fonte:
http://arqrio.org/formacao/detalhes/1483/dia-mundial-das-missoes