quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

As lições do Presépio

Pe. Cristiano Holtz
Vigário paroquial da Catedral de São Sebastião

Principal representação do Natal, o presépio foi idealizado por São Francisco de Assis em 1223 para retratar o nascimento de Jesus. Não é uma representação litúrgica, mas devocional. Contudo, vamos tentar lançar um olhar diferente sobre ele, contemplando suas partes a partir do valor litúrgico que cada uma possui:

a) Manjedoura: a palavra significa “lugar de se alimentar”. É o lugar onde se coloca o alimento para os rebanhos. Foi onde reclinaram Jesus após seu nascimento (Lc 2,7). Apesar da situação de abandono, é possível ler este fato como uma profecia sobre a vida de Jesus, pois na cidade de Belém (casa do pão), nasceu Aquele que disse: “Eu sou o Pão da vida” (Jo 6,35), e foi colocado na manjedoura, da mesma forma como mais tarde dirá: “Tomai todos e comei: isto é o meu corpo” (Mt 26,26).

b) São José: José, descendente de Davi (Lc 2,4), ao assumir Jesus como seu filho, dando-lhe o nome (Mt 1,21; Lc 2,21), deu-lhe a descendência de Davi, não pelo sangue, mas pela adoção (cf. Rm 4,13). É significativo recordar que, em Jesus, todos nos tornamos filhos e herdeiros, pela graça de Deus, e não mais pela Lei (cf. Gl 4,5.7).

c) Virgem Maria: Jesus nasceu de Maria, é “carne da nossa carne” (Gn 2,23). Nasceu como todos nós. Assim, podemos dizer, como lembra São Paulo no areópago: “Somos da raça do próprio Deus” (At 17,28). Agradeçamos a Deus por nos ter enviado seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a Lei, para nos resgatar (cf. Gl 4,4s).

d) Estrela: foi o sinal que guiou os Magos, indicando que Jesus havia nascido (Mt 2,2). Ora, por meio do profeta Daniel, o Senhor havia dito que “os que ensinam a muitos a justiça serão como estrelas, por toda a eternidade” (Dn 12,3). A estrela nos recorda os profetas, que instruíam o povo de Israel a deixar o mal e a praticar o bem (Is 1,16-17), reorientando-o para Deus, até que chegasse a luz que ilumina todo homem (Jo 1,9).

e) Anjo: a palavra “anjo” significa “mensageiro”. Foi um anjo que trouxe a notícia do nascimento de Jesus aos pastores (Lc 2,9). O anjo nos recorda o que diz o autor da Carta aos Hebreus logo no seu início: que agora Deus fala conosco por meio do seu Filho, ao qual todos os anjos devem adorar e servir (Hb 1,6). Sua missão é indicar Aquele que é a Boa Nova por excelência, o próprio Deus na carne humana.

f) Pastores e animais: os pastores receberam o anúncio do anjo e vieram contemplar o sinal que este lhes anunciara (Lc 2,9-16). Lá chegando, encontraram Aquele que é o Bom Pastor, que dá a vida pelas suas ovelhas (Jo 10,11), e que, mais tarde, constituirá os seus discípulos como pastores (Jo 21,15-17). Assim, os pastores serão também rebanho, alimentado e protegido pelo único Pastor.

g) Magos: não são do povo de Israel, mas, guiados pela estrela, reconheceram Jesus como o Rei dos judeus, oferecendo-lhe presentes. São imagem dos pagãos, associados à fé pela ação do Espírito Santo por meio da pregação do Evangelho (At 11,18). Isso significa que o Evangelho não tem fronteiras, pode chegar até onde haja um coração disposto a acolhê-lo generosamente, fazendo novos filhos de Deus pela graça (Jo 1,12-13). Recorda também que todo aquele que, ouvindo a Palavra, reconhece Jesus como Rei, deve estar disposto a abrir generosamente seus cofres e oferecer-lhe seus dons (Mt 2,11), não somente em sentido material, mas especialmente ofertando sua vida em favor dos irmãos, na partilha solidária, na escuta, no acolhimento mútuo e no perdão.

Que estas breves lições nos ajudem a celebrar bem o Natal do Senhor!

Fonte: http://arqrio.org/formacao/detalhes/1979/as-licoes-do-presepio