Pe. Cristiano Holtz
Vigário paroquial da Catedral de São
Sebastião
Principal representação do Natal, o presépio
foi idealizado por São Francisco de Assis em 1223 para retratar o nascimento de
Jesus. Não é uma representação litúrgica, mas devocional. Contudo, vamos tentar
lançar um olhar diferente sobre ele, contemplando suas partes a partir do valor
litúrgico que cada uma possui:
a) Manjedoura: a
palavra significa “lugar de se alimentar”. É o lugar onde se coloca o alimento
para os rebanhos. Foi onde reclinaram Jesus após seu nascimento (Lc 2,7).
Apesar da situação de abandono, é possível ler este fato como uma profecia
sobre a vida de Jesus, pois na cidade de Belém (casa do pão), nasceu Aquele que
disse: “Eu sou o Pão da vida” (Jo 6,35), e foi colocado na manjedoura, da mesma
forma como mais tarde dirá: “Tomai todos e comei: isto é o meu corpo” (Mt
26,26).
b) São José: José,
descendente de Davi (Lc 2,4), ao assumir Jesus como seu filho, dando-lhe o nome
(Mt 1,21; Lc 2,21), deu-lhe a descendência de Davi, não pelo sangue, mas pela
adoção (cf. Rm 4,13). É significativo recordar que, em Jesus, todos nos
tornamos filhos e herdeiros, pela graça de Deus, e não mais pela Lei (cf. Gl
4,5.7).
c) Virgem Maria: Jesus
nasceu de Maria, é “carne da nossa carne” (Gn 2,23). Nasceu como todos nós.
Assim, podemos dizer, como lembra São Paulo no areópago: “Somos da raça do
próprio Deus” (At 17,28). Agradeçamos a Deus por nos ter enviado seu Filho,
nascido de mulher, nascido sob a Lei, para nos resgatar (cf. Gl 4,4s).
d) Estrela: foi
o sinal que guiou os Magos, indicando que Jesus havia nascido (Mt 2,2). Ora,
por meio do profeta Daniel, o Senhor havia dito que “os que ensinam a muitos a
justiça serão como estrelas, por toda a eternidade” (Dn 12,3). A estrela nos
recorda os profetas, que instruíam o povo de Israel a deixar o mal e a praticar
o bem (Is 1,16-17), reorientando-o para Deus, até que chegasse a luz que ilumina
todo homem (Jo 1,9).
e) Anjo: a
palavra “anjo” significa “mensageiro”. Foi um anjo que trouxe a notícia do
nascimento de Jesus aos pastores (Lc 2,9). O anjo nos recorda o que diz o autor
da Carta aos Hebreus logo no seu início: que agora Deus fala conosco por meio
do seu Filho, ao qual todos os anjos devem adorar e servir (Hb 1,6). Sua missão
é indicar Aquele que é a Boa Nova por excelência, o próprio Deus na carne
humana.
f) Pastores e animais: os
pastores receberam o anúncio do anjo e vieram contemplar o sinal que este lhes
anunciara (Lc 2,9-16). Lá chegando, encontraram Aquele que é o Bom Pastor, que
dá a vida pelas suas ovelhas (Jo 10,11), e que, mais tarde, constituirá os seus
discípulos como pastores (Jo 21,15-17). Assim, os pastores serão também rebanho,
alimentado e protegido pelo único Pastor.
g) Magos: não
são do povo de Israel, mas, guiados pela estrela, reconheceram Jesus como o Rei
dos judeus, oferecendo-lhe presentes. São imagem dos pagãos, associados à fé
pela ação do Espírito Santo por meio da pregação do Evangelho (At 11,18). Isso
significa que o Evangelho não tem fronteiras, pode chegar até onde haja um
coração disposto a acolhê-lo generosamente, fazendo novos filhos de Deus pela
graça (Jo 1,12-13). Recorda também que todo aquele que, ouvindo a Palavra,
reconhece Jesus como Rei, deve estar disposto a abrir generosamente seus cofres
e oferecer-lhe seus dons (Mt 2,11), não somente em sentido material, mas
especialmente ofertando sua vida em favor dos irmãos, na partilha solidária, na
escuta, no acolhimento mútuo e no perdão.
Que
estas breves lições nos ajudem a celebrar bem o Natal do Senhor!
Fonte:
http://arqrio.org/formacao/detalhes/1979/as-licoes-do-presepio