Cardeal
Arcebispo do Rio de Janeiro
Prezados(as) irmãos(ãs), com o coração cheio de
júbilo, comemoro com todos os meus queridos diocesanos meus nove anos à frente
desta amada arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro.
Não posso, de modo algum, no entanto, deixar de
lembrar com muita gratidão das demais mulheres e homens de fé de várias
localidades do Brasil por onde passei. Destaco, de um modo especial, São José
do Rio Pardo, cidade na qual nasci, recebi os sacramentos da Iniciação cristã e
comecei, por pura graça de Deus, meu caminho vocacional no mosteiro Nossa
Senhora de São Bernardo, hoje abadia. Fui seu primeiro abade. De São José do
Rio Preto, SP, e Belém do Pará, onde pude servir como bispo e arcebispo,
respectivamente, até ser transferido aqui para o Rio de Janeiro por Sua
Santidade, o Papa Bento XVI, por quem, agradecido, rezo pelo seu aniversário
natalício, de 91 anos, no dia 16 último. Agradeço também ao Santo Padre, o Papa
Francisco por ter me escolhido para o Colégio Cardinalício. Tal escolha é, sem
dúvida, uma grande deferência do Sumo Pontífice para com este filho devotado da
Igreja, mas não deixa de representar para mim um grande compromisso de mais e
melhor servir ao Povo de Deus. Peço, desde já, a oração de todos para que eu
possa fazer frutificar os talentos que o Senhor me pediu para administrar.
Querido(a) irmão(ã), relendo o que lhes disse,
em minha posse, julguei oportuno recordar alguns grandes pontos a fim de
reafirmar meu compromisso diante de Deus, de quem procede todas as bênçãos e
graças, e perante cada um(a) que o Senhor colocou à minha frente para que eu
possa servir e amar, como o próprio Cristo quer servir e amar, hoje, na pessoa
de seus ministros. Estamos à frente de uma diocese para dar testemunho vivo
desse amor misericordioso do Senhor para com a humanidade sofredora. Ajudem-me
com suas preciosas orações!
Venho da experiência de uma vida monástica, que
me educou sobre a importância da vida comunitária e a necessidade de uma
espiritualidade eclesial para que nossas ações sejam inspiradas na Palavra de
Deus e no encontro com o Cristo Vivo. Não tenho como olvidar essa
característica, que, longe de me afastar, me fez amar e sentir com a Igreja, na
Oração e no Trabalho. A necessidade de uma vida em comunidade está na raiz de
minha vocação e em minha experiência monástica.
Venho do serviço a uma Igreja viva do Oeste
Paulista – São José do Rio Preto, onde aprendi a necessidade de ouvir sempre e
partilhar e olhar com carinho e amor todo o povo de Deus. A presença de tantos
presbíteros, seminaristas, religiosas, consagrados e cristãos leigos demonstram
os laços que nos unem e que Deus construiu na minha caminhada Diocesana.
Alegro-me pela presença de tantos dessa minha primeira Diocese.
Venho de uma terra calorosa, não só pela
proximidade do Equador, mas pelo seu povo moreno e amoroso que, além da
fidelidade a Cristo e à Igreja, no meio de tantas dificuldades dá ao mundo um
sinal grandioso de sua piedade popular no Círio de Nazaré, e que me fez aprofundar
nas questões amazônicas e sentir de perto as necessidades, angústias e sonhos
de um povo. Como esquecer aqueles que me cativaram e, consequentemente, se
tornaram responsáveis pela minha caminhada futura? Sei que venho carregado
pelas orações de milhões de paraenses e com o compromisso de continuarmos
amigos para sempre! Continuem unidos e animados no trabalho de Evangelização!
Obrigado pelo carinho, acolhimento e partilha!
Venho de uma experiência onde a importância da
comunicação se injetou em minhas veias, quando os irmãos Bispos me escolheram
para servir à Igreja do Brasil nessa área, juntamente com a cultura e a
educação, já no segundo e último mandato nessa comissão episcopal da CNBB.
Como lhes disse, há nove anos, acredito que a
missão do Bispo Diocesano é de ser pastor de um povo e servir com alegria a
todos, de tal forma que caminhemos juntos em busca da santidade. É claro que
isso não exclui a administração e a disciplina necessárias para que tudo corra
com ordem na casa do Senhor. Eu acredito também que a transição episcopal se
faz recebendo, junto com o povo, também as conquistas e passos de uma
comunidade. Por isso não há ruptura e sim uma caminhada que continua.
Depois de tantas alegrias e dificuldades
passadas e superadas em verdadeira comunhão, só me resta agradecer a
colaboração de todos os Bispos auxiliares, presbíteros, diáconos, seminaristas,
consagrados e consagradas e todos os cristãos leigos que têm levado adiante a
missão de evangelizar e catequizar diuturnamente. Sem o seu auxílio meu
ministério seria, com certeza, menos profícuo.
Recordo ainda que todas as minhas decisões
tiveram em Maria a inspiração para responder o Sim a Deus, que me chamou
através da Igreja. Desde inícios de minha vocação sacerdotal e religiosa
até agora, quando foi para responder à nomeação do Santo Padre o Papa Bento XVI
para servir a esta nossa Arquidiocese. Muitas vezes me vi dizendo a mesma
resposta: como acontecerá isso? Será que tenho possibilidade? Mas, inspirado
por Maria, desejo que minhas respostas ao Plano de Deus sejam sempre o “faça-se
em mim segundo a tua palavra”.
São Bernardo, em seu sermão sobre esse texto,
medita que quando o “anjo retirou-se”, a maravilha da encarnação se concretizou
por obra do Espírito Santo. Também eu peço hoje, como há nove anos, ao Pai para
que o Seu Espírito fecunde o ministério iniciado, com grande confiança, aqui no
Rio de Janeiro. Confio no Senhor que me chamou e até aqui me conduziu. Tenho
certeza de que não irei ficar decepcionado.
Recordo com carinho todos os sinais marianos em
minha vida desde a oração de criança diante da imagem de N. Sra. de Fátima
antes e após a catequese na Igreja Matriz de São José do Rio Pardo; os pedidos
diante da imagem peregrina de N. Sra. Aparecida na época da juventude na mesma
cidade natal; o ingresso na ordem cisterciense que tem como padroeira Maria, e
o costume de colocar em todas as abadias o nome de N. Sra. Recordo-me de que
foi invocando o “sim” de Maria que o então Bispo Diocesano de S. João da Boa
Vista me animou a dar o sim para o episcopado quando da minha nomeação para São
José do Rio Preto.
É significativo lembrar que tanto para a
nomeação para Belém como para o Rio de Janeiro sempre foi dentro de um clima
Mariano, ou pelo local ou pelo evento. A experiência do Círio de Nazaré ficará
marcada para sempre em minha vida e memória, como exemplo de um povo Mariano
que ainda traz em sua cultura e formação esses sinais. Peço a Virgem Maria,
portanto, que rogue sempre por nós.
Relembro também o meu lema que tem me
acompanhado desde a juventude: “Que todos sejam um!” Ele manifesta a minha
convicção de que na diversidade de dons e carismas que temos na Igreja, temos
uma grande riqueza, mas que na unidade entre todos nós temos a própria razão da
evangelização – para que o mundo creia! Estou convicto de que, se não formos
unidos, todos os nossos trabalhos, por mais precisos e amplos que forem, serão
insuficientes para a nossa missão evangelizadora. Por isso, convoco, de novo,
todos os padres, diáconos, consagrados, consagradas, religiosas e religiosos,
seminaristas, agentes de pastoral, movimentos, comunidades, pastorais de nossa
Arquidiocese a se empenharem na busca de uma unidade afetiva e efetiva. Dessa
forma, com uma vida convertida, tenho certeza de que seremos sinais de Jesus
Cristo na história de hoje.
Mas essa unidade é também necessária para o
nosso tempo tão violento e intolerante. Tivemos nesta quaresma, a convite da
CNBB, a Campanha da Fraternidade a recordar a fraternidade e a superação da
violência. Somos todos irmãos. É possível o ecumenismo! É possível o diálogo
religioso! É possível o diálogo com as culturas! É possível o diálogo com as
pessoas de boa vontade que querem construir um mundo mais justo e humano! Na
verdade, todos nós nos encontramos na construção do bem comum. A nossa
sociedade sofre uma carência enorme dessa unidade e nós, cristãos, somos
chamados a ser sinais de que tudo isso é possível.
Também somos, como os discípulos dos Atos dos
Apóstolos, chamados a viver a nossa fé no amor mútuo: “podemos saber que amamos
os filhos de Deus quando amamos a Deus e guardamos os seus mandamentos”,
recorda-nos hoje a primeira carta de João, e, nesse sentido, como cristãos, não
podemos deixar de, ao anunciar o Evangelho, estarmos comprometidos com o nosso
próximo e com um trabalho de presença com ações concretas nesta sociedade.
Viver os mandamentos, amarmos a Deus e, consequentemente, amarmos o próximo,
como nos recorda a Palavra hoje, lembrando-nos de como Cristo explicou o que
significa “amar o próximo” na parábola do bom samaritano. Meu próximo é todo
aquele que precisa de mim, independente de onde mora, da cultura,
nacionalidade. Religião ou condição social etc.
Que o Cristo Redentor, que de braços abertos
acolhe a todos em seu Santuário Arquidiocesano, nos faça experimentar as bênçãos
de Deus para todos os que aqui residem ou que por aqui passam. Que o povo assim
abençoado tenha a paz em suas fronteiras e seja testemunho do Ressuscitado, foi
meu pedido há nove anos e hoje.
Desejo agradecer por tudo o que juntos pudemos
fazer, na graça de Deus; pedir perdão por algo que eu possa ter errado, embora
mesmo em possíveis erros tenha buscado acertar e jamais (jamais) ferir ou
prejudicar a quem quer que seja. Peço, por fim, que não se esqueçam de mim e de
meu ministério em suas preciosas orações diárias, pois, de minha parte,
asseguro que nunca deixei, ao longo desses nove anos, de rezar por você e por
sua família, em suas necessidades tão bem conhecidas por Deus.
Peçam a Deus, por intercessão de Nossa Senhora
da Conceição Aparecida, que eu seja um bispo segundo o coração misericordioso
de Jesus. Amém.
Fonte:
http://www.cnbb.org.br/ha-nove-anos-no-rio-de-janeiro/