No quarto domingo de agosto, dentro do Mês
Vocacional, a Igreja celebra a vocação dos leigos e leigas, e exalta, em
particular, a pessoa do catequista. São homens e mulheres que, decididos a
servirem o Senhor, que os tirou da casa da escravidão (Js 24, 17), passam a
transmitir “os rudimentos da doutrina de Cristo” (Hb 6, 1), como agentes da
Iniciação à Vida Cristã, junto a crianças e adultos, em nossas paróquias. A
liturgia deste domingo põe em relevo a nobre tarefa de se conduzir outros ao
encontro com o Ressuscitado - cujas palavras “são espírito e vida” - para que,
descobrindo “quão suave é o Senhor” (Sl 33), experimentem a alegria do
Evangelho; e, no discipulado, cheguem também à feliz indagação de Pedro: se não
a Cristo, “a quem iremos?” (Jo 6, 69).
Em sua mensagem para o Dia Nacional do
Catequista, o presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação
Bíblico-Catequética da CNBB, Dom José Antônio Peruzzo, afirma que “foi grande a
sabedoria que inspirou a inserção deste dia nos quadros do Mês Vocacional. As
palavras ‘voz’ e ‘vocação’ vêm da mesma raiz latina. E é assim que a Igreja os
reconhece, queridos e queridas catequistas. São evangelizadores que respondem a
um apelo que lhes ressoa desde dentro, desde o coração”, diz ele.
A coordenadora arquidiocesana da Iniciação à
Vida Cristã, irmã Patrícia Violeta de Maria, da Congregação de Nossa Senhora de
Belém, recorda o ensinamento da mãe fundadora, Madre Maria Helena Cavalcanti:
“Catequizar é ensinar a ver Deus na transparência das coisas”. Segundo a irmã
Violeta, “o trabalho de evangelização, exercido pelos catequistas, vai além
daquele encontro semanal. É necessário que atinja todo o seu ser e tudo o que
faz parte de sua vida, para que sua pupila esteja dilatada pelo ‘colírio’ da
fé, levando-o a enxergar a presença de Deus em todos os acontecimentos de sua
vida”.
Confira, aqui, a experiência de quatro
catequistas da Arquidiocese do Rio, que se empenham na educação da fé de nossas
crianças, jovens, adultos e pessoas especiais:
Maria
de Lourdes Lima de Souza
Coordenadora
da Catequese Especial no Vicariato Norte
“Sou catequista há 40 anos, mas há 32
comecei, por curiosidade, a trabalhar com a catequese especial. Ouvia falar a
respeito de um curso, na Paróquia Santo Afonso, na Tijuca, e ficava intrigada
para saber como era exatamente. Eu já era catequista e, em 1986, decidi me
inscrever. Fui à paróquia e levei outras pessoas comigo. O curso, porém, não
estava sendo oferecido na ocasião. Entretanto, havia a turma de catequese
especial e estava acontecendo o encontro. Lembro-me, como se fosse hoje, o
tema: ‘Jesus, nosso melhor amigo’. Vi que era uma catequese muito audiovisual,
muito lúdica, tudo era ensinado muito ‘mastigadinho’. Havia em torno de dez
crianças; algumas com Síndrome de Down, outras eram autistas ou tinham leve
paralisia cerebral. Nesse primeiro encontro, eu observava tudo, querendo saber
se, de fato, elas eram capazes de aprender alguma coisa sobre a fé, se era
possível mesmo evangelizá-las. Eu realmente não acreditava que fosse possível.
Mas sentei-me junto a um menino que a todo momento tirava e punha os óculos,
procurando por um coleguinha de nome Vinícius. A todo instante ele perguntava:
‘Cadê o Vinícius?’ De repente, ouvimos bater à porta, e entrou um outro
garotinho. Ao ver quem havia entrado, o menino junto a mim ajoelhou-se e ergueu
as mãozinhas para o céu, dizendo: ‘Nossa Senhora, graças a Deus, o Vinícius
chegou!’ Aquilo foi um ‘puxão de orelha’ divino, para mim. Entendi que ele
estava rezando, aflito, pela chegada do amiguinho. A partir desse dia, eu tive
a prova de que eles realmente compreendem a fé. E a catequese especial se
tornou minha grande paixão. Ela é toda inclusão e acolhimento. E as crianças
interagem, realmente, e correspondem com muito amor.”
Annette
Fernandes Netto
Assessora
arquidiocesana da Pastoral de Batismo
“Pertenço à Pastoral do Batismo desde 1992.
Como todos sabem, sem este primeiro sacramento, os outros todos não acontecem
na vida cristã. Por isso, costumo dizer que, dependendo de como se dá o
acolhimento, no nosso caso, de pais e padrinhos, eles retornarão ou não, para
buscarem os demais sacramentos, tanto para seus filhos e afilhados, quanto para
si próprios. A orientação é para que haja no mínimo dois encontros de
preparação para o Batismo. Não são aulas, mas, sim, encontros, para um
bate-papo informal sobre o sacramento, durante os quais introduzimos as
primeiras noções da fé e ‘aparamos as arestas’, ou seja, as noções distorcidas
que eles trazem. Normalmente, no primeiro encontro, as pessoas chegam
visivelmente contrariadas; desejariam apenas batizar e pronto! No entanto, os
encontros são uma exigência para que a criança seja batizada. Então, se o
acolhimento é bem feito, é gratificante; e até nos serve de ‘termômetro’, as
pessoas regressarem entusiasmadas, entendendo a proposta do encontro, já mais
familiarizadas com a equipe e com as outras famílias. Os encontros ajudam a que
percebam que, durante o tempo em que elas se mantiveram afastadas da Igreja,
elas foram colocando ideias na cabeça muito diferentes de como as coisas são ou
se passam, realmente, na Igreja; percebem que nem tudo é exatamente como foram
levados a acreditar. Isso serve para desestigmatizar e fazer com que as pessoas
queiram regressar e viver a sua fé, como deve viver todo cristão.”
Iara
de Oliveira Santos Menezes
Coordenadora
da Catequese Infantil e Perseverança
“Atuo na Catequese Infantil há 40 anos.
Entendo que essa é uma missão muito desafiadora. Falar de Jesus para crianças,
com toda a influência midiática que temos, hoje; levá-las a perceber que Jesus
é uma pessoa real e que Ele, realmente, está vivo não é uma tarefa fácil.
Devemos, em todo o nosso serviço pastoral, envolver também as famílias. Muitas
vezes recebemos responsáveis que procuram a Catequese como ‘rito de passagem’,
a criança já é batizada, alfabetizada, já completou sete anos, tem que fazer a
Primeira Eucaristia. Então, em meio ao nosso trabalho, com a ação do Espírito
Santo, se essa ideia do rito de passagem vai embora, ficamos muito felizes,
sobretudo porque vemos a família se inserindo na vida pastoral. Por vezes,
também, pais e mães que, motivados pelos filhos, manifestam o interesse em
receber os outros sacramentos. Temos desafios diferentes com crianças e
adolescentes; a linguagem é diferenciada, e o material deve ser de acordo com a
linguagem própria. A Perseverança é o grupo que dá continuidade aos encontros,
após a Primeira Eucaristia; e, para esse segmento, também deve haver material e
abordagem diferenciados e específicos. Nossa missão é ser Jesus para o outro. O
catequista que não consegue ser Cristo para o outro, dificilmente conseguirá
levar sua missão em frente. Sou uma apaixonada por Jesus e uma defensora
daquilo que a Igreja, de fato, orienta, ensina. Procuro transmitir a
autenticidade da nossa fé, sob a luz do Espírito Santo e com o ‘Alimento’ Jesus
na minha vida. Se não for dessa forma, eu estou nessa missão para nada.”
Jandira
dos Santos Cesar Ferreira
Assessora da Iniciação à Vida Cristã de Jovens e Adultos
Assessora da Iniciação à Vida Cristã de Jovens e Adultos
“Já fui de Grupo Jovem, já fui da Pastoral da
Juventude, da Liturgia, e creio que, de tudo, guardei o melhor: a catequese. Há
uma frase de Madre Maria Helena Cavalcante que eu trouxe para a minha vida,
desde que a ouvi pela primeira vez: ‘Catequista é jardineiro de gente’. Vejo,
nessa frase linda, o trabalho que fazemos com os adultos. São pessoas que vêm,
imersas em todo tipo de realidades; e vêm sempre buscando alguma coisa, seja
pelo amor ou pela dor. Nos últimos tempos tem sido mais assim: são pessoas que
nos chegam muito sofridas. Então, nessa perspectiva de Madre Maria Helena, nós
catequistas somos instrumentos de Deus para perceber uma planta em potencial,
que devemos cultivar, fazer se desenvolver, podando, colocando adubo, que é a
Palavra de Deus, é a força do Sacramento, é a doação de si mesmo, para que
essas pessoas tenham seu encontro com Jesus. Este é o nosso foco principal.
Sobretudo, em meio a situação cultural que estamos vivendo: ideologia de
gênero, aborto etc, é fundamental que façamos um trabalho de conscientização do
jovem e do adulto. A partir, mesmo, da orientação do Papa João Paulo II, no
documento Catequese Renovada, em que ele exorta que o catequista de jovens e
adultos deve ser um agente mais consciente, mais bem formado. O adulto é quem
toma decisão; é quem vota; o adulto é que constitui família, exerce uma
profissão, marca sua posição na sociedade. Um cristão mal formado vai refletir
isso na sociedade e na vida pastoral. Por isso, é um trabalho que exige muito
do catequista, porque, durante todo o ciclo de formação daquela pessoa, é
impossível não se envolver com a realidade dela; muitas vezes, o catequista é
visto como uma referência, e nós temos que desfazer essa impressão, mostrar que
Jesus é que tem que ser o ‘norte’, a referência da vida dela. Por tudo isso, a
catequese, para mim, é a forma que eu, Jandira, tenho de agradecer a Deus por
tudo o que Ele tem me dado e feito por mim: transmitir às pessoas a Sua
presença e o Seu Amor, como forma de retribuir toda a graça que Ele derrama
sobre a minha vida, todos os dias.”
Foto:
Carlos Moioli
Fonte:
http://arqrio.org/noticias/detalhes/6931/catequistas-leigos-e-leigas-na-jardinagem-da-fe