sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Catequistas: leigos e leigas na jardinagem da fé

No quarto domingo de agosto, dentro do Mês Vocacional, a Igreja celebra a vocação dos leigos e leigas, e exalta, em particular, a pessoa do catequista. São homens e mulheres que, decididos a servirem o Senhor, que os tirou da casa da escravidão (Js 24, 17), passam a transmitir “os rudimentos da doutrina de Cristo” (Hb 6, 1), como agentes da Iniciação à Vida Cristã, junto a crianças e adultos, em nossas paróquias. A liturgia deste domingo põe em relevo a nobre tarefa de se conduzir outros ao encontro com o Ressuscitado - cujas palavras “são espírito e vida” - para que, descobrindo “quão suave é o Senhor” (Sl 33), experimentem a alegria do Evangelho; e, no discipulado, cheguem também à feliz indagação de Pedro: se não a Cristo, “a quem iremos?” (Jo 6, 69).
Em sua mensagem para o Dia Nacional do Catequista, o presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética da CNBB, Dom José Antônio Peruzzo, afirma que “foi grande a sabedoria que inspirou a inserção deste dia nos quadros do Mês Vocacional. As palavras ‘voz’ e ‘vocação’ vêm da mesma raiz latina. E é assim que a Igreja os reconhece, queridos e queridas catequistas. São evangelizadores que respondem a um apelo que lhes ressoa desde dentro, desde o coração”, diz ele.
A coordenadora arquidiocesana da Iniciação à Vida Cristã, irmã Patrícia Violeta de Maria, da Congregação de Nossa Senhora de Belém, recorda o ensinamento da mãe fundadora, Madre Maria Helena Cavalcanti: “Catequizar é ensinar a ver Deus na transparência das coisas”. Segundo a irmã Violeta, “o trabalho de evangelização, exercido pelos catequistas, vai além daquele encontro semanal. É necessário que atinja todo o seu ser e tudo o que faz parte de sua vida, para que sua pupila esteja dilatada pelo ‘colírio’ da fé, levando-o a enxergar a presença de Deus em todos os acontecimentos de sua vida”.
Confira, aqui, a experiência de quatro catequistas da Arquidiocese do Rio, que se empenham na educação da fé de nossas crianças, jovens, adultos e pessoas especiais:


Maria de Lourdes Lima de Souza
Coordenadora da Catequese Especial no Vicariato Norte
“Sou catequista há 40 anos, mas há 32 comecei, por curiosidade, a trabalhar com a catequese especial. Ouvia falar a respeito de um curso, na Paróquia Santo Afonso, na Tijuca, e ficava intrigada para saber como era exatamente. Eu já era catequista e, em 1986, decidi me inscrever. Fui à paróquia e levei outras pessoas comigo. O curso, porém, não estava sendo oferecido na ocasião. Entretanto, havia a turma de catequese especial e estava acontecendo o encontro. Lembro-me, como se fosse hoje, o tema: ‘Jesus, nosso melhor amigo’. Vi que era uma catequese muito audiovisual, muito lúdica, tudo era ensinado muito ‘mastigadinho’. Havia em torno de dez crianças; algumas com Síndrome de Down, outras eram autistas ou tinham leve paralisia cerebral. Nesse primeiro encontro, eu observava tudo, querendo saber se, de fato, elas eram capazes de aprender alguma coisa sobre a fé, se era possível mesmo evangelizá-las. Eu realmente não acreditava que fosse possível. Mas sentei-me junto a um menino que a todo momento tirava e punha os óculos, procurando por um coleguinha de nome Vinícius. A todo instante ele perguntava: ‘Cadê o Vinícius?’ De repente, ouvimos bater à porta, e entrou um outro garotinho. Ao ver quem havia entrado, o menino junto a mim ajoelhou-se e ergueu as mãozinhas para o céu, dizendo: ‘Nossa Senhora, graças a Deus, o Vinícius chegou!’ Aquilo foi um ‘puxão de orelha’ divino, para mim. Entendi que ele estava rezando, aflito, pela chegada do amiguinho. A partir desse dia, eu tive a prova de que eles realmente compreendem a fé. E a catequese especial se tornou minha grande paixão. Ela é toda inclusão e acolhimento. E as crianças interagem, realmente, e correspondem com muito amor.”

Annette Fernandes Netto
Assessora arquidiocesana da Pastoral de Batismo
“Pertenço à Pastoral do Batismo desde 1992. Como todos sabem, sem este primeiro sacramento, os outros todos não acontecem na vida cristã. Por isso, costumo dizer que, dependendo de como se dá o acolhimento, no nosso caso, de pais e padrinhos, eles retornarão ou não, para buscarem os demais sacramentos, tanto para seus filhos e afilhados, quanto para si próprios. A orientação é para que haja no mínimo dois encontros de preparação para o Batismo. Não são aulas, mas, sim, encontros, para um bate-papo informal sobre o sacramento, durante os quais introduzimos as primeiras noções da fé e ‘aparamos as arestas’, ou seja, as noções distorcidas que eles trazem. Normalmente, no primeiro encontro, as pessoas chegam visivelmente contrariadas; desejariam apenas batizar e pronto! No entanto, os encontros são uma exigência para que a criança seja batizada. Então, se o acolhimento é bem feito, é gratificante; e até nos serve de ‘termômetro’, as pessoas regressarem entusiasmadas, entendendo a proposta do encontro, já mais familiarizadas com a equipe e com as outras famílias. Os encontros ajudam a que percebam que, durante o tempo em que elas se mantiveram afastadas da Igreja, elas foram colocando ideias na cabeça muito diferentes de como as coisas são ou se passam, realmente, na Igreja; percebem que nem tudo é exatamente como foram levados a acreditar. Isso serve para desestigmatizar e fazer com que as pessoas queiram regressar e viver a sua fé, como deve viver todo cristão.”

Iara de Oliveira Santos Menezes
Coordenadora da Catequese Infantil e Perseverança
“Atuo na Catequese Infantil há 40 anos. Entendo que essa é uma missão muito desafiadora. Falar de Jesus para crianças, com toda a influência midiática que temos, hoje; levá-las a perceber que Jesus é uma pessoa real e que Ele, realmente, está vivo não é uma tarefa fácil. Devemos, em todo o nosso serviço pastoral, envolver também as famílias. Muitas vezes recebemos responsáveis que procuram a Catequese como ‘rito de passagem’, a criança já é batizada, alfabetizada, já completou sete anos, tem que fazer a Primeira Eucaristia. Então, em meio ao nosso trabalho, com a ação do Espírito Santo, se essa ideia do rito de passagem vai embora, ficamos muito felizes, sobretudo porque vemos a família se inserindo na vida pastoral. Por vezes, também, pais e mães que, motivados pelos filhos, manifestam o interesse em receber os outros sacramentos. Temos desafios diferentes com crianças e adolescentes; a linguagem é diferenciada, e o material deve ser de acordo com a linguagem própria. A Perseverança é o grupo que dá continuidade aos encontros, após a Primeira Eucaristia; e, para esse segmento, também deve haver material e abordagem diferenciados e específicos. Nossa missão é ser Jesus para o outro. O catequista que não consegue ser Cristo para o outro, dificilmente conseguirá levar sua missão em frente. Sou uma apaixonada por Jesus e uma defensora daquilo que a Igreja, de fato, orienta, ensina. Procuro transmitir a autenticidade da nossa fé, sob a luz do Espírito Santo e com o ‘Alimento’ Jesus na minha vida. Se não for dessa forma, eu estou nessa missão para nada.”

Jandira dos Santos Cesar Ferreira
Assessora da Iniciação à Vida Cristã de Jovens e Adultos
“Já fui de Grupo Jovem, já fui da Pastoral da Juventude, da Liturgia, e creio que, de tudo, guardei o melhor: a catequese. Há uma frase de Madre Maria Helena Cavalcante que eu trouxe para a minha vida, desde que a ouvi pela primeira vez: ‘Catequista é jardineiro de gente’. Vejo, nessa frase linda, o trabalho que fazemos com os adultos. São pessoas que vêm, imersas em todo tipo de realidades; e vêm sempre buscando alguma coisa, seja pelo amor ou pela dor. Nos últimos tempos tem sido mais assim: são pessoas que nos chegam muito sofridas. Então, nessa perspectiva de Madre Maria Helena, nós catequistas somos instrumentos de Deus para perceber uma planta em potencial, que devemos cultivar, fazer se desenvolver, podando, colocando adubo, que é a Palavra de Deus, é a força do Sacramento, é a doação de si mesmo, para que essas pessoas tenham seu encontro com Jesus. Este é o nosso foco principal. Sobretudo, em meio a situação cultural que estamos vivendo: ideologia de gênero, aborto etc, é fundamental que façamos um trabalho de conscientização do jovem e do adulto. A partir, mesmo, da orientação do Papa João Paulo II, no documento Catequese Renovada, em que ele exorta que o catequista de jovens e adultos deve ser um agente mais consciente, mais bem formado. O adulto é quem toma decisão; é quem vota; o adulto é que constitui família, exerce uma profissão, marca sua posição na sociedade. Um cristão mal formado vai refletir isso na sociedade e na vida pastoral. Por isso, é um trabalho que exige muito do catequista, porque, durante todo o ciclo de formação daquela pessoa, é impossível não se envolver com a realidade dela; muitas vezes, o catequista é visto como uma referência, e nós temos que desfazer essa impressão, mostrar que Jesus é que tem que ser o ‘norte’, a referência da vida dela. Por tudo isso, a catequese, para mim, é a forma que eu, Jandira, tenho de agradecer a Deus por tudo o que Ele tem me dado e feito por mim: transmitir às pessoas a Sua presença e o Seu Amor, como forma de retribuir toda a graça que Ele derrama sobre a minha vida, todos os dias.”

Foto: Carlos Moioli

Fonte: http://arqrio.org/noticias/detalhes/6931/catequistas-leigos-e-leigas-na-jardinagem-da-fe