D.
Orani João Tempesta
Cardeal
Arcebispo do Rio de Janeiro
Todos os anos, no segundo domingo do mês de
agosto, nós celebramos a vocação e a missão de ser de Pai. Queridos pais, todos
vocês foram e são filhos! Ninguém é fonte absoluta de uma família.
Desejo-lhes a capacidade de olhar para trás e identificar o melhor que possa
existir na história de sua família. Há valores que passam de geração em geração
e a dignidade de sua família não se encontra apenas no nome, sem dúvida importante,
mas nas coisas boas de que vocês são guardiães. Vocês podem entrar em seu
próprio coração, recolhendo, como a criança que existe em cada um, as boas
sementes transmitidas pelos antepassados. Por falar em nome, já perceberam que
são vocês que o conservam e transmitem às gerações sucessivas? Sejam, pois,
dignos de manter aceso esse facho da dignidade das gerações!
A missão confiada aos pais não é assegurada
somente quando os filhos são apenas crianças. Precisamos ter bons mestres tanto
nos ensinamentos como em atitudes, e isso não cabe a nenhuma escola. Muitas
vezes, o acúmulo de coisas e outras preocupações pertinentes aos genitores
fazem passar despercebido o fato de que a formação do caráter dos filhos
depende deles.
A família – o Lar cristão – Igreja doméstica
– Santuário da vida – é a célula básica da sociedade. Deus nos coloca numa
família para que nela aprendamos a amar e, porque aprenderemos a amar sem
medidas, Ele espera que extravasemos esse amor para a vizinhança, para o
bairro, para toda a cidade, para o mundo. Quando Deus escolheu Maria para ser a
mãe do Verbo Encarnado, e José para ser pai adotivo de Jesus, Ele queria que o
Menino tivesse uma família aqui na Terra. Neste domingo, Dia dos Pais, é bom
refletir sobre esse dom. É uma referência excelente, tal o valor que o Pai
Eterno dá à família e à figura do pai: José, da casa de Davi. Ele foi escolhido
para ser o pai adotivo de Jesus Cristo: era um homem temente a Deus, honesto,
trabalhador, digno, carinhoso, extremamente religioso, colocando somente a sua
confiança em Deus. Assumiu a situação na fé! O pai é importante na família
porque seu exemplo, seu carinho, seu modo de ser vai influir grandemente na
formação do caráter dos filhos.
Os pais não serão julgados pelo valor dos
bens materiais que eles possam ou devam proporcionar a seus filhos: o que
realmente importa é a forma como o pai orienta seus filhos para Jesus Cristo e
qual o seu papel de modelo, de fidelidade, de valores ele realmente apresenta
no seio de sua família. Neste sentido, o pai é chamado a assegurar o
desenvolvimento harmonioso e de união entre todos os membros da sua família e
partilha com a esposa a formação dos filhos. Porém, compartilhamos também as
angústias de muitos pais, que hoje, frente às frustrações da procura por emprego
ou de desejo de dar o melhor pela sua família, sem poder fazê-lo olham com
preocupação a vida de sua família e o futuro de seus filhos. Aqui temos a
necessidade de uma sociedade mais justa e solidária que devemos construir com a
nossa participação.
Daí que na missão de pai este é convidado a
frutificar e ter a vida ao máximo, exercendo sua função específica biológica e
psicológica no contexto da família. Mais do que nunca hoje notamos a
necessidade desse equilíbrio familiar e o papel do pai na formação humana de
seus filhos. Não se pode abdicar dessa obrigação fundamental da célula da
sociedade que é a família e a missão que esta tem no presente e no futuro da
sociedade. Para os cristãos isso se reveste de uma vocação e conta com a graça
de Deus para que ele possa corresponder ao chamado de Deus para bem
desempenhá-la.
O pai educa principalmente pela sua conduta
pessoal, que consigo também carrega os variados aspectos da sua própria
identidade. Os filhos e também filhas olham para a figura paterna muito mais do
que apenas uma extensão de seus conhecimentos limitados. Olham para seus
gestos, suas expressões e para o seu testemunho. Procuram neste um valor e um
sentido de suas vidas, que encontrarão, certamente, na realidade das coisas, na
vida que se apresentará diante deles, um dia.
O Papa Francisco ensinou que: “o pai seja
presença na família. Que seja próximo à mulher, para partilhar tudo, alegrias e
dores, cansaços e esperanças. E que seja próximo aos filhos em seu crescimento:
quando brincam e quando se empenham, quando estão despreocupados e quando estão
angustiados, quando se exprimem e quando ficam em silêncio, quando ousam e
quando têm medo, quando dão um passo errado e quando reencontram o caminho; pai
presente, sempre. Dizer presente não é o mesmo que dizer controlador! Porque os
pais muito controladores anulam os filhos, não os deixam crescer”.*
Hoje, queremos pedir a intercessão de São
José, como modelo de pai, que abraçou por inteiro as suas responsabilidades e
que ressalta sempre em nós a sua firmeza e sua perseverança, confiando sempre
em Deus. Imagens de São José com frequência o retratam segurando uma régua de
carpinteiro, que pode muito bem simbolizar não só o seu ofício, mas
também a sua capacidade de governar e medir as suas posições como homem de
família e como pessoa de fé. Ao abraçar a todos os pais, quero oferecer a Deus
uma prece especial por cada um, suplicando que Deus conceda a todos eles, na
sua missão importante, a constância da graça de Deus e que possam dar
testemunho de uma fé viva aos seus filhos e a toda a Igreja. Que Deus abençoe
todos os pais e os guie na sua missão!
* (http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2015/documents/papa-francesco_20150204_udienza-generale.html,
acessado em 09 de agosto de 2016).
Fonte:
http://arqrio.org/formacao/detalhes/1367/missao-de-ser-pai