sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Missão de ser pai

D. Orani João Tempesta
Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro

Todos os anos, no segundo domingo do mês de agosto, nós celebramos a vocação e a missão de ser de Pai. Queridos pais, todos vocês foram e são filhos! Ninguém é fonte absoluta de uma família. Desejo-lhes a capacidade de olhar para trás e identificar o melhor que possa existir na história de sua família. Há valores que passam de geração em geração e a dignidade de sua família não se encontra apenas no nome, sem dúvida importante, mas nas coisas boas de que vocês são guardiães. Vocês podem entrar em seu próprio coração, recolhendo, como a criança que existe em cada um, as boas sementes transmitidas pelos antepassados. Por falar em nome, já perceberam que são vocês que o conservam e transmitem às gerações sucessivas? Sejam, pois, dignos de manter aceso esse facho da dignidade das gerações!
A missão confiada aos pais não é assegurada somente quando os filhos são apenas crianças. Precisamos ter bons mestres tanto nos ensinamentos como em atitudes, e isso não cabe a nenhuma escola. Muitas vezes, o acúmulo de coisas e outras preocupações pertinentes aos genitores fazem passar despercebido o fato de que a formação do caráter dos filhos depende deles.
A família – o Lar cristão – Igreja doméstica – Santuário da vida – é a célula básica da sociedade. Deus nos coloca numa família para que nela aprendamos a amar e, porque aprenderemos a amar sem medidas, Ele espera que extravasemos esse amor para a vizinhança, para o bairro, para toda a cidade, para o mundo. Quando Deus escolheu Maria para ser a mãe do Verbo Encarnado, e José para ser pai adotivo de Jesus, Ele queria que o Menino tivesse uma família aqui na Terra. Neste domingo, Dia dos Pais, é bom refletir sobre esse dom. É uma referência excelente, tal o valor que o Pai Eterno dá à família e à figura do pai: José, da casa de Davi. Ele foi escolhido para ser o pai adotivo de Jesus Cristo: era um homem temente a Deus, honesto, trabalhador, digno, carinhoso, extremamente religioso, colocando somente a sua confiança em Deus. Assumiu a situação na fé! O pai é importante na família porque seu exemplo, seu carinho, seu modo de ser vai influir grandemente na formação do caráter dos filhos.
Os pais não serão julgados pelo valor dos bens materiais que eles possam ou devam proporcionar a seus filhos: o que realmente importa é a forma como o pai orienta seus filhos para Jesus Cristo e qual o seu papel de modelo, de fidelidade, de valores ele realmente apresenta no seio de sua família. Neste sentido, o pai é chamado a assegurar o desenvolvimento harmonioso e de união entre todos os membros da sua família e partilha com a esposa a formação dos filhos. Porém, compartilhamos também as angústias de muitos pais, que hoje, frente às frustrações da procura por emprego ou de desejo de dar o melhor pela sua família, sem poder fazê-lo olham com preocupação a vida de sua família e o futuro de seus filhos. Aqui temos a necessidade de uma sociedade mais justa e solidária que devemos construir com a nossa participação.
Daí que na missão de pai este é convidado a frutificar e ter a vida ao máximo, exercendo sua função específica biológica e psicológica no contexto da família. Mais do que nunca hoje notamos a necessidade desse equilíbrio familiar e o papel do pai na formação humana de seus filhos. Não se pode abdicar dessa obrigação fundamental da célula da sociedade que é a família e a missão que esta tem no presente e no futuro da sociedade. Para os cristãos isso se reveste de uma vocação e conta com a graça de Deus para que ele possa corresponder ao chamado de Deus para bem desempenhá-la.
O pai educa principalmente pela sua conduta pessoal, que consigo também carrega os variados aspectos da sua própria identidade. Os filhos e também filhas olham para a figura paterna muito mais do que apenas uma extensão de seus conhecimentos limitados. Olham para seus gestos, suas expressões e para o seu testemunho. Procuram neste um valor e um sentido de suas vidas, que encontrarão, certamente, na realidade das coisas, na vida que se apresentará diante deles, um dia.
O Papa Francisco ensinou que: “o pai seja presença na família. Que seja próximo à mulher, para partilhar tudo, alegrias e dores, cansaços e esperanças. E que seja próximo aos filhos em seu crescimento: quando brincam e quando se empenham, quando estão despreocupados e quando estão angustiados, quando se exprimem e quando ficam em silêncio, quando ousam e quando têm medo, quando dão um passo errado e quando reencontram o caminho; pai presente, sempre. Dizer presente não é o mesmo que dizer controlador! Porque os pais muito controladores anulam os filhos, não os deixam crescer”.*
Hoje, queremos pedir a intercessão de São José, como modelo de pai, que abraçou por inteiro as suas responsabilidades e que ressalta sempre em nós a sua firmeza e sua perseverança, confiando sempre em Deus. Imagens de São José com frequência o retratam segurando uma régua de carpinteiro,  que pode muito bem simbolizar não só o seu ofício, mas também a sua capacidade de governar e medir as suas posições como homem de família e como pessoa de fé. Ao abraçar a todos os pais, quero oferecer a Deus uma prece especial por cada um, suplicando que Deus conceda a todos eles, na sua missão importante, a constância da graça de Deus e que possam dar testemunho de uma fé viva aos seus filhos e a toda a Igreja. Que Deus abençoe todos os pais e os guie na sua missão!


Fonte: http://arqrio.org/formacao/detalhes/1367/missao-de-ser-pai