Cardeal
Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo (SP)
Arcebispo de São Paulo (SP)
Na última semana de agosto, está em destaque
a vocação dos cristãos leigos e as muitas maneiras como eles participam da vida
e da missão da Igreja. A Igreja é formada por um imenso “povo de batizados”, um
“povo de vocacionados”, em que cada um recebeu de Deus um dom para o seu
próprio proveito, mas também para o proveito da Igreja inteira. Recebemos os
dons em função de missões que devemos cumprir.
Dois são os vastos campos da vida e da missão
da Igreja onde os leigos são chamados a participar: na vida interna da Igreja,
eles exercem diversos ministérios não ordenados e também partilham, com o
clero, as responsabilidades pelo anúncio do Evangelho, a organização dos vários
serviços nas comunidades e o testemunho da vida cristã.
O outro vastíssimo campo da missão dos leigos
é o “mundo secular”, onde eles são cidadãos ao lado dos demais cidadãos,
encarregados de promover a “obra boa” em relação à vida familiar e matrimonial,
à educação, à cultura e ao trabalho profissional, às responsabilidades públicas
e políticas. Os leigos são mensageiros do Evangelho pela palavra, a ação e o
testemunho nos ambientes do “mundo”, onde a Igreja não está presente como
instituição.
Os cristãos leigos têm a missão, em nome da
Igreja, de edificar o mundo conforme o reino de Deus. Em todas as
instâncias da vida e da atividade humana em que estão inseridos, eles devem
fazer levar a luz, o sal e o fermento do Evangelho de Cristo. São testemunhas
de Deus e ajudam as pessoas a se encaminharem para Deus. E cabe-lhes a missão
nada fácil de fazer a síntese entre a fé professada e a vida de cada dia.
Entre os leigos que desempenham serviços na
vida interna da Igreja lembramos especialmente os catequistas. Eles têm a
missão de ajudar os irmãos na iniciação à vida cristã e na fé da Igreja Católica.
São pedagogos da fé, que ajudam crianças, adolescentes, jovens e adultos a
conhecerem os mistérios da fé e da vida cristã e os introduzem, pouco a pouco,
na vida da comunidade eclesial.
A fé e a vida cristã despertam do encontro
com Deus e com Jesus Cristo Salvador e, por isso, a ação dos catequistas tem o
objetivo de ajudar as pessoas a terem esse encontro com Deus através do
conhecimento das verdades da fé e através da prática cristã. Os catequistas
ajudam a fazer a experiência da fé vivida, conforme o convite do salmo: “provai
e vede como o Senhor é bom!” (Sl 33/34).
A catequese é um aspecto fundamental da
evangelização e não pode faltar em nenhuma paróquia ou comunidade cristã. Ela
possui diversos momentos, que vão do “primeiro anúncio”, ou querigma, ao
aprofundamento do conhecimento e da adesão de fé, e deve levar à maturidade da
fé, que se traduz na vida cristã coerente e na prática das virtudes e das
bem-aventuranças. De fato, a catequese continua ao longo de toda a vida e
requer sempre novos aprofundamentos diante das situações e circunstâncias novas
da vida.
A boa catequese não pode ater-se apenas ao
conhecimento intelectual da fé e da religião, mas precisa ser orientada
necessariamente à prática da vida cristã: deve levar à oração, nas suas múltiplas
formas; à vida moral coerente com os mandamentos de Deus e com os ensinamentos
de Jesus; deve levar à prática das virtudes, à vida honesta e ao envolvimento
social para a edificação do mundo “conforme Deus”. A catequese deve também
levar à participação ativa e generosa na vida e na missão da comunidade cristã.
O caminho da catequese não pode deixar de ser um caminho paciente e
perseverante de inserção na comunidade eclesial, onde os católicos se sentem
como em sua casa e em sua família. Por isso, a catequese não pode deixar de
apresentar uma boa e correta visão da Igreja de Cristo, da qual os
catequizandos também são parte e devem sentir-se participantes. A catequese
seria muito incompleta se não conseguisse transmitir também um amor sincero e
filial à Igreja.
O sínodo arquidiocesano que estamos
realizando deverá fazer uma boa avaliação sobre a situação real da catequese em
nossas paróquias e comunidades. A catequese é uma ação prioritária da Igreja e
deve merecer o melhor de nossas atenções. Se ela for falha, estaremos colocando
seriamente em risco o futuro da evangelização e da transmissão da fé cristã.
Fonte:
http://www.cnbb.org.br/a-catequese-nao-pode-falhar/